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Nesse subitem apresentamos algumas informações gerais que auxiliam na caracterização tanto das COM-VIDAS quanto de seus participantes em cada escola. Para garantir o anonimato dos entrevistados ao longo da análise utilizamos as letras iniciais de seus nomes e as escolas serão chamadas como “A” e “B”. No Quadro 7, apresentamos informações a respeito de cada escola, como a localização, séries ofertadas e quantidade de turmas e de alunos.

Quadro 7 - Características gerais das escolas pesquisadas.

Escola “A” Escola “B”

Localização: zona norte de Teresina Região central/urbana

Ensino fundamental: 6º ao 9º ano (manhã e tarde)

27 turmas; aproximadamente 800 alunos

Localização: zona sul de Teresina Região de periferia

Ensino fundamental:

6º ao 9º ano (manhã) e 1º ao 5º ano (tarde) 15 turmas; aproximadamente 480 alunos

19 Secretaria do Estado de Educação do Piauí. 20 Secretaria Municipal de Educação e Cultura.

Como observado no quadro acima, a escola “A”, que possui 45 anos de existência, está localizada na região norte de Teresina em uma área mais central e urbana e atende a aproximadamente 800 alunos distribuídos em 27 turmas de 6º ao 9º ano do ensino fundamental nos turnos da manhã e tarde.

Atualmente, a escola “A” conta com uma grande área construída, composta por salas de aula, laboratório de informática, biblioteca, refeitório, ginásio poliesportivo, espaço administrativo e estacionamento. No entanto, na visita que realizamos, notamos que essa escola tem muitos espaços desativados e determinados locais se tornaram depósitos de cadeiras e mesas estudantis velhas e quebradas. Algumas paredes chamaram a nossa atenção, pois apresentavam vazamentos e rachaduras. Inclusive, na noite anterior da realização de algumas entrevistas, havia chovido bastante, alagando algumas salas de aula e foi nessas condições que os professores e alunos se preparam para mais um dia de aula.

Alguns dos ambientes podem ser observados nas figuras 3 e 4:

Figura 3- Estrutura Física da Escola “A”. A: Vista da frente da escola; B, C, D: espaços laterais e

entre salas de aula; E, F: Corredor de sala de aulas.

Consideramos importante informar que em 18 de janeiro de 2012, foi divulgado pela mídia que a escola “A” seria fechada, para no local funcionar a sede da SEMEC. Segundo o divulgado, a justificativa usada pela assessoria da SEMEC foi que a escola “A” possuía melhor estrutura para abrigar a sede administrativa, principalmente pelo grande espaço físico,

por sua boa localização e por estar subutilizada, funcionando somente com 57% de sua capacidade (POPULAÇÃO..., 2012).

De acordo com a imprensa, o Secretário da Educação garantiu que nenhum profissional, estudante ou a comunidade seriam prejudicados, pois seriam remanejados para outras escolas da região. Entretanto, dois dias após a divulgação dessa informação, a população se organizou em um protesto interditando ruas do centro da capital e foram até à frente da SEMEC, onde fizeram a reivindicação contra o fechamento da escola. Essa atitude por parte da sociedade civil contribuiu para que o secretário de educação recuasse e a escola continuou a funcionar neste prédio. Até o momento da redação desse texto, a escola estava funcionando normalmente (POPULAÇÃO..., 2012).

Figura 4- Espaços internos da escola “A”. A, B: Biblioteca; C: Sala de informática; D: Refeitório.

De acordo com documentos fornecidos pelos estudantes (atas de reuniões), a COM- VIDA da escola “A” foi criada no dia 17 de novembro de 2009, por intermédio do “Fórum para a Criação das COM-VIDAS” com a participação dessa escola bem como da COE, do CJ e representante do OG. Os objetivos do evento foram fortalecer a EA nos sistema de ensino pela criação e implementação de COM-VIDAS nas escolas que participaram da III CNIJMA e

identificar problemas socioambientais locais com reflexão sobre o papel da educação no desenvolvimento de políticas de meio ambiente.

Segundo o ex-aluno entrevistado da escola “A”, no “Fórum” houve a apresentação das atividades realizadas pela escola que envolviam a temática ambiental (horta, reciclagem e aproveitamento da água), ações estas que foram “parabenizadas” pelas representantes do MEC e da SEMEC. Nesse evento, o aluno-delegado que representou a escola “A” na III CNIJMA contou aos presentes como foi a experiência de ter participado da Conferência. Durante nossa entrevista com este aluno, ele narrou essa participação:

A experiência na Conferência, foi excelente, foi assim, muito engrandecedora pra questão do conhecimento mesmo sobre o tema. Nós aprendemos muita coisa sobre o que vinha a ser realmente essa questão ambiental. Nós já tínhamos alguma opinião formada sobre isso, mas na Conferência a gente teve um aprimoramento sobre esse conhecimento. Foi bastante legal, muito interessante mesmo. [...] a gente passou a perceber lá que nosso ambiente é a coisa mais importante que nós temos (P.V, ex- aluno).

A Comissão da escola “A” é constituída por sete alunos, no entanto, somente cinco deles puderam nos conceder entrevistas, já que dois estavam viajando no período de realização das mesmas, sendo que somente um aluno é do sexo masculino. Como três dos participantes da Comissão estavam no último ano do ensino fundamental, eles tentaram desenvolver um projeto denominado “Pré-COM-VIDA”. Esse projeto funcionaria como um preparatório com o intuito de dar continuidade à Comissão na escola, no qual os alunos mais experientes, por meio de palestras, preparariam os novos alunos para participarem da COM-VIDA e substituir aqueles que sairiam da escola no final do ano de 2011:

[...] a gente tá com um projeto de fazer um Pré-COM-VIDA, né? Porque muito de nós vão sair esse ano, né? Eu, a P.S e F.B vamo sair esse ano. Então a gente tá com o projeto de Pré-COM-VIDA pra explicar mais definidamente o que é o COM-VIDA para alguns alunos que queiram participar também, pra ficar pros outros anos que a gente vai sair (R.L, aluna).

Apesar de os participantes da COM-VIDA nessa escola demonstrarem um interesse de que a Comissão continuasse nos anos seguintes, no contato que tivemos com eles no dia das entrevistas, pudemos notar que esse projeto não estava estruturado de forma que pudesse ser posto em prática antes que terminasse o ano letivo de 2011. Isso porque percebemos que

quando alguns alunos davam as informações sobre esse projeto, eles não sabiam explicitar de forma clara como pretendiam realizá-lo e nem quando o fariam, o que sugere que faltava um melhor planejamento por parte dos integrantes da COM-VIDA.

A escola ”B” foi fundada há 15 anos e está localizada zona Sul de Teresina em uma região periférica e em um bairro cuja comunidade aparenta ter situação financeira pior. Ela possui em torno de 480 alunos distribuídos em 15 turmas, sendo elas de 6º ao 9º ano do ensino fundamental pela manhã e de 1º ao 5º ano funcionando a tarde. No turno da noite a escola é cedida para o governo estadual, oferecendo turmas de Educação de Jovens e Adultos. A escola “B” possui espaço físico bem menor que a escola “A” e possui menor quantidade de salas de aula, mas há algumas áreas com vegetação, biblioteca, refeitório, área administrativa e esportiva, além de um laboratório dentário. Na visita que realizamos para a realização das entrevistas, notamos que a escola é bem cuidada e limpa. A estrutura da escola pode ser visualizada na Figura 5:

Figura 5- Estrutura física da escola “B”. A: Fachada; B: Estacionamento; C: Pátio; D: Cantina; E:

Lateral, F: Área esportiva.

De acordo com a ex-aluna entrevistada e com uma das atas de reuniões, a criação oficial da COM-VIDA na escola “B”, assim como na escola “A”, aconteceu no final de 2009 após a III CNIJMA, durante a realização de um “Fórum” realizado na escola, no qual foi feita apresentação por um representante do CJ do que é a COM-VIDA e quais etapas são sugeridas para sua criação.

Nesse evento foi feita a leitura da “Carta de Responsabilidade” deliberada na III CNIJMA por uma aluna e na época, a delegada, que representou a escola na Conferência Nacional. Em sua entrevista, essa aluna nos contou como foi a realização desse “Fórum” e que nele foi lido o “Acordo de Convivência” feito pelos integrantes da COM-VIDA da escola “B”:

A gente apresentou tudo, a COM-VIDA, oficialmente pra todos os alunos. Os que também não conheciam. Quase todos já sabiam, porque na escola todo mundo tava sabendo. Aí apresentou tudo. Apresentou as nossas ideias, o que a gente pretendia fazer. Apresentou os integrantes também. Aí daí a gente fez a ata e aí ficou criada oficialmente. A gente fez o “Acordo de Convivência” e a partir daí a COM-VIDA passou a existir (E.C., ex-aluna).

Ainda segundo a entrevistada, todas as etapas que são sugeridas no documento oficial (BRASIL, 2004; BRASIL, 2007a) foram realizadas na escola “B”: a “Oficina do Futuro”, constituída pela “Árvore dos Sonhos” e “Pedras no Caminho”. Foram realizadas também oficinas e reuniões que objetivavam o fortalecimento e divulgação da proposta COM-VIDA. Para essas ações, a equipe da escola obteve apoio das representantes do CJ e da SEMEC. A aluna nos informou que não foram feitos registros escritos ou fotográficos sobre essas oficinas. Buscamos ter acesso aos documentos produzidos pelos alunos na “Oficina do Futuro”, para conhecer quais eram os desejos dos alunos para a escola naquele período, bem como quais foram as dificuldades que eles achavam que precisariam superar. No entanto, a entrevistada informou que não os possuía mais.

A COM-VIDA da escola “B” possuía, até o dia da entrevista, catorze integrantes e assim como na escola “A”, a maioria dos participantes da COM-VIDA na escola “B” é do sexo feminino, o que representa dez estudantes. Porém, o número de meninos é mais representativo que na primeira, totalizando quatro estudantes.

Os dados da escola “B” também se assemelham aos da escola “A” quando se trata da série em que cursava boa parte do alunado. Dos catorze entrevistados, metade cursava a última série/ano do ensino fundamental; quatro estavam na 7ª/8º; dois na 6ª/7º e um a 5ª/6º. Podemos perceber que nessa escola há uma melhor distribuição dos alunos por séries, o que garante certa diversidade de série/ano dos participantes na COM-VIDA e continuidade da Comissão. Importante frisar que ao final de 2011, sete alunos deixariam a escola e por isso estava ocorrendo um processo de seleção, para a entrada de novos integrantes na Comissão. Trataremos desta e outras informações no subitem seguinte.