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CAPÍTULO 3 – QUE A UNIVERSIDADE SE PINTE DE POVO: UNIVERSIDADE PÚBLICA,

3.1. As políticas públicas do governo Lula e Dilma para a educação superior

3.1.5. Programa Bolsa Permanência (PBP)

Com o aumento da demanda de estudantes nas universidades, o Governo Federal criou em 2013 o Programa Bolsa Permanência (PBP) que concede auxílio financeiro para estudantes matriculados nas instituições federais de ensino superior em situação de vulnerabilidade socioeconômica e para estudantes indígenas e quilombolas. O objetivo do programa é contribuir para a permanência e a diplomação dos estudantes de graduação em situação de vulnerabilidade socioeconômica, além disso visa reduzir os custos de manutenção de vagas ociosas decorrentes da evasão estudantil (MEC, 2014).

Segundo o site do MEC48, o valor da bolsa é de R$ 400,0049, ou seja, o equivalente ao

valor de concessão de bolsas de iniciação científica. Alguns critérios para participar do programa são: I) ter renda familiar per capita não superior a um salário-mínimo e meio, II) estar matriculado em cursos de graduação com carga horária média superior ou igual a cinco horas diárias, III) não ultrapassar dois semestres do tempo regulamentar do curso de graduação em que estiver matriculado para se diplomar, IV) ter assinado Termo de Compromisso e, V) ter

48 Cf. http://permanencia.mec.gov.br/

seu cadastro devidamente aprovado e mensalmente homologado pela instituição federal de ensino superior no âmbito do sistema de informação do programa.

O gráfico abaixo mostra o aumento do número de beneficiários que, até 2014, já ultrapassava mais de 10 mil bolsistas.

Gráfico 3: Bolsas ofertadas pelo Programa Bolsa Permanência

Fonte: (MEC, 2014)

Em 2014 foi aprovado o Plano Nacional de Educação (PNE) (Lei 13.005/2014) que estabelece diretrizes, metas e estratégias que devem orientar a gestão da educação em nível federal, estadual e municipal e que devem ser atingidas num prazo de 10 anos. Para tanto, o PNE estabelece 20 metas para a educação que abrangem desde o nível da formação básica à

superior50. O plano tem como propósito a ampliação dos números de todos os setores da

educação brasileira, inclusive o superior.

Na meta 12, que trata do ensino superior, pode-se ler:

Meta 12: elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% (cinquenta por cento) e a taxa líquida para 33% (trinta e três por cento) da população de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% (quarenta por cento) das novas matrículas, no segmento público (BRASIL, 2014).

Além da ampliação do ensino superior, o PNE estabelece uma elevação do investimento público em educação (meta 20) com vistas a atingir o patamar mínimo de 7% do Produto Interno

Bruto (PIB) do país no quinto ano de vigência da lei. Até 2024, o PNE prevê um investimento de, no mínimo, 10% do PIB em educação pública.

Essa meta poderia ser alcançada mais facilmente com a aplicação dos 75% dos royalties

do petróleo e 50% do Fundo Social do pré-sal na educação, como prevê a Lei nº 12.858, de setembro de 2013, sancionada pela ex-presidenta Dilma Rousseff. À época, a estimativa do governo era de que os recursos do pré-sal atingissem, entre os anos de 2013 a 2022, a cifra de R$ 112,25 bilhões. Assim, esse montante seria aplicado progressivamente a cada ano (PORTAL BRASIL, 2013). No entanto, a recessão econômica, a queda no preço do barril de petróleo e as consequências das investigações da Operação Lava Jato sobre a Petrobras acabaram por frustrar o setor da educação quanto ao repasse integral das verbas.

O que os dados nos mostram é uma inegável expansão do acesso ao ensino superior nos últimos 15 anos que permitiu uma maior democratização do acesso a este nível de ensino e a entrada em massa de um grande número de estudantes, tanto na universidade pública quanto privada. Mas, o que eles não mostram – e é isso que nos interessa aqui – é que estas políticas públicas tiveram um impacto não na inclusão de grandes massas amorfas de estudantes no ensino superior, mas na inserção de grupos de estudantes de classes sociais populares – assim como de jovens pertencentes a grupos identitários (de raça, gênero, opção sexual etc.) – que até então eram amplamente visíveis na sociedade, mas pouco representativos nos corredores das universidades brasileiras.

Não queremos com isso dizer que as classes economicamente menos favorecidas e tais grupos identitários não estivessem presentes nos cursos superiores antes destas políticas públicas. Não se trata disso. Sempre houveram aqueles e aquelas que, com muito esforço, romperam o isolamento de sua classe de origem e os preconceitos existentes na sociedade brasileira e conseguiram adentrar no restrito círculo de privilegiados que compõem o ensino superior.

Como nos mostra Bourdieu (1998), as desigualdades do sistema de ensino das sociedades modernas legitimam, dentro da própria escola, as desigualdades entre as classes sociais e com isso favorecem aqueles e aquelas de origem familiar de maior capital econômico e cultural no acesso aos recursos da sociedade.

Os investimentos no ensino superior realizados nos últimos anos permitiram o acesso em massa à universidade de setores da sociedade historicamente excluídos. Isto, por si só, já é um grande feito, tendo em vista, como nos mostrou Foracchi (1965, 1972, 1982) e Bringel (2009), que antes eram os jovens originários da classe média que comumente frequentavam as universidades públicas brasileiras. Desta forma, se antes a desigualdade da sociedade brasileira

se refletia também nas universidades públicas, agora é possível visualizar um início de mudança, ainda que apresente falhas.

No entanto, o que nos interessa aqui é analisar o impacto que o crescimento do ensino superior tem causado na base social da universidade e, mais que isso, como (e se) isto tem algum reflexo no movimento estudantil, tendo em vista o crescimento dos protestos que colocam a urgência da assistência ao estudante. Este ponto analisaremos no próximo capítulo.