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A Realização das Corridas com Robots

A realização das Corridas com os Robots possibilitou aos alunos a oportunidade de produzir os seus próprios dados estatísticos e de encontrar os resultados desejados. Ajudou-os a contactar com o trabalho estatístico.

Nesta segunda etapa da investigação estatística – Recolha dos Dados – os alunos tiveram que planear como realizar as corridas e recolher dados que fossem relevantes para responder às questões anteriormente formuladas: Qual é o Robot vencedor das corridas?; Qual a classificação de cada Robot?

Um dos nossos objetivos com a implementação do CA era educar para uma Cidadania ativa e crítica, exercendo uma verdadeira democracia na sala de aula e abrindo espaço para a criatividade, a reflexão, a criticidade e a responsabilidade dos alunos pelas suas tomadas de decisão. Assim, uma vez mais, o plano foi estabelecido no grande grupo, com os alunos, ouvindo e discutindo as várias opiniões, de modo a se estabelecerem perspetivas partilhadas sobre o assunto, com base nas diferentes perspetivas apresentadas, e permitir que todos atuassem de forma a atingir os objetivos estabelecidos.

Os alunos colaram no quadro o troço de corrida escolhido pela turma e à medida que foram acabando de ultimar a programação dos Robots para as corridas começaram a montar o troço de corrida na sala de aula. No momento da montagem do troço de corrida, existiu cooperação entre os alunos, mesmo entre alunos dos vários grupos. Uns foram colocando as

6. Das Corridas com Robots à Aprendizagem da Estatística e da Cidadania

peças na posição correta, outros foram dando indicação sobre a posição em que estas deveriam ser colocadas – se a curva era à esquerda ou à direita, quantas curvas, quantas retas, … – e outros foram passando fita-cola para unir as várias peças. Existiu um trabalho conjunto de toda a turma e partilha de tarefas.

Um grupo de trabalho, S, M, P.M e P.B, decidiu que seriam apenas necessárias seis corridas para chegar à conclusão de qual seria a classificação de cada Robot. Para esta decisão recorreram à plataforma de conhecimento acumulado em vivências e experiências de outras práticas, nomeadamente, ao que conheciam acerca das eliminatórias na Taça de Portugal de Futebol. Este processo social, utilizado neste momento específico em que lhes foi conferido o domínio de decisão, moldou a ação dos alunos e a forma como as decisões foram tomadas.

Após dialogarem no pequeno grupo, os alunos, S, M, P.M e P.B, solicitaram-nos autorização para ir ao quadro e explicar a

estratégia criada para realizar as corridas, uma vez que nem todos os alunos estavam a perceber como realizar as eliminatórias, tal como é feito nas eliminatórias da Taça de Portugal. Assim, o M foi ao quadro e construiu, com a ajuda dos colegas do seu grupo, uma tabela como a do lado. E, em conjunto, os alunos explicaram, à turma:

M: Fazemos uma primeira volta em que correm os 4 Robots, só que cada Robot corre apenas contra um adversário.

S: Por isso, na 1.ª volta são necessárias apenas duas corridas e correm os quatro Robots. P.M: Na 2.ª volta correm os mesmos Robots mas em faixas contrárias. O que tinha corrido à esquerda corre à direita e vice-versa.

P.B: A 3.ª volta só correm os vencedores da 1.ª e 2.ª volta, para definir o 1.º e 2.º classificado. S: Por fim, a 4.ª Volta, será a final entre os perdedores, define-se o 3.º e 4.º classificado. Esta explicação apresentada pelos alunos revela que eles construíram uma perspetiva partilhada sobre como realizar as corridas e a ideia é partilhada por todos os elementos do grupo, uma vez que conseguem explicá-la de uma forma clara à turma e convencer os colegas a adotá-la. Os colegas aceitaram a ideia apresentada e concordaram que estavam em condições de iniciar as corridas.

Informámos que era importante dividir tarefas, para que tudo resultasse da melhor forma. Assim, o M resolveu que iria registar as corridas no quadro, a S auxiliou-lhe nessa tarefa e fez o registo no computador. O registo feito no computador estava a ser projetado para que toda a turma tivesse acesso ao mesmo e no fim da aula seria enviado por e-mail a todos os alunos para

Esquerda Direita Vencedor 1.ª Volta X-5 Jagunço DNR Vinagre 2.ª Volta Jagunço X-5 Vinagre DNR

3.ª Volta - Final entre vencedores da 1.ª e 2.ª volta 4.ª Volta - Final entre perdedores da 1.ª e 2.ª volta

que todos tivessem acesso ao registo dos dados. O P.B e a D cronometraram as corridas de todos os Robots, utilizando os seus telemóveis. O P.B cronometrou os tempos dos Robots que correram na faixa da esquerda e a D cronometrou os tempos dos Robots que correram na faixa da direita. O A dava ‘o assobio de partida’. Um aluno colocava o Robot do seu grupo junto à partida e preparava-o para a prova. O trabalho foi, desta forma, distribuído por grande parte dos alunos da turma, sendo a divisão feita pelos próprios alunos, o que revela que a criatividade, a autonomia e a iniciativa dos alunos estavam a ser desenvolvidas.

No final da aula tinham realizado as corridas e completado a tabela:

Esquerda Direita Vencedor 1ª Volta X-5 1.16.79 Jagunço 56.63 Jagunço DNR 1.22.73 Vinagre 1.18.31 Vinagre 2.ª Volta Jagunço 58.74 X-5 1.01.77 Jagunço Vinagre 1.09.45 DNR 1.13.81 Vinagre 3.ª Volta - Final entre vencedores da 1.ª e 2.ª volta

Vinagre 1.09.95

Jagunço

56.83 Jagunço 4.ª Volta - Final entre perdedores da 1.ª e 2.ª volta

X-5 1.01.05

DNR

1.10.71 X-5 Tabela 6.2: Os tempos das corridas realizadas na turma.

Chegaram à conclusão que o vencedor era o Jagunço, que o 2.º Lugar era do Vinagre, que o 3.º pertencia ao X-5 e o 4.º ao DNR. Contudo, para esta decisão apenas recorreram a conhecimentos do quotidiano e não recorreram a conceitos estatísticos.

Para os alunos não existiu necessidade de realizar mais corridas, nem utilizar outros argumentos para definir o vencedor, pois como a R explicou, “está definido o vencedor e a classificação dos Robot, não é necessário mais corridas pois, por exemplo, o DNR perdeu contra o Vinagre e o Vinagre perdeu contra o Jagunço então o DNR certamente também iria perder contra o Jagunço, logo não precisa correr contra ele. Já sabemos qual é o resultado”. Esta explicação apresentada pela aluna, e aceite pelos restantes alunos, tem subjacente a noção de transitividade. Os alunos utilizaram raciocínio matemático para apresentarem esta perspetiva, contudo, não apresentaram argumentos estatísticos para a escolha do vencedor nem para a classificação dos vários Robots nas corridas.

6. Das Corridas com Robots à Aprendizagem da Estatística e da Cidadania

A montagem do troço de corrida bem como a realização das corridas são exemplos de momentos em que é visível a cooperação entre os alunos dos vários grupos, o que propiciou a união do grupo turma. Nestes momentos, os alunos partilharam as responsabilidades e dividiram as tarefas a realizar. O trabalho foi distribuído pelos alunos de uma forma muito natural, ordeira e eficaz, sem a nossa intervenção.

Com a implementação do CA, os alunos, gradualmente, tornaram-se mais autónomos e responsáveis pelas suas ações. Passou a existir uma melhor gestão das tarefas por parte dos alunos e eles passaram, de uma forma natural e progressiva, a tomar decisões sem antes nos questionar.

Durante as corridas existiram Robots que se desviaram do percurso e que foram naturalmente colocados sobre a linha preta para continuar a prova, sem existir discussão sobre este aspeto. O facto de o Robot ter ‘necessitado de ajuste’ para continuar a prova não foi tida em consideração para a contabilização dos tempos, no registo dos dados, pelos vários grupos e, também, não foi tida em consideração para a definição do vencedor. Mas, na aula seguinte, vários alunos referiram que não era justo terem existido Robots que tinham saído da linha sem sofrer penalização, acabando por ter melhor classificação que outros que, embora mais lentos, não saíram da linha. Este sentimento de injustiça foi manifestado pelos alunos, principalmente por aqueles que tinham conseguido que o seu Robot fizesse o percurso sem se desviar da linha. Este momento foi por nós aproveitado para discutir o conceito de justiça e negociar, novamente, o que deveríamos ter em conta durante as corridas. Da discussão, emergiram como relevantes, para a definição do Robot vencedor e para a criação dos critérios de classificação dos Robots, os seguintes aspetos:

• Quem é que está a correr. (Note-se que as corridas eram feitas sempre entre dois Robots.)

• Se o Robot venceu, perdeu ou empatou a corrida.

• Se o Robot correu na faixa da esquerda ou da direita. (Note-se que o troço de corrida era composto por duas faixas de rodagem.)

• Cronometrar o tempo de cada Robot na corrida.

• Se o Robot, durante a corrida, saiu da linha preta. E em caso afirmativo, quantas vezes. Estes aspetos apresentados e aceites pela turma evidenciam que os alunos avaliaram as corridas realizadas, de forma a construir novas perspetivas acerca do que acontece durante as corridas, e refletiram sobre os aspetos que deveriam ser tidos em conta, no momento da recolha de dados, aquando das corridas.

Embora os alunos tivessem construído um troço de corrida que, teoricamente, sabiam ser justo (criaram-no de modo a que a probabilidade de vencer correndo à esquerda ou correndo à direita fosse a mesma) tiveram necessidade de confirmar os dados empiricamente durante as corridas – acordando que era necessário, cada Robot, realizar uma corrida na faixa da direita e outra na faixa da esquerda, contra um mesmo adversário.

Após construírem uma perspetiva partilhada acerca dos aspetos que seriam importantes ter em atenção registar, durante as corridas, demos oportunidade aos alunos para realizarem novas corridas. Após a realização de 12 corridas, a fase de recolha de dados, referente às corridas dos Robots, foi dada por terminada. A partir desse momento, com o intuito que os alunos desenvolvessem a Competência Estatística e, também, Competência Crítica, demos- lhes espaço para interpretarem, discutirem e criticarem os dados recolhidos durante as corridas de modo a definirem o Robot vencedor das mesmas. Desta forma, os alunos tiveram que analisar os dados e convertê-los em informação relevante de forma a responder às questões formuladas, utilizando argumentos estatísticos.