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3 PARCELAMENTO DO SOLO ENTRE 191 E 1957: DIRETRIZES E FATOS ANTERIORES À INSERÇÃO DA EMPRESA FASA NO PLANO DE METAS

3.1 Fatos que envolveram a aprovação de parcelamentos do solo entre 1931 e 1957: legislações e alguns aspectos da dinâmica fundiária

3.1.1 Base legal em torno de parcelamentos do solo: década de 1930 e

3.1.1.1 A legislação municipal

Em 1931, o Decreto n.º 26, da Prefeitura de Olinda (1931e), na gestão de João Ignacio Cabral de Vasconcelos Filho, foi elaborado sob o discurso do interesse da municipalidade em encarar o problema da habitação, em benefício das “classes menos favorecidas”, e, também, do “município”. Para este, tal empenho se baseava em seu “desenvolvimento material” e às “rendas”.

Assim, no Art. 1º, ficavam isentos do pagamento de imposto predial as construções que até o dia 31/12/1935, tanto na cidade de Olinda, como na Vila Paulista e nos povoados do Município, fossem construídos ou reconstruídos, de acordo com as exigências de higiene e salubridade. No parágrafo único desse artigo, seriam contempladas, também, as casas cujas construções ou reconstruções tivessem sido iniciadas com licenças concedidas no exercício, devendo, portanto tais proprietários requererem, até 15 dias, satisfazendo as exigências do decreto. No Art. 2º, o documento definia o que era entendido pela municipalidade como construção e reconstrução.

Quanto aos favores, presentes no documento, o proprietário deveria requerê-los quando da solicitação de licença, juntando o projeto em três vias, constante de planta baixa (Art. 3º). Também deveria constar assinatura do proprietário e do profissional ou empresa encarregada da construção, devendo ter o título de habilitação registrado na PMO (caso do parágrafo primeiro). Por sua vez, o parágrafo segundo explicava acerca dos títulos de habilitação; aqueles de construtoras, expedidos pela Prefeitura do Recife, ficavam restritos à atribuição dos de habilitação, no tocante às construções de pequena responsabilidade e de casas de um só pavimento, cuja cobertura não excedesse o vão de oito metros. Já no terceiro parágrafo, a municipalidade lembrava que os construtores dariam aviso por escrito à PMO quando do início das obras. Caso houvesse necessidade de alteração do projeto, durante a execução, isto deveria ser feito com a sua aprovação.

Ao serem concluídas as obras, o proprietário deveria solicitar à PMO, o „habite-se‟ e, ao mesmo tempo, a efetivação dos favores do decreto (Art. 4º). As isenções das quais tratava o documento seriam concedidas, observando-se as seguintes categorias de construções: casas operárias, casas de habitação das classes média e superior e casas de comércio (Art. 5º).

As primeiras tinham um prazo de 15 anos, para um conjunto de, no mínimo, 40 unidades, cujas obras fossem iniciadas até 27/02/1932 e concluídas em 27/12/1932, não excedendo aluguéis mensais de quarenta mil-réis (40$000) (alínea “a” do §1º); prazo menor, isto é, de 12 anos, seria para conjuntos superiores, no mínimo de 10 casas, e, de 10 anos, para uma só casa isolada, observadas as condições da alínea “a” (alínea “b” do §1º).

Para as construções que correspondiam às casas de habitação das classes média e superior, determinava-se o prazo de oito anos para as casas isoladas com serventia em ambos os oitões e de 5 anos para as geminadas de valor locativo até três contos e seiscentos mil-réis (3:600$000) para cada

uma (alínea “a” do §2º). Pelo prazo de seis e quatro anos, respectivamente, para cada casa isolada ou geminada de valor locativo superior a três contos e seiscentos mil-réis (3:600$000) até seis contos de réis (6:000$000) e, pelo prazo de 3 anos, para as de valor locativo superior a este último limite (alínea “b” do §2º).

No §3º, ficou estabelecido que para as casas de comércio os prazos de isenção seriam de 5 anos para as de valor superior a duzentos contos de réis (200:000$000); de 4 anos, as de valor superior a cem contos de réis (100:000$000); de 3 anos para as de valor superior a cinquenta contos de réis (50:000$000) e de 2 anos para as de valor compreendido entre vinte contos de réis (20:000$000) e cinquenta contos de réis (50:000$000).

No Art. 6º, o documento explicava que os valores constantes do último parágrafo do artigo anterior seriam os representados pelas despesas da construção ou da reconstrução, valores que seriam demonstrados pelos proprietários, com a apresentação de documentos irrefutáveis ou por avaliação direta da Diretoria de Obras Públicas Municipais.

Seriam também isentos de pagamento do imposto predial, conforme o Art. 7º, pelo prazo de dez anos, o conjunto superior de 10 casas isoladas, de valor locativo até quatro contos e oitocentos mil réis (4:800$000), construído por particulares ou empresas e destinado à venda em prestações, cujas obras fossem iniciadas até 27/06/1932 e concluídas até 31/12/1933.

No Art. 8º, a municipalidade declarava que poderia conceder maiores isenções, além das previstas no documento, às companhias ou empresas que se propusessem a construir bairros ou estabelecimentos de evidentes vantagens de natureza pública e lembrava, no Art. 9º, que só gozariam das isenções as edificações em alvenaria ou cimento armado, situadas em terrenos próprios ou em terrenos dos quais os proprietários possuíssem o domínio útil.

No ano seguinte, a PMO publicou o Decreto n.º 41 (PREFEITURA DE OLINDA, 1932b) em cujo Artigo Único ela explicava que, sendo requerida licença para a execução de qualquer obra de responsabilidade técnica, a Diretoria de Obras do Município, poderia exigir do construtor a demonstração de cálculos de estabilidade, sempre que assim julgasse conveniente.

Vale a pena frisar que, por meio de uma petição23, o detentor do domínio útil da propriedade denominada Sítio São José, no Rio Tapado, foreira à PMO, comunicava sua resolução em parcelar as terras em lotes destinados a construções de casas, cuja planta, em execução, estava sendo orientada pelo engenheiro daquela instituição, e, para facilitar a comercialização dos lotes, havia deliberado vendê-los em prestações mensais, mediante contratos, cujo domínio útil somente passaria ao comprador, após o pagamento da última prestação. Lembrou, ainda, que previa, também, no contrato, os interesses das partes referentes às benfeitorias realizadas pelo comprador,

nos lotes e que cederia à PMO, sem nenhuma indenização, as áreas a serem destinadas às ruas, determinadas na planta, à proporção que se fosse edificando. O suplicante destacou, ainda, que o exposto na petição somente traria grandes e inestimáveis benefícios à cidade, ou seja, a construção rápida de um novo bairro, sendo a isenção do imposto predial um dos incentivos para a inversão de capitais nas construções de prédios. Fundamentando-se no conteúdo do Art. 8º, do Decreto nº 26 de 27 de junho de 1931, solicitou uma modificação no Art. 9º, do mesmo Decreto, de maneira que, as casas construídas no parcelamento gozassem dos favores aí contidos, independente dos requerentes possuírem o domínio útil do terreno, uma vez que, a alteração poderia trazer apenas benefícios para a municipalidade.

Diante do exposto na petição, acredita-se que a PMO tenha alterado o referido artigo, com base em tal requisição do suplicante, pois, usando das atribuições que lhe conferia o cargo e, tendo em vista a exigência do Art. 9º, do Decreto nº 26, o Prefeito anunciou, por meio do Decreto n.º 69 (PREFEITURA DE OLINDA, 1934a), que tal artigo não correspondia aos interesses da municipalidade, uma vez que o objetivo do referido Decreto n.º 26 era evitar, nas construções, a falta de higiene, bem como a insalubridade. Portanto, o Art. 1º do Decreto n.º 69 teve o seguinte teor: “Fica revogado o art. 9 do decreto nº 26 de 27 de Junho de 1931.” Já no Art. 2º dizia que: “Gosarão [sic] das isenções do mesmo decreto todos os prédios construídos em alvenaria ou cimento armado obedecendo às suas exigências.”

Por meio do Decreto 80 (PREFEITURA DE OLINDA, 1934b), ao considerar, a PMO, a conveniência de regulamentar os serviços de Administração do Patrimônio Municipal – estabelecendo normas para sua verificação e avaliação, no tocante a aforamentos e aplicação da renda respectiva, bem como era considerável o acervo não cadastrado, havendo grande número de enfiteutas incorrido em comisso –, decretou que, no que se referia a aforamento e divisão de glebas, dos bens enfitêuticos, proceder-se-ia ao levantamento da planta do terreno e seria o mesmo avaliado (Art. 1º). Neste caso, o parágrafo único explicava que o enfiteuta pagaria, pelo levantamento da planta, um valor entre determinada quantia estabelecida.

Também seria fixado em 1%, sobre o valor venal, o foro do terreno, quando se procedesse ao aforamento, novação, ou divisão em glebas, sendo, neste último caso, obrigatória a assinatura do novo termo de aforamento, ou escritura pública na qual interviesse a Fazenda Municipal (Art. 2.º). No parágrafo único desse artigo, ainda foi destacado que no caso da divisão em glebas o foro calculado na forma do artigo teria o limite máximo de vinte e cinco mil réis (25$000) quando a divisão feita em planta, previamente aprovada pela PMO, atingisse, no mínimo, cem lotes.

O Art. 3º dizia que os contratos de novação de aforamento de terrenos não edificados seriam realizados sob a condição resolutiva de construir em um período de cinco anos; no Art. 4º, o

enfiteuta, incurso em comisso, seria convidado para novar o contrato nos termos da lei, dentro de 60 dias, contados da publicação do convite em órgão de imprensa de grande circulação. No §1º comunicava-se que o enfiteuta pagaria os foros atrasados e os emolumentos do novo contrato, que deveria ser transcrito no Registro Geral de Imóveis. O documento ainda traz questões acerca de novação do contrato e planta dos bens enfitêuticos, em artigos posteriores. No Art. 8º observa-se que os terrenos considerados devolutos, a fim de se destinarem à venda, aforamento ou arrendamento, seriam divididos em pequenos lotes.

O Decreto n.º 94 (PREFEITURA DE OLINDA, 1935) considerou que aquele de nº 26, de 1931, que regulava a concessão de isenções do imposto predial, já não correspondia à conveniência do Poder Público ir ao encontro da iniciativa particular, articulando-a, por não atender a todos os casos e que o desenvolvimento dos novos bairros do Farol e Rio Tapado, pela grande importância para o Município, merecia os favores de dispositivos especiais. Com base nessas avaliações, o Prefeito decretou que ficariam isentos do pagamento do imposto predial os edifícios que fossem construídos ou reconstruídos, em alvenaria ou cimento armado, até 31 de dezembro de 1939, de acordo com a legislação municipal existente ou que viessem a existir, observadas as disposições do decreto em tela (Art. 1º). No §1.º, foram definidos os conceitos de construção e reconstrução, bem como os edifícios isolados, geminados e em quarteirão.

Ao manter certas exigências, presentes no Decreto n.º 26, o Poder Público lembrava que para fazer jus aos favores do decreto, o proprietário deveria requerê-los quando da solicitação da licença, juntando o projeto em duas vias, no qual deveria constar: planta baixa na escala de 1:100, fachadas e cortes na escala de 1:50, e, posteriormente, apresentar os detalhes que fossem exigidos (Art. 2.º).

As peças do projeto deveriam trazer a assinatura do proprietário e do profissional ou empresa encarregada da construção, não exigindo, como fez no Decreto 26, o registro na PMO; também, desta vez, o profissional ou empresa construtora deveria estar habilitado perante o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, e estar livre de dívidas junto à Fazenda Municipal (§1º). O §2º coincidia com o §3º do Art. 3.º do Decreto 26.

O Art. 3º do Decreto correspondia ao Art. 4º do Decreto 26, mudando, porém a denominação de “habite-se” para “Ocupe-se”. No tocante às categorias de casas, o atual decreto estipulava: 1 – Casas operárias ou de tipo popular; 2 – Casas de habitação da classe média e da superior; 3 – Casas de comércio e indústria.

A cada categoria foram estipulados os períodos de isenções. No Art. 7.º a PMO enfatizava isenção de imposto predial, por dez anos, às casas isoladas ou geminadas que fossem edificadas nos novos bairros do Rio Tapado e do Farol.

No Art. 10º, a PMO informava que poderia conceder, além das isenções previstas no decreto, isenções especiais, a quaisquer companhias ou empresas que se propusessem a promover a construção de bairros ou estabelecimentos de evidentes vantagens de natureza pública, ou outros constituídos por terrenos de proprietários únicos, que o requisitassem, após aprovação dos respectivos projetos.

A julgar pela pesquisa realizada no Arquivo Público Municipal Antonino Guimarães, no “Copiador de Atos e Decretos, de 1928 a 1937”, estas foram as legislações municipais, pertinentes ao tema e período, do início do processo de parcelamento do solo.