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4 Apresentação e discussão dos resultados

Gráfico 4 – Argumentos quanto ao LDD em relação ao tempo de magistério e faixa etária.

4.3 Estratégias para ensino ativo em Matemática

4.3.2 Associando videoaulas ao conteúdo do LD

professores. Contribui para isso o fato de 3, dentre os 5 professores, já terem experimentado esse recurso e a percepção de que os estudantes gostam de vídeos. Assim a primeira discussão focou em caminhos para construção de videoaulas pelos professores usando o modelo de um screencast8 muito popular em Matemática (Lazarus & Roulet, 2013; Prensky, 2011). Para essa proposta, a ideia era a de usar recursos disponíveis para tablets, uma vez que todos os professores envolvidos possuíam o equipamento à disposição. Dentre os recursos apresentados o aplicativo que mais agradou foi o “Explain Everything”9. Um professor ao experimentar esse recurso chegou a comentar: “[...] me vejo agora diante de um novo mundo, e realmente sei que isso vai mudar as nossas vidas, só não sei exatamente como começar. Acho que precisa ser com algo bem simples” (professor H). No entanto, não era possível perceber que os professores haviam se encantado com as possibilidades ou encontrado uma forma fácil e prática de usar esse recurso.

Assim, o que parecia ser algo bem simples se tornou o primeiro obstáculo a ser contornado. A aparente solução veio com a experiência de gravar um vídeo com o celular preso a um tripé apontando para a mesa onde se escrevem os exercícios ou demonstrações. Essa experiência simples, mas com resultados satisfatórios, trouxe ânimo aos participantes que logo encontraram formas criativas de gravar seus vídeos. O professor J se animou e partilhou sua experiência positiva com a gravação de videoaulas e transmissões ao vivo para seus estudantes. O professor H gravou um vídeo com celular e transmitiu ao grupo fortalecendo outros a fazerem o mesmo. Assim, em duas semanas, 4 dentre os cinco professores gravaram vídeos e os partilharam com o grupo e seus estudantes.

A gravação de videoaulas em si não significa em mudança no processo de aprendizagem. O segundo desafio era encontrar caminhos de usar estratégias de inversão de sala de aula, desafiando os estudantes a assumirem a responsabilidade de estudarem previamente às aulas. Para isso, as próximas discussões foram voltas para a inversão de sala de aula, tendo como mola motriz artigos divulgados na mídia brasileira sobre o tema. Paralelamente, foi proposto o uso do EDpuzzle como recurso que permitiria a distribuição das videoaulas aos estudantes associadas a

8 Screencast é um vídeo em que se captura a imagem do que se passa no ecrã do computador com uma

narração adequada (A. Carvalho, 2009)

9 Explain Everything é um software para criação de screencast disponível para mobile (tablet e smartphone)

questionamentos que permitissem ter um feedback do nível de compreensão do tema e se os estudantes realmente viram o que se propôs antes das classes. Após experimentar o recurso com a equipe, esses se animaram a usar em sala. O primeiro a usar esse recurso foi o professor J, que relatou a surpresa dos estudantes ao perceberem que ele tinha controle sobre os acessos aos vídeos. Essa experiência foi bastante positiva, incentivando outros dois professores a experimentarem também (professores H e M).

Dado mais esse passo, na direção de responsabilizar os estudantes pelo estudo prévio ainda faltava associar o livro didático a essa experiência. Com esse objetivo, foi dedicado um encontro virtual para discutir a possibilidade de associar as videoaulas aos conteúdos do livro didático. Nesse ponto, o professor M falou de sua experiência em EaD, na qual os vídeos estão sempre associados a conteúdos escritos. Essa intervenção foi vital para vitalizar a discussão de possibilidades dessa associação. Outro aspecto que surgiu naturalmente entre os professores foi a possibilidade de envolver os estudantes no suporte ou gravação de videoaulas. O professor M falou da intervenção de seus estudantes sugerindo melhorias em seus vídeos e o ajudando na edição deles. Como resultado de uma proposta de desafiar os estudantes na criação de vídeos10, um professor (professor C) decidiu fazer essa experiência. Ele relata que

teve receio no começo, mas diz que os resultados o impressionaram.

Diante das incertezas dessa fase de estudos, foi proposto fazer uma pesquisa com os estudantes sobre essa experiência com videoaulas. Os professores gostaram da ideia, desde que fosse completamente anônima. Assim, foi elaborado um questionário e submetido aos professores, que solicitaram aos seus estudantes que respondessem de forma livre. Os dados foram disponibilizados para discussão em grupo, conforme apresentado no Anexo 16, e uma síntese desses resultados pode ser vista na Tabela 11.

Dentre os 157 que responderam ao questionário, 135 (86%) disseram assistir videoaulas de Matemática de forma ocasional (48,4%) ou frequente (37,6%). Essa resposta dos estudantes foi destacada por todos os professores na análise da pesquisa feita. Um professor comentou “eles se identificam bastante com as videoaulas e usam isso de forma intensa para seu aprendizado” e completou “por que não comecei a fazer isso antes?” (professor H). Um dos professores que não teve a experiência de gravar

10A proposta de uso de videoaulas na resolução de problemas pelos estudantes feita pelo investigador e

videoaulas, ao ver esse resultado comentou receoso: “Poderá o estudante em um futuro breve pleitear a possibilidade de estudar sozinho, sem que o professor seja necessário?” (professor C).

Cruzando os dados foi possível perceber que, independente da experiência anterior dos estudantes com videoaulas, a iniciativa dos professores em gravar videoaulas agradou a quase todos (93,7%) e a maioria concorda em priorizar vídeos gravados ou indicados por seu professor (57,1%). Além disso, os dados mostram que os estudantes entendem que as videoaulas podem complementar e não substituir a explicação dada pelo professor ou contida no livro didático. Mais ainda, a maioria acredita que os vídeos serão mais eficientes se associados às aulas do professor (82%) ou relacionados aos conteúdos do livro didático (51,9%). Diante desses resultados, um professor comentou: “os estudantes têm a consciência que só a videoaula não resolve tudo” (professor M). Outro aspecto inquirido foi quanto à possibilidade de os estudantes criarem seus próprios vídeos com explicações ou resoluções de exercícios. Dentre os respondentes, 44,8% entendem serem capazes de desenvolver tal tarefa e 45,5% acham ser isso mais estimulante do que fazer exercícios da forma tradicional em papel. Essa não é uma opção que atende a todos, mas pode ser um recurso a ser usado para desafiar e envolver os estudantes no processo de aprendizagem.

Tabela 11 – Opinião dos estudantes quanto à experiência com videoaulas de seu professor

Afirmativas quanto às videoaulas gravadas pelo professor Discordo Indeciso Concordo

Gostei da iniciativa do professor 0,60% 5,70% 93,70%

Prefiro vídeos indicados ou feitos por meu professor 5,10% 37,80% 57,10% Videoaulas são mais eficazes se conectadas às aulas do professor 2,60% 15,40% 82,00% Videoaulas são mais eficazes se relacionadas ao livro didático 13,50% 34,60% 51,90%

Videoaulas complementam a exposição em sala 0,60% 5,70% 93,70%

Videoaulas substituem a exposição em sala 37,40% 23,20% 39,40%

Videoaulas reforçam o que estudei no livro didático 0,60% 6,40% 93,00% Videoaulas substituem o estudo no livro didático 39,70% 27,60% 32,70% Exercícios em vídeo complementam a explicação em sala 0,00% 5,80% 94,20% Exercícios em vídeo substituem a explicação em sala 46,80% 26,00% 27,20%

Prefiro as explicações dos exercícios em sala 16,70% 29,50% 53,80%

Prefiro as explicações dos exercícios por videoaulas 18,60% 23,10% 58,30% Gravar vídeos é mais estimulante que exercícios no papel 30,80% 23,70% 45,50% Sou capaz de gravar vídeos com resolução de exercícios 21,20% 34% 44,80%

Nessa fase de estudos, um único professor não gravou vídeos, mas estimulou que seus estudantes o fizessem. Os demais professores gravaram videoaulas e reportaram ter

gostado, mesmo reconhecendo ser a experiência “um pouco trabalhosa, mas o resultado foi muito agradável, os estudantes gostaram bastante e fizeram comentários bem positivos” (professor H). Outro professor chegou a dizer que percebeu ser “mais fácil do que parece, só requer um pouco de tempo” (professor R). Estimulados pelos resultados com os estudantes, reportaram que recomendariam essa experiência a outros professores. Um professor comentou:

Sim, recomendaria. Acredito que esse recurso é uma das maneiras que podem favorecer o aprendizado dos nossos alunos. Ressalto também que essa possibilidade (videoaula) tem sido um dos recursos mais utilizados pelos estudantes para estudarem. Diante desse quadro, permitir ao estudante rever sua explicação ou iniciar um estudo prévio de determinado conteúdo é muito positivo. (professor J)

Nessa direção, foram deixadas algumas sugestões para novas experiências em gravar videoaulas:

a) Começar com vídeos curtos e simples, sem sofisticação. O celular é uma boa ferramenta para isso;

b) Buscar o feedback e até suporte dos estudantes para aprimorar os vídeos; c) Abordar temas a partir de um roteiro previamente escrito: livro didático ou

exercícios de provas já conhecidas.

Também foi possível notar que os professores reconhecem que as videoaulas em si não são suficientes para envolver os estudantes. É preciso que o professor associe ao vídeo estratégias que promovam o estudo prévio (professor R e H). Além disso, essa atividade não deve substituir o aprofundamento em sala de aula (professor M). Nessa direção, o professor J acrescentou: “se o professor não associar esse estudo prévio a um projeto ou plano de trabalho, o resultado pode ser bastante frustrante."

Entende-se que houve um bom envolvimento dos professores nessa primeira fase de estudos. Começa a se formar uma concepção de envolver os estudantes no processo de aprendizagem. O recurso da videoaula tem como objetivo conduzir o estudante a um estudo prévio e minimizar o tempo de classe gasto em exposição. Assim, é preciso avançar com estratégias que visem alterar a prática em sala de aula, na busca por um ensino ativo em Matemática.