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Para analisar como ocorreu a implementação da COM-VIDA nas escolas de Teresina, sentimos necessidade de fazer a contextualização do processo que desencadeou a formação da Comissão em nível nacional, estadual e municipal. Utilizamos como base publicações oficiais bem como dados fornecidos pela Coordenadora de EA da SEDUC e Supervisora de EA da SEMEC.

De acordo com o Documento Técnico “Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola – COM-VIDA”, produzido pelo governo (BRASIL, 2007c), a implementação das COM-VIDAS se deu em dois âmbitos, local e nacional.

No primeiro caso, ou seja, na escola, a COM-VIDA passa a ser uma nova forma de organização, cuja iniciativa parte dos estudantes, considerados os principais articuladores, com apoio de professores e funcionários. Posteriormente, a ação é ampliada para toda a escola

e comunidade, atores interessados nos temas de melhoria da qualidade de vida e conservação, recuperação e/ou melhoria do meio ambiente.

A publicação apresenta a seguinte ressalva:

[...] apesar de se localizar na escola, a Comissão não deve ser compreendida como sendo da escola, pois se trata de um espaço que tem como objetivo central a aproximação da escola com a comunidade. Um dos objetivos da COM-VIDA é a construção da Agenda 21 na escola, convertendo-a no espaço irradiador de ações de Educação Ambiental. Mas ela não deve ser considerada a “dona” de tudo isso, e sim um “palco” onde tudo acontece (BRASIL, 2007c, p. 12, grifo no original).

No segundo caso, no âmbito nacional, a implementação das COM-VIDAS se deu em duas etapas: “Seminários de Formação de Professores e Estudantes em Educação Ambiental” (FI, FII e FII) – “Programa Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas” (2004/2005) e “II Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente”, ocorrida em 2005/2006 (BRASIL, 2007b).

Os “Seminários de Formação” envolveram as escolas e seus respectivos delegados (as), que participaram do processo da I CNIJMA e os CJs. Juntos, eles lideraram a estruturação da COM-VIDA no ambiente escolar em todos os Estados do país. Para os professores participantes, em contrapartida, foi feita uma “formação de adensamento conceitual em EA”, tendo como eixo temático a publicação “Consumo Sustentável: Manual de Educação” – MMA/MEC/IDEC, 2005 (BRASIL, 2007b; 2007c).

Na primeira versão do Seminário (FI), realizado no ano de 2004 em Brasília, foram trabalhadas as bases conceituais e a metodologia de formação de COM-VIDAS no país, junto aos representantes dos CJs. O material-base das formações foi a publicação “Formando a COM-VIDA e Construindo a Agenda 21 na Escola” (MEC/MMA) (BRASIL, 2004). Uma equipe da Comissão Organizadora Estadual (COE) do Piauí, formada por membros da Secretaria Estadual de Educação e Cultura (SEDUC), da Universidade e representantes do CJ, participou desse seminário16.

Além da primeira, foram realizadas mais duas formações (FII e FIII). A FII foi dirigida a “gestores e multiplicadores”, para atuarem junto às escolas nos seus respectivos estados, enquanto que a FIII, sob a responsabilidade das Secretarias de Educação dos Estados, foi direcionada aos professores das escolas. Nesse caso, os educadores foram orientados a

criar a Comissão na escola, juntamente com o delegado, o suplente, um representante da comunidade e diretor da escola. O Piauí teve participação em todo esse processo de formação continuada17.

Na formação III foi lançado o edital do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). A formação contemplou, inclusive, “[...] a produção coletiva de material didático que contextualizasse as características regionais, da teoria e prática de cada escola, na formação de indivíduos atuantes, fortalecendo os espaços de discussão, principalmente a COM-VIDA” (GARCIA, 2010, p. 53).

A segunda etapa de implementação das COM-VIDAS nacionalmente foi a “II Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente” (2005/2006), já abordada anteriormente. Convém ressaltar que as escolas receberam, em 2005, a publicação “Passo a Passo para a Conferência de Meio Ambiente na Escola”, na qual havia informações gerais sobre a proposta da COM-VIDA, e que de acordo com o documento “Educação Ambiental: aprendizes de sustentabilidade” (BRASIL, 2007c), gerou mobilização nas escolas para criação da COM-VIDA.

Concomitantemente aos seminários de formação e II CNIJMA, foi realizada pela Equipe Técnica no Ministério da Educação e coordenada por Soraia Silva de Mello, uma pesquisa que identificou o perfil das COM-VIDAS, bem como seus objetivos e propostas de ação. A coleta de dados ocorreu no período de setembro de 2004 a dezembro de 2005 (BRASIL, 2007c), quando foram analisados 1.437 questionários de 25 unidades federativas, correspondendo a 12% do total de escolas com potenciais COM-VIDAS, isto é, aquelas que participaram das “Oficinas” para formação de Comissões nos “Seminários de Formadores”.

De acordo com a pesquisa foi possível identificar 4.124 COM-VIDAS, representando 36% das 11.475 escolas participantes da II Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente. Em sua maioria, as Comissões são constituídas por estudantes de 5ª à 8ª série18 do ensino fundamental (44%), seguida por estudantes de 1ª à 4ª série (18%), comunidade (16%), estudantes de ensino médio (14%), professores (5%) e funcionários (3%) (BRASIL, 2007c).

A pesquisa explicitou, ainda, a necessidade de aprofundar os conceitos de EA na “perspectiva crítica, emancipatória e política” e que a relação escola-comunidade e a parceria entre escolas são aspectos que devem ser reforçados, uma vez que, apesar de explicitados nos objetivos, ainda são pouco efetivados na prática.

17 Informação obtida junto à Supervisora de Educação Ambiental da SEDUC-PI, 2011.

18 Em fevereiro de 2006, o Presidente da República sancionou a lei n° 11.274 que regulamenta o Ensino Fundamental de 9 anos. Atualmente, os anos de 6º ao 9º equivalem às antigas 5ª a 8ª séries.

De acordo com o documento elaborado pelo OG (BRASIL, 2007c), o Piauí possuía, até aquele ano, 214 escolas que desenvolvem as COM-VIDAS, distribuídas em 87 munícipios. Todavia, segundo a SEDUC-PI19 (2011, informação verbal), não é possível saber com precisão quantas COM-VIDAS são desenvolvidas no Estado, devido às dificuldades de acompanhamento para a atualização de dados referentes a essa “ação estruturante”.

Em contato com a SEDUC-PI, nos foi informado que vinte e uma escolas foram escolhidas para que as Comissões fossem acompanhadas e monitoradas no ano seguinte a III CNIJMA. Entre elas, estavam as duas escolas municipais objeto de estudo dessa pesquisa, únicas representantes de Teresina. Atualmente, de acordo com a SEMEC20 (2011, informação verbal), existem doze escolas municipais que desenvolvem COM-VIDAS em Teresina. Essas Comissões foram instituídas nas escolas nos anos de 2010 e 2011. As duas primeiras escolas que formaram as COM-VIDAS e que ainda as mantém foram estudadas por essa pesquisa.