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O PDLI de Olinda (1972) e algumas implicações para o território municipal

4 ASPECTOS DA ATUAÇÃO DA EMPRESA FASA ENTRE 1958 E 1966 E A DINÂMICA DO PARCELAMENTO DO SOLO NO PERÍODO

5 O PARCELAMENTO DO SOLO EM OLINDA NA TERCEIRA FASE DA EMPRESA FASA: 1967 a

5.2 O processo de instituição da RMR

5.2.1 O Plano de Desenvolvimento Local Integrado (PDLI) de Olinda

5.2.1.2 O PDLI de Olinda (1972) e algumas implicações para o território municipal

No início da década de 1970, já se encontrava em elaboração o PDLI (PREFEITURA DE OLINDA, 1972b), com vistas à “análise da situação e tendências do desenvolvimento”, a fim de elaborar um “diagnóstico e prognóstico” do município, no contexto da instituição da RMR, como visto anteriormente. Iniciada sua elaboração, ainda durante a gestão do interventor Eudes Costa, o PDLI foi a base da formulação da Legislação Urbanística Básica (PREFEITURA DE OLINDA, 1973), concluído na gestão do Prefeito Ubyratan de Castro e Silva (1971-1973).

Naquele momento no qual se constituía o PDLI, considerava-se que o crescimento da cidade olindense tendia ao aumento das vilas que recebiam financiamento do BNH, bem como das edificações em parcelamentos aprovados que formavam conjuntos, cuja concepção resultava em ausência de organicidade. E ainda acrescentava-se: “o desmonte indiscriminado de elevações e os aterros de certas áreas não apoiados em plano que melhor oriente estas ações, vem prejudicando certos valores da cidade que inicialmente se desenvolvia em perfeita adequação às condições naturais do sítio.” (PREFEITURA DE OLINDA, 1972b, p.103, v. 1, tomo I).

No que se refere aos dados sobre “os espaços urbanos”, os técnicos admitiram que “Olinda praticamente não dispõe de zona rural” e, ainda, que era “possível distinguir nitidamente os limites e as características dos distintos espaços urbanos, inclusive através da tipologia das construções e da própria organização dos espaços” (PREFEITURA DE OLINDA, 1972b, p.103, v. 1, tomo I).33Acredita-se que o corpo técnico, envolvido com o PDLI, identificava a estrutura socioespacial de Olinda, a partir dos limites físicos das construções, porque, no início da década de 1970, o processo de expansão das favelas, ocupando áreas insalubres e outros espaços da cidade, possivelmente, ainda não se tornara tão intenso.

Portanto, distinguia-se a “cidade velha”; o “Bairro Novo”; os “aglomerados surgidos espontaneamente”: Peixinhos, Águas Compridas e Salgadinho; os “conjuntos habitacionais frutos dos programas do governo para população de renda limitada”: Ouro Preto, Rio Doce, Peixinhos e Jardim Brasil; e, “o espaço praticamente desocupado, no interior do município”. Todos esses lugares da cidade inseriam-se, portanto, pelo PDLI, em três tipologias: “ocupações espontâneas” – por população de baixa renda; “ocupação dirigida” – por “cooperativas habitacionais”; e, “ocupação dirigida particular” – ao que parece podendo estar atrelada à classe média e alta, ou não.

Ainda segundo o PDLI, ao descrever “o problema habitacional”, até 1968, existiu um movimento espontâneo de “ocupação do espaço urbano” e a partir desse período houve “um movimento dirigido” – representado pelos conjuntos habitacionais –, que passou a coexistir com o espontâneo. Enquanto com este, de acordo com o documento, o vale do Beberibe foi sendo ocupado por população de baixa renda, com a ocupação dirigida, considerada como “função da proximidade de Olinda com Recife e disponibilidade de terreno”, se concretizaram os conjuntos habitacionais.

O PDLI ainda trouxe dado acerca da “rede viária urbana”, informando que ela se caracterizava “como um sistema de três eixos bem definidos convergindo em um ponto do Varadouro e sobre os quais se apóia o restante da malha viária da cidade.” (PREFEITURA DE OLINDA, 1972b, p.129, v.1, tomo I). Naquele momento, os técnicos informavam que tal sistema era composto, a partir do Varadouro, pela Avenida Presidente Kennedy – que ainda não se

33 Cabe destacar que quando o PDLI preconizava uma área rural “insignificante”, o movimento de trabalhadores da

terra dava sinais de organização e fortalecimento. Em virtude da possibilidade iminente de transformação das terras rurais em urbanas, os 550 trabalhadores que viviam exclusivamente do cultivo das terras do Forno da Cal e Fragoso, secundados pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Olinda e Paulista solicitarão ao governador Eraldo Gueiros Leite, em 1971, o cumprimento do Estatuto da Terra (SOUZA, 2008).

encontrava pavimentada naquele momento, mas que isto estava previsto para 1972; pela Rodovia PE-1 (ao que tudo indica, a atual PE-15); e pela Avenida Litorânea, compreendendo os trechos das vias: Avenida Sigismundo Gonçalves, Rua do Sol, e Avenida Getúlio Vargas. Nesse período, este último trecho estava em processo de “pavimentação em asfalto”.

Naquela época os técnicos que participaram do PDLI ainda consideraram que a antiga Avenida Rio Doce (atual Avenida Governador Carlos de Lima Cavalcanti), que ainda não era pavimentada, poderia:

[...] se devidamente tratada, se transformar em importante elemento do sistema viário principal e para onde deverá ser desviado o tráfego de coletivos, reduzindo os conflitos veículo-pedestre para as populações que se dirigem de suas residências para as praias e permitindo ao mesmo tempo a ocupação mais rápida de trechos atualmente desvalorizados entre a avenida citada e a rodovia PE-6. (PREFEITURA DE OLINDA, 1972b, p.129, v.1, tomo I).

Ainda nesse contexto viário, no que consistia às “ligações inter-regionais” os técnicos expressaram que a ligação de Olinda com a área metropolitana era insatisfatória. Para eles a precariedade do sistema se configurava no contexto da inexistência de uma via que ligasse Olinda à BR 101. A Avenida Costa Azevedo e a Estrada do Caenga foram evidenciadas como duas vias que ligavam o sistema viário do Recife à Avenida Presidente Kennedy. Mas, a Avenida Olinda era aquela que apresentava a incidência de maior movimento, com um total de 2.000 veículos por hora “nas horas de pico”. O item que abordou o sistema viário de Olinda ainda trouxe várias séries estatísticas com as quais as tabelas correspondentes mostraram os vários resultados das variáveis utilizadas, como, por exemplo, a “média de veículos por minuto nas horas de pico nos principais acessos de Olinda a Recife”, realizado pela Sociplan, em novembro de 1971. A Figura 49 mostra a rede viária básica do território municipal de Olinda, no início da década de 1970.

No tocante à situação das vias no trecho do litoral Norte do território municipal, em cuja direção a evolução do espaço urbano olindense também se estabelecia, Novais (1990), possivelmente reportando-se à década de 1950, enfatizou as precárias situações das estradas que atendiam às áreas dos diversos parcelamentos que eram aprovados. O autor ainda correlacionou as debilidades dos transportes, que para essas áreas se destinavam, com a má situação das estradas e lembrou que “a maioria das residências só era habitada no verão, ficando fechadas no inverno, quando seus moradores retornavam ao Recife.” (NOVAIS, 1990, p.42).

Ao se referir à porção do território municipal, próxima a Beberibe, comentou sobre o crescimento populacional dessa área, ao longo da Estrada de São Benedito e da ocupação das colinas. Segundo ele, o acesso era facilitado pela localidade do Porto da Madeira e pelo terminal de ônibus do Beberibe, cujos veículos que para ali se dirigiam, circulavam pelo município do Recife.

Também lembrou que “do lado de Olinda propriamente, sem calçamento, os transportes eram muito precários.” (NOVAIS, 1990, p.42). Daí pode-se vislumbrar qual era a situação dos trechos das atuais estradas de Caixa D‟Água, de Passarinho, do Caenga etc., naquele momento.

Dentre os resultados obtidos com o PDLI, observou-se que o território municipal de Olinda foi dividido em 12 setores da cidade. Consequentemente, o uso do solo, no tocante a antiga área rural remanescente, foi alterada para urbano. É a partir desse período que o restante da área de exploração do fosfato, pertencente às propriedades do Forno da Cal e Fragoso, ficará disponível para a implantação de parcelamentos, efeito da conversão de uso rural para uso urbano.

O Setor 1, correspondia às populações de Caixa D‟Água e Águas Compridas. Segundo o PDLI, era um setor de difícil acesso e com carência de serviços. Quanto ao Setor 2, suas características eram determinadas por áreas alagadas, mocambos, instalações industriais e área fortemente conurbada com o Recife. O Setor 3, se caracterizava por “terrenos vagos”, uma faixa, provavelmente, da Avenida Presidente Kennedy, “destinada preferencialmente a uso industrial” e uma “urbanização recente” momento em que o conjunto habitacional do Jardim Brasil estava em processo de ocupação. O Setor 4, correspondente à totalidade do atual bairro de Sítio Novo e parte daquele de Salgadinho, tinha a particularidade de ser um dos que se encontravam mais próximos ao Recife. Previa-se a “substituição dos padrões locais de habitação” e a “parte alagada” não deveria ser ocupada. O Setor 5, abrangia a área do bairro de Santa Tereza e a parte litorânea do bairro de Salgadinho. Previa-se a destinação da área para parques e obras viárias, o que deveria implicar na redução da ocupação da Ilha do Maruim e uma mudança do padrão residencial com limitação dos gabaritos. Para o Setor 6, constatava-se o aparecimento de atividades novas que competiam com aquela residencial, além de um mais aprimorado controle urbanístico dos usos. Para o Setor 7, correspondente à grande parte dos limites atuais do bairro de Ouro Preto, estimava-se acréscimo de 125 unidades residenciais por ano, possivelmente por estar em construção a Vila homônima, por intermédio do SSCM, que havia parcelado o solo, em fevereiro de 1969. Com relação aos Setores 8, 9, 10 e 11, estes correspondiam a um crescimento demográfico espontâneo do município. Finalmente, para o Setor 12, o documento declara, apenas, um procedimento idêntico ao setor 1.

O PDLI não aprofundou as características de cada setor urbano. Para a razão de tal divisão, o documento expõe que “para efeito de análise, a superfície do Município de Olinda foi dividida em doze setores urbanos, segundo divisores espaciais do ponto de vista físico ou urbanístico, de modo a abranger, cada setor, uma área com características sócio-econômicas, urbanas e ecológicas relativamente homogêneas.” (PREFEITURA DE OLINDA, 1972b, p.73, v. 1, tomo I). De acordo com o arquiteto André Pina, da Secretaria de Patrimônio e Cultura (Sepac), foi a partir do PDLI que todo o território municipal olindense passou a ser alvo de apreciação (Figura 50).