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6.3 Análise e interpretação das entrevistas

6.3.1 Compreensão acerca da COM-VIDA

De maneira geral os alunos conceituam ou entendem a COM-VIDA como um grupo/grupo ambiental, uma equipe, um projeto e até um “clube”. Ao analisarmos como os participantes descrevem a Comissão, notamos que a compreensão que eles possuem pode ser dividida entre aquelas que se aproximam da COM-VIDA com o objetivo de conscientização para preservação do meio ambiente e do ambiente escolar e aquelas compreensões um pouco mais abrangentes, que sinalizam que além de preservar o meio ambiente, a COM-VIDA teria a função de melhorar a qualidade de vida da comunidade, conforme observado no Quadro 8.

De maneira geral, a COM-VIDA é compreendida como algo cuja função é conscientizar as pessoas para preservação do meio ambiente. Em ambas as compreensões apresentadas, os alunos fazem uso de termos como “conscientizar as pessoas”, “preservar/proteger/ajudar/cuidar do meio ambiente”. No entanto, observamos que alguns entrevistados fazem uso de expressões, tais como “melhorar a qualidade de vida” e “melhorar o meio ambiente dentro e fora da escola e toda a comunidade”.

Quadro 8 - Compreensão dos alunos a respeito da COM-VIDA.

CATEGORIA SUBCATEGORIAS EXCERTOS

Compreensão acerca da COM-VIDA Conscientização para preservação do meio ambiente e do ambiente escolar ESCOLA “A”

“Hum... grupo ambiental que preserva o ambiente e busca alunos de escolas pra ajudar também” (L. R., grifo nosso).

“Ah, a COM-VIDA é um projeto muito bom, né? Excelente, que visa assim, cuidar do meio ambiente, assim e também conscientizar as pessoas de proteger o meio ambiente, essas coisas assim” (R.L., grifo nosso).

ESCOLA “B”

“COM-VIDA é uma forma de a gente ajudar o meio ambiente, ajudar as pessoas a cuidar mais do meio ambiente e mostrar o que

nós fazem na nossa escola”. (F. F., grifo nosso) “Um clube de alunos que ajuda o meio ambiente a cuidar do planeta, para que a pessoa venha a preservar a natureza. (F. I.,

grifo nosso). Melhoria da qualidade de vida dentro da escola e da comunidade do entorno ESCOLA “A”

“A COM-VIDA é a comissão organizadora de meio-ambiente. [...] Como eu já te disse a conscientização primeiro da escola, e depois passar pra comunidade, pro município, pro estado, pro Brasil e até mesmo pro Mundo” (A.L. grifo nosso).

ESCOLA “B”

“[...] A equipe COM-VIDAS é uma comissão que ajuda a melhorar a qualidade de vida do meio ambiente na escola e na comunidade”

(P.S., grifo nosso).

“Assim, a COM-VIDAS é um grupo de pessoas que a gente assim... quer fazer com que assim, todos da escola e da comunidade se

conscientizem de ajudar o meio ambiente. Ver, olhar o mundo... o

jeito que o mundo tá hoje em dia, essas coisas que tão acontecendo pra melhorar o meio ambiente dentro e fora da escola e toda a

comunidade” (I. G., grifo nosso).

As compreensões apresentadas pelos alunos não se distanciam da que encontramos nos registros oficiais, principalmente no que se refere à melhoria do meio ambiente: “[...] o principal papel da COM-VIDA é realizar ações voltadas à melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida, promovendo o intercâmbio entre a escola e a comunidade...” (BRASIL, 2007a, p. 15, grifo nosso). Todavia, além da melhora do meio ambiente, o documento considera também a melhoria da qualidade de vida, por meio da relação escola-comunidade. Tal relação será discutida no subitem 6.3.3. dessa pesquisa.

Consideramos que ambas as compreensões - conscientização para preservação do meio ambiente e do ambiente escolar e melhorar a qualidade de vida da comunidade – apresentadas pelos alunos podem culminar na realização de atividades de EA com um cunho mais conservacionista. De acordo com Lima (2011), a EA conservacionista relaciona-se com uma compreensão naturalista da questão ambiental, que busca o uso racional dos recursos naturais e se preocupa com a preservação dos ecossistemas e da biodiversidade natural.

Segundo Guimarães (2006), a concepção conservacionista da EA se fundamenta na lógica de que a natureza é degradada pela sociedade humana e, sendo assim, é necessário que haja o distanciamento entre ambos. Porém, o autor critica essa concepção quando aponta que ações com foco na preservação de uma área ou de uma espécie compromete uma compreensão ampla do processo de degradação do meio ambiente.

A partir da entrevista da aluna I,G, pudemos perceber que ela, ao descrever a COM- VIDA, faz uma associação da Comissão com a conscientização sobre os problemas ambientais que acontecem nos dias de hoje e que é importante melhorar não somente a escola, mas toda a comunidade. Pudemos perceber, de acordo com os relatos das alunas da escola “B”, maior proximidade com o que está presente nos documentos oficiais, quando estas descrevem a COM-VIDA como uma “Comissão”, além de explicitarem termos presentes na descrição oficial, tais como “qualidade de vida”. Notamos também que na descrição das duas alunas apresentadas nos excertos acima há uma visão mais ampliada do que seja a COM- VIDA e a importância da relação da escola com a comunidade. Apesar de a preocupação com a preservação do meio ambiente, a qualidade de vida aparece associada com o que eles entendem por COM-VIDA.

Inferimos que alguns fatores podem ter contribuído para o caráter conservador identificado nessas compreensões a partir dos relatos, tais como o próprio senso comum que cada um possui e que pode determinar certos tipos de pensamentos e atitudes, podendo este ser construído a partir da mídia e do contato dos alunos com determinadas situações. Entendemos que a não participação dos atuais delegados na III CNJMA somados ao pouco contato entre os alunos que participaram da Conferência e os que estavam à frente da Comissão nas escolas no ano da pesquisa e o distanciamento dos alunos dos documentos oficiais, podem ter colaborado de maneira decisiva para os entendimentos apresentados sobre a COM-VIDA.

As ações da COM-VIDA nas escolas necessitam, de acordo com as publicações oficiais, serem orientadas por um responsável, e sendo assim, consideramos que esse profissional e sua interpretação da política (BALL, 2009) também exerça grande influência na

compreensão da COM-VIDA que esses alunos elaboram. O responsável pela Comissão na escola “A” por exemplo, nos relatou que obteve contato com alguns folhetos a respeito de como trabalhar a COM-VIDA na escola, entretanto os considerou pouco eficientes, já que ele alegou que sentiu a necessidade de um material mais elaborado:

Cheguei a ler, assim, alguns folhetos, né, que mandaram. Alguma coisa sim. Mas, como eu disse, né? Eu acho que isso não é suficiente. Eu acho que tem que ter um material mais robusto de apoio. No meu modo de entender. (F. M, professor participante)

Percebemos que o professor da escola “A” alega a necessidade de um material “mais robusto de apoio”, seria esse material mais próximo do que Bowe et al (1992) e Ball (1994) denominam de texto readerly? Textos desse tipo, como os autores afirmam, tendem a ser puramente prescritivo e acabam sendo elaborados de maneira que não permite que o leitor possa interpretá-lo e somente deve segui-lo.

Já a responsável pela Comissão na escola “B” disse ter participado da Conferência Estadual do Meio Ambiente em 2009, promovido pela SEMEC, evento que teve como função dar orientações para a realização da “Conferência do Meio Ambiente na Escola” e escolha dos delegados que iriam participar da III CNIJMA, entretanto, segundo ela, nesse encontro não foi discutido nada sobre os fundamentos teóricos e metodológicos da COM-VIDA.

Ainda no que se refere aos educadores, pesquisas apontam que a ausência destes na formulação de políticas públicas têm sido apontadas como uma das dificuldades para o sucesso na implementação de políticas. A esse respeito, Tristão (2007) esclarece:

O que muitas vezes ocorre é um distanciamento entre as propostas do governo, as condições e as práticas interdisciplinares, ou seja, entre a atuação dos/as professores/as e essas propostas. Além disso, ocorre um estranhamento por parte dos/as professores/as, já que não foram envolvidos/as ou ouvidos/as durante sua produção e elaboração o que, muitas vezes, não repercute em um engajamento político ou mesmo em um sentimento de responsabilidade na implementação de seus conteúdos e objetivos ( p. 8).

Se a política em questão é oriunda do governo federal, supomos que até chegar aos professores e alunos, ela precise percorrer outros níveis de governo – o estadual e municipal- podendo haver falhas e perdas na divulgação da política ao longo desse processo. A própria Supervisora de EA da SEMEC, que hoje está à frente da formação de COM-VIDA em escolas

municipais, afirmou que não teve contato com o documento oficial sobre a COM-VIDA e afirma que acha a proposta interessante por ter partido do alunado. O conhecimento adquirido por ela a respeito da política em questão foi através do contato com os relatos dos dois participantes da III CNIJMA e por alguns documentos elaborados a partir da Conferência Nacional:

Eu tenho o conhecimento empírico, né? Escrito não. Porque tem a proposta da Carta da Conferência e dentro dessas propostas, um dos itens diz da criação das comissões ambientais. E também os dois meninos, né, que foram delegados tirados da Conferência Municipal e da Estadual, eles também relatam isso. Nessa semana que eles estiveram em Brasília, eles relatam que foi a partir do próprio alunado (que sugeriram a proposta) (C.S., SEMEC).

Sendo assim, levando em consideração esses apontamentos, entendemos que a compreensão que os alunos apresentam sobre a COM-VIDA que, pelos dados obtidos, parece ser restrita e reducionista, pode ter sido acarretada devido a problemas em outros níveis, como o estadual, municipal e até mesmo em nível local, ou seja, na própria escola. Como apontamos anteriormente, até chegar à escola, a política pública sofre influências ao longo de seu processo resultando, neste caso, em descrições e compreensões mais simplificadas sobre a COM-VIDA.