• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 – QUE A UNIVERSIDADE SE PINTE DE POVO: UNIVERSIDADE PÚBLICA,

3.3. A UFPB no quadro das mudanças institucionais do novo milênio

3.3.2. A assistência ao estudante na UFPB

Na UFPB, o órgão responsável pela assistência estudantil é a Pró-Reitoria de Assistência e Promoção ao Estudante (PRAPE). Segundo a apresentação que consta no site da Pró-Reitoria, ela tem como função “planejar, coordenar e controlar as atividades de assistência e promoção ao estudante, visando sobretudo à sua permanência nos cursos de graduação

presencial da Universidade Federal da Paraíba”54.

A PRAPE tem como público alvo o estudante ingresso na UFPB em condições de vulnerabilidade socioeconômica. A concessão dos auxílios segue as diretrizes do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) e conta com outras ações do Governo Federal

como o Programa Bolsa Permanência (PBP), este último criado pelo Ministério da Educação

através da Portaria n.º 389, de maio de 2013. Tanto os recursos do PNAES quanto os do

Programa Bolsa Permanência visam ajudar na permanência do estudante na universidade em curso de graduação presencial.

Semestralmente, a PRAPE seleciona estudantes através de processo seletivo para os seguintes auxílios: Residência Universitária, Restaurante Universitário, Auxílio-Moradia,

Auxílio-Alimentação e Auxílio-alimentação final de semana, Auxílio-Transporte e Auxílio-Creche.

A seleção acontece segundo os critérios estabelecidos pelo Programa Bolsa Permanência (PBP) que são: 1) Não possuir renda familiar per capta superior a 1,5 salário mínimo, 2) Estar matriculado em curso de graduação presencial com carga horária diária média não inferior a cinco horas e 3) Não ter ultrapassado dois semestres do tempo regulamentar do curso.

O quadro a seguir mostra os Benefícios Permanência concedidos pela Pró-Reitoria de Assistência e Promoção ao Estudante (PRAPE).

Benefício Permanência Descrição

Residência Universitária

A UFPB possui 31 Residências Universitárias distribuídas em seus quatro campi: João Pessoa (na Cidade Universitária e no Centro da cidade), Areia, Bananeiras e Rio Tinto (incluindo prédios, casas e blocos)55. O estudante contemplado com Residência Universitária já tem acesso automático ao Restaurante Universitário.

Restaurantes Universitários

A UFPB possui Restaurantes Universitários em seus quatro campi. No total, são 5 restaurantes universitários que ofertam 6.410 refeições/dia56.

Auxílio-Moradia

Este benefício é concedido para o estudante custear sua moradia fora dos câmpus universitários. O valor do Auxílio-Moradia é de R$ 330 (trezentos e trinta reais). Ao estudante que recebe o Auxílio-Moradia é vedada a concorrência conjunta à Residência Universitária.

alimentação e Auxílio-alimentação final de semana

Auxílio de R$ 240,00 (Duzentos e quarenta reais) concedido

a estudantes classificados como vulneráveis

socioeconomicamente. Visa ajudar: aos estudantes da Residência Universitária no Câmpus I, onde o RU é fechado nos fins de semanas e feriados; e aos estudantes que recebem auxílio-moradia no câmpus I, onde o RU é fechado nos fins

55 Fonte: Relatório de Gestão da UFPB de 2016. 56 Idem.

de semanas e feriados, e aos estudantes que recebem auxílio-moradia nas Unidades Acadêmicas onde ainda não há RU (Câmpus IV-Unidade Acadêmica de Mamanguape, Câmpus I-Unidade Acadêmica de Mangabeira, Câmpus I-Unid. Acadêmica de Santa Rita).

Auxílio-Transporte

Auxílio concedido a estudantes classificados como vulneráveis socioeconomicamente e que estão matriculados nas Unidades Acadêmicas de Mangabeira e Santa Rita do Câmpus I.

Auxílio-Creche

Benefício concedido a estudantes classificados como vulneráveis socioeconomicamente. Visa ajudar a nos custos com creche cujo filho esteja na faixa etária entre seis meses a três anos, onze meses e vinte e nove dias.

Quadro 1 - Benefícios Permanência concedidos pela PRAPE

Fonte: Próprio autor / Relatório de gestão da UFPB 2016

O estudante contemplado com a bolsa Auxílio-Moradia, no valor de R$ 330,00

(trezentos e trinta reais), recebe, cumulativamente, o Auxílio-Alimentação Final de

Semana/Feriados Nacionais, no valor de R$ 240,00 (duzentos e quarenta reais). O valor, que

juntos é de R$ 570,00 (quinhentos e setenta reais), é depositado em conta corrente ativa informada pelo estudante. Soma-se a estes benefícios o acesso ao Restaurante Universitário para almoço e janta durante a semana para os estudantes contemplados com o Auxílio-Moradia.

Estes são os Benefícios de Permanência ofertados pela UFPB, via PRAPE, como parte de uma política de assistência estudantil com vistas a garantir a permanência do estudante na universidade.

Em seu Relatório de Gestão de 2016, a UFPB estabeleceu metas “[...] para o quinquênio 2014-2018 no que diz respeito à graduação, pós-graduação e pesquisa, internacionalização, recursos humanos e assistência estudantil” (RELATÓRIO DE GESTÃO UFPB 2016, p.72, grifo nosso).

No quadro a seguir, algumas metas para a assistência ao estudante estabelecidas no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da UFPB para o quinquênio 2014-2018:

Assistência Estudantil

Reestruturação e ampliação das moradias estudantis e dos restaurantes universitários;

Ampliação da oferta de bolsas de assistência estudantil; Expansão das ações que promovam o desenvolvimento

acadêmico, político e cultural;

Ampliação das políticas de assistência aos estudantes com deficiência.

Quadro 2 – Metas para a assistência ao estudante Fonte: Relatório de Gestão da UFPB 2016 - PDI 2014-2018.

Como se pode perceber no quadro acima, a palavra que mais aparece é “ampliação”, seguida de seu sinônimo “expansão”. Ou seja, a meta para a assistência estudantil para os próximos anos é continuar crescendo e ampliando os serviços de assistência aos estudantes da UFPB. No quadro a seguir, é possível visualizar alguns números relativos à assistência estudantil em 2013 e as metas de crescimento estabelecida pela UFPB para esta área.

Quadro 3 – Números relativos à assistência estudantil em 2013 Fonte: Relatório de Gestão da UFPB 2016 - PDI 2014-2018. Com vistas a atender às diretrizes do programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), a UFPB mantém um programa que concede diferentes modalidades de auxílio à estudantes em condições de vulnerabilidade socioeconômica. No entanto, os constantes cortes do Governo Federal nos recursos para a educação, por um lado, e a grande demanda de alunos e alunas que têm requisitado os Benefícios de Permanência, por outro, tem evidenciado falhas na política de assistência ao estudante na UFPB.

57 De todos os câmpus da UFPB.

ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL 2013 2018 (%)

Número de alunos atendidos/dia – Restaurantes

Universitários57 6.630 +20%

Número de alunos atendidos – Residências

Universitárias 1.125 +10%

Número de alunos assistidos com auxílio

moradia/mês 726 +30%

Número de alunos assistidos com auxílio

alimentação/mês 1.186 +20%

Número de alunos com deficiência assistidos –

Segundo Davi de Souza, estudante que em 2015 entrou para o curso de Serviço Social pelo sistema de cotas, através do recorte étnico-racial, a burocratização para o recebimento do auxílio prejudicou não só ele, mas diversos estudantes no mesmo período. Segunda relata, ele teve que esperar um ano e três meses para ser contemplado com o benefício:

Consegui essa bolsa [auxílio moradia] com muita luta. E quando você recebe a bolsa você não recebe os valores retroativos, uma vez que você entra na universidade e você entra no processo e tem um tempo para análise. E como eu entrei em 2015.1 demorava um pouco pra fazer essa análise, hoje em dia ela é mais rápida [...]. Porém, no meu tempo a gente tinha que se virar pra poder ficar aqui no câmpus (Davi de Souza, Serviço Social, UFPB).

Davi de Souza tem 24 anos e é natural de Unaí, Minas Gerais. Antes de vir para João Pessoa cursar Serviço Social na UFPB – no momento de nossa pesquisa estava no sétimo

período do curso – morava na região de Samambaia, em Brasília58. Questionado como fez para

se manter na cidade e no curso até receber o auxílio, respondeu:

Olha, eu pedia dinheiro em paradas de ônibus, pedia dinheiro em sinal, fazia arte pra poder vender. Pedia comida em rodoviária. Esse Passagem Bar aqui [bar e restaurante próximo a universidade], [...] só dava eu e o restante do pessoal que entrou comigo e a gente falava a mesma coisa, tipo “oh, nós somos estudantes da UFPB, estamos esperando um auxílio que não chega”. E as pessoas ficavam muito comovidas, ficavam “como assim?” (Davi de Souza, Serviço Social, UFPB).

Davi afirma que antes de ser contemplado com o auxílio ficou como hóspede na Residência Universitária, mas foi expulso de lá por questões políticas:

Quando eu fui expulso da residência foi aí que eu entrei com ação na Reitoria pra conseguir um lugar pra eu morar enquanto estudante dessa universidade e enquanto pessoa em condição de vulnerabilidade social e econômica. Foi aí que eu consegui legitimar minha permanência na residência. E aí eu fui ficando na residência até minha bolsa sair. Engraçado que no dia em que minha bolsa saiu a coordenação da residência me deu um mês pra eu sair da residência: “Você tem um mês pra sair daqui porque você já está recebendo essa bolsa”. Por que aí é como se você tivesse fazendo uso de dois programas

(Davi de Souza, Serviço Social, UFPB).

58 Davifoi um dos quatro estudantes que se acorrentaram à rampa de acesso da Reitoria da UFPB, em fevereiro de 2016, dando início à greve de fome que durou 11 dias. No quarto capítulo, detalharemos este momento da luta destes estudantes pela assistência estudantil.

Muito embora o estudante possa contar com valor do auxílio para sanar algumas despesas de sua permanência num curso da UFPB, este valor se mostra insuficiente para abranger o quadro mais amplo das necessidades materiais dos estudantes em relação a seu custeio.

[O valor do auxílio] mal dá pra você pagar o aluguel. Você paga seu aluguel, você não compra comida, você não faz mais nada. Meu aluguel é R$ 400,00 hoje em dia e aí a bolsa é R$ 570,00, veja só! E aí ainda tem uma universidade pra dar conta, né? Tem livros pra comprar, xerox pra tirar, né? Daí eu tô fazendo estágio, tem que ir pro estágio, tem que pagar passagem. Agora eu comprei uma bicicleta pra conseguir me adiantar porque senão eu não ia conseguir fazer acontecer tudo que a universidade me impede, né? Porque a partir do momento que a universidade concede pra você a bolsa, ela lhe cobra uma participação nessa universidade, é como se você tivesse vendendo sua alma mesmo, sabe? Tipo, “você quer a bolsa? Massa! Você tem a bolsa, mas agora você vai ter que suar para continuar com ela aqui dentro”. O aluno que é bolsista ele tem que ser extencionista, ele tem que ter o CRA 10, ele tem que se garantir aqui de uma forma que o restante do alunado não precisa (Davi de Souza, Serviço Social, UFPB, grifo nosso).

A experiência de ser um estudante universitário evidencia-se não ser a mesma para todos. Portanto, há diferentes formas de se viver a rotina da vida acadêmica e seu ritmo de estudos, vivências culturais, movimentos políticos etc. Retomaremos este ponto no próximo capítulo.

Entre aquele grupo de estudantes que “tem que se garantir aqui de uma forma que o

restante do alunado não precisa” está Nívea Santos. Natural de São Paulo, Nívea entrou na UFPB via sistema de cotas étnico-raciais como aluna oriunda da escola pública e atualmente cursa o terceiro período de Pedagogia. Recebe o auxílio da Residência Universitária (que contempla, automaticamente, o acesso ao Restaurante Universitário) e o Auxílio-alimentação final de semana (R$ 240,00), tendo em vista que nos finais de semana e feriados o Restaurante Universitário não funciona.

O cálculo do Auxílio-Alimentação final de semana leva em conta os quatro finais de semana do mês. No entanto, segundo Nívea, esse valor contempla "[...] não só final de semana, mas final de semana e feriados. Independente de o mês ter mais feriados esse valor não é alterado, são R$ 240,00 Reais, não tem reajuste".

Não raro, atrasos no pagamento dos benefícios têm acontecido dificultando o planejamento pessoal e acadêmico dos estudantes.

Esse ano [2017] [o auxílio] atrasou umas duas vezes. Foi em janeiro, em

janeiro atrasou muito, era pra cair dia 13 e foi cair quase no dia 30. E aí em fevereiro atrasou de novo. E a universidade usava a desculpa de que a União ainda não repassou o dinheiro. Só que a gente já sabia que o repasse já tinha

sido feito. E teve um outro atraso também que, misteriosamente, acho que foi em março [de 2017], o dinheiro não caia. [E diziam] “ah, mas a União não repassou a verba, a gente tá sem verba, não tem dinheiro pra pagar”. Houve

um movimento em que se chamou a imprensa. A professora Margareth [a

Reitora] foi forçada a falar com a imprensa pra dar uma explicação sobre o que estava acontecendo e o Ministério da Educação foi acionado e disse “não, a verba já está aí. Não existe esta questão”. No outro dia, seis horas da manhã, o dinheiro tava na conta. Teve que vir alguém de fora pra dizer que o dinheiro estava aqui (Nívea Santos, Pedagogia, UFPB, grifo nosso).

Como mostra a fala anterior, os atrasos no repasse da verba é outro problema enfrentado pelos alunos e alunas que recebem os auxílios. Ou seja, há um constante estado de tensão, vivido no início de cada mês, por não ter como saber se o dinheiro do auxílio será depositado até o quinto dia útil. Portanto, quando há o atraso no depósito da verba, há, consequentemente, atraso no pagamento das contas, há preocupação, há estresse e há também um reflexo disso no rendimento do estudante na universidade.

Outro ponto problemático lembrado pelos estudantes é o atraso da PRAPE para o lançamento dos editais de Auxílio-Moradia. O estudante em condições de vulnerabilidade socioeconômica precisa iniciar o semestre já de posse do benefício para poder custear sua permanência no curso. No entanto, o lançamento dos editais para seleção do Auxílio-Moradia meses após o início do semestre inviabiliza tal permanência.

[...] Esse semestre [2017.2], por exemplo, não abriu nem vai abrir pra auxílio moradia. [...] Tem gente que veio de fora, que entrou agora ou que está há vários semestres tentando uma vaga para auxílio moradia ou até para a própria residência e não consegue. O que a universidade faz por essas pessoas? Nada (Nívea Santos, Pedagogia, UFPB, grifo nosso).

Nós estamos em 5 de outubro [de 2017] e ainda não saiu o edital de auxílio-moradia que sai todo período. E aí? E essas pessoas que entraram agora pelas cotas o que elas estão fazendo da vida nesse segundo semestre? Estão desistindo. Na minha turma já desistiu um monte de gente por falta de dinheiro, por falta de condição mesmo. Outros tão assim... dá pra ver a pessoa... tá passando fome. Pessoas que emagreceram, pessoas que estão com um olhar já diferente e que simplesmente sabem que não vão conseguir permanecer. [...] As vagas que abriram na residência foi insignificante, mas foi o que tinha, né. Mas sempre eles abrem auxílio. Porque? Por que não se pensa em ampliar a residência (Natália Vieira, Enfermagem, UFPB).

Natália, que veio da cidade de Caaporã, na Paraíba, para estudar enfermagem na UFPB, afirma que não foi fácil ter as condições mínimas para continuar na universidade. A 45 km de distância de João Pessoa, Caaporã não fica tão distante da capital e seu problema de locomoção para a UFPB poderia ser resolvido se a prefeitura de sua cidade disponibilizasse um ônibus para os estudantes vir à universidade – o que é bastante comum nas cidades vizinhas à João Pessoa.

Para poder continuar estudando, solicitou, então, o auxílio à PRAPE, o que levou nove meses para ser avaliado.

Esse período foi uma loucura na minha vida, porque eu peguei carona em caminhão de cimento, eu peguei carona com amigos... O ônibus da prefeitura vinha trazer o pessoal da saúde. Aí a gente entrava no ônibus e como não pode carregar pessoas na BR em pé [dentro do ônibus], então a gente se deitava no chão do ônibus pra gente passar pela Polícia Federal sem ser barrado. Então a gente fazia de tudo [para agradar o motorista]: levava ovo, abóbora, tudo quanto era coisinha que a gente planta, né, pra agradar, pra poder conseguir. Então foi nesse estilo. De passar quinze dias sem vir na aula, porque não conseguia (Natália Vieira, Enfermagem, UFPB).

Após nove meses de espera Natália obteve de Benefício Permanência a Residência Universitária, o Restaurante Universitário e o Auxílio-alimentação final de semana, o que, segundo ela, lhe proporcionou melhores condições de permanência na UFPB. Para o estudante em condições de vulnerabilidade socioeconômica que vem de outra cidade ou de outro Estado, conseguir um dos Benefícios de Permanência ofertados pela UFPB é o primeiro grande desafio que terá que enfrentar enquanto calouro. Se conseguir – pois muitos não conseguem –, o segundo desafio será o de permanecer na universidade, tendo em vista as condições precárias da assistência ao estudante.

No caso do Auxílio-Moradia, os atrasos no pagamento do auxílio e o atraso no lançamento do edital são problemas que dificultam a manutenção do estudante na universidade. Por sua vez, aqueles e aquelas beneficiados com a moradia na Residência Universitária se deparam, já nos primeiros dias, com a realidade que lhes acompanhará por todo o período que permanecer no seu curso:

Hoje aqui é um quarto pra dividir com duas pessoas com um banheiro dentro do quarto [...]. Nós temos uma internet que não suporta todo mundo, nem todo mundo tem acesso a essa internet da residência. Aí agora é que eles estão instalando a internet sem fio. [...] Tem um Wi-Fi, mas só pega no bloco antigo. [...] Energia falta muito, o cano de gás é aquele ali, como você pode ver está enferrujado. Tem dois fogões só pra 300 pessoas. Um micro-ondas, o outro está estragado. Então assim, é mínima mesmo. [Quando chega à residência] Você recebe um colchão e uma cama, somente. Daí você fica brigando pra ver se consegue uma mesa usada, alguns conseguem (Natália Vieira, Enfermagem, UFPB).

Não raro, o estudante que chega à universidade em condições de vulnerabilidade socioeconômica consegue, com o tempo, melhorar sua situação financeira com a obtenção estágios ou trabalhos, o que o já o habilitaria a gerir por si próprio seus gastos deixando os auxílios para quem precisa. No entanto, a falta de fiscalização expõe a contradição entre os moradores da Residência Universitária.

Daí você tem lá [na Residência Universitária] alunos que já passaram em concurso público e estão ganhando bem e moram ali. Você tem alunos que estão fazendo estágios muito bem remunerados e continuam ali. Você tem alunos que tem uma situação financeira muito boa, que são ajudados pelos pais que estão ali. Não é à toa que os carros que estão ali no CCS [Centro de Ciências da Saúde], que passam a noite toda no CCS não são carros de alunos do CCS. São carros de alunos que moram na residência (Nívea Santos, Pedagogia, UFPB, grifo nosso).

Outro ponto que é frequentemente citado no rol de precariedades vivenciadas diariamente pelos estudantes é a má qualidade da comida. A comida servida pela manhã nas residências universitárias e no horário do almoço e da janta nos restaurantes universitários representa, para muitos estudantes que recebem o auxílio, a única oportunidade de uma refeição.

No entanto, aqueles e aquelas que pretendem assistir às aulas do horário da tarde precisam antecipar seu horário de almoço para chegar à tempo. Às 10h30 da manhã, mais ou menos, já é possível ver ao lado do Restaurante Universitário uma fila que começa a se formar para o almoço. À medida que o tempo avança, a fila aumenta e depois das 11 horas da manhã já é possível vê-la dando voltas de tão grande. Os que chegam mais tarde, certamente enfrentarão uma grande fila onde se leva, em média, uma hora e meia até o momento de começar a servir seu prato.

As refeições, que até há pouco tempo eram feitas no próprio Restaurante Universitário, passaram a ser um serviço terceirizado, o que acarretou na perda da qualidade da comida. A empresa, que desde 2015 foi contratada para fornecer desjejum, almoço, janta e lanche noturno para os estudantes e demais usuários do restaurante e residências universitárias, fica encarregada também da distribuição destas refeições nos câmpus de João Pessoa, Areia, Bananeira e Litoral Norte (Rio Tinto e Mamanguape). O contrato, que tem o valor total de 16.466.000,00 (dezesseis milhões, quatrocentos e sessenta e seis mil reais), exige da empresa que esta assegure "[...] uma alimentação balanceada e em condições higiênicas-sanitárias

adequadas [...]"59.

A fala dos estudantes entrevistados – que vivenciam o cotidiano da universidade e da assistência estudantil – nos mostra que para além do que está acordado no contato a realidade é bem outra:

A gente passa duas horas no RU pra almoçar arroz, feijão e porco, né. Adoro porco, não tenho nada contra porco, mas cadê uma salada? Você chega [no RU] às 11h30 e não tem mais salada. Todo dia! Ou é linguiça ou é bisteca de porco, uns pedacinhos, puro osso. Então você não tem direito nem a 100g de proteína por dia. E não tem uma resposta. Paga-se uma empresa caríssimo pra ela fazer isso conosco em relação a comida.

59 Cf. Contrato nos anexos, p. 271, 272.

Desde 17 de julho [de 2017] que a gente está comendo, praticamente, cuscuz com salsicha e pão com mortadela no café da manhã [na Residência