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Desafiando os estudantes com softwares e aplicativos matemáticos

4 Apresentação e discussão dos resultados

Gráfico 4 – Argumentos quanto ao LDD em relação ao tempo de magistério e faixa etária.

4.3 Estratégias para ensino ativo em Matemática

4.3.4 Desafiando os estudantes com softwares e aplicativos matemáticos

O último objetivo na interação com os professores nessa comunidade de aprendizagem foi discutir possibilidades para desafiar os estudantes a descobrirem conceitos matemáticos por eles mesmos. A intenção aqui foi associar ao livro didático recursos digitais (aplicativos e softwares) com os seguintes objetivos:

a) Despertar o interesse em algum tema matemático específico; b) Facilitar abordagens aritméticas ou algébricas;

c) Clarificar aspectos gráficos ou geométricos; d) Sistematizar conceitos específicos.

Essas premissas foram discutidas à luz de exemplos práticos em diferentes temáticas. Os recursos analisados foram, na sua maioria, aplicativos ou softwares multiplataforma e de acesso livre. Uma boa parte dos recursos específicos de Matemática já eram conhecidos da maioria, como é o caso do Desmos e Geogebra. Também foram usados recursos de uso cotidiano ou jogos que não foram desenhados para o ensino de Matemática, mas atendem aos objetivos estabelecidos. Como exemplos de recursos dessa natureza explorados temos Angry Birds, Calculadora do Cidadão, Easy Measure e Excel. Uma descrição detalhada dos recursos e propostas de usos discutidos está disponível no Anexo 19.

Na avaliação dos professores o uso de aplicativos e softwares são úteis em alguns temas ou momentos específicos: “Eu particularmente uso aplicativos em sala de aula, mas não consigo fazer isso em todos os conteúdos... para vários deles, os aplicativos existentes não trazem grandes contribuições (professor H)”. De fato, esses recursos precisam ser usados com propósitos bem definidos e atendendo a necessidades de aprendizagem e não apenas para ilustrar ou divertir.

Foi destacada também a “agilidade em cálculos” (professor R), o que permite focar em outros objetivos matemáticos que vão além do mecânico. Além disso, “é mais concreto ter em mãos ferramentas para gráficos, resolução de problemas e até mesmo jogos” (professor C). Portanto, a praticidade é um item a ser explorado. Outra questão destacada foi o fato de que para usar esses aplicativos “deve ter um momento

planejado dentro da aula para que isso aconteça. Sem planejamento o uso de aplicativos pode até atrapalhar” (professor M).

O uso dos recursos não ofereceu nenhuma dificuldade, uma vez que estes eram já conhecidos ou de uso bem intuitivo. O desafio foi alterar o foco de uma utilização centrada na exposição para uma estratégia de ensino ativa. Para isso, seria desejável que o estudante tivesse em mãos o recurso digital. Essa discussão estimulou a curiosidade inquiridora dos professores e conduziu a um anseio da equipe entender quais os recursos digitais usados ou preferidos pelos estudantes. Assim, os professores sugerem e participam da formatação de uma pesquisa que foi aplicada aos seus estudantes e preenchida de forma anônima e voluntária. Ao todo, 215 estudantes responderam ao questionário, cujos dados detalhados estão disponíveis no anexo 16. Todos os entrevistados possuem acesso a pelo menos um equipamento digital, sendo o celular o mais comum entre eles (90,2%). Essa situação é bem similar à de professores da REA pesquisados anteriormente (Dutra, Fiuza, Neri-de-Souza& Moreira, 2018). Quando solicitados para avaliar, numa escala de Likert de 5 pontos, os estudantes reiteraram a relevância das tecnologias digitais (média de 4,18) e aplicativos ou jogos matemáticos (média de 4,27) como facilitadores da aprendizagem e, particularmente, aprendizagem de conceitos matemáticos. Dentre os recursos usados para interação com finalidade educacional o Whatsapp é mencionado por 88,4% dos entrevistados, sendo seguido pelo Facebook (29,3%) e Youtube (29,3%). Esse resultado pode refletir o uso cotidiano de recursos digitais pelos estudantes. O questionamento que ficou com esse retorno foi sobre a forma que tais recursos são usados e se realmente contribuem para a aprendizagem. Já na área de Matemática houve uma pulverização maior de ferramentas lembradas, sendo a Calculadora do Cidadão e o Geogebra os mais citados (48,8% e 22,3% respectivamente).

Na avaliação dos professores à luz dos resultados da pesquisa e experiências pessoais, associar o livro didático ao uso de aplicativos específicos de Matemática pode trazer bons resultados. Há uma percepção de que os aplicativos trazem dinâmica e agilidade em algumas áreas. No entanto, há um entendimento de que existam limitações a esses recursos uma vez que atendem necessidades específicas. Um professor comentou que o uso excessivo pode “saturar o ensino e retirar um tempo sagrado que cada vez é menor” (professor J). Nesse contexto, é importante realçar que os recursos digitais são alternativas, mas não uma regra ou imposição para o envolvimento e desafio dos estudantes. Um exemplo está na fala do professor M ao relatar sua experiência com

modelos concretos ao estudar geometria espacial. O equilíbrio é sempre uma boa regra para o sucesso.

O retorno quanto aos recursos mais usados para aprendizagem traz dados positivos, mas que conduz a reflexão. O aspecto positivo foi a percepção quanto à relevância de vídeos na aprendizagem ter sido mais uma vez confirmada já que o Youtube foi a ferramenta mais destacada pelos estudantes (66%). No entanto, cabe ressaltar que o livro didático foi lembrado apenas por 40,5%, estando um pouco atrás do Google (41,4%). Esse resultado merece certa reflexão, uma vez que 93,9% dos professores de Matemática inquiridos na fase anterior reportaram usar o livro didático em sua prática. Numa análise superficial, dá-se a entender que o livro didático não tenha para os estudantes a mesma relevância que a atribuída pelos professores. Uma oportunidade a ser avaliada está no fato de que dos 85 estudantes que declararam usar o livro como recurso para a aprendizagem, 48 o fazem junto aos vídeos encontrados no Youtube. Tendo isso em mente, foi mais uma vez indagado aos professores sobre a possibilidade de associar vídeos aos conteúdos do livro didático. Todos os professores admitem que essa associação é positiva e duas falas se destacam:

Sim, os nossos estudantes amam estudar conectados, buscando informações na internet, Youtube etc.... e se o próprio professor já prepara um conteúdo digital e entrelaça com o conteúdo do livro didático para os estudantes esse é um caminho perfeito pois é isso que eles costumam fazer, buscando respostas muitas vezes a ermo e não encontram exatamente o que procuram tornando essa busca cansativa e sem resultado eficaz (professor H).

Os professores entenderam que no que toca aos vídeos, sendo produzidos por eles mesmos, o efeito será melhor. O professor J menciona sua experiência com videoaulas como complemento após as suas aulas.

Sem dúvidas. Realizei um trabalho apenas com as videoaulas como complemento nas disciplinas de exatas num período de 2 anos e a evolução foi de 34% no rendimento acadêmico. Se agregarmos um projeto voltado para estudo prévio acredito que podemos potencializar o nível de aprendizado dos alunos (professor J).

Aproveitando a oportunidade de inquirir os estudantes, foram incluídas cinco afirmações quanto ao uso do LDD por eles. Essas afirmativas deveriam ser analisadas numa escala de Likert de 3 pontos e os resultados podem ser vistos no Gráfico 13. Os resultados foram bastante otimistas quanto à possibilidade do LDD. Para 75,4% dos respondentes os recursos multimídia facilitarão a aprendizagem e 53,4% dizem ser mais motivador estudar na versão digital. A despeito da maior parte dos estudantes reconhecerem que o LDD possui vantagens sobre a versão em papel (70,8%), ainda há um receio de trocar a versão em papel pelo digital com 39,6% preferindo o LDP e 48,3% admitindo que o LDP não será totalmente substituído pela versão digital.

Gráfico 13 – Opinião dos estudantes quanto ao uso do LDD como recurso à aprendizagem.

O otimismo manifestado pelos estudantes com a possibilidade do LDD é muito similar ao demonstrado pelos professores entrevistados em fase anterior da investigação (Dutra et al., 2018). O receio em substituir o LDP pela versão digital pareceu, a essa altura do processo, uma consequência do desconhecimento e da falta de contato efetivo com o LDD. Essa fase de estudos foi enriquecida com a opinião dos estudantes, reiterando um papel significativo ao uso de tecnologias digitais e uma expectativa positiva com a possibilidade do livro didático na forma digital. Além disso, é positivo perceber o espirito inquiridor de suas próprias práticas, surgindo entre os professores envolvidos, uma vez que esse senso de investigação de sua prática é uma característica essencial a um professor segundo Alarcão (2001).

4.3.5 Em síntese: propostas para um ensino ativo em Matemática