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1 A GEOGRAFIA HISTÓRICA NA COMPREENSÃO DAS CONFIGURAÇÕES ATUAIS DA CIDADE

1.1 Breve contextualização da geografia histórica

Há registros de que, antes mesmo do estabelecimento da geografia moderna, houve trabalhos, com temáticas diversas, que abrangeram a dimensão temporal, embora a situação histórica dada os tenha limitado, devido ao ponto de vista ecológico. Esse período foi denominado pelo professor Milton Santos como “pré-história” da geografia e o conjunto de temas dessas pesquisas era: “propagação de raças, linguagens, religiões, plantas cultivadas, animais domésticos, modos de vida, novas técnicas e todas as outras características distintivas das civilizações” (SANTOS, 2003, p.42). Tais pesquisas eram expressão da evolução da humanidade, uma história que se constituiu em fragmentos, bem como caracterizando, no espaço, em determinado instante, particularidades relativas a cada sociedade. Assim sendo, se constatou a existência de uma geografia histórica, embora fossem poucos os autores a entender que a história de um lugar se constituísse de elementos locais e extralocais (SANTOS, 2003).

Vale a pena frisar que, Andrade (1987), ao falar do surgimento da geografia contemporânea e fazer um paralelo entre o capitalismo e o desenvolvimento dessa ciência, salientou que “o desenvolvimento das ciências em geral e da geografia em particular acelerou-se nos séculos XVIII e XIX, em conseqüência da expansão do capitalismo.” Mas, como lembrou Moraes (1994), até o final do século XVIII, não se pode considerar o conhecimento geográfico detentor de padronização, unidade temática e de formulações contínuas. Afinal, Brunhes (1948, p.30) já lembrara que “ha sido preciso llegar al siglo XIX para asistir al verdadero renacimiento de la geografía en Europa.”2

Assim, no final do século XIX, surge a geografia moderna, fato que a fez estar no patamar de uma ciência autônoma, graças aos conhecimentos que foram acumulados pelas práticas dos homens, ao longo de sua história sobre o planeta Terra, desde a Antiguidade. Até no que se refere ao espaço de tempo que se antecipou ao início do século XX, Santos (2003) admitiu que a disponibilidade do

conhecimento que se tinha do mundo havia promovido uma “visão inclusive do mundo”, manifestando-se em um privilégio de poucos geógrafos, que iam além do conhecimento empírico da época na qual estavam inseridos. Com base nisto, ele afirmou: “é por isto que, tal qual a geografia histórica, a geografia científica não poderia ter surgido nada mais cedo do que surgiu.” (p.42).

O primeiro paradigma que caracterizou a geografia foi o “determinismo ambiental” e surgiu na Alemanha sob a organização de Frederic Ratzel, embora ele não tenha sido, segundo Corrêa (1991), o expoente máximo. Broek (1972) lembrou que as influências ambientais não foram as únicas recorrências de Ratzel, pois, também, enfatizou, a questão dos “fatores histórico-culturais”.

A obra de Ratzel, fundadora da geografia humana, foi intitulada de “Antropogeografia: fundamentos da aplicação da geografia à história”, de 1882. Nela, ele desenvolveu conceitos essenciais como o de “território” e o de “espaço vital”. Estes foram considerados por Corrêa (1995) como fortemente enraizados na ecologia. O autor ainda verificou que, enquanto o conceito de “território” se ligava à questão da “apropriação de uma porção do espaço por um determinado grupo”, o de “espaço vital” dizia respeito às “necessidades territoriais de uma sociedade em função de seu desenvolvimento tecnológico, do total de população e dos recursos naturais”. Alguns termos contidos nesses conceitos ratzelianos, tais como, por exemplo, “sociedade” e “população”, fazem reportar a concentrações demográficas e, de certa forma, permitem evocar a cidade. Portanto, sob esse paradigma, a cidade não ficaria de fora da abordagem, uma vez que, além de utilizar categorias gerais da biologia, lançava mão, também, da História “como terreno de verificação das ciências sociais.” (GOMES, 1996, p.185).

Por sua vez, o “possibilismo” se originou na França e teve em Paul Vidal de La Blache, seu principal formulador. Tal paradigma, que se opunha ao primeiro, também evidenciava as relações entre o homem e o meio natural, mas, a “reação às generalizações extremas dos deterministas ambientais conduziu a uma contratese, a do possibilismo, na qual o homem era apresentado como um agente ativo, ao invés de passivo.” (JOHNSTON, 1986, p.60). Vidal de La Blache prestigiou a História (MORAES, 1994) e apontou o “gênero de vida” – um conjunto de técnicas e costumes, construído e passado socialmente – como aquele pelo qual “reconheceu plenamente que a escolha do homem é severamente limitada pelo sistema de valores de sua sociedade, sua organização, tecnologia” (BROEK, 1972, p.38). O “gênero de vida” mais o “organismo”, o “meio” e a “ação humana” formaram as quatro ideias recorrentes na obra vidaliana, enquanto seu método se caracterizou pela observação (descrição), comparação e conclusão, como esclareceu Gomes (1996).

Ao abordar acerca dos “geógrafos universitários frente a geólogos e historiadores”, Capel (1981, p.119) destacou que “de una manera general, puede decirse que en Francia la geografía se

desarrolló primeramente por historiadores y a partir de la historia, afirmando de forma creciente su carácter „científico‟ o „moderno‟ con el crecimiento de la geografía física.”3

Para Brunhes (1948), seguidor das ideias de Vidal de La Blache, ao se preocupar com um modo de agrupar e classificar, em série, os fatos da geografia humana, realiza-o pela ordem da complexidade: a “geografia das primeiras necessidades vitais”; a “geografia da exploração da terra”; a “geografia econômica e social”; e, por fim, a “geografia política e geografia histórica”. Ao falar acerca desta última série de fatos da geografia humana, ligados à geografia histórica, isto é, política, militar, administrativa etc., Brunhes considerou que a crítica a ela deve ser mais perspicaz e prudente. Ele ainda declarou que, de forma alguma, toda a história pode ser explicada pela geografia. Para ele, a geografia histórica é a parte mais complicada da geografia humana. É, ao mesmo tempo, o empreendimento geográfico mais audaz, mais ousado e que, frequentemente, parece mais fácil. Assim, “la primera consecuencia de esta concepción más científica de las relaciones entre la geografía y la historia, es que hay que empezar en la misma cantera por trabajos menos ambiciosos y más modestos.”4

(BRUNHES, 1948, p.39).

Como visto anteriormente, os dois primeiros paradigmas da geografia moderna não prescindiram da perspectiva histórica, embora tenham se pautado em uma abordagem das relações do homem e o meio natural. Dentre os vários países em que se estabeleceu essa discussão, em torno da geografia histórica, esteve a Itália onde, ao ocorrer certo arrefecimento desses estudos, um autor italiano, atribuiu este fato ao “desaparecimento” de uma geração de geógrafos possuidores de uma formação clássica e humanista, sensíveis aos problemas históricos (FERRO, 1986).

Há quem admita, também, que “„geografia histórica‟ é um termo que vem sendo empregado há muito no mundo da língua inglesa para descrever certas variedades de escritos topográficos, e é um termo que, nos anos mais recentes, veio a identificar uma subdisciplina aparentemente distinta da geografia acadêmica.” (PHILO, 1996, p.269).

Até mesmo o geógrafo norte-americano que deu nova dimensão à questão do método regional, o terceiro paradigma da ciência geográfica (CORRÊA, 1991), admitiu, ao tratar do “tempo e gênese na geografia” que “os geógrafos estudam o passado não só como „a chave do presente‟, mas também em função do seu próprio conteúdo geográfico.” (HARTSHORNE, 1978, p.90). Porém, Richard Hartshorne introduzira, na geografia angloamericana, ainda nos anos de 1930, certo “rompimento” na questão analítica entre a geografia e a história. Enquanto esta seria uma ciência ligada às “relações de tempo”, a primeira se vincularia às “relações espaciais”. Assim, inspirado em

3

“de uma maneira geral, pode-se dizer que na França a geografia se desenvolveu primeiramente por historiadores e a partir da história, afirmando de forma crescente seu caráter „científico‟ ou „moderno‟ com o crescimento da geografia física.” (tradução nossa).

4 “a primeira consequência desta concepção mais científica das relações entre a geografia e a história, é que há que

geógrafos e filósofos alemães, herdeiros de um pensamento mais distante, Hartshorne preconizava que na geografia, a questão do tempo geralmente era posta em outro plano menos importante. Possivelmente, este pensamento de Hartshorne não tenha se efetivado na prática da geografia histórica, pois em meados do século XX, tanto Carl Sauer como Henry Clifford Darby voltaram a atenção para questões que diziam respeito ao tempo (PHILO, 1996).

Talvez o que Chris Philo intentou explicar esteja exposto em uma declaração de Hartshorne (1991, p.18), mais precisamente, no item “história na geografia”, ao tratar acerca da relação da história com a geografia, podendo-se constatar que:

Within the field of geography itself what consideration should be given to the sequence of historical development? Some geographers insist that in order to maintain the essential point of view of geography – the consideration of phenomena in their spatial relations – any consideration of time relations must be secondary and merely supplementary. Others however urge that the geographer is primarily concerned with the development of, or changes in, the phenomena which he studies; time relations therefore become of major importance.5

Quanto a H. C. Darby, Chris Philo, apoiando suas reflexões no trabalho clássico do autor inglês, de 1953, “The relations of Geography and History”, expõe que ele concebia, no tocante à explicação da paisagem, a atividade do geógrafo histórico como essencial. Antes, Philo identificara a predileção dos geógrafos históricos por fenômenos possuidores de materialidade óbvia, enquanto os historiadores se prendiam aos imateriais, provocando, assim, um distanciamento entre as atividades desses profissionais. No citado trabalho de Darby, portanto, Philo comenta que ele codificou modos de reunir a história e a geografia: as “geografias passadas”; a “história por trás da geografia”; e, a “geografia por trás da história”. Denuncia, também, que ele “imprimiu à geografia histórica uma direção que a afastou do muito que havia de interessante no campo de história” (PHILO, 1996, p.275), embora isto não tenha desvalorizado seu estudo, considerou o autor.

Como são destacadas “ideias geográficas” que se anteciparam, há muito tempo atrás, ou seja, mesmo a partir da Antiguidade, àquela conhecida como Geografia moderna, no século XIX (ANDRADE, 1987), o pensamento histórico revela, também, um processo que se antecipou à História, em sua fase atual. Reis (2006, p.15), por exemplo, no primeiro capítulo de sua obra buscou realizar uma reflexão crítica, ao destacar “metafísica e história”, acerca do esforço ocidental, ao averiguar que “ao longo do último milênio, os historiadores ocidentais manifestaram preocupação

5No campo da própria geografia que consideração seria dada para a seqüência do desenvolvimento histórico? Alguns geógrafos insistem que para manter o ponto de vista essencial da geografia – a consideração dos fenômenos em suas relações espaciais – qualquer consideração das relações de tempo deve ser secundária e meramente suplementar. Outros, contudo, argumentam que o geógrafo está fundamentalmente preocupado com o desenvolvimento de, ou alterações nos fenômenos que ele estuda; relações de tempo, portanto, tornam-se de grande importância. (tradução nossa).

constante com o destino de uma „humanidade universal‟.” Mais adiante, ao tratar da “modernidade”, o autor – ao se reportar à Europa ocidental –, admite que, no intervalo de tempo, compreendido a partir do século XIII ao XV, houve o surgimento de “uma nova consciência do sentido histórico”.

Para Janotti (2010), desde a segunda metade do século XIX que a História havia se afirmado como disciplina acadêmica estabelecendo-se, com isto, “parâmetros metodológicos cientificistas”, refletindo sobre as fontes de investigações, a fim de se chegar à especificidade da história.

Mas, ao refletir sobre “modernidade e história-conhecimento”, Reis (2006, p.36) esclarece, observando, aí, um paradoxo, que “a história-conhecimento pretendeu emancipar-se da influência da Filosofia da História e tornar-se „científica‟”. Entretanto, os historiadores-cientistas apenas se declaravam antifilosóficos porque, na prática, encobriam a sujeição às ideias e conceitos da Filosofia da História. Deste modo, as narrativas filosóficas organizavam os eventos na história científica. Para Janotti (2010), contra a Filosofia da História se colocava o pensamento cientificista da escola metódica – que estimulara, na historiografia francesa, uma produção no âmbito da História política, no final do século XIX – devido a ela realizar generalizações.

Em outro momento, Reis (2006) destacou os discursos hegeliano e iluminista como fundamento do conhecimento e da ação, históricos. Com a “pós-modernidade”, ele lembrou a resistência de Nietzsche à tirania da Razão sobre o sentido histórico, provocando uma profunda fissura no que tange à identidade ocidental. Também Marx e Freud foram apontados como “grandes críticos do projeto moderno da história como produção da autoconsciência e da liberdade.” (p.44). Ainda para este mesmo autor, a primeira metade do século XX foi marcada pelo predomínio de uma “representação estrutural da história”, criada pelos autores do século anterior que foram contrários ao sentido teleológico das filosofias da história.

No último ano do século XIX, devido à especificidade extraordinária da História política, profissionais dessa ciência, que agora se uniam no âmbito do contexto da metodologia da “síntese histórica”, na qual se destacava como pensador, Heri Berr, evidenciam a necessidade de se percorrer outras disciplinas como a geografia humana, no que diz respeito à necessidade da explicação histórica abranger as inter-relações culturais e modos de vida (JANOTTI, 2010).

Nessa geografia humana, a França contara com a atuação de Paul Vidal de La Blache que, segundo Claval (2005), a geografia que ele propôs foi duplamente histórica. Ele legou a temporalidade da vida natural e a temporalidade social e cultural dos gêneros de vida, inserindo a geografia na duração (tempos longos da história lenta – da natureza –, e tempo dos gêneros de vida). De acordo com Ferro (1986, p.80) “em França, a geografia histórica preferiu muitas vezes a forma de uma introdução histórica a dada situação geográfica.” É em Vidal que “... Lucien Febvre

et l'École des Annales trouvent l'idée d'une histoire qui traque de nouveaux objets, ces réalités façonnés par le vivant, par les habitudes et les moeurs: c'est de lui que part Fernand Braudel lorsqu'il invente la longue durée.”6

(CLAVAL, 2005, p.44).

O trabalho “La Terre et l'Évolution Humaine. Introduction Géographique à l'Histoire”, de Lucien Febvre, publicado em 1921, se inseriu no contexto da ambição da “síntese histórica” que pretendia uma História da totalidade (JANOTTI, 2010). Tal obra exerceu influência no fortalecimento da crítica à ideologia ambientalista que muito assinalara a geografia moderna, em fins do século XIX, introduzindo novos temas no pensamento geográfico (PIRES, 2010). Muito provavelmente, a evidência dessa crítica revele aquilo que Soja (1993, p.46) expôs quando abarcou questões acerca da “História: geografia: modernidade”, comentando que:

Impedida de ver a produção do espaço como um processo social, enraizado na mesma problemática da construção da história, a teoria social crítica tendeu a projetar a geografia humana no pano de fundo físico da sociedade, assim permitindo que seu poderoso efeito de estruturação fosse jogado fora juntamente com a água suja de um determinismo ambiental rejeitado.

Alguns eventos históricos fizeram com que historiadores enfatizassem a questão das transformações e dos conflitos sociais, após a I Guerra Mundial. Nesse contexto, aparece um grupo desses profissionais, dentre eles Lucien Febvre e Marc Bloch, ligados à revista “Annales d‟histoire économique et sociale”, de 1929, que retomaram, em alguns aspectos, o pensamento da “Revista de Síntese Histórica” e não acatavam os desígnios da historiografia política tradicional (JANOTTI, 2010).

De acordo com Birardi, Castelani e Belatto (2010), Lucien Febvre e Marc Bloch foram dissidentes da Revista de Síntese. Ao idealizarem renovar a história, fundaram a Revista dos Annales. Seus objetivos eram a pluridisciplinaridade e união das ciências humanas. Ao citar Martim, não exposto nas referências de seu artigo, os autores permitem observar que a corrente dos Annales abandona o “acontecimento” e persiste na “longa duração”.

[...] a nova história não estuda épocas, mas estruturas particulares. Aqui reside o conceito de „História de Longa Duração‟. Segundo Braudel, a história situa-se em três escalões: a superfície, uma história dos acontecimentos que se insere no tempo curto (concepção positivista); a meia encosta, uma história conjuntural, que segue um ritmo mais lento; em profundidade, uma história estrutural de longa duração, que põe em causa os séculos. (BIRARDI; CASTELANI; BELATTO, 2010, [n.p.]).

6 “... Lucien Febvre e a Escola dos Annales encontram a ideia de uma história que persegue novos temas, essas

realidades moldadas pela vida, os hábitos e costumes: é dele que parte Fernand Braudel quando ele idealiza a longa duração.” (tradução nossa).

Foi nesse contexto que se constituiu a “Nova História”. Ao discutir acerca da “pós- modernidade e história-conhecimento”, Reis (2006, p.53) expressou que “a historiografia dominada pelo processo cultural da modernidade [...] foi absolutamente dominante até a primeira geração da Escola dos Annales.”

Segundo Janotti (2010), Fernand Braudel, seguidor das ideias de Lucien Febvre, tornou-se célebre com a obra “La Mediterranée et le monde méditerranéen à l‟époque de Philippe II”, de 1949, servindo como um bom exemplo, no que diz respeito à História total. Abreu (2011) considerou essa obra de Braudel como monumental. Ela, mais os trabalhos de Vidal de La Blache, tais como "Tableau de la géographie de la France" e "La France de l'Est" foram destacadas pelo autor como aquelas inseridas nos poucos estudos que integraram espaço e tempo.

O referido trabalho de Braudel “representou a inovação metodológica para o estudo histórico. Tal obra, característica do espírito dos Annales, volta as costas para a tradição da „história historicizante‟.” (BIRARDI; CASTELANI; BELATTO, 2010, [n.p.]). Ainda para Janotti (2010), o prestígio de Braudel se expandiu quando sistematizou princípios acerca dos variados ritmos do tempo histórico, estabelecendo a longa duração (tempo geográfico), média duração (tempo social) e curta duração (tempo individual). Mais tarde, segundo a autora, os grupos dos Annales fariam correspondência da “longa duração” com as estruturas; da “média duração”, com as conjunturas; e, da “pequena duração” com os acontecimentos.

Conforme visto anteriormente, segundo a citação de Claval, Fernand Braudel partira de Vidal de La Blache quando idealizou a longa duração. Ao tratar acerca de “História e durações” o próprio Braudel (1970, p. 64) declarou que:

Todo trabajo historico descompone al tiempo pasado y escoge entre sus realidades cronologicas según preferencias y exclusivas más o menos conscientes. La historia tradicional, atenta al tiempo breve, al individuo y al acontecimiento, desde hace largo tiempo nos ha habituado a su relato precipitado, dramático, de corto aliento.7 Em torno da discussão de “tempos rápidos e tempos lentos”, o professor Milton Santos se referiu ao idealizador da longa duração colocando que, na tentativa de aperfeiçoar o método histórico, “[...] Fernand Braudel propôs uma distinção entre um tempo longo e um tempo curto, este último sendo característico das situações conjunturais, enquanto o primeiro marcaria as estruturas, os movimentos de fundo, incompletamente apreendidos através do tempo curto.” (SANTOS, 1997, p.212). Para Haesbaert (2002, p.101) “a aproximação entre historiadores e geógrafos apresenta uma

7 “Todo trabalho histórico decompõe o tempo passado e escolhe entre suas realidades cronológicas segundo

preferências e exclusividades mais ou menos conscientes. A história tradicional, atenta ao tempo breve, ao individuo e ao acontecimento, desde longo tempo nos tem habituado a seu relato precipitado, dramático, de curto alento.” (tradução nossa).

série de idas e vindas – desde a „geo-história‟ de Fernand Braudel, onde as perspectivas tradicionais das duas disciplinas se encontravam intimamente ligadas”.

Vale a pena frisar que no começo da década de 1920, uma geografia histórica resultara da produção de pensadores franceses ligados ao “Collège de France”, do qual participaram geógrafos como Auguste Longnon, Jean Brunhes, Roger Dion, entre outros. Nesse período, ela é difundida nos Estados Unidos, tendo em Carl Sauer, seu pensador mais expressivo. Na década de 1940, em uma nova fase de seu desenvolvimento, a geografia histórica recebe contribuições de geógrafos como, por exemplo, a do inglês H. C. Darby. Já na década posterior, na França, surgem os nomes de Xavier de Planhol e Paul Claval (PIRES, 2010).

Após a Segunda Guerra Mundial, surgiu o movimento que fundamentou a crítica à geografia