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3.1 Educação Ambiental no município de Teresina PI

4.1.1 Programa Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas (PVCBE)

O PVCBE foi idealizado em resposta às deliberações da I CNIJMA, ocorrida em 2003. De acordo com o documento “Educação Ambiental: aprendizes de sustentabilidade” (BRASIL,2007b), esse Programa

[...] se propõe a construir um processo permanente de Educação Ambiental (EA) na escola, difundindo conhecimentos atualizados sobre questões científicas, saberes tradicionais e políticas ambientais usando estratégias de rede, processos formativos, publicações e projetos com a sociedade (p. 34).

De acordo com esse documento, os objetivos específicos do PVCBE são o incentivo a inclusão de ações coordenadas e sistemáticas de EA no currículo e no projeto político- pedagógico das escolas; o apoio aos professores a se tornarem educadores ambientais para atuar em processos de construção de conhecimentos, a pesquisa e intervenção educacional, com base em valores voltados para a sustentabilidade em suas múltiplas dimensões (BRASIL, 2007b).

Entre esses objetivos ainda estão o incentivo e aprofundamento do debate socioambiental nas escolas com adolescentes e jovens, deflagrando um processo de formação desses sujeitos e de fortalecimento dos espaços e coletivos de organização e atuação deste público, além do fomento de projetos de EA no ensino básico e inclusão digital nas escolas e comunidades nas atividades de pesquisa, planejamento e implementação de projetos e ações (BRASIL, 2007b).

Ainda de acordo com o documento, o PVCBE é sistema contínuo de implementação de políticas de EA nas escolas, que abrange as seguintes dimensões/modalidades: difusa, que atua por meio de campanhas pedagógicas com forte componente de comunicação de massas, tendo a escola como espaço privilegiado de educação permanente e para todos; presencial,

dedicada à Formação de Professores, que deve acontecer tanto como formação inicial nas licenciaturas e no magistério como também como formação continuada de professores em serviço; tecnológica, que apoia a iniciação científica e pesquisa nas escolas de ensino médio; e ações estruturantes, tendo como exemplos a Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola (COM-VIDA) e os Coletivos Jovens pelo Meio Ambiente – CJs e Educação de Chico Mendes (BRASIL, 2007b; MELLO e TRAJBER, 2007).

Em relação à modalidade difusa podemos destacar a Conferência Nacional Infanto- Juvenil pelo Meio Ambiente – CNIJMA. Ela foi constituída como uma campanha pedagógica que traz a dimensão política do meio ambiente para os debates realizados nas escolas do ensino fundamental (de 5ª a 8ª séries) e comunidades (BRASIL, 2007b).

A CNIJMA tem como objetivo geral “[...] fortalecer a Educação Ambiental e a Educação para a Diversidade nos Sistemas de Ensino, propiciando atitude responsável e comprometida da comunidade escolar com as questões socioambientais locais e globais, além de garantir o direito de participação dos adolescentes na construção de um Brasil sustentável” (BRASIL, 2007b, p. 41). Dentre os vários objetivos específicos da CNIJMA, está também a criação e o fortalecimento das COM-VIDAS.

A CNIJMA já foi realizada em três edições: a primeira ocorreu nos dias 27, 28, 29 e 30 de novembro de 2003, em Brasília, com a presença de cerca de 400 jovens delegados(as) de todos os Estados, envolvendo 15.452 escolas em todo o país, mobilizando 5.658.877 pessoas em 3.461 municípios. O tema proposto para a I CNIJMA foi “meio ambiente”, tendo como subtemas: “água”, “alimentos”, “seres vivos”, “escola” e “comunidade”. De acordo com o documento analisado, o processo desencadeou o Programa “Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas” e contribuiu para a criação dos “Coletivos Jovens de Meio Ambiente” e da “Rede da Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade (REJUMA)”, bem como das COM-VIDAS (BRASIL, 2007b).

De acordo com a publicação “Formando COM-VIDA: construindo Agenda 21 na escola” (BRASIL, 2004), a I CNIJMA transformou as escolas do país em espaços de mobilização, onde alunos, professores, funcionários e comunidade puderam opinar e priorizar sugestões de como cuidar do Brasil.

O processo da I CNIJMA envolveu a criação de vinte e seis “Comissões Organizadoras Estaduais (COEs)” e uma no Distrito Federal. As COEs são formadas por múltiplos segmentos da sociedade, tais como o IBAMA, Secretarias Estaduais e Municipais de Educação e Meio Ambiente, Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino, ONGs, e também por “Conselhos Jovens”. Esses últimos foram responsáveis por escolher os

delegados que representaram as escolas, a partir da análise de cartazes das propostas, de acordo com o Regulamento Nacional (BRASIL, 2003).

De acordo com o “Relatório Final” produzido ao fim da CNIJMA, as propostas das escolas serviram de subsídios para a geração de um documento com diretrizes para um Brasil sustentável, no qual os jovens mostraram “como pensam e o que querem na área ambiental, como cidadãos e cidadãs” (BRASIL, 2003, p. 3).

Para a mobilização que antecedeu a I CNIJMA, no caso do Piauí, foram realizadas vinte “Oficinas de Conferência”, cuja função foi a preparação e formação de gestores e professores para realizarem as “Conferências” nas Escolas. Após essa etapa, foram realizadas 395 Conferências nas instituições escolares, envolvendo 130 municípios e 92.226 participantes (BRASIL, 2007b).

A segunda edição da Conferência teve início no segundo semestre de 2005, com mobilização de escolas e a sua finalização ocorreu em abril de 2006, no Palácio do Planalto, em Brasília. A II CNIJMA envolveu 11.475 escolas e comunidades, totalizando 3.801.055 pessoas em 2.865 municípios. Tendo como tema “Vivendo a Diversidade nas Escolas”, adotou-se uma política de popularização de acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário, a saber: “Acordos Internacionais sobre Biodiversidade”, “Mudanças Climáticas”, “Segurança Alimentar e Nutricional” e “Diversidade Étnico-Racial”. (BRASIL, 2007b).

De acordo com a publicação “II Conferência Nacional Infanto- Juvenil pelo Meio Ambiente – processos e produtos”, o Piauí apresentou números expressivos e crescentes nas etapas de mobilização que antecederam a II CNIJMA, quando comparados com Estados com maior quantidade de escolas de 5ª a 8ª séries, como São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo. No Piauí foram realizadas vinte e quatro oficinas de Conferência, com 700 participantes, enquanto em São Paulo e no Rio de Janeiro foram realizadas duas e cinco oficinas, com 86 e 447 participantes, respectivamente (BRASIL, 2005/2006).

Ainda de acordo com esse documento, o número de escolas do Piauí que realizou as Conferências de Meio Ambiente em seus espaços totalizou 639, o que representa 39,40% das participantes em relação ao total de escolas de 5ª a 8ª série no Estado. Essas Conferências contaram com a participação de 164.653 pessoas e envolveram 148 municípios piauienses. No entanto, o Estado, assim como mais outras dezesseis Unidades Federativas, não realizou nenhum evento em nível estadual nesse processo de mobilização para a II CNIJMA.

A III CNIJMA foi realizada na cidade de Luziânia, em Goiás, nos dias 08 e 09 de abril de 2009. Participaram 669 delegados (as) de 11 a 14 anos eleitos nas etapas estaduais com 11.631 escolas envolvidas e participação de 3.723.442 pessoas de 2.828 municípios

brasileiros. A Conferência teve como tema “Mudanças Ambientais Globais” e como subtemas “água”, “ar”, “terra” e “fogo” (BRASIL, 2009).

Nos dias 9 e 10 de dezembro de 2008, a COE do Piauí realizou a “I Conferência Estadual Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente”, por meio da qual, com a participação de vinte e quatro alunos, foi produzido coletivamente a “Carta de Responsabilidade”. Nesta Carta, apresentada durante a III CNIJMA, os jovens expuseram as responsabilidades que assumiram para preservação do meio ambiente (BRASIL, 2009).

Houve também, em junho de 2010, a “Conferência Internacional Infanto-Juvenil Vamos Cuidar do Planeta (CONFINT)”, que envolveu aproximadamente 700 pessoas entre delegados, facilitadores, adultos acompanhantes, “oficineiros”, coordenação e equipe técnica, com a participação de 42 países (SANTOS, 2011)

Santos (2011) considera que tais “Conferências” são exemplo de uma ação de significativa mobilização e articulação entre jovens de diversos locais do mundo, inclusive do Brasil. Para a autora, essa é uma oportunidade para propiciar o debate de questões socioambientais e para definir estratégias e ações favoráveis à sustentabilidade ambiental local e planetária, além de “[...] maior conhecimento, reflexões e responsabilidades individuais e coletivas que partem da escola e expande para comunidade e o planeta, tendo os jovens estudantes como protagonistas” (p. 3).

De acordo com publicações oficiais (BRASIL, 2007b; 2009), a partir dessas Conferências, importantes documentos foram elaborados pelos jovens participantes, tais como “Carta Jovens Cuidando do Brasil”, “Carta das Responsabilidades ‘Vamos Cuidar do Brasil’”, “Carta das Responsabilidades para o Enfrentamento das Mudanças Ambientais Globais”, deliberadas na I, II e III CNIJMA, respectivamente. Essas cartas foram entregues às autoridades do governo federal, tais como presidente da República, ministros da Educação e do Meio Ambiente, senadores e secretários de órgãos federais, no encerramento de cada Conferência.

Na “Carta de Responsabilidade Vamos Cuidar do Brasil”, por exemplo, os adolescentes apresentam seu compromisso com a construção de uma “[...] sociedade justa, feliz e sustentável” e com “responsabilidades e ações cheias de sonhos e necessidades”, além de apontarem diretrizes que contribuem para a consolidação do Programa “Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas” e com o fortalecimento dos CJs e da REJUMA (BRASIL, 2007b, p. 41). Ambas propõem, também, caminhos e ações que podem ser incorporadas pelas COM- VIDAS (BRASIL, 2007a).

[...] possibilita a estruturação e articulação de programas e ações que contribuem para o enraizamento da Educação Ambiental nos sistemas de ensino, respondendo às demandas apontadas pela sociedade, especialmente os jovens. A sua forma de gestão compartilhada com os diferentes atores governamentais e da sociedade civil em todas as Unidades Federativas, fortalecem a institucionalização da EA. (p. 42)

Como uma das etapas que antecede a “Conferência Nacional” é a realização de uma “Conferência do Meio Ambiente na Escola”, para a escolha de delegado(a) e de responsabilidade e ações, essa metodologia é considerada interessante uma vez que

[...] transforma a escola num espaço de debate político e de construção de conhecimento coletivo, em que a opinião dos jovens é respeitada e valorizada. A sua simplicidade desperta e fortalece a participação da comunidade no debate de temáticas urgentes, usualmente restritas aos centros de pesquisa ou de formulação de políticas públicas (BRASIL, 2007b, p. 42).

Entre os “princípios metodológicos” que regem as “Conferências” estão o “empoderamento”, que possibilita trazer a questão política para o meio ambiente, permitindo a construção da visão em relação ao sistema político e em relação às instituições da sociedade, bem como permitir que os participantes da Conferência possam se sentir componentes de um contexto mais amplo; “formação de comunidades interpretativas de aprendizagem”, implica criar espaços de discussão ampla sobre temas de interesse comum e envolve a transformação na qualidade de vida a partir de ações coletivas locais que beneficiem a todos; “ações afirmativas”, dizem respeito à possibilidade de resgate e segurança do direito de participação de setores da sociedade civil no processo de criação de instrumentos de inclusão social, buscando a igualdade de direitos, sempre respeitando as diferenças (BRASIL, 2007b).

Neste trabalho enfatizamos os princípios: “jovem escolhe jovem”, “jovem educa jovem” e “uma geração aprende com a outra”, que regem os CJs e estão presentes também nas COM-VIDAS. Transcrevemos no Quadro 4 as características de cada um desses princípios.

Deboni e Melo (2007) acreditam que a comunicação entre os jovens flui com mais facilidade e que há, dessa forma, ensino e aprendizagem. Quando esses jovens trocam experiências, pensam, debatem e discutem juntos assuntos sobre o mundo que os rodeia, eles podem agir sobre a própria realidade. Os autores destacam que orientados por educadores que potencializem possibilidades pedagógicas construtivistas, propostas como a COM-VIDA,

podem propiciar aos jovens estudantes diversas oportunidades, tais como criar, pensar, agir, fazer, da sua forma e por seus próprios meios.

Quadro 4 - “Princípios metodológicos” dos Coletivos Jovens pelo Meio Ambiente.

Princípio Características

Jovem escolhe jovem

“Os jovens são o centro da tomada de decisão, a qual é feita pelos próprios jovens e não por terceiros”.

Jovem educa jovem

“O papel dos jovens como sujeitos sociais que vivem, atuam e intervêm no presente, e não no futuro, é reconhecido nesse princípio. Assume-se que o processo educacional pode (e deve) ser construído a partir das experiências dos próprios adolescentes, respeitando e confiando em suas capacidades de assumir responsabilidades e compromissos de ações transformadoras”.

Uma geração aprende com a outra

“Incentiva-se a parceria entre as diversas gerações envolvidas. Mesmo privilegiando os adolescentes como protagonistas, o diálogo entre gerações é fundamental. Na Educação Ambiental, esse princípio se torna especialmente importante, pois se trata de conceitos inovadores que os filhos levam para seus pais e mestres. Nesse sentido, os adultos podem aprender com as crianças e vice-versa, tanto no uso de novas tecnologias de informação e comunicação quanto nos conceitos de EA”.

Fonte: BRASIL, 2007b, p. 42.

Deboni e Melo (2007) ainda afirmam que a “[...] idéia não é a de isolar os jovens no seu próprio mundo deixando-os por fora da realidade tal qual ela se apresenta hoje” (p. 38). Chamam a atenção para o diálogo entre as diferentes gerações, no qual as pessoas mais experientes podem ajudar as mais jovens dando-lhes conselhos, orientações e indicando caminhos e alternativas.

Esses princípios que regem as Conferências, bem como as COM-VIDAS, se aproxima do que Costa (2001) denomina de “protagonismo juvenil”, considerado por esse autor como “[...] a participação de adolescentes atuando como parte da solução, e não do problema, no enfrentamento de situações reais na escola, na comunidade e na vida social mais ampla (p. 5)”. O autor ainda complementa esse conceito, ao afirmar que o “protagonismo juvenil” é um

“[...] um método pedagógico que se baseia num conjunto de práticas e vivências, que tem como foco a criação de espaços e condições que propiciem ao adolescente empreender ele próprio a construção de seu ser em termos pessoais e sociais (p. 5)”.

Esses princípios parecem interessantes, pois colocam os jovens como o centro na tomada de decisões, seja ela de escolha de participantes ou na busca de soluções para problemas ambientais. No entanto, o que preocupa é até que ponto esses jovens estão realmente preparados para tomar à frente de discussões de questões complexas como as envolvendo as questões socioambientais, sem se tornarem apenas um grupo de jovens com boas intenções em relação ao meio ambiente, mas sem um aporte teórico-crítico que os façam refletir e agir criticamente na realidade em que vivem.

A modalidade presencial do PVCBE é representada pela formação continuada em EA para profissionais da educação. É considerada uma ação formadora, uma vez que

“[...] integra projetos simultâneos, envolvendo a formação de docentes e estudantes em um tema “transversal” às disciplinas, promovendo uma prática democrática e educativa-crítica com a atuação articulada da sociedade civil, dos CJ’s e das Secretarias de Educação nos Estados” (BRASIL, 2007b, p. 50).

Entre os vários objetivos da formação supracitada, podemos destacar o de fornecer um “aporte conceitual e metodológico”, oriundos de diversas fontes na formação de professores, com o intuito de melhorar as práticas pedagógicas e a atuação política voltada para a sustentabilidade socioambiental. Há, ainda, o apoio aos professores para se tornarem educadores ambientais, para que estes possam trabalhar o tema da transversalidade de maneira articulada, por meio de projetos coletivos e formadores, ultrapassando o limite das disciplinas (BRASIL, 2007b).

Na modalidade tecnológica, o governo federal oferece o projeto “Inclusão Digital: Ciência de Pés no Chão”, voltado para alunos do ensino médio (BRASIL, 2007b). O projeto proporciona o uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs), permitindo que os estudantes coletem dados de sua região e, assim, desenvolvam estudos científicos sobre sua região com base nesses dados. Os alunos podem gerar ações concretas para a melhoria da qualidade de vida na comunidade, chamando a atenção para o poder público e exigindo ações de autoridades locais.

De acordo com o documento oficial (BRASIL, 2007b), o projeto “Ciência de Pés no Chão” objetiva proporcionar às escolas públicas brasileiras o uso de tecnologias e

metodologias inovadoras que permitam a realização de ações concretas para a melhoria da qualidade de vida, além de democratizar o acesso e a publicação dos projetos dos alunos em blogs.

Finalmente, na modalidade “ações estruturantes” do PCVBE, o Órgão Gestor (OG) sugere os “Coletivos Jovens do Meio Ambiente (CJs)”, “Educação de Chico Mendes” e as “Comissões do Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola - COM-VIDAS”.

Os CJs estão sendo implementados por meio do “Programa Juventude e Meio Ambiente”, que atua na formação dos integrantes para mobilização em torno da temática socioambiental. Os CJs trabalham com os estudantes na construção da COM-VIDA e elaboração da “Agenda 21”. Esse Programa surgiu em 2005 com o intuito de “[...] estimular, ampliar e potencializar o debate e a ação socioambiental das juventudes brasileiras”, tendo como objetivos

[...] incentivar e aprofundar o debate socioambiental com foco em políticas públicas, deflagrando um processo de formação de jovens e de fortalecimento dos seus espaços de atuação; Ampliar a formação de jovens lideranças ambientalistas; Contribuir para o fortalecimento e expansão dos Coletivos Jovens de Meio Ambiente nos Estados e da Rede da Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade (REJUMA) (BRASIL, 2007b, p. 63).

Barbosa (2008) considera que as COM-VIDAS, os CJs e os processos da CNIJMA formam jovens para a “cidadania ambiental”. Para ele, a “juventude ambientalista” emergente está em sintonia com os desafios da gestão de políticas públicas de cunho socioambiental e, se sentindo “empoderada”, assume novas responsabilidades nos espaços onde atua.

Por sua vez, a “Educação de Chico Mendes”, outra “ação estruturante” do PVCBE, é voltada para o fomento de projetos de intervenção transformadora na educação básica. Surgindo também a partir da I CNIJMA, tem como função “[...] dar apoio a projetos que estabeleçam uma relação construtiva e transformadora entre escolas e suas comunidades, enfrentando os graves problemas socioambientais em função da melhoria da qualidade de vida” (BRASIL, 2007b, p. 71).

Assim como as outras iniciativas do governo citadas anteriormente, a “Educação de Chico Mendes”, além de ter como objetivo central fortalecer o enraizamento das questões socioambientais nas escolas, a comunicação interescolar e a integração com as comunidades locais, age de forma a “[...] promover a constituição e o fortalecimento das Comissões de

Meio Ambiente e Qualidade de Vida nas Escolas – COM-VIDAS, para a construção da Agenda 21 na Escola” (BRASIL, 2007b, p. 71).

A terceira e última “ação estruturante” do PVCBE, que é o foco de estudo desta dissertação, é a Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola – COM-VIDA, considerada um espaço que promove o intercâmbio de saberes e experiências entre as escolas e comunidades (estudantes, professores, funcionários, pais e comunidade), visando à consolidação das ações de EA a partir da escola (BRASIL, 2007b).

5 COM-VIDA: análise do “contexto da produção de texto”

Para a compreensão do “contexto da produção de texto” de uma política é necessário a leitura dos textos que regem a política. O exame desse contexto da COM-VIDA envolveu a leitura e breve análise das duas versões do documento oficial publicado pelo MEC e MMA, em 2004 e 2007, a partir de pesquisas que tiveram o objetivo de analisar essa proposta (LAMBERTUCCI, 2008; ORSI, 2008).

Como já apontado, a COM-VIDA surgiu de deliberações da “I CNIJMA”, realizada pelo MMA em parceria com o MEC, em 2003, no qual os estudantes envolvidos propuseram a criação de “Conselhos Jovens de Meio Ambiente” nas escolas do país e a elaboração da “Agenda 21 Escolar” (BRASIL, 2007a). Apesar de a proposta da COM-VIDA ter surgido em 2003, ela começou a ser implantada a partir de 2004, por meio do PVCBE. Este também, como já citado anteriormente, surgiu de decisões da I CNIJMA.

O documento que orienta a implementação da COM-VIDA, intitulado “Formando COM-VIDA - Construindo a Agenda 21 na Escola” foi publicado em duas edições, uma em 2004 e outra em 2007. A primeira versão, publicada em 2004 é composta de 42 páginas e a segunda, é composta de 56 páginas. Ambos são bastante coloridos e atraentes esteticamente, apresentando desenhos, que remetem à temática ambiental, feitos por alunos de escolas de todo o país.

No Quadro 5 estão apresentadas as características de organização estrutural de cada uma das publicações, incluindo as modificações/acréscimos encontradas nas duas versões do documento proposto pelo MEC/MMA para implementação da COM-VIDA nas escolas.

Como podemos visualizar no Quadro 5, em nível estrutural, pouco mudou de uma versão para outra e de maneira geral, ambas apresentam os mesmos tópicos, com o acréscimo de alguns na segunda versão. Nesta, sugere-se monitorar e avaliar as atividades desenvolvidas pela COM-VIDA nas escolas, apresenta-se os tipos de “Agenda 21” (Brasileira, Local e Escolar), além de incluir um maior número de anexos, como “Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global” e a “Carta da Terra”.

Quadro 5 - Organização estrutural das publicações oficiais que orientam a COM-VIDA. Formando COM-VIDA/ Construindo Agenda 21 na Escola (versão de 2004) Formando COM-VIDA/ Construindo Agenda 21 na Escola (versão de 2007) Parte I – COM-VIDA

Uma Comissão comprometida com a comunidade:

- Por que a COM-VIDA? - O que é a COM-VIDA? - Comissão para quê?

- Quem participa da COM-VIDA? - Como formar a COM-VIDA na escola?

Uma Comissão comprometida com a comunidade:

- O que é a COM-VIDA? - Para que a COM-VIDA? - Por que a COM-VIDA?

- Quem participa da COM-VIDA?