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4 ASPECTOS DA ATUAÇÃO DA EMPRESA FASA ENTRE 1958 E 1966 E A DINÂMICA DO PARCELAMENTO DO SOLO NO PERÍODO

4.2 O espaço de produção da empresa Fasa e a configuração territorial do município olindense

4.2.1 Localidades urbanas e suburbanas

No entorno da área estabelecida para se prestar à atividade produtiva da Fasa, se constituíram alguns núcleos populacionais, como o próprio núcleo urbano original – a histórica cidade de Olinda. De acordo com a localização estabelecida pela PMO, alguns deles se encontravam em zona urbana e suburbana, além de outras unidades habitacionais se encontrarem em área rural. A Figura 35 destaca as localidades urbanas e suburbanas situadas no entorno da área de produção da Fasa, no final da década de 1950, com seus respectivos topônimos.

Evidentemente, as paisagens dessas duas porções – urbana e suburbana – se diferenciavam a ponto de serem inseridas, as localidades respectivas, em tais áreas estabelecidas. Possivelmente, a zona urbana olindense, de então, podia ser encarada como o que expressou Santos (2008, p.190), ao dizer que “existem duas ou diversas cidades dentro da cidade. Esse fenômeno é o resultado da oposição entre níveis de vida e entre setores de atividade econômica, isto é, entre classes sociais.” Para a zona suburbana, talvez, para refletir acerca de seu aspecto, possa-se apropriar do que colocou George (1983, p.76) ao dizer que:

O subúrbio é, originalmente, e juridicamente, o bairro suburbano que escapa às taxações e obrigações da cidade, mas também de seus privilégios e de sua proteção. Num período de grande expansão econômica e urbana ele perde, progressivamente, esta característica para tornar-se pura e simplesmente uma zona de crescimento urbano.

Nesse período, imagens de algumas porções do território municipal foram registradas por câmeras fotográficas, como ocorreu com os equipamentos e atividades promovidas pela Fasa, na porção central, bem como as áreas litorâneas, como aquelas próximas à cidade ou as mais afastadas, por meio das quais foram legados aspectos da paisagem.

Tais registros denunciam formas-aparência de certas residências, modos de apropriação das vias pela circulação de pedestres em estradas antigas, transformadas, nos dias atuais, em avenidas com importantes fluxos, inclusive permitindo a conexão com aquelas provindas dos parcelamentos do solo, no deslocamento entre as porções internas da cidade, ou se destinando a outros municípios como o de Recife. Segundo Mascaró (1989, p.66), ao tratar da “largura e função das ruas” pode-se constatar que:

A presença maciça de veículos faz com que hoje seja difícil conceber um sistema viário sem pensar no transporte, particularmente nos automóveis, ainda que eles não estejam presentes em algumas zonas da cidade, como nas comunidades de baixa renda, onde sua presença é ocasional.

... A situação econômica de cada região impõe o uso racional dos poucos recursos disponíveis. Se não adequamos o projeto e execução das ruas às verdadeiras necessidades de seus usuários, estamos desperdiçando os escassos recursos ao oferecer um produto de que a população não precisa.

No tocante à parte do “Quadro Urbano”, a Figura 36 destaca a Praça Dantas Barreto e a Avenida Luiz Gomes (subida ao Alto da Sé), no bairro do Carmo.

FIGURA 36 – TERRITÓRIO MUNICIPAL DE OLINDA (PE) - PRAÇA DANTAS BARRETO

Foto de Alexandre Berzin, entre as décadas 1940/1950. ACERVO: Fundaj.

Tal via (Av. Luiz Gomes) permite, até os dias de hoje, o acesso ao Alto da Sé e está localizada à esquerda da imagem. À direita, vê-se o novo Farol de Olinda que foi inaugurado em 1948 (NOVAES, 1990), permitindo, assim, presumir que a imagem foi capturada ou no final da década de 1940 ou durante a de 1950. Ainda pode ser observado, ao alto, o prédio do Seminário de Olinda e a ocupação esparsa de uma colina que hoje pertence ao bairro do Amaro Branco.

Pela Figura 37, observa-se um trecho habitado da antiga Estrada do Rio Doce revelando um mesmo tipo de forma-morfológica e representando um momento em que porções desse eixo eram habitadas por uma população composta de indivíduos pobres, provavelmente pescadores, como aqueles que foram registrados na foto.

A localização desse trecho compreende entre a antiga Estrada do Bonsucesso e a Estrada dos Bultrins. Ambas, no final da década de 1950, ainda serão consideradas como aquelas de terceira classe e o trecho fotografado por Alexandre Berzin seria considerado de primeira.

Possivelmente, a localização dessas edificações correspondesse ou ficasse nas proximidades da localidade denominada de Torrão Duro. Ao fundo, à direita, observa-se o novo Farol de Olinda e a disposição dos mocambos, bem próximos uns aos outros, e a via sem calçamento.

FIGURA 37 – TERRITÓRIO MUNICIPAL DE OLINDA (PE) - TRECHO DA ESTRADA DO RIO DOCE, PRÓXIMO À ESTRADA DOS BULTRINS

Foto de Alexandre Berzin, entre as décadas 1940/1950. ACERVO: Fundaj.

Ainda no percurso do fotógrafo Alexandre Berzin, pode-se ver o antigo Farol de Olinda cuja localização ficava no início do atual Bairro Novo, um pouco antes da atual Rua Dr. Farias Neves Sobrinho. Aí observam-se algumas jangadas, destinadas à atividade pesqueira (Figura 38).

FIGURA 38 – TERRITÓRIO MUNICIPAL DE OLINDA (PE) - ANTIGO E INEXISTENTE FAROL

Foto de Alexandre Berzin, entre as décadas 1940/1950. ACERVO: Fundaj.

Mais para o Norte, ainda em área que se inseriria, a partir de 1960, no “Quadro Urbano”, o mesmo fotógrafo registrou o rio Tapado e um momento do cotidiano de um pescador que habitava, possivelmente, em suas proximidades, no atual Bairro Novo (Figura 39).

FIGURA 39 – TERRITÓRIO MUNICIPAL DE OLINDA (PE) - RIO TAPADO

Foto de Alexandre Berzin, entre as décadas 1940/1950. ACERVO: Fundaj.

Possivelmente, a habitação do pescador fotografado fosse idêntica àquelas situadas em Casa Caiada, cujo aspecto morfológico denunciasse a paisagem registrada na Figura 40, localizada já na área suburbana do município.

FIGURA 40 – TERRITÓRIO MUNICIPAL DE OLINDA (PE) - CASA CAIADA

Foto de Alexandre Berzin, entre as décadas 1940/1950. ACERVO: Fundaj.

Provavelmente, a foto da paisagem capturada, na figura anterior, correspondesse à localidade denominada de Caravelas ou àquela de Ilha das Cobras, inseridas no “Quadro Suburbano” do município. As localidades de Ilha das Cobras e de Caravelas podem ser localizadas, respectivamente, pelos números 21 e 22, na figura 35.

Enquanto a de Ilha das Cobras se localizava em um trecho do atual bairro de Casa Caiada, a de Caravelas se inseria nos atuais limites do Bairro Novo. Ambas ficavam próximas ao rio Jatobá e, relativamente, adjacentes ao mar.

Ainda no tocante à Ilha das Cobras, Moraes (1962) a considerou como um núcleo suburbano que era constituído por mocambos, em cuja área havia terrenos alagadiços. Esta característica “lhe imprime, no inverno, certa feição de ilha, procurada por ofídios no tempo em que ainda havia espesso mato na planície praiana. Estão sendo retirados os mocambos em consequência de loteamento recentemente aprovado28.” (p.128) (grifo nosso).

Alexandre Berzin prosseguiu, em suas explorações, no sentido Norte, alcançando a antiga Praia do Rio Doce, onde se localizava a Igreja (ou Capela) de Santana. De acordo com Duarte (1976), o equipamento religioso data do século XVIII e foi edificado pelo Sr. Elias Francisco Bastos e sua mulher, D. Maria do Ó. O casal fez a doação do terreno, por escritura pública, em 23 de janeiro 1782. A edificação ainda existe, mas, hoje, com a definição de bairros, encontra-se inserida no bairro de Casa Caiada (Figura 41).

28 De acordo com as observações na cartografia que localizou os loteamentos, a partir da pesquisa realizada na

Prefeitura, acredita-se que o parcelamento, ao qual se referiu o autor, se trate daquele denominado Jardim Brasília, detentor de uma área de 70.895,25m², dividida em 11 quadras e 148 lotes, de 19/06/1962, realizado pelo Sr. Uiraquitam Bezerra Leite.

FIGURA 41 – TERRITÓRIO MUNICIPAL DE OLINDA (PE) - ANTIGA PRAIA DO RIO DOCE

Foto de Alexandre Berzin, entre as décadas 1940/1950. ACERVO: Fundaj.

Também outro fotógrafo, Sr. Júlio Vieira Barbosa, registrou aspectos da localidade dos Peixinhos, constatando as formas-aparência de edificações localizadas em trechos da Estrada de São Benedito, bem como o Escritório da Fasa que se localizava na atual Rua Vasco Rodrigues. As Figuras 42 e 43 oportunizam desvendar aspectos dessa localidade que passou a compor o “Quadro Suburbano”, coincidentemente, no mesmo ano em que as fotos foram registradas.

FIGURA 42 – TERRITÓRIO MUNICIPAL DE OLINDA (PE) - ESTRADA DE

SÃO BENEDITO - MISSA

CAMPAL

Foto de Júlio Vieira Barbosa, 1960. ACERVO: D. Zuleide de Paula.

FIGURA 43 – TERRITÓRIO MUNICIPAL DE OLINDA (PE) - ESTRADA DE SÃO BENEDITO – FESTA DO DIA DO TRABALHO

Foto de Júlio Vieira Barbosa, 01 mai. 1960. ACERVO: D. Zuleide de Paula.

A figura 42 se refere a uma missa campal realizada nas proximidades da frente do atual Centro de Atendimento Integral à Criança (Caic), segundo informações de D. Zuleide de Paula; a figura 43, revela um momento do evento ligado ao Dia Mundial do Trabalho, promovido pela Fasa. Nas proximidades desse trecho da Avenida São Benedito ficava o Escritório Central da Fasa, sede social da empresa, cujo aspecto pode ser visualizado pela Figura 44. Vê-se ao fundo uma colina sem edificações a qual, um pouco mais de vinte anos depois, seria atravessada pela implantação de um trecho da II Perimetral Metropolitana.

FIGURA 44 – TERRITÓRIO MUNICIPAL DE OLINDA (PE) - ESCRITÓRIO CENTRAL DA FASA - 1960

Foto de Júlio Vieira Barbosa, 01 mai. 1960. ACERVO: D. Zuleide de Paula.