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6.3 Análise e interpretação das entrevistas

6.3.4 Atividades desenvolvidas nas escolas

Tomamos conhecimento por meio das entrevistas e das atas de reuniões que as atividades desenvolvidas pela COM-VIDA da escola “A” foram realizadas no ano de 2010. Já as ações desenvolvidas pela equipe da escola “B”, como retratado pelos entrevistados, foram realizadas ao longo de 2010 e 2011. As ações desenvolvidas pelas COM-VIDA em ambas as escolas eram, de maneira geral, voltadas para a melhoria do espaço escolar, conscientização dos alunos contra o desperdício (água, energia, alimentos e material escolar), além da participação da equipe em eventos tanto dentro quanto fora da escola.

De acordo com o “Relatório de Atividades/2010”, a equipe COM-VIDA da escola “A” desenvolveu atividades junto aos “líderes ambientais”22 de cada sala de aula. Entre as atividades destacaram-se aquelas voltadas para organização do espaço escolar, tais como limpeza, iluminação, conservação e higienização da escola e das salas de aulas. Foram feitos trabalhos de conscientização em relação ao não desperdício de merenda escolar, bem como coleta de lixo em locais apropriados.

Segundo alguns depoimentos, foi realizado um projeto chamado “mutirão da limpeza”, por meio do qual os alunos da COM-VIDA e voluntários se mobilizaram para limpar o espaço interno da escola:

Bom, teve um mutirão que a gente fez a limpeza, pra ajudar, né? A limpar a escola. (R.L, escola “A”)

Segundo uma das entrevistadas, a motivação que levou a COM-VIDA a desenvolver o projeto “mutirão da limpeza”, foi perceber que a escola estava ficando cada vez mais suja:

Por que assim, a escola tava assim, tava ficando muito suja, porque alguns alunos não preservavam a escola. Aí a gente, assim, a gente decidiu conscientizar, conversar, mostrar que tá errado. Aí a gente fala com eles, a gente conversa porque... pra escola também ficar limpa e preservada. (L.R., escola “A”)

O aluno-delegado afirmou que o “mutirão da limpeza” aconteceu também no quarteirão do bairro onde a escola se localiza. Após a limpeza, foi feito o processo de coleta

22 Segundo depoimentos, o “líder ambiental” foi um projeto idealizado na escola “A” antes mesmo da COM- VIDA. Em cada sala de aula foi eleito um “líder ambiental” que tinha como função tratar, junto aos alunos, da organização da sala de aula, incluindo ações de limpeza e economia de energia. Quando a COM-VIDA foi criada na escola, passou a ser realizado um trabalho conjunto entre a Comissão e os “líderes ambientais”.

seletiva, no qual os materiais recicláveis coletados foram destinados a um aterro sanitário, onde há catadores que trabalham com esse tipo de material.

No que tange às atividades desenvolvidas em EA, para Carvalho (2006) gerar comportamentos individuais ordeiros, preocupados com a limpeza de uma área ou com a economia de recursos como a água e a energia elétrica, pode ser socialmente desejável e útil, mas não significa, necessariamente que tais comportamentos sejam integrados na formação de uma atitude, considerada pela autora, ecológica e cidadã, que segundo a autora, essa atitude implicaria em desenvolver capacidades e sensibilidades para identificar problemas ambientais e assim, comprometer-se com a tomada de decisões entre a sociedade e a natureza.

Houve também, segundo o “Relatório”, ações de preservação das plantas existentes na escola. Os participantes fizeram reuniões e mobilizações no ambiente escolar, voltadas para a conservação das plantas já existentes, bem como o plantio de catorze mudas (laranjeira, amendoeira, tamarindo, girassol etc.), com o intuito de arborizar a escola. Para essa ação, a COM-VIDA contou com o apoio da SEMEC, que fez a doação das mudas de plantas.

Diante desses relatos, entendemos que seria importante questionar os alunos sobre a motivação que a Comissão teve para decidir realizar esse tipo de atividade, e obtivemos a seguinte resposta de uma das alunas:

Pra escola ficar mais bonita, é... num tom de mais ambientalizado também. [...] A escola ela fica tão apagada, assim, sem um verde. O verde tão bonito das plantas. Que chega até a ficar, assim, meio apagada, feio. E tendo a plantação ajuda, porque, assim, os alunos vão ver aquela plantação bonita, às vezes até querem botar na sua casa também. Inspira. (L.R., escola “B”).

Foram realizadas palestras desenvolvidas por pedagogos e membros da COM-VIDA em sala de aula. Em uma dessas palestras, os alunos contaram com a ajuda da empresa responsável pela rede de água e esgotos do Estado - Águas e Esgotos do Piauí S.A (Agespisa). Segundo o aluno-delegado, essa empresa ofereceu cartazes e adesivos aos alunos da Comissão para que fossem usados como material para conscientização da comunidade escolar a respeito do desperdício de água.

Nas atas de reuniões, há registros de que os professores de Ciências e Geografia da escola também participaram de algumas reuniões da COM-VIDA, nas quais deram orientações e mediaram discussões a respeito das questões relacionadas ao meio ambiente. O depoimento de uma das alunas retrata quais temas foram abordados nas reuniões e palestras dadas pelos professores:

Sobre preservação ao meio ambiente, a visita dos alunos a locais de preservação ambiental, mostrando uns vídeos sobre a destruição do ambiente, como isso é errado e o que podemos fazer pra mudar. (L.R., escola “A”).

Assim como já comentando anteriormente, os relatos dos alunos entrevistados nos levam a concluir que os professores responsáveis pelas disciplinas de Ciências e Geografia são os que mais se envolvem em assuntos que abordam a temática ambiental, o que já foi constatado por diversos pesquisadores que fizeram estudos da EA no ambiente escolar.

Durante a “Feira Cultural”, realizada em 2010, aconteceu um momento de “culminância”, no qual aconteceu a apresentação dos resultados obtidos através das atividades desenvolvidas ao longo de 2010, inclusive pela COM-VIDA. Na Feira foram apresentados trabalhos sobre reciclagem, produção de alimentos, plantas medicinais, plantas ornamentais, estiagem, drogas e turismo.

Durante a realização das entrevistas, notamos que os integrantes da COM-VIDA tinham o interesse em realizar algumas ações no ano de 2011, como a elaboração do “jornal do meio-ambiente”, “jornal COM-VIDA” e palestras com temas variados, tais como sexualidade, drogas, meio-ambiente e etc.

Entretanto, a partir das entrevistas, observamos que o planejamento dessas atividades ainda não havia sido efetivado. Foi possível realizarmos esta inferência, já que havia certa descontinuidade de informações quando pedíamos que os alunos explanassem sobre essas ações. Além disso, alguns integrantes da Comissão não sabiam quais eram as atividades que pretendiam por em prática naquele ano.

Importante ressaltar que no primeiro semestre de 2011, os servidores municipais de Teresina, incluindo professores, participaram de uma greve por quase dois meses e a escola “A” foi uma das que aderiu à greve. No contato feito com essa escola por telefone em junho de 2011, a responsável nos informou que devido à paralisação, as atividades da COM-VIDA foram prejudicadas.

Após o retorno das atividades em agosto, os alunos ficaram sem a orientação de um educador, pois a responsável pela Comissão estava em licença, por motivo de saúde, com duração de seis meses. A descontinuidade das ações, devido à greve e a falta de acompanhamento por parte de um responsável, provavelmente prejudicou o desenvolvimento de atividades para o ano de 2011. Tal situação vivenciada por essa escola prejudicou um dos

objetivos da COM-VIDA, que é o desenvolvimento e acompanhamento da EA na escola de forma permanente (BRASIL, 2007a).

Importante fazer a ressalva de que, entre os vários objetivos da COM-VIDA, está também o de construção da “Agenda 21 Escolar”. Nas atas foram registradas algumas reuniões nas quais foram levantadas propostas para a construção da “Agenda 21 Escolar” ao longo de junho de 2010. Contudo, até o dia da realização das entrevistas, fomos informados que tal “Agenda” ainda não havia sido elaborada em nenhuma das duas escolas pesquisadas.

A escola “B”, ao contrário da escola “A”, desenvolveu atividades ao longo do ano de 2010 e 2011, segundo os registros nos documentos fornecidos pelos integrantes (ata de reuniões, registros escritos, relatórios etc.) e pelas entrevistas.

Embora tenham ocorrido atividades variadas, de acordo com a responsável pela Comissão na escola “B”, foram realizadas cinco ações principais, sendo quatro dessas voltadas para o cultivo de plantas (Figura 6; Figura 7C): limpeza de uma área da escola para o cultivo de plantas ornamentais; criação de uma área para hortaliças; criação de um espaço para o plantio de plantas medicinais; formação de um campo de girassóis. A quinta principal ação, segundo a responsável, foi coleta seletiva de lixo (Figura 7 B).

Figura 6- Cultivo de plantas (horta medicinal) da escola “B”. A: adubação com restos de comida

oriundos da cantina; B: horta medicinal em junho/2011; C, D: horta medicinal em outubro/2011.

Segundo os alunos entrevistados, também foram realizados alguns trabalhos junto à comunidade escolar:

[...] espalhamos também cartazes na escola, sobre relacionado ao meio- ambiente. Aí nos partimos, saímos dos papeis, e fomos para as ações. Fizemos a horta, as hortaliças ali atrás, só que não deu certo, por causa do sol. [...] Então a gente vem pra cá e ficamos na horta medicinal, no campo de girassóis, ficamos no jardim. (P.S., escola “B”).

Além de trabalhos voltados para a limpeza da escola e das salas de aula:

[...] também a gente já conversou com os meninos na sala. Antes das férias a gente botamos placas nas salas pra não jogar... As funcionárias daqui, as zeladoras, falavam que depois que a gente começamos com isso, de não jogar lixo dentro da sala de aula, diminuiu mais o lixo. Elas falaram pra nós que diminuiu mais. Que os meninos não jogavam mais. Antes era muito bagunçado, muito lixo. Hoje em dia já cessou. (I.G., escola “B”).

Ao longo de 2010 e 2011, diversas mudas de plantas (Figura 7 A, D) tais como ipê, fruta-pão, palmeira, mandacaru etc. foram plantadas ao redor da escola pelos integrantes da Comissão:

Aí teve aquela forma de espalhar plantas ao redor da escola. Aí teve ipês, palmeiras, coqueiros. Então a gente espalhamos várias coisas ao redor, vários tipos de plantas ao redor da escola. (P.S., aluna e delegada).

Os integrantes da equipe COM-VIDA na escola “B” participaram de algumas atividades externas (Figura 8), promovidas por instituições que desenvolvem trabalhos na área ambiental, como a Embrapa Meio-Norte e SEMAR, além de encontros de COM-VIDAS das escolas municipais de Teresina, organizados pela SEMEC:

Nós já fomos em vários eventos, como o da Embrapa, como eu já falei. Várias palestras na SEMEC sobre meio ambiente, mostrando nosso trabalho para as escolas que estão iniciando. [...] Tem muitas escolas que tão interessada e que tão começando agora o COM-VIDA e não sabem como é que se organizam. Nós fizemos uma palestra. Mostramos lá nosso trabalho para eles. Eles ficaram até interessados. As meninas até pegaram os telefones das outras escolas para quando precisar... (A.A., escola “B”).

Figura 7- Atividades da COM-VIDA na escola “B”. A e D: mudas plantadas pelos integrantes da

COM-VIDA; B: lixeiras para coleta seletiva; C: campo de girassóis.

Figura 8 – Atividades externas da escola “B”. A e B: Concurso de redação promovido pela Embrapa,

em 2011; C e D: “Blitz Ambiental”, evento em parceria com a prefeitura de Teresina e a SEMAR, em 2010.

A responsável pela COM-VIDA na escola “B” nos detalhou como foi a participação da Comissão em concursos de redação promovidos por instituições de Teresina, nos quais os integrantes da COM-VIDA conseguiram obter os primeiros lugares:

Nós tivemos um encontro com o Lions Clube [...] Nós concorremos com outras escolas de Teresina com redações pro Lions Club, que nós ganhamos, que a escola tirou o 1º e 3º lugar. Depois a Embrapa veio e se envolveu com a nossa comunidade aqui também. Lançou um concurso de redação, nos chamou pra ir passear lá, conhecer a Embrapa. Aí nesse passeio, ela lançou esse concurso de redação e nossa escola, de todas de Teresina, nós ganhamos 1º, 2º, 3º, 4º, 6º, 7º e 9º lugar, nos concursos de redação da Embrapa (R.S., responsável pela COM-VIDA escola “B”).

Como a escola “B” desenvolveu diversos tipos de atividades, perguntamos aos entrevistados quais foram as motivações que a COM-VIDA da escola teve para realizar determinadas ações e não outras. Notamos que, de maneira geral, os alunos realizam atividades com base nos problemas existentes na escola. Eles afirmaram a necessidade de melhoria do aspecto da escola:

[...] pra melhorar a imagem da escola. [...] Assim, não é porque numa escola suja que não posso ter bom desempenho. Mas é sempre bom a gente preservar a nossa escola. Eu acho isso, assim, muito importante. [...] é bom a

gente estudar numa escola onde seja limpa, agradável de estar. Se torna agradável. (I.G., escola “B”, grifo nosso).

Ou ainda:

[...] A escola bonita não é aquela escola cheia de tecnologia, mas tendo também o verde, né, do meio ambiente. Que é muito bonito. É bom envolver o meio ambiente dentro da escola. É bonito a gente chegar na escola e ver

aquele verde, ver um girassol...as flores... [...] É uma sensação muito boa de saber que eu ajudei a plantar, a fazer aquilo (F.S., escola “B”, grifo nosso).

Nos grifos feitos nos excertos acima, podemos observar a valorização de dois aspectos: o estético, quando os alunos enfatizam a beleza da escola quando esta está limpa e com o “verde” e com o “meio ambiente”, e o afetivo, quando a escola se torna um ambiente agradável e os alunos se sentem autores dessa situação, além de se sentirem satisfeitos e felizes por isso.

Já outros entrevistados, afirmaram que uma das motivações para a realização de algumas ações foi, por exemplo, evitar que os alunos tenham que deixar a escola caso sejam acometidos por algum mal-estar:

Assim até porque no caso de doença aqui na escola, né? Caso algum aluno sinta dor de barriga, tem na horta medicinal, aí faz um chá e traz pra ele. A gente fizemos mais pensando nisso. [...] porque caso aconteça, né, pra não ficar mandando o aluno embora... Só por uma dorzinha de barriga de nada. Aí já tem um chazinho que possa fazer. (I.G., escola “B”).

No entanto, com base nas entrevistas, notamos que alguns alunos consideram importante fazer algo dentro da escola tomando como base alguns problemas globais, como o efeito estufa e o aquecimento global.

[...] tá começando o aquecimento global, né? O efeito estufa e tão matando muitas árvores na floresta amazônica e nós tamo começando a plantar para ver se o ar melhora que aqui o ar é muito seco. (A.A., escola “B”).

Ou ainda:

Pra melhorar, né? Porque já tá um caso do aquecimento... Aí a gente sempre tá querendo plantar mais plantas novas. Perguntando quem tem mais plantas pra trazer pra escola pra gente plantar pra melhorar o clima aqui na escola (F.S., escola “B”).

A partir dos dados apresentados, podemos notar que as atividades desenvolvidas em ambas as escolas são traçadas para transformar a realidade local, como é sugerido nos próprios documentos. Mas nos pareceu que os alunos realizam tais ações de maneira descontextualizada da realidade sem uma reflexão crítica, a partir de uma visão de senso comum e em sua maioria são voltadas para soluções do ambiente escolar, ignorando a comunidade do entorno.

Layarargues (2001) afirma que a educação ambiental promovida a partir de uma atividade-fim, voltada para a resolução de um problema ambiental pode provocar uma percepção equivocada deste problema por não considerar que ele se encontra em uma cadeia sistêmica de causa-efeito e que sua solução encontra-se na esfera técnica. O autor aponta ainda que a atividade-fim, como as desenvolvidas nas escolas,

Acaba por promover a realização de projetos reformistas, cuja mudança será de ordem puramente comportamental, reduzindo a zero o risco da ameaça de desestabilização da ordem ideológica vigente. O enfoque da resolução de problemas ambientais orientado como atividade-fim não é suficiente como finalidade, partindo-se do pressuposto de que a mudança de valores nos educandos poderá ocorrer por conta própria. Não há garantias de que resolvido o problema alvo da ação pedagógica, o elemento causador da degradação ambiental não venha a se repetir, pois nessa perspectiva não se instala o potencial de crítica ao status quo (p. 103).

As mudanças que serão provocadas por essas ações, muitas vezes serão somente de cunho individual e comportamental assinalados por Loureiro et al (2006), como por exemplo não jogar lixo no chão, não desperdiçar os alimentos, não degradar o ambiente escolar. Enfim, concordamos com Orsi, R.F.M (2008), quando esclarece que não devemos desmerecer essas ações. No entanto “[...] elas não conseguem, por si só, resolver os problemas, além de não conduzirem a um envolvimento maior das pessoas e da comunidade, de forma participativa, no diagnóstico dos problemas e enfrentamento das questões e conflitos ambientais” (p. 103).