• Nenhum resultado encontrado

5 INDÚSTRIA AUTOMOTIVA BRASILEIRA: SUA RELAÇÃO COM A INDÚSTRIA 4.0 E COM AS NOVAS TENDÊNCIAS DE MOBILIDADE AUTOMOTIVA.

5.3 INDÚSTRIA AUTOMOTIVA – REALIDADE NACIONAL DA INDÚSTRIA 4.0, DOS VEÍCULOS ELÉTRICOS, AUTÔNOMOS E COMPARTILHADOS.

5.3.2 Indústria 4.0 e os desafios para os fornecedores automotivos

Não se espera que mesmo superada a crise no país a indústria automotiva nacional volte a ser como antes. O cenário competitivo entre as montadoras tende a se intensificar, principalmente estimulado pelo aumento da velocidade de tecnologias incorporadas aos veículos produzidos

Programar computadores e realizar diagnóstico e reparo em redes eletrônicas Programador de unidades de controles eletrônicos

Técnico em informática veicular

N ov as p ro fi ss õe s qu e de ve m s ur gi r na in dú st ri a au to m ot iv a Pr of is sõ es q ue g an ha m r el ev ân ci a ho je n a in dú st ri a au to m ot iv a

Acessar e reprogramar unidades de controle eletrônico por meio de protocolos de comunicação via scanner ou interfaces; diagnosticar e analisar dados de testes para Realizar diagnósticos de motores a combustão interna e/ou elétricos e todas as atividades de manutenções preditiva e preventiva de veículos híbridos.

Eletromecânico de automóveis

Mecânico de automóveis leves

Técnico em manutenção automotiva

Mecânico de veículos híbridos

Mecânico especialista em telemetria

Inspecionar ou testar partes para determinar a natureza ou a causa de defeitos ou avarias; instalar equipamentos para testes, motores ou acessório; customizar

Programar centrais (chaves, alarme, multimídia de navegação, injeção eletrônica, via scanner e ou computador); leitura, interpretação e comunicação em linguagem internacional.

Inspecionar e reparar veículos híbridos, elétricos e direção elétrica. Mecânico de manutenção automotiva

Inspecionar e reparar sistemas de reaproveitamento de energia, de telemetria aplicada a mobilidade, utilizar tecnologias da informação mais complexas no diagnóstico e reparação de automóveis.

Realizar manutenção e instalação de sistemas multimídia e de conectividade; calibrar sensores do sistema de segurança e mecanismo de mudança e embreagem

no Brasil e aos avanços das novas tendências disruptivas (BRIGHT CONSULTING, 2017). Diante disso, para as montadoras elevarem sua competitividade é necessário buscar o máximo de eficiência em cada aspecto da produção, principalmente de seus fornecedores de autopeças. Para Roland Berger (2017b) os fornecedores (de sistemas, tecnologia e componentes que compõe a cadeia automotiva nacional) precisam acompanhar as novas exigências e investir em P&D com foco em novas linhas de produtos e serviços, mesmo com a lucratividade atualmente prejudicada. Caso não as acompanhe, se capacitando para responder quase que automaticamente às mudanças na demanda, com investimentos voltados a digitalização, a integração dos processos, qualificação dos produtos, ao desenvolvimento e experiência em materiais leves, por exemplo, podem sofrer com a provável elevação da participação de componentes importados nos veículos, o que tende a aumentar a participação das empresas de capital estrangeiro.

De acordo com a Bright Consulting (2017) o número das empresas de autopeças brasileiras pode ser reduzido à metade nos próximos dez anos devido aos movimentos de aquisição e forte consolidação dos fornecedores, principalmente de nível 2 e 3 em busca de soluções mais eficientes e flexíveis para os clientes e dificultar a atuação das empresas de capital nacional como fornecedores de nível 1. Investir na Indústria 4.0 é questão de sobrevivência para o setor. No entanto, o setor de autopeças possui gargalos que comprometem seu engajamento no processo de modernização em curso na indústria automotiva. O primeiro deles é referente a grande dificuldade de acesso ao capital, principalmente de empresas de médio e pequeno porte. A logística e infraestrutura do país é outro grande obstáculo para a indústria pois, não permite maior interação entre indústrias e fabricantes das regiões do país pelo fato dos modais de transporte não estarem interligados. Por fim, a falta de qualificação de mão-de-obra juntamente com a deficiência em inovação e tecnologia constituem, atualmente, uns dos principais obstáculos ao crescimento do setor e a sua adaptação as exigências da indústria 4.0.

Apesar de ter evoluído, a maioria das empresas de autopeças (principalmente de segundo e terceiro nível) ainda não têm produção com valor agregado e conteúdo tecnológico suficiente para suprir as novas demandas das montadoras, de tal modo que a defasagem tecnológica tende a aumentar com as incorporações e atualizações constantes de sistemas embarcados. Isso se deve, consideravelmente, ao baixo valor dos investimentos do setor nos últimos anos (ver GRÁFICO 14) e ao seu comprometido desempenho inovativo. Outro agravante é a adoção pelas

montadoras de plataformas globais em peças e componentes padronizados que exigem do setor de autopeças competitividade internacional.

Gráfico 14 – Faturamento nominal (com ICMS e sem IPI) e Investimentos totais do setor de autopeças. Em US$ Bilhões – 2011 a 2018.

Fonte: Elaboração do autor, 2018 com base em SINDIPEÇAS, 2018b. Nota: *Previsão.

De acordo com Lima (2017), o setor de autopeças também apresentou, durante os anos 2000, uma dinâmica cíclica muito elevada em sua produção, faturamento e investimento, principalmente a partir do final do período em análise. Além do mais, a participação do investimento sobre o faturamento do setor a partir de 2002 sempre esteve abaixo da porcentagem de qualquer um dos anos da década de 1990, ou seja, a intensidade do investimento do setor nos anos 2000 é muito menor, apontando para o baixo dinamismo do setor em termos de investimento.

As empresas de autopeças, que se sobressaírem nesse cenário, ou seja, que conseguirem se adaptar as novas exigências mesmo diante dos vários obstáculos, tendem a ter uma relação estratégica de cooperação de longo prazo e de dependência mútua com as montadoras. Os fornecedores passam a ter um papel além da entrega dos componentes ou sistemas que eles produzem. Por meio de parcerias com as montadoras eles devem atuar no desenvolvimento e concepção de novos produtos dividindo responsabilidades, e colaborar para a solução de problemas da cadeia de valor que podem não estar, necessariamente, ligados aos componentes que eles fornecem. Portanto, o que as montadoras esperam dos fornecedores atualmente é parceria e a colaboração para que as operações tenham mais eficiência e produtividade e que as soluções inovadoras sejam entregues com mais agilidade e com foco nas tendências transformadoras do setor automotivo (AUTOMOTIVE BUSINESS, 2018b).

No sentido de acelerar a capacidade de inovar do setor e tornar suas empresas aptas à inserção nas cadeias globais o Sindipeças lançou, em 2018, o programa Inova Sindipeças. Para tanto, o

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018* 54,5 41,7 40,6 34,1 21,3 20,1 27,1 26,9 2,42 1,89 1,93 1,02 0,57 0,45 0,58 0,67

programa visa atuar como ponte entre as fabricantes de autopeças e o universo das startups, estimular a gestão da inovação por meio do Instituto Sindipeças, aproximar as empresas da academia e impulsionar a implementação dos conceitos da Indústria 4.0 oferecendo consultoria. O apoio consultivo também ocorrerá para que as empresas possam acessar linhas de financiamento da Finep e da Embrapii para projetos de pesquisa e desenvolvimento, bem como, obter recursos a partir das regras do Rota 2030. O programa deve ser mais relevante e impactar de forma direta as empresas de pequeno e médio porte, pois as grandes empresas de autopeças, as multinacionais, já têm iniciativas próprias e relevantes de inovação (como exemplo dessas empresas temos: unidade de autopeças da ThyssenKrupp em Poços de Caldas (MG), unidade da Pirelli em Feira de Santana (BA)) (RIATO, 2018a, 2018b).

A adaptação dos fornecedores à estrutura da indústria 4.0 e às novas tecnologias que estão provocando disrupturas na indústria como veículos elétricos e autônomos tende a permitir a indústria automotiva nacional aumentar a produtividade, minimizar erros, customizar ainda mais seus produtos, além de proporcionar soluções imensamente mais sustentáveis. Assim, compreender e processar adequadamente essas potencialidades e as substanciais mudanças necessárias voltadas à realidade nacional torna-se fundamental na determinação do futuro da indústria automotiva brasileira. A empresas de pequeno e médio porte do setor de autopeças brasileiro precisam garantir sua relevância no futuro, precisam colocar a inovação como uma realidade urgente.