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O período da República Velha e ainda algumas questões de evolução da cidade de Olinda pelo viés de propriedades fundiárias

2 O DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL DO NÚCLEO URBANO DE OLINDA E PARTICULARIDADES DE PROPRIEDADES FUNDIÁRIAS: BREVES REFLEXÕES

2.3 O período da República Velha e ainda algumas questões de evolução da cidade de Olinda pelo viés de propriedades fundiárias

A transição do período Imperial para a República foi motivada por diversos fatores que enfraqueceram a Monarquia, em prol de indivíduos que se opunham a ela, inclusive “novos grupos sociais urbanos e rurais” que pretendiam a obtenção do poder (LOPEZ, 1997a). Como consequência, se elaborou a Constituição de 1891 que estabeleceu a forma federativa e a importância dos estados, na nova ordem política, e, também, sugeriu favorecer meios jurídicos para a estrutura que a antecedeu (SOUZA, 1980).

Mas, no limiar do período Republicano, certa agitação se repercutiu, devido à necessidade do desenvolvimento de novas e diversificadas atividades econômicas, imprescindíveis ao desenvolvimento da República (GOMES, 1998). Esta representava, aos setores da sociedade urbana, que ora se iniciava, “um sinal para alteração ainda mais profunda nos mecanismos de poder.” E isto implicaria na aspiração do desenvolvimento de “[...] setores industriais[...]”. (LOPEZ, 1997b, p.25).

A propriedade fundiária era o eixo da organização social do Estado oligárquico brasileiro e o “Nordeste” se posicionou, de modo subordinado, no contexto desse Estado. O coronelismo era o agente interno das oligarquias nordestinas e, mesmo presente no período Imperial, é na República Velha que ele realmente se afirma, mantendo uma relação mútua com as oligarquias (GOMES, 1998).

Evidentemente, as terras de Pernambuco e, mais precisamente, as localizadas no entorno do Recife e Olinda, comportaram proprietários que se inseriam nesse contexto histórico de então. Foi no início desse período de instalação da República Oligárquica, mais precisamente em 20 de novembro de 1898, que a propriedade Fragoso teve seus limites demarcados e homologados, judicialmente, em janeiro de 1899 (ESCRITURA, 1951). Neste momento, ou ela ainda pertencia a Manoel Alves Barbosa – nomeado Prefeito de Olinda (1889-1892) – ou este já a havia repassado para o coronel Cornélio Padilha, depois Prefeito de Olinda (1905-1909).

No último ano do século XIX, Olinda contava com um quantitativo populacional de cerca de 20.000 habitantes. A chegada do século XX representou o advento de transformações para Olinda: as colinas mais próximas ao mar foram ocupadas por indivíduos que buscavam usufruir da brisa marinha (NOVAES, 1990).

Na primeira década do século XX, apontava-se para a necessidade de adequação da forma urbana às dinâmicas vivenciadas com a prática do veraneio, pela qual fora estimulada a expansão das edificações da cidade para mais próximo ao mar. Em 1905, na gestão do Prefeito Cornélio Padilha, "coronel" que, possivelmente, já houvera adquirido a propriedade Fragoso, comprova-se,

segundo Araújo (2007), a autorização da Câmara para a construção de avenida e outras vias que, além da possibilidade de "tornar a cidade bela", permitiria o acesso a outros distritos.

Dentre tantas histórias do Forno da Cal, destaca-se que, em 1904, ela, mais alguns sítios encravados ou adjacentes – Água Fria, Olha, Dona Manuela, Boca da Maré, Jangadinha (ou Jangada) e Pântano18 – foram adquiridos por outro enfiteuta, o engenheiro José Antônio de Almeida Pernambuco, a fim de "ampliar a atividade do Matadouro de Peixinhos", em construção, desde 1874, conforme Gondim (1961). O Dr. Pernambuco pretendia aforar, junto à municipalidade, as terras que estiveram sob o domínio do inglês Henry Gibson, desde 1859. Para tanto, indenizou as benfeitorias aos herdeiros. O termo de aforamento foi lavrado em seu favor, em 26/01/1905, na cidade de Olinda. A Figura 14 mostra o aspecto de um trecho da cidade, neste período.

FIGURA 14: ASPECTO DE TRECHO DA CIDADE DE OLINDA (PE) - 1905

Foto de Manoel Tondella, 1905. ACERVO: Fundação Joaquim Nabuco.

Ao buscar atingir aqueles indivíduos que acessavam o território para a prática do veraneio, possuidores de uma renda compatível com o projeto da municipalidade, a Prefeitura procurou estimular a edificação e povoamento do litoral compreendido do Farol até o Rio Doce. Para tanto, elaborou a Lei nº 207, de 15/10/1906, que concedia, por cinco anos, licença para quem aí edificasse, dispensando o teor da lei orçamentária vigente. Porém, esta foi uma estratégia malograda (ARAÚJO, 2007). Acredita-se que isto era reflexo do novo sistema político-institucional do país, representado pela República, evidenciando bases, cada vez mais, urbanas (ABREU, 1997a). No caso do Nordeste, deu-se a crise das usinas que estimulou parcelamentos de sítios, no Recife.

Em 1912, outro projeto, agora para o Carmo, inserido nas concepções de um novo bairro, que permitia vislumbrar “inegável soma de valor” para a cidade de Olinda, foi aprovado, e consistiria em uma renovação urbana que destruiria a colina, na qual está situada a Igreja do Carmo, abriria novas vias com larguras consideráveis etc. Devido ao seu dispêndio, no que tocava aos cofres públicos, além de questões jurídicas, o projeto se arrastou durante a República Velha e seria

revogada a Lei Municipal n.º 294, de 05/10/1912, quando da primeira gestão municipal do Prefeito João Ignácio Cabral de Vasconcelos Filho (1930-1935), após a vitória da Revolução de 1930 que implantaria a República Nova (ARAÚJO, 2007). 19

Mas, se o Poder Público encontrava dificuldades em realizar seus projetos, isto parece não ter ocorrido com as estratégias do Dr. Pernambuco. Mais tarde, outros terrenos seriam anexados à propriedade do Forno da Cal, entre 1907 e 1923, tais como: Sítio Trapicheiro, “Aguasinha”, Sítio do Viana, Sítio Serafim, Sítio Maria Libânia, Sítio do Fundão ou Olga de Souza, Nesga de Terra, Sítio do Braga, ou Água Fria do Fragoso, Sítio do Ferreira, Sítio dos Arcos e o domínio útil dos alagados de marinha nºs 130 e 59 (CERTIDÃO, 1959).

A partir de 1913, a cidade de Olinda contará com energia elétrica, antecipando-se, em seis anos, ao Recife. Consequentemente, a cidade seria servida por bonde elétrico, a partir de 1914, substituindo a Maxambomba, com terminal no Carmo (NOVAES, 1990). A Figura 15 expõe o aspecto da Estação do Carmo (C.T.U.P.O.S – Olinda).

FIGURA 15: ESTAÇÃO DO CARMO – OLINDA (PE)

Foto de autoria não identificada, anterior ou até 1914. ACERVO: Museu da Cidade do Recife.

Neste contexto dos transportes coletivos, em dois momentos distintos – aquele representado pelo da Maxambomba e o do Bonde Elétrico –, no bairro de Santa Tereza, as Figuras 16 e 17 exibem aspectos de um mesmo espaço, em que o avanço tecnológico, no setor dos transportes, exigiu a implantação de novos equipamentos, revelados na paisagem, anterior a 1914 e entre as décadas de 1940 e 1950.

19 Caso tivesse sucesso, isto representaria grande destruição de parte de suas formas-aparência (formas-morfológicas)

que seriam excluídas da paisagem em prol de outras que introduziriam novas formas-contéudo. Tal como Abreu (1997a) identificou para o Rio de Janeiro, em menor escala, evidentemente, os anseios por várias transformações, em Olinda, representavam exigências para amoldar a forma urbana com vistas à concentração e acumulação do capital.

FIGURA 16: LINHA DA MAXAMBOMBA FIGURA 17: LINHA DO BONDE ELÉTRICO

Autoria não identificada, anterior ou até 1914. ACERVO: Museu da Cidade do Recife.

Autoria não identificada, entre as décadas de 1940-50. ACERVO: Museu da Cidade do Recife.

A via, representada pelas figuras acima, é a atual Avenida Olinda, anteriormente denominada de Rua Rosário do Varadouro, podendo-se, ainda, visualizar a Igreja de Nossa Senhora do Desterro, mais o prédio do antigo Convento de Santa Teresa, dos frades carmelitas descalços, até 1831, que, desde 1834, recebera a função de orfanato e educandário (FERREIRA, 1997). A figura 16, cuja imagem, muito provavelmente, foi capturada até 1914, mostra a linha férrea e uma via paralela, sem calçamento, pela qual circulava um transeunte; no caso da figura 17, foram acrescentados o calçamento, o posteamento e, consequentemente, a fiação, com o intuito de permitir o acesso do bonde elétrico, do Recife a Olinda e vice-versa.

No que se refere a “Estrada de Ferro do Recife a Olinda e Beberibe”, pelo processo de articulação entre esses dois territórios municipais, acredita-se que o tronco, que levava à última localidade, contribuiu para a dinâmica do processo de ocupação da porção Oeste do atual território municipal olindense, principalmente, estimulando a constituição de parcelamentos registrados, a partir da década de 1930. Em uma matéria do Diário de Pernambuco verifica-se que a Maxambomba, que era movida a vapor, funcionara de 1870 a 1914:

A locomotiva ligava Recife a Olinda e saía de Beberibe, passava pela Encruzilhada e tinha seu terminal na Praça do Carmo. A partir de 1914, entrou em operação o bonde elétrico. „Em 1933 com a construção da Avenida Olinda o bonde elétrico passou a ir direto para Olinda‟, explicou o arquiteto André Pina, da Secretaria de Patrimônio de Olinda. As primeiras locomotivas apareceram no século 19 e foram um dos transporte [sic] de massa mais populares até o final da segunda guerra. (PASSOS, 2010).

Ao confrontar plantas da cidade de Olinda, de 1876 e 1915, Novaes (1990, p.37) pôde “constatar que poucas alterações se deram na evolução da cidade, nesse período. Entretanto, a

mutilação de prédios de valor histórico continuou”. O autor lembrou que, em 1907, as ruínas do Convento do Carmo foram demolidas, bem como a Igreja de São Pedro Mártir, em 1915.

Na Figura 18, contemplam-se dois momentos de desenvolvimento territorial da cidade: 1630 e 1914. Na verdade, esta figura é uma continuidade da figura 10, pela qual se pode constatar a evolução do espaço urbano de Olinda e seu entorno imediato.

Ao tratar sobre “a metropolização espacial” do Recife, Melo (1978) destacou que Olinda era um prolongamento da capital e que esteve constantemente a ela vinculada, ao desempenhar diversas funções: de cidade matriz, de centro cultural etc. O autor ainda assinalou que as funções de residência e de veraneio estiveram associadas ao município, mesmo antes do início da metropolização e, por meio delas, dava-se a integração da cidade olindense à vida urbana do Recife. Segundo ele, “finalmente, a partir de época mais recente, as praias olindenses têm oferecido os principais espaços por onde o Recife se prolonga e se estende para o norte. ”20

(MELO, 1978, p.76). No que se refere ao espaço rural, enfatiza-se que, com a conclusão das obras do Matadouro de Peixinhos, em 1919, será necessária a absorção de mão de obra para o funcionamento da empresa, atraindo indivíduos provenientes do interior de Pernambuco ou de outras áreas. O novo enfiteuta permitia que seus empregados se estabelecessem em parcelas da propriedade Forno da Cal, para fins de atividades agrícolas, favorecendo o surgimento de pequenas unidades, ligadas ao cultivo de vegetais e criação de animais. Segundo o depoimento de uma antiga moradora, “o Doutor dava a cada empregado um pedaço de terra pra plantar [...], pois a terra era muito boa.” (PAULA, 1999, p.31).

Alguns documentos, presentes no Arquivo Público Municipal Antonino Guimarães, sugerem que o Dr. Pernambuco passou a obter lucros, também, com terrenos de aluguel, destinados à moradia, indicando a possibilidade de que a propriedade fora adquirida, também, com a intenção de negócios imobiliários e, não somente, para a expansão do matadouro.

Se na propriedade Forno da Cal, evidenciavam-se tais estratégias, em 1921, registra-se que o ex-Prefeito, Cel. Cornélio Padilha, vendera a propriedade Fragoso ao português, Sr. Claudino Coelho Leal que passará a alugar, do mesmo modo que o Dr. Pernambuco, terrenos, com fins de moradia, uma vez que, com essa prática, já era detentor de várias parcelas de terras na cidade de Olinda e enriquecera com o comércio e o setor imobiliário (ARAÚJO, 2007).

Se projetos para a cidade, como aqueles do início do século XX, aumentaram a atração de indivíduos para esta porção do território municipal, outros, porém, provenientes de êxodo rural, se localizariam mais distantes, atraídos pela possibilidade de realização de atividades agrícolas, ou

20

Cabe assinalar que com o processo de emancipação do antigo distrito do Paulista, ao Norte, desde 1928, efetivado pela Lei Estadual n.º 02, de 04 de setembro de 1935, a extensão do litoral olindense sofrerá uma perda considerável (OLINDA, 1996).

apenas na busca por áreas, cujo valor do aluguel de terrenos fosse compatível com sua renda. Nesse processo, uns iam se assentando em áreas de mangues, promovendo pequenos aterros, ou iam habitar em colinas mais distantes, no interior do município (NOVAES, 1990).

Assim, com permissão, ou não, de proprietários fundiários, várias famílias vão se instalando nas propriedades do Forno da Cal e do Fragoso e, possivelmente, em outras congêneres, o que culminará em conflitos, quando da intenção de implantação de loteamentos urbanos, nessas áreas, bem como nas litorâneas.

Segundo Araújo (2007), percebe-se que o fluxo às praias, com rebatimento em construções de casas para veraneio, não era só realizado por particulares, mas agentes do ramo da construção, como senhores de engenhos falidos, viam oportunidades de enriquecimento com renda de aluguéis. Este momento, portanto, se estabelecerá, por intermédio daqueles indivíduos que detinham propriedades fundiárias, possuidores de domínio direto ou útil. Comunidades de pescadores serão expulsas, mais tarde, em prol da atividade imobiliária, com o advento do surto e consolidação de loteamentos, nessas propriedades fundiárias litorâneas que poderiam ser diversas; nas do interior do município, seriam expelidas muitas famílias de agricultores.

Quanto a essas propriedades fundiárias do interior do município, além do Forno da Cal e Fragoso, existiram, nos limites do atual território municipal de Olinda, até fins dos anos de 1920, algumas que eram denominadas de Caenga, Salgueiro, Melões (de Baixo e de Cima), Bondade, Sapucaia etc., que entrariam na questão da especulação e/ou produção imobiliária, cujas localizações e processo histórico de constituição, seriam impossível de abarcar, em sua totalidade, devido ao objetivo que se propõe com esta tese.

A propriedade Sapucaia, por exemplo, se localizava, grosso modo, a Sudoeste do Forno da Cal e, no último quartel do século XIX, compreendera a área de um engenho homônimo. No século XX, ela já pertencia à família do Sr. Pedro Ivo Veloso da Silveira.

De acordo com Moraes (1962), “Sapucaia, em fins do século passado constituía uma região isolada, um verdadeiro sertão, onde hoje se distingue a Sapucaia de Dentro e a Sapucaia de Fora, respectivamente a parte mais afastada e mais próxima do riacho Águas Compridas.”

Segundo o contato com uma antiga moradora, com mais de 80 anos de idade, verifica-se que, antes da década de 1930, o Sr. Pedro Ivo recebia foros de terrenos de aluguel de sua propriedade, localizada, relativamente, distante da cidade, cujo espaço urbano ainda detinha uma área diminuta.

A Figura 19 revela algumas propriedades fundiárias que foram possíveis localizar durante o desenvolvimento das pesquisas, existentes, no território municipal de Olinda, até o final da década de 1920.

O mais importante a destacar é que, por meio desta parte da pesquisa, constatou-se que, no final da década de 1920, vários outros proprietários fundiários, detentores ou não de domínio direto, pessoas físicas ou jurídicas, cujas terras podiam se encontrar, ou não, em área rural do município, praticavam aforamentos, aumentando seus lucros com terrenos de aluguel – e pagando imposto de terrenos alugados à PMO21 –, nos quais segmentos pobres passam a instalar seus mocambos, em área até então considerada rural ou mesmo urbana.

Deste modo, infere-se que a estrutura fundiária que se antecipou ao início do parcelamento do solo registrado pela municipalidade olindense, revela um momento histórico no qual a maioria das terras rurais havia sido apropriada por indivíduos que concebiam outras possibilidades promotoras da expansão urbana, diferentemente daquela do período Colonial e, possivelmente, do Imperial.

A área litorânea, no que se refere ao entorno do antigo Farol de Olinda, ainda se inseria em área rural, no final da década de 1920. Muito provavelmente, ela deveria apresentar paisagens semelhantes, como aquela que revela uma gravura, do início dessa mesma década e contava, em suas proximidades, com a antiga Estrada do Rio Doce, que permitia acesso, mais facilitado, para o extremo litoral Norte. A cidade de Olinda era compreendida, então, apenas por determinada área, do que atualmente se concebe como Sítio Histórico, e, pelo que se apreende, não chegava a ocupar 10% do total do território municipal atual.

Deste modo, a Figura 20, mostra uma porção da configuração territorial do litoral, contígua ao atual limite Norte do bairro do Carmo. É uma pintura para confecção de cartão postal, representando o Norte do antigo Farol, com domicílios de pescadores e/ou veranistas, além de algumas jangadas e o coqueiral, reveladores das práticas espaciais, de então, cuja forma-conteúdo pode ser detectada pelas formas-morfológicas.

FIGURA 20: FAROL DE OLINDA (PE) - 1921

ACERVO: Pharol (2010).

Novaes (1990) admitiu que a ocupação da Estrada Velha do Rio Doce, cujo entorno dispunha, além de coqueiros, também de cajueiros, só foi possível por causa da chegada da energia elétrica. Esse trecho litorâneo, anterior ao processo de ocupação de segmentos médios e/ou altos da população, era esparsamente ocupado por casebres de pescadores, como vistos na figura anterior. Neste processo, a cidade se estendeu desde o Carmo até o antigo Farol, cerca de quinhentos metros, ao Norte. Araújo (2007) destacou, também, que no trecho litorâneo, entre o Farol e o Rio Doce havia sítios com casas relativamente dispersas, cuja configuração territorial perdurou por um bom período do século XX.

Ainda nos anos da década de 1920, o bonde elétrico já podia ser acessado depois do antigo farol, área na qual havia uma circular. No final do decênio, a municipalidade, por meio de um documento (PREFEITURA DE OLINDA, 1929), determinava a proibição de construções e reconstruções de casas de taipa e mocambos no perímetro entre o Farol e a Igreja dos Milagres. Talvez, por esta época, a localidade dos Milagres já tivesse sido incorporada à cidade, por estar mais próxima ao núcleo urbano original, mas no final do século XIX, constata-se em Araújo (2007) que ela fora um povoado. Por outro lado, a localidade de Duarte Coelho, no início da década de 1930, pelo que se pode comprovar por um documento, expedido pela municipalidade (PREFEITURA DE OLINDA, 1932a), ainda será referenciada como um povoado.

Por meio de outra lei (PREFEITURA DE OLINDA, 1930a) o Conselho Municipal de Olinda decretou que proprietários de terrenos não murados, situados no perímetro da cidade, compreendendo a área além do Farol ficariam sujeitos ao imposto de quinze mil réis, “por metro corrente”, excetuando-se algumas ruas da cidade.

A Figura 21 expõe a situação, aproximada, da ocupação do território municipal, em 1930. No final da década de 1920, são detectados moradores, em terrenos de aluguel, pagando foros, também, a instituições religiosas e outros agentes que, mais tarde, a grande maioria, promoverá o retalhamento de suas respectivas propriedades fundiárias, inclusive as litorâneas, devido o acesso da população para a prática de veraneio.

Segundo Araújo (2007, p.277), pode-se perceber que:

O movimento crescente, em direção às praias de Olinda, não atraía apenas os interessados em edificar ou adquirir casa própria para passar a temporada de banhos na praia. Pessoas havia que, comerciantes ou não, identificavam no ramo da construção e no da locação de casas balneárias um filão para viver, com maior ou menor fortuna, da renda proveniente dos aluguéis. Muitos senhores de engenho, falidos, encontraram em Olinda e no ramo da especulação imobiliária um meio de vida.

Este momento, portanto, foi revelador de uma nova organização social que será estabelecida, não apenas no tocante àqueles indivíduos que detinham propriedades fundiárias, sob o domínio direto, bem como os que mantinham domínio útil.

Mesmo sem ter sido registrado, vale a pena destacar que, também por lei (PREFEITURA DE OLINDA, 1930b), a municipalidade aprovou, ainda no final da década de 1920, o parcelamento de uma propriedade, pertencente a D. Alice Baptista da Silva, localizada no Rio Doce, cuja planta, levantada em março desse ano, foi realizada pelo engenheiro Álvaro Silva. Cabe frisar que tal parcelamento não se encontra registrado na Prefeitura, no devido “Livro de Registro de Parcelamentos.” É só a partir da década de 1930 que tais feitos passarão a ser constatados, apenas para lembrar mais uma vez, embora se perceba que não houve uma preocupação maior com a ordem de tais aprovações, no tocante à sequência cronológica, quando da numeração dos parcelamentos.

Pode-se destacar, aqui, a posição de Menezes (2002, p.56), ao tratar sobre “a chegada do progresso” à cidade. Neste contexto ele destacou que:

Em Olinda, diante das facilidades de acesso que foram possibilitadas, antes pelo trem urbano, depois com os carros elétricos, os „bondes‟, e o maior interesse pelos banhos de mar, os proprietários de sítios, que se estendiam junto ao mar e ao longo