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4 Apresentação e discussão dos resultados

Gráfico 4 – Argumentos quanto ao LDD em relação ao tempo de magistério e faixa etária.

4.2.3 Envolvimento dos estudantes no processo de aprendizagem

O terceiro item a ser avaliado em ambos os instrumentos foi o envolvimento dos estudantes no processo de ensino e aprendizagem. Dentre os inquiridos, 92,5% confirmam apresentar os conteúdos preferencialmente de forma expositiva. Além disso, 80,3% declaram gastar bastante tempo da aula resolvendo exercícios no quadro (lousa), e 95,4% admitem tirar as dúvidas, prioritariamente ,de forma expositiva (ver Tabela 10). Apesar de não ter sido feita essa pergunta direta aos entrevistados, percebe-se pela fala deles que o foco principal de suas aulas também é a exposição. Como exemplo, tem-se:

A aula depende muito do conteúdo. Há conteúdos que é exposição o tempo inteiro, mas há outros que conseguimos atingir de formas diferentes, às vezes, até tecnologia, o celular para pesquisar uma questão especial, mas em geral é expositiva. (prof. R)

Eu tenho que pegar essas duas aulas e passar muita coisa. Aí, na próxima aula eu não dou conta de corrigir toda a lição, passar matéria nova, deixar uma lição bem preparada, instrumentá-los para uma nova lição de casa [...]. Então, quando é assim, eu faço igual na faculdade, eu encho de matéria e deixo a lição para casa. (prof. H)

Matemática, pela minha experiência, precisa ser bastante expositiva. Embora, vez ou outra, a gente usa algum recurso de mais interação. Aplique algum programa com eles. (prof. J)

Em primeiro lugar, a explicação. Eu acho que a explicação, para o aluno que é acostumado com uma metodologia tradicional, não pode parar de uma hora para a outra. A nossa escola em si é tradicional, em alguns aspectos. (prof. C)

Os professores gostam do modelo adotado e demonstram segurança no caminho escolhido. A interação percebida se dá por conta do questionamento feito pelos

estudantes, visto como relevante por 83,4% dos professores inquiridos. E, embora 98,5% afirmem dedicar tempo para sanar as dúvidas de forma individual, esses mesmos professores (95,4%) haviam afirmado tirar as dúvidas preferencialmente de forma expositiva. Percebe-se certa incongruência aqui, reforçada pelo fato de que somente 59,1% entenderem ser capazes de sanar todas as dúvidas dos estudantes. As entrevistas deixam evidente a intencionalidade de os professores atenderem individualmente os estudantes. Mas os professores reconhecem a limitação ao tirarem dúvida dos estudantes de forma individual. Com as classes grandes, acabam focando em responder às perguntas feitas de forma expositiva, como exemplificam as falas:

Eu mando fazer os exercícios, deixo ir tentando. E digo: tais exercícios são sobre função quadrática, vocês vão usar máximo e mínimo, e eu explico: essa tem máximo, essa tem mínimo... beleza eu explico tudo. Eles pegam o exercício e dizem: eu não sei por onde começar, vem aqui me ajudar aí, outro levanta a mão, outro também aí, eu vou lá pra frente explicar... Ah! Eu dou até risada quando falam assim: "Olha o seu filho vai ter um atendimento individualizado". Eu gostaria que minha aula fosse mais interativa, mas não dá (risos). (prof. H)

Como trabalhamos com a média de trinta e cinco a quarenta alunos por aula, seria quase inviável atender individualmente as dúvidas deles em sala de aula. Então, eu prefiro, um trabalho mais com Ensino Médio, que eles já têm um pouco mais de maturidade, eu prefiro que eles tragam as dúvidas anotadas e eu fico na lousa resolvendo todas as dúvidas que eles trouxeram. Se você libera uma bateria de 40 exercícios, na lousa eu tento resolver os mais difíceis, ou que eles perguntam, respeitando o grau de dificuldade de cada aluno. (prof. J)

Nesse contexto, os professores se esmeram em responder às perguntas feitas pelos estudantes, entendendo que estão suprindo as necessidades individuais. Por outro lado, o nível de questionamento dos estudantes está voltado para resolução de exercícios, evidenciando conhecimento raso pela falta de estudo:

É mais de dúvida dos exercícios. Do conteúdo, eles não perguntam muito, mas quando vão fazer os exercícios é quando a coisa fica feia. (prof. R)

Muitas vezes eles não sabem o que perguntar. Como eles não estudaram, eles não têm dúvidas e isso dificulta muito. (prof. M)

Direcionar os estudantes para tarefas extraclasse é quase que unanimidade entre os professores (98,5%) e a maioria destes diz avaliar os exercícios feitos de forma individual (83,3%) e percentual semelhante diz valorizar o feedback dos estudantes nas tarefas para o direcionamento de suas aulas (87,5%). No entanto, as entrevistas não evidenciaram que os professores ajustem suas aulas de acordo com o feedback de seus estudantes ao longo do processo de aprendizagem.

Quanto à responsabilidade e envolvimento consciente dos estudantes com as tarefas, é compreendido como satisfatório por pouco mais da metade dos inquiridos (51,4%). Nesse sentido, a fala dos professores entrevistados corrobora com percepção de irresponsabilidade e desinteresse dos estudantes na execução das tarefas e estudos pessoal. Como amostra, tem-se as seguintes falas:

Na verdade, eles demonstram desinteresse e irresponsabilidade. As coisas têm que ser feitas na marra. Só fazem porque têm que fazer. Não estão mais interessados em estudar. Perderam o interesse nos estudos. Não é o mais importante. (prof. M)

Pra que eu vou estudar se eu sei que eu vou passar, eu não preciso estudar, eu vou para escola para cumprir o meu papel (visão do estudante). Teve um ano, eu preciso te contar por que é muita indignação, na camiseta do terceiro médio estava escrito assim: “Sei que nada sei”, e atrás completava, “e nem sei como passei” (risos). (prof. H)

Nesse cenário, percebe-se os esforços dos professores em conscientizar os estudantes quanto ao seu papel no processo de aprendizagem:

O estudante que não têm rotina, esse é o meu maior desafio. Ele não faz ou acaba copiando de quem fez. Ele acaba tentando burlar o sistema, mas eu sempre tento, com a conscientização, mostrar que, se ele não mudar de postura, acabará ficando para trás. Em média 50% dos estudantes demonstram interesse e responsabilidade. (prof. C)

Então, o feedback foi péssimo, eu vou lá faço uma retomada e explico: o gráfico era assim, ele era crescente, não podia estar decrescente. Só que eu já falei isso 10 vezes na sala e coloco isso na prova e ele vai lá e coloca uma parábola. É sinal de que o cara nem estudou, você retoma o conteúdo e dá a recuperação e o cara vai mal de novo. Então, tem um certo limite para essa história de que eu tenho que pegar o feedback e voltar lá e rever. Pois, tem estudante que você pode explicar a mesma coisa 10 vezes que ele vai errar na prova, parece que é uma opção do cara: eu não vou estudar, ele não quer aprender, têm preguiça. (prof. H)

Os esforços feitos não têm oferecido resultados satisfatórios. Pois, se o estudante não tiver interesse, as aulas podem ser as melhores possíveis e os resultados de aprendizagem continuarão ruins. Isso traz uma certa frustração ao professor:

Olha, eu faço o melhor que eu posso. Mas como eu disse, eu posso plantar bananeira na sala, mas se o estudante chegar em casa e engavetar o caderno aquilo vai ser jogado ao vento. Eu posso ter criado uma aula diferente, eu posso ter trazido exemplos diferentes para alcançar o estudante que tem mais dificuldades, mas se o estudante não pegar aquilo para rever isso não vai gerar uma competência nesse aluno. (prof. H)

Tabela 10 - Envolvimento dos estudantes na opinião dos professores Questões respondidas pelos

professores

Discordo

totalmente Discordo Indeciso Concordo

Concordo totalmente Apresento conceitos matemáticos,

prioritariamente, de forma expositiva. 0 (0%) 2 (3%) 3 (4,5%) 31 (47,0%) 30 (45,5%) Gasto bastante tempo resolvendo

exercícios e exemplos na lousa. 0 (0%) 7 (10,6%) 6(9,1%) 21 (31,8%) 32 (48,5%) Os estudantes fazem

questionamentos relevantes sobre temas estudados.

1 (1,5%) 4(6,1%) 6 (9,1%) 38 (57,6%) 17 (25,8%)

Esclareço as dúvidas dos estudantes, prioritariamente, de forma expositiva para toda a classe.

0 (0%) 0 (0%) 3 (4,5%) 28 (42,4%) 35 (53,0%)

Com frequência dedico tempo para

sanar dúvidas individualmente. 0 (0%) 0 (0%) 1(1,5%) 45 (68,2%) 20 (30,3%) Consigo sanar todas as dúvidas dos

estudantes em sala. 1 (1,5 %) 18 (27,3%) 8 (12,1%) 31(47,0%) 8(12,1%) Tarefas extraclasse são importantes

De fato, sem um estudo pessoal e ativo, os estudantes não serão capazes de desenvolver as habilidades e competências necessárias. É preciso que se busque outros caminhos ou estratégias para alcançar esse objetivo. Algumas falas dos professores revelam essa perspectiva:

Eu acho isso um grande desafio. O que fazer para que os estudantes sejam responsáveis. Em algum momento da nossa entrevista, eu falei que é necessário fazer um trabalho no período oposto e eu ainda bato nessa tecla. Para que o estudante seja mais responsável e tirar o incentivo de nota já é uma maneira de torná-los mais responsáveis, fazer eles sentirem a necessidade de estudar pelo prazer de estudar e pela necessidade de obter bom resultado em concursos, ou no vestibular. (prof. J)

O meu maior desafio é resgatar o menos comprometido. Esse é o meu maior desafio. Porque o aluno que tem um objetivo ou que tenha uma boa família, ele faz, porque faz parte da sua rotina. O aluno que não tem rotina, esse é o meu maior desafio. Ele não faz ou acaba copiando de quem fez. Ele acaba tentando burlar o sistema, mas eu sempre tento, com a conscientização, mostrar que, se ele não mudar de postura, acabará ficando para trás. (prof. C)

Outro item avaliado foi o uso de atividades que propiciem colaboração entre os estudantes. Em sala de aula, 94% dos professores disseram desenvolver atividades que propiciam a colaboração, e esse percentual é mais modesto para as atividades em casa (78,8%), mas ainda expressivo. As entrevistas dão a entender que o principal momento de interação e colaboração deva se dar no momento dos exercícios, após momentos de exposição:

Os estudantes têm gastado cada vez menos tempo estudando. Eu costumo orientar 10 minutos de aula. Por exemplo, tenho uma aula de 40 minutos, o estudante vai passar 10 minutos fazendo essas atividades. (prof. R)

Com certeza, toda semana. Eu diria que é indispensável para a Matemática. Toda a semana permito que sentem em grupo para resolverem alguma atividade. As várias ideias deles juntas criam coisas interessantes. Entre dois e seis alunos. (prof. R)

Existem estratégias para envolver os estudantes, descritas pelos professores entrevistados que não dependem de TD. Como exemplo, foram mencionadas propostas de jogos em que os estudantes trocam suas percepções sobre os exercícios Avalio individualmente as tarefas dos

estudantes. 0 (0%) 6 (9,1%) 5 (7,6%) 36 (54,5%) 19 (28,8%)

O feedback dos estudantes nas tarefas me auxilia no direcionamento das atividades em classe.

1(1,5%) 3 (4,5%) 4(6,1%) 42 (63,6%) 16 (24,2%)

Os estudantes demonstram interesse

e responsabilidade com suas tarefas. 4 (6,1%) 12 (18,2%) 16 (24,2%) 26 (39,4%) 8 (12,1%) Proponho tarefas extraclasse a

serem feitas de forma colaborativa. 0 (0%) 8 (12,1%) 6(9,1%) 31 (47,0%) 21(31,8%) Desenvolvo atividades colaborativas

propostos pelos professores M e C. No entanto, há um reconhecimento do papel positivo da tecnologia ao propiciar maior interação:

Quando você consegue fazer com que ele interaja com essa tecnologia, ele se mostra envolvido com o que se está aprendendo e você também consegue ver quando ele não está aprendendo, fica mais evidente com tecnologia. (prof. M)

Algumas atividades mencionadas anteriormente são propostas em equipes a serem desenvolvidas fora do ambiente de sala de aula (xadrez humano, desenhos com graphequation, videoaulas...). No entanto, percebe-se que, conquanto esses projetos sejam bons, eles são desenvolvidos de forma ocasional, não sendo uma prática frequente na realidade dos professores.

Por fim, e não menos significativo, os professores foram indagados quanto a ouvirem a opinião dos estudantes no que respeita aos seus interesses de aprendizagem. Não se percebe, pela fala dos professores entrevistados, que tal prática seja muito comum, até porque a maior parte dos professores disseram fazer o planejamento no início do ano ou no início das unidades letivas:

Eu vou ser bem franco com você, esse planejamento acontece normalmente no começo do ano... Então, o meu planejamento ocorre em janeiro, nas férias, quando você tem algumas ideias de como pode usar durante o ano. E não paro muito depois que esse planejamento acontece, a gente dá sequência ao ano, vai seguindo o que idealizou. (prof. J)

Para o planejamento, não pedimos a opinião direta dos alunos. Geralmente conversamos entre professores sobre a dificuldade que os estudantes estão enfrentando e tentamos montar o planejamento. (prof. R)

Talvez pelo fato de trabalharem com uma estrutura curricular já pré-definida, seguem o conteúdo do LD e a experiência pessoal como professores. De certa forma, não há uma distinção entre necessidade de aprendizagem e vontade dos estudantes:

Eu acho que isso não é muito prático. Por exemplo, se você for perguntar aos estudantes do primeiro ano do Ensino Médio o que eles querem aprender, eles vão responder que querem aprender sobre academia, aí outro grupo vai querer falar sobre sexo... e eu fico ali fazendo a vontade deles e atendendo os interesses deles, mas no que eles precisam para se preparar pro Enem não vai ser o interesse deles. Eu acho isso muito legal, mas não na minha disciplina. (prof. H)

À primeira vista, o foco dos professores entrevistados está num modelo de aulas expositivas, sucedidas por sessões de exercícios individuais ou coletivos. Eles confiam em sua experiência para definir os objetivos de aprendizagem, num planejamento com tendência a ser estático. Os estudantes não se envolvem adequadamente e não se sentem responsáveis por sua aprendizagem. A fim de confirmar essa primeira percepção, os dados das entrevistas foram reavaliados em busca de indícios de estratégias de ensino que possam ser consideradas ativas ou passivas. A descrição dessa análise é realizada na seção seguinte.