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A inserção da empresa Fasa no Plano de Metas do Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira

4 ASPECTOS DA ATUAÇÃO DA EMPRESA FASA ENTRE 1958 E 1966 E A DINÂMICA DO PARCELAMENTO DO SOLO NO PERÍODO

4.1 A inserção da empresa Fasa no Plano de Metas do Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira

A perspectiva de bons resultados econômicos, devido à Fasa ter se inserido no Plano de Metas, permitiu que os acionistas do empreendimento investissem na instalação de uma Usina de Beneficiamento (ou Usina Grande) que oportunizasse uma produção, em maior escala industrial, no atendimento ao Sul do Brasil. Para tanto, nesta expectativa, a Usina Piloto criou um estoque de fosfato, visando suprir a produção da nova usina (DUARTE, 1956).

Neste processo, antes mesmo da Usina Grande entrar em funcionamento, é sugerida ao Poder Público estadual a pavimentação da Estrada de São Benedito – cujo trecho ficará inserido, mais tarde, na atual Avenida Presidente Kennedy –, por meio do Departamento de Estradas de Rodagens (DER). O escritório da empresa foi implantado na proximidade dessa estrada e, tal via representava o acesso a outros eixos viários que permitiam a produção mineral chegar ao porto do Recife (cerca de 8 km de distância). Também foram solicitadas melhorias nas condições desse porto, no tocante ao embarque da produção, junto ao Governo Federal (DUARTE, 1956).

A manutenção da Estrada de São Benedito era assegurada pela utilização de tratores, quando se fazia necessária, observando-se a rápida circulação da produção a ser escoada por caminhões como aqueles da Fábrica Nacional de Motores (FNM), por exemplo.

O projeto da Usina Grande foi idealizado por uma firma americana especializada, cujo processo foi acompanhado pelo superintendente-técnico da Fasa, o engenheiro José Brito Passos, nos Estados Unidos (FREYRE, 1980).

A parte fundamental do equipamento encomendado nos Estados Unidos para a Usina, aproximadamente 90% do total já se encontra no Forno da Cal estando algumas dessas máquinas montadas ou em fase de montagem e outras depositadas, aguardando o levantamento dos prédios em que serão instaladas. (FOSFATO, 1956, p.26).

Em agosto de 1957, a Usina Grande entrou em funcionamento. “A capacidade é de 250.000 toneladas anuais havendo uma reserva de fosfato de 50 milhões de toneladas” (IBGE, [s.d.], p. 7). A

inauguração oficial do empreendimento Fasa, cujo presidente era Domingos da Costa Azevedo e contava com uma vice-presidência representada por Antiógenes Chaves, Rui Berardo Carneiro da Cunha e Cid Feijó Sampaio, ocorreu no dia 19 de janeiro de 1958. O evento contou com a presença do então Presidente da República, JK, e sua comitiva. Nesse período, o Diário de Pernambuco anunciava que “às 8 horas, o chefe da Nação deixará o Palácio do Govêrno, rumo à Fosforita Olinda, em Forno da Cal, onde inaugurará, com a presença de altas autoridades e figuras das classes econômicas, as instalações daquela indústria de fertilizantes.” (HOJE, 1958, p. 1).

Durante o pronunciamento, no momento da solenidade de inauguração, o Presidente da República enfatizou que a Fasa “cumprira quase sozinha a „meta‟ da produção de adubos traçada pelo seu governo” (“FOSFORITA” CUMPRE, 1958, p.1). O “aumento da capacidade de produção de fertilizantes” era a décima sétima meta, dentre as dezenas estabelecidas no Plano de Metas do Governo JK (JUSCELINO, 1958, p.3). Portanto, a concretização do empreendimento Fasa favoreceu o discurso desenvolvimentista do Governo Federal, ao permitir a divulgação do cumprimento de suas “metas”, previstas no Plano Nacional de Desenvolvimento.

Acredita-se que o apoio recebido do Governo Federal foi imprescindível à manutenção do espaço de produção da Fasa, durante determinado período. Também os equipamentos utilizados no processo produtivo de beneficiamento do fosfato, tais como, edifício de secagem, moagem e ensacamento, conjunto de silos para drenagem de fosfato úmido, “espessador” para separação de finos, “hidro-separador” etc., foram implantados na proximidade da mesma estrada, como havia sido o escritório, no atual bairro de Peixinhos. Para Beaujeu-Garnier (1997), fabrico, armazenamento e gestão são operações inseridas no domínio industrial. Segundo a autora, “cada uma tem características próprias, quer na qualidade dos empregos, como na natureza das construções ou no tipo do funcionamento. O fabrico se executa em oficinas e fábricas; os armazéns servem para guardar as mercadorias; nos escritórios, decide-se e organiza-se.” (p.228). Aí se encontrava o motivo da Fasa ter criado formas-aparência que, mesmo tendo perdido suas funções, algumas continuam existindo, por enquanto.

A energia elétrica, enquanto um insumo necessário ao processo produtivo da Fasa, inclusive devido à utilização de drag-line elétrica marca Bucyrus Erie, “veio diretamente da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF), através da linha de transmissão Mirueira-Fosforita” (NOVAES, 1990, p. 51-52).

À época, a dimensão do empreendimento estimulava a declaração de que “a economia municipal repousa na indústria extrativa mineral (Fosforita Olinda S.A – futura redenção econômica do município)” (IBGE, 1958, p.181). Se essa atividade da Fasa não fomentou o aparecimento de uma nova cidade, como defendia George (1983, p.61), ao enfocar que “a existência de recursos

minerais em uma região pode dar origem a cidades cuja localização tem como única finalidade agrupar os elementos técnicos e a população necessários para sua valorização”, mas, pelo menos, permitiria a evolução urbana de Olinda, em alguns trechos de sua área produtiva.

Após a inauguração da Usina Grande, o produto teve como destino, sobretudo, o porto de Santos (SP). O estado de São Paulo era o maior consumidor, seguido, logo após, pelo Rio Grande do Sul (IBGE, [s.d.]).

Para garantir a exploração do fosfato, nas áreas onde seriam iniciadas as escavações com a utilização de máquinas específicas, a Fasa passou a indenizar alguns domicílios que se encontravam esparsamente encravados na propriedade do Forno da Cal, concedendo aos moradores valores ínfimos (PAULA, 1999). A instalação desses domicílios reportava ao período que o Dr. Pernambuco consentia os trabalhadores ocuparem parcelas da propriedade, originando pequenas unidades agrícolas.

Consequentemente, a Fasa atraiu um contingente demográfico proveniente do interior de Pernambuco e de outros estados (PAULA, 1999), em busca de oportunidades de emprego por ela oferecido. Em uma publicação, provavelmente, de fins da década de 1960, o IBGE ([s.d.], p.8), fez referência ao quadro de trabalhadores da empresa que compreendia “356 operários e 54 funcionários.”

A empresa, no tocante à assistência social desses operários, construiu, na propriedade do Forno da Cal – trecho localizado no atual bairro de Peixinhos – uma igreja, dedicada a Nossa Senhora da Ajuda, inaugurada em 1958. Ao lado da mesma, edificou a “Escola Primária Costa Azevedo”, para atender a educação dos filhos dos trabalhadores (RELATÓRIO, 1958).

A Figura 33 traz um acervo iconográfico que revela, dentre outras fotografias, um antigo equipamento, então localizado na propriedade do Forno da Cal, a Casa Grande – construída em momento ainda desconhecido pelo autor deste trabalho –, e aqueles estabelecidos pela empresa Fasa, ainda na década de 1950.

De acordo com Souza (2005), ao se basear nos escritos de Zuleide de Paula, verifica-se que a Fasa ainda criou o clube dos funcionários (o Fasa) e facilitou o acesso aos gêneros alimentícios comercializados em um barracão, para atender à demanda dos trabalhadores. Lá, eles deixavam parte de seus salários. Ao ser ampliado tal comércio, houve uma nova instalação, transferindo-o para a proximidade de outros equipamentos da empresa.

A via, na qual a igreja e a escola foram implantadas, provavelmente, naquela época era resquício de um antigo caminho, agora em transformação, que conduzia a determinada porção da propriedade Forno da Cal.

De acordo com Paula (1999) essa via era denominada de Rua da Canequinha27 e, até então, no contexto do desenvolvimento territorial da cidade, pouco, ou nada, significava. Porém, segundo Panerai (2006, p.81), “[...] não podemos deixar de considerar a hierarquia das vias e o papel que elas têm na estruturação da forma urbana, nem esquecer de nos interrogar sobre a adequação ou o desencontro entre a configuração de tal espaço e o restante da cidade.”

Deste modo, as atividades da empresa Fasa, juntamente com as estratégias de parcelamento do solo, pela Novolinda, motivaram o desenvolvimento territorial da cidade, nesse trecho do município olindense. Neste processo, foram sendo atraídos outros equipamentos para atender às necessidades dos novos moradores.

4.2 O espaço de produção da empresa Fasa e a configuração territorial do município