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3 PARCELAMENTO DO SOLO ENTRE 191 E 1957: DIRETRIZES E FATOS ANTERIORES À INSERÇÃO DA EMPRESA FASA NO PLANO DE METAS

3.1 Fatos que envolveram a aprovação de parcelamentos do solo entre 1931 e 1957: legislações e alguns aspectos da dinâmica fundiária

3.1.2 Aspecto da dinâmica fundiária entre 1931 e

Com esses dispositivos legais, em torno do parcelamento do solo, era comum que este fato estimulasse a aquisição de propriedades fundiárias, por parte de empresas que tinham, entre seus objetivos, aquele de empreendimentos imobiliários. Nesta subescala temporal da pesquisa (1931- 1957), as aquisições mais significativas e aquelas que se tem conhecimento das datas, foram as das

históricas propriedades do Forno da Cal e Fragoso. A primeira, pela empresa Novas Indústrias Olinda Sociedade Anônima (Novolinda), em meados da década de 1940, e a segunda pela Companhia Indústrias Reunidas Olinda (Ciro), revelando o ingresso de grandes industriários no território municipal olindense, que desempenharão seus papéis e serão responsáveis, até certo ponto, pelo modo como se deu o desenvolvimento territorial de porções da atual cidade olindense.

Ao obterem, a Novolinda e a Ciro, tais propriedades, encontraram ali vários trabalhadores da terra instalados. Desde a década de 1930, já havia alguns deles iniciado o processo de sua ocupação, mansa e pacificamente, por permissão do Dr. Pernambuco e do Sr. Claudino Coelho Leal, originando pequenas unidades agrícolas (PREFEITURA DE OLINDA, 1984).

Outros casos de aquisição de propriedades fundiárias ainda podem ser vistos entre a década de 1940 e 1950, envolvendo outras categorias de agentes.

3.1.2.1 A empresa Novolinda e a propriedade Forno da Cal

A propriedade do Forno da Cal foi adquirida pela Novolinda, em 21 de julho de 1944, aos herdeiros do Dr. Pernambuco. Assim sendo, o grupo de acionistas da Usina Catende, dirigido pelo industrial Antônio Ferreira da Costa Azevedo, a obteve, juntamente com as benfeitorias, bem como o direito a pesquisas de minério.

Provavelmente, a estratégia de obtenção dessas terras do Forno da Cal tenha motivado a origem da empresa Novolinda, dias antes. De acordo com Freyre (2007, p.185), ao tecer considerações em torno da “Fosforita”, observa-se que “seduzido pela idéia de encontrar em Olinda águas minerais, talvez de grande poder ou valor terapêutico, é que Costa Azevedo adquiriu em 1944 as terras do antigo Engenho do Forno da Cal”.

Segundo um documento fornecido pela Junta Comercial do Estado de Pernambuco (Jucepe) (PERNAMBUCO, 2008a) a Novolinda teve a data de arquivamento do Ato Constitutivo no dia 06 de julho de 1944, sendo, juridicamente, uma Sociedade Anônima Fechada.

Com a empresa constituída e a aquisição da propriedade do Forno da Cal, parte-se para os resultados de análise acerca da qualidade das fontes de água então existentes. A partir daí, a Novolinda elaborou planos para a construção de uma estação termal (GONDIM, 1961). Porém, segundo o referido documento da Jucepe, essa empresa apresentava como atividades econômicas a “incorporação de empreendimentos imobiliários”, a “compra e venda de imóveis próprios” e a “corretagem na compra e venda e avaliação de imóveis”, não fazendo nenhuma menção à estação termal.

Além do nome do Sr. Antonio Ferreira da Costa Azevedo, constata-se, no documento da Jucepe, aqueles de: Antonio Dourado Neto, João da Costa Azevedo, Domingos da Costa Azevedo e José de Brito Pinheiros Passos, em que todos aparecem destacados como diretores.

Em 1949, cinco anos após o ato constitutivo da empresa Novolinda, o industrial Domingos da Costa Azevedo convidou o químico e professor Paulo José Duarte para estudar as águas e calcários existentes na propriedade do Forno da Cal. O professor constatou fontes de água mineral, radioativas, e, ao introduzir a “análise sistemática do fósforo” nos calcários, previu a existência de reservas de fosfato (COMEÇOU, 1953).

Nesse mesmo ano, a empresa já divulgava que:

Engenheiros que têm visitado a nossa propriedade, conhecedores dos trabalhos de urbanização e loteamento, consideram o Forno da Cal uma propriedade em condições excepcionais e raras para uma obra a que está sendo projetada, manifestando ainda a opinião de que o desenvolvimento natural da cidade do Recife será no sentido daquela propriedade em direção a Olinda e Beberibe. (NOVAS, 1949a, p.1624) (grifo nosso).

No mês de setembro de 1949, a empresa convocava os acionistas para uma Assembleia Geral Extraordinária, em outubro daquele ano, a fim de deliberar sobre alguns assuntos, inclusive aquele que dizia respeito ao plano de parcelamento da propriedade Forno da Cal, bem como a exploração de água mineral (NOVAS, 1949b, p.3990).

O teor de um relatório (NOVAS, 1950a) destinado aos acionistas da empresa Novolinda, revela o conteúdo que a presidência transmitia, em abril de 1950: “continuamos com os serviços de pesquizas [sic] de calcareos [sic], tendo sido encontrados fosfatos que merecem, também, de nossa parte todo o interesse.” (p.1620). Também comunicou, nesse mesmo documento, que a Fonte Novolinda havia sido alvo de melhoramentos, permitindo melhor captação.

No que se refere à questão imobiliária, informava-se:

Terminamos os estudos sobre o loteamento dos terrenos de nossa propriedade destinados a este fim e que ficam próximos da cidade de Olinda, também, em parte próximos aos bairros de Campo Grande e Beberibe, no Recife.

Concluídos estes estudos foram levantadas as plantas de loteamentos por engenheiros especializados no Rio de Janeiro, apresentando trabalho de urbanização digno de nota e que se encontram à disposição dos srs. acionistas. (NOVAS, 1950a, p.1620).

Em outro momento, por meio de um documento publicado (NOVAS, 1950b) ficou exposto que o presidente da empresa havia realizado uma exposição completa “dos trabalhos da Seção Imobiliária, e de todos os atos referentes ao loteamento do setor n. 1 do „Jardim Novolinda‟, para venda dos lotes por oferta pública, mediante pagamento de preço a prazo e prestações sucessivas e periódicas” (p.2099). Esta concepção, inicialmente, para um trecho do espaço da empresa

Novolinda, por meio de mudança no uso da terra, culminará, paulatinamente, na necessidade da retirada de trabalhadores da terra, conforme o ritmo da produção imobiliária, cujos trechos estiveram ou estarão, ainda que não necessariamente, sob especulação. Esta, segundo Santos (2005, p.106), “deriva, em última análise, da conjugação de dois movimentos convergentes: a superposição de um sítio social ao sítio natural; e a disputa entre atividades ou pessoas por dada localização. A especulação se alimenta dessa dinâmica, que inclui expectativas.”

3.1.2.2 A empresa Ciro e a propriedade Fragoso

A constituição da Ciro foi realizada em 06 de agosto de 1951 (ESCRITURA DE CONSTITUIÇÃO, 1951). Sete anos após a aquisição do Forno da Cal, pela Novolinda, a empresa, então, adquiriu, por escritura de compra e venda, a propriedade Fragoso, dos herdeiros do Sr. Claudino Coelho Leal, em 13 de agosto desse ano. O empreendimento Ciro tinha como Diretor Superintendente, Cid Feijó Sampaio, usineiro e industrial, futuro governador de Pernambuco.

Mais de três anos antes de Cid Sampaio adquirir a propriedade Fragoso, vale apontar que ele parcelara o terreno de uma casa localizada à Avenida Caxangá, no Recife, depositando no Cartório de Registro Geral de Imóveis dessa cidade, o memorial e documentos necessários, de acordo com o que exigia a legislação Federal (COMARCA DO RECIFE, 1948). Em 1949, Cid Sampaio mais o Sr. Fernando Cardoso da Fonte já haviam promovido o parcelamento de partes das propriedades “Casinha” e “Olaria”, localizadas no município de Jaboatão, nas localidades de Venda Grande e Piedade, com extensão total de 414.856,50 m² (COMARCA DE JABOATÃO, 1949). No mesmo município e período, eles também loteavam parte da propriedade "Veras", bem como de outra no lugar "Focinho do Boi", ambas localizadas na praia de Piedade (COMARCA DE JABOATÃO, 1950). No município do Recife, eles agiram, neste mesmo período e com igual sentido, sobre a propriedade “Jardim Santa Leonor”, à margem da Estrada de Boa Viagem, parcelando-a (COMARCA DO RECIFE, 1950).

A Ciro, constituída como uma Sociedade Anônima, tinha por acionistas, além de Cid Sampaio, os senhores Rui Berardo Carneiro da Cunha, Lael Feijó Sampaio, Fernando Cardoso da Fonte, Eurico Cardoso da Fonte, Caio Magarinos de Souza Leão e a Novolinda. A empresa tinha como objetivo comprar, vender e explorar propriedades imóveis; construir casas para venda ou aluguel; pesquisar, lavrar e industrializar substâncias do subsolo; e, quaisquer atividades industriais e comerciais (COMARCA DO RECIFE, 1950). Vale a pena frisar que o decreto n.º 31.240, de 06 de agosto de 1952, autorizaria a Ciro a explorar o minério de fosfato (BRASIL, 1952) que, em sua propriedade, representava o quantitativo de 13 milhões de toneladas.

3.1.2.3 Casos de outras propriedades fundiárias

No início da década de 1930, a Fundação Dom Bosco (Salesianos) adquiriu, por doação do Dr. Pernambuco, uma propriedade que foi desmembrada do Forno da Cal, ficando a mesma aí encravada. Em 1934, a fundação inaugura a Escola Dom Bosco que atendia a uma clientela, moradora de Peixinhos.

Ainda no tocante à propriedade do Forno da Cal, uma área, conhecida como Sítio dos Peixinhos, foi daí desanexada, dois anos antes dela ser vendida à Novolinda, e comercializada com o IAPC, em 1946, por um dos herdeiros do Dr. Pernambuco, o Sr. José Antônio de Almeida Pernambuco Júnior. Antes, a Sociedade Construtora e Comercial Jorgentil Ltda. já se mostrara como promitente-compradora, porém, em entendimento com o IAPC, transferiu o direito para este, que pretendia construir um conjunto habitacional para seus associados de baixa renda (BEZERRA, 1965; INPS, 1971; CERTIDÃO, 1993). Também na década de 1940, a FCP adquiriu porção de terras municipais para a construção de um conjunto habitacional.

Mas, não era apenas a grande propriedade fundiária do Forno da Cal que estava nas mãos de agentes imobiliários, já na década de 1940. Outras se encontravam sob a influência da Imobiliária Clovis de Barros Lima Limitada, no litoral – como a denominada São José do Rio Tapado e, possivelmente, a do Sítio Rio Tapado, pois o Sr. Clovis era procurador do detentor do domínio útil desta última propriedade, Sr. João Pereira de França,24 – bem como o mesmo Sr. Clovis e outros possuíam propriedade em Salgadinho. Mais tarde, ele estabeleceria, aí, o parcelamento do solo.

Do mesmo modo, havia propriedades fundiárias, em Casa Caiada, sob o domínio de famílias como a “Guimarães Gondim”, que efetivarão vários parcelamentos no litoral Norte do território municipal olindense. No Oeste, desde a década de 1930, já havia aderido a este mesmo propósito, a família “Santos Mello”, apenas para citar alguns exemplos.

Na década de 1950, após a aquisição da propriedade Fragoso, pela empresa Ciro, observa-se a inserção de outras empresas realizando o mesmo fato no território, como, por exemplo, a compra da propriedade Bondade, pela Sociedade de Imóveis e Representações Limitada (SIREL).