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Aspetos Fundamentais na Educação Crítica

3.1. Educação Crítica: Origem e Fundamentos

3.1.4. Aspetos Fundamentais na Educação Crítica

Pelo que temos vindo a analisar, EC tem a ver com uma democracia plena. Está relacionada com questões sociais de desigualdade, oportunidade, liberdade e participação política. Esta visão a respeito da EC é corroborada por Skovsmose (2001, p. 101) quando refere que “para que a educação, tanto como prática como pesquisa, seja crítica, ela deve estar a par

3. Educação Matemática Crítica

dos problemas sociais, das desigualdades [...] deve tentar fazer da educação uma força social progressivamente ativa [...] deve reagir às contradições sociais”.

Para que a educação efetivamente aconteça de uma forma crítica é necessário que tanto o educador como os educandos sejam participantes ativos e responsáveis no processo de aprendizagem. Ao educador cabe a responsabilidade de educar os educandos para serem bons cidadãos, assim deve ter a preocupação de orientá-los para se servirem dos conhecimentos que aprendem para tomarem decisões, uma vez que muitos dos saberes disciplinares são importantes instrumentos para compreender e dominar a realidade.

Na EC, a relação entre o educador e os educandos tem uma importância fundamental e determinante no processo de aprendizagem. Na EC, o professor deixa de ser o “dono do saber” e passa a valer a presença daquele “que ensina” mas também “que se ensina”, sendo os papéis de “ensinar” e de “se ensinar” ora assumido pelo professor, ora pelos próprios alunos, num processo democrático, não autoritário. O educador e os educandos atuam numa relação dialética e todos são corresponsáveis pelo processo de educação no qual todos “crescem”.

“As ideias relativas ao diálogo e à relação estudante-professor são desenvolvidas do ponto de vista geral de que a educação deve fazer parte de um processo de democratização. Se queremos desenvolver uma atitude democrática por meio da educação, a educação como relação social não deve conter aspetos fundamentalmente não democráticos. É inaceitável que o professor (apenas) tenha um papel decisivo e prescritivo. Em vez disso, o processo educacional deve ser entendido como um diálogo.”

(Skovsmose, 2001, p. 18) Um dos aspetos fundamentais da EC é permitir aos educandos competência crítica. Esta desenvolve-se quando é permitido aos educandos se envolverem nas decisões e ‘tomarem as rédeas’ no seu processo de aprendizagem. Outro aspeto importante é que o programa curricular da disciplina seja considerado criticamente. Tanto o professor como os alunos devem ter possibilidade de manter distância crítica do conteúdo da educação, estruturando uma perspetiva que questione: (i) aspetos referentes à aplicabilidade do tema; (ii) quem o usa e onde é usado; (iii) quais os interesses implícitos; (iv) que contexto gerou o assunto; (v) quais as suas funções; (vii) quais as suas limitações. Na EC tanto o currículo oculto como o currículo explícito pelos programas devem ser postos em discussão com os alunos. O terceiro aspeto importante é exercer uma Educação Problematizadora e uma aprendizagem reflexiva, onde o professor assuma o papel de Educador Libertador. Para que ocorra uma aprendizagem reflexiva, os problemas que compõem o processo de educação podem ser escolhidos tanto pelo professor como podem emergir dos alunos. O importante é que os problemas sejam relevantes para os alunos e que os objetivos sociais deflagrados pelo problema lhes sejam significativos.

3.2. Educação Matemática Crítica

Frankenstein (1989) situa o Ensino da Matemática num fundamento lógico no qual associa a escolarização a uma consideração mais ampla de Cidadania e responsabilidade social. Defende a necessidade da Matemática ser trabalhada, vivida, ensinada e aprendida em contexto real, contactando com problemas da mesma maneira que estes aparecem no quotidiano. Na vida real, temos de lidar com muitos problemas que nos são apresentados de forma desordenada. A resolução de problemas do currículo tradicional isola e simplifica estes aspetos particulares da realidade a fim de proporcionar aos alunos meras técnicas de treino. Se na sala de aula os problemas forem apresentados aos alunos tal como eles aparecem no quotidiano, e estes se revelarem significativos para os alunos, serão criadas reais oportunidades para os alunos participarem, de uma forma ativa, reflexiva e crítica, no seu processo de aprendizagem. Segundo a EC a educação deve combater as desigualdades sociais, não deve reproduzir passivamente as diretrizes do poder dominante e deve empenhar-se em ter uma postura ativa em paralelo a outras forças sociais críticas. Por sua vez, é um dos objetivos da EM preparar os educandos para o desenvolvimento de uma Cidadania Crítica pois, segundo Skovsmose (2005), a Cidadania não pode ser passiva. Logo, se estas duas forças se unirem, certamente a aprendizagem será mais reflexiva e significativa para quem estiver envolvido nesse processo. Face a isto, Skovsmose (2001, pp.14-15) enuncia dois postulados básicos para uma EMC:

Primeiro: É necessário intensificar a interação entre a EM e a EC, para que a EM não se degenere em uma das maneiras mais importantes de socializar os estudantes em uma sociedade tecnológica e, ao mesmo tempo, destruir a possibilidade de se desenvolver uma atitude crítica em direção a essa sociedade tecnológica.

Segundo: É importante para a EC interagir com assuntos das ciências tecnológicas e, entre eles, a EM, para que a EC não seja dominada pelo desenvolvimento tecnológico e se torne uma teoria educacional sem importância e sem crítica.

Skovsmose (2001) considera que a estratégia mais eficiente para desenvolver uma EMC é através da problematização. E que, para ela funcionar em pleno como mecanismo de ação, é importante que os educandos se apercebam da relevância dos problemas, assim, estes devem estar relacionados com as suas experiências, devem estar ligados a processos importantes para a sociedade em geral e, os alunos, ao assumirem a responsabilidade de os resolver, devem projetar-se num envolvimento sociopolítico.

Skovsmose (2005) complementa a ideia de EMC com a noção de matemacia. Esta noção é semelhante à noção de alfabetização desenvolvida por Freire. Assim, podemos assumir que a noção de matemacia está relacionada com a ideia de uma alfabetização funcional em Matemática. Matemacia não é apenas a capacidade de calcular e utilizar técnicas matemáticas,

3. Educação Matemática Crítica

mas uma competência associada ao refletir e ao agir num mundo fortemente estruturado por modelos matemáticos. Também faz parte da matemacia “a) a habilidade de lidar com noções matemáticas; b) a habilidade de aplicar tais noções em contextos distintos; c) a capacidade de refletir sobre tais aplicações” (Skovsmose, 2005, p. 138). A matemacia pode servir de apoio para a Cidadania Crítica e pode ser desenvolvida com base no diálogo que favorece uma aprendizagem significativa, política e democrática. Assim, o desenvolvimento da matemacia assume um papel relevante para a operacionalização de uma EMC, uma vez que matemacia é a competência que representa uma Aprendizagem Crítica da Matemática.