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2 Fundamentação Teórica

2.3 Ensino ativo em Matemática

2.3.3 Para novos desafios: aprendizagem ativa

Aprendizagem ativa ocorre quando o estudante é envolvido profunda e intencionalmente no processo de aprendizagem. Assim, o estudante participa de sua aprendizagem, sendo mais do que um tomador passivo de nota (Beloff, 2010). Esse envolvimento deve ir além da realização de tarefas mecânicas, sem uma reflexão sobre

a ação feita (Watts, Bentley & Hornsby, 1989). Nas palavras de Bonwell e Eison (1991), “active learning involves students in doing things and thinking about the things they are doing” (p. 2). Para que isso ocorra, esses autores elencam as características necessárias a uma aprendizagem ativa:

i) os estudantes não se limitam só a ouvir e tomarem notas, mas envolvem-se no processo de aprendizagem;

ii) os estudantes estão envolvidos em tarefas de elevado grau cognitivo (análise, síntese, avaliação);

iii) ênfase no desenvolvimento de competências, com menor atenção à retenção de grande número de informações (transmissão);

iv) são considerados valores e atitudes dos estudantes além de seus conhecimentos prévios do tema;

v) os estudantes têm acesso a feedback quanto ao seu progresso com mais frequência e rapidez.

Nesse sentido, Grabinger & Dunlap (1995) discutem o papel do ambiente educacional e o que ele deve prover para que a aprendizagem ativa ocorra, o que chamaram de um ambiente rico em aprendizagem ativa com as seguintes características:

- incentiva ao crescimento da responsabilidade dos estudantes;

- prioriza atividades que promovem processos de raciocínio de alto nível cognitivo;

- promove o estudo e a investigação em contextos realistas (ou seja, significativos, relevantes e complexos);

- auxilia na integração de novos conhecimentos com os conhecimentos antigos e criando estruturas de conhecimento ricas e complexas;

- cria ambientes de aprendizagem cooperativa entre estudantes e professores; - avalia o progresso do estudante em conteúdos e competências.

Em ambas as descrições (Bonwell & Eison, 1991; Grabinger & Dunlap, 1995), há referências ao envolvimento e responsabilização dos estudantes pela aprendizagem como aspecto vital à aprendizagem ativa. Outra característica que também se destaca diz respeito à ênfase em atividades de maior nível cognitivo como a resolução de problema significativos e reais, a experimentação e análise sob diferentes perspectivas, atividades que requeiram análise e síntese de distintas fontes de informação. Essas atividades, sempre que possível, devem valorizar a criatividade e colaboração entre os estudantes.

Em se tratando da aprendizagem em Matemática, os estudantes aprendem de fato praticando e não apenas ouvindo (Twigg, 2011). No entanto, eles precisam ser envolvidos em tarefas que possam ir além da prática mecânica de técnicas e algoritmos, sendo levados a desenvolver habilidades que lhes permitam resolver problemas e situações práticas. A aprendizagem ativa deve permitir aos estudantes atribuírem sentido e significado aos conceitos matemáticos e aplicá-los a outros contextos e realidades (Mullen, 2012). Essa atribuição de significado e maior envolvimento dos estudantes em sua aprendizagem permite uma atitude positiva frente à Matemática. E se o estudante tem uma atitude positiva isso influenciará numa maior persistência para superar as dificuldades de aprendizagem e melhor probabilidade de sucesso acadêmico (Cousins-Cooper, Staley, Kim & Luke, 2017; Lipnevich, MacCann, Krumm, Burrus & Roberts, 2011).

Um estudante, por meio da aprendizagem ativa, pode cultivar uma aprendizagem mais profunda ao relacionar novos fatos e conceitos a conhecimentos e habilidades que já possui (Gleason et al., 2011). Os efeitos dessa aprendizagem podem não ser refletidos em resultados acadêmicos imediatos, principalmente considerando formas tradicionais de avaliação. No entanto, podem indicar maior satisfação dos estudantes envolvidos, bem como melhor compreensão e aprendizagem a longo prazo (Cousins-Cooper et al., 2017; Michel, Carter & Varela, 2009; Van Eynde & Spencer, 1988).

A aprendizagem ativa exige que os estudantes pensem de forma crítica durante e sobre o processo de aprendizagem, ao contrário de métodos tradicionais com foco na transmissão de informações, que requerem menos reflexão e mais memorização (Gleason et al., 2011). Como a aprendizagem ativa se dá por meio da construção das ideias-chave e de conceitos de uma área pelos próprios estudantes, em vez de simplesmente os absorver de seus professores, esse processo implica numa mudança de atitude desses (Mazzolini & Daniel, 2014; Neri-de-Souza & Bezerra, 2013). Nesse contexto, um fator a ser considerado é a falta de interesse, disposição ou preparação do estudante para participar da aprendizagem ativa.

Em se tratando de preparo, Watts et al. (1989) definem as característica necessárias a um estudante para que a aprendizagem ativa ocorra, o que Neri-de-Souza (2006) sumarizou como as características de um estudante ativo:

i) É proativo e assume a responsabilidade pela sua aprendizagem; ii) Busca caminhos possíveis para resolução de problemas;

iv) Sabe distinguir o momento em que deve se envolver em trabalho coletivo ou individual, sendo capaz de atuar em ambas as situações;

v) Expressa adequadamente suas ideias e conclusões, usando os meios adequados para tal;

vi) É hábil para se autoavaliar e avaliar o processo de ensino-aprendizagem como um todo;

vii) Sente-se confortável no processo de aprendizagem, quando devidamente motivado e confiante.

Tendo em vista essas características, Bonwell & Eison (1991) esclarecem que as estratégias que conduzem a uma aprendizagem ativa correm o risco dos estudantes: i) não participarem ativamente; ii) não aprenderem o conteúdo requerido; iii) não desenvolverem as habilidades necessárias; e iv) não gostarem da experiência. Ou seja, por não possuírem as habilidades necessárias ou por falta de motivação, alguns estudantes podem resistir ao aprendizado ativo.

No ambiente educacional, tem sido colocada muita expectativa em torno do uso de novas tecnologias, pelo fato de se assemelharem ao ambiente em que os estudantes estão inseridos cotidianamente. No entanto, “o fato de os estudantes serem nativos digitais não significa que detenham as habilidades necessárias a usá-la para fins de aprendizagem” (Bezerra & Neri de Souza, 2013, p. 153). O professor tem um papel fundamental em conduzir seus estudantes, pois poucos se envolverão ativamente em sua aprendizagem, caso não exista um ambiente propício a isso na escola (Dunlap & Grabinger, 1995). Assim, é preciso considerar o professor e suas estratégias de ensino, para que a aprendizagem ativa seja uma possibilidade no ambiente escolar.