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Atitudes perturbadoras do ambiente de trabalho nas aulas

4.5 Problemas da turma

4.5.1 Atitudes perturbadoras do ambiente de trabalho nas aulas

A existência de alguma perturbação no clima da sala de aula, causada pelo ruído produzido pelos alunos e pelo desrespeito de algumas regras da sala de aula (ex.:pedir autorização para falar) foi um problema levantado logo no início do ano pelos professores e que era sentido também pelos alunos e pelos EEs. As percepções da gravidade do problema não eram completamente unânimes, embora a opinião geral seja de que “não há problemas de comportamento propriamente” (E2 Prof Eugénia, § 3).

Tanto os professores, como os alunos e os EEs tendem a atribuir as responsabilidades pelo barulho nas aulas aos alunos.

Não há problemas de comportamento propriamente. Por vezes há prejuízos para as aulas, porque são irrequietos. Mas basicamente é só isso. (E2 Prof Eugénia, § 3)

[A turma] é um bocado faladora. (E2 Cláudio, § 5)

Algumas miúdas que (…) são desatentas e depois também fazem com que os outros fiquem desatentos. (E2 EE Edite, § 209)

É mais eles, se calhar, estarem [com] falta de atenção. Que, no fundo, basta dois ou três começarem a falar e generaliza-se, não é? (E2 RepEEs, § 9)

Apenas uma aluna manifesta opinião diferente. Ela especifica que o comportamento difere de aula para aula, havendo disciplinas em que o barulho se faz sentir mais do que noutras.

Em algumas aulas a gente porta-se bem, noutras não. (E2 Alice, § 29)

Em Português e História portamo-nos bem, apesar de, às vezes, alguém falar e tudo, mas assim comparado com as outras, portamo-nos muito bem. Em Educação Musical, portamo-nos mais ou menos. (E2 Alice, § 29)

Para esta aluna, a forma de actuação de cada professor face às atitudes incorrectas dos alunos é o factor que explica a diferença de comportamento da turma nas aulas das várias disciplinas. Este é o único depoimento que atribui responsabilidades aos docentes. Tanto os restantes alunos, como os EEs e os professores entrevistados colocam a tónica na forma de estar dos alunos e na sua falta de atenção às aulas.

Nas reuniões de avaliação realizadas no fim de cada período, o comportamento da turma, foi considerado razoável, nos dois primeiros períodos, e satisfatório, no terceiro. Paralelamente não houve casos graves de indisciplina. Estes indicadores apontam para a existência de um “barulho” na turma provavelmente idêntico ao de outras. As elevadas expectativas académicas dos alunos e dos seus EEs e as potencialidades reconhecidas à turma pela DT (“é uma turma com umas potencialidades enormes, salvo raras excepções” - E2 DT Secção 1, §s 7 e 8) e pelos professores terão contribuído para a sua

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consideração como um problema a resolver, dada a consciência de que ele interferia com a qualidade das aulas e da aprendizagem dos alunos.

Para resolver este problema, o Conselho de Turma aprovou uma estratégia proposta pela DT, que consistia no controlo do comportamento e de atitudes nas aulas, através de um sistema de folhas de registo de ocorrências. Este sistema implicava os alunos, os professores, a DT e os EEs. As folhas destinavam-se a registar os seguintes aspectos: atrasos às aulas, faltas de material, faltas de caderneta escolar, faltas de trabalhos de casa, comportamentos inadequados. Alunos seleccionados para o efeito pela DT procediam aos registos e, quando um colega atingia três registos no mesmo comportamento, comunicava o facto ao seu DT, através da caderneta. A DT, no fim do mês, enviava uma mensagem a cada EE, sumariando as atitudes do seu educando registadas nas folhas desse mês. Este procedimento da DT deixou de ser possível a partir de Dezembro, por avaria do computador que costumava utilizar para o efeito. Os EEs foram avisados e, daí em diante, a DT passou a enviar as mensagens mensais, manuscritas, apenas para os EEs dos alunos relativamente aos quais havia necessidade de intervenção para melhoria do comportamento ou de outras atitudes. Para os outros, a informação estava sempre disponível e era fornecida quando havia um contacto telefónico ou presencial entre eles e a DT. As mensagens caracterizavam-se pela simplicidade da linguagem, pela objectividade do conteúdo, pelo registo dos aspectos positivos e dos negativos, pela inexistência de culpabilização e pela sugestão de procedimentos para melhoria dos aspectos negativos apontados.

O contacto com a família e os elogios aos alunos cumpridores resultaram num eficaz reforço positivo:

Alguns alunos quando viram o que lá estava escrito ficaram muito contentes e agradeceram-me por ter escrito “coisas boas” sobre eles. Infelizmente, nem todos tiveram a mesma sorte. (Diário DT 1Per, Secção 19, § 98)

O facto de a informação passar à família é um dos aspectos que me parece extremamente importante. Dá a ideia de que realmente a informação positiva por parte da DT - eles levarem essa informação para casa - tem uma importância francamente significativa. (E1 Prof Inês, § 50)

Os resultados foram positivos, de acordo com as percepções de todos os intervenientes, particularmente no que se refere ao controlo da pontualidade, da assiduidade, do material necessário para as aulas e da realização dos trabalhos de casa.

Fazemos agora cada vez mais, estamos todos [motivados] para fazer tudo melhor, não é? Trabalhos de casa, trazer sempre o material, portar bem nas aulas, tudo. Acho que estamos muito melhores. Com as folhas melhorámos bastante. (E2 Alice, § 33)

E ao nível do cumprimento das tarefas, dos trabalhos de casa e mesmo ao nível das atitudes, maior pontualidade. É, resulta francamente. (E1 Prof Inês, § 48)

Os EEs destacam a importância desta estratégia como forma de estarem sempre informados acerca do que se passa com os seus educandos.

Isso dá-nos oportunidade de nós sabermos exactamente o que é que ela não fez “Tu não fizeste este TPC? Então porquê?”. É a forma de nós os conseguirmos controlar mais em pormenor (E2 EE Celina, § 29)

É muito importante a DT mandar assim mensagens, porque nós em casa muitas vezes não sabemos o que é que se passa na escola. E assim um contacto escrito na caderneta é uma forma de eles saberem que uma pessoa está atenta se eles se portam bem ou mal. (E2 EE José, § 31)

Se a estratégia referida obteve sucesso no controlo da pontualidade, da assiduidade, do material necessário para a aula e da realização dos trabalhos de casa, já no que respeita ao controlo do comportamento a sua eficácia não foi total. O comportamento melhorou muito, mas persistiram alguns problemas, particularmente por parte de alguns alunos. Na origem desta persistência poderão estar factores centrados nas características dos alunos problemáticos e outros centrados em alguns professores. Retomando as explicações anteriormente apontadas pelos docentes, EEs e alunos (falta de atenção de alguns alunos) e por Alice (modos de actuação dos professores) para o barulho nas aula, é provável que ambas tenham coexistido. Ao atribuírem esse problema apenas a causas centradas nos alunos, os professores da turma estão a corresponder a uma tendência dos professores, em geral, identificada pela investigação, para atribuírem as causas dos problemas a características, traços ou disposições das crianças ou da sua família, subestimando os contributos de factores relacionados com os próprios docentes (Zins & Ponti, 1996). Esta tendência, de acordo com Zins e Ponti (1996), dificulta a definição de estratégias adequadas e a resolução cabal dos problemas em causa, o que poderá ter contribuído, no 6º F, para a persistência do problema ao longo do ano, não obstante as medidas adoptadas pelos professores, que visaram apenas os alunos, única causa identificada para o comportamento desadequado.

Diversos factores contribuíram para a elevada eficácia do sistema em análise:

(1) Foi fornecida informação, ao EE, em tempo útil, para que este pudesse, em colaboração com a escola, intervir com oportunidade junto do seu educando, levando-o a manter ou a adoptar comportamentos e atitudes importantes na sua vida escolar, nomeadamente a preparação atempada, em casa, do material escolar para o dia seguinte, a fim de não haver esquecimentos; a execução dos TPC, em casa; o estímulo e a

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verificação da assiduidade e da pontualidade; o comportamento adequado nas aulas; a caderneta escolar acompanhando sempre o aluno.

Dá-me ideia que os EEs estão bastante implicados neste processo e que há, de facto, um reforço. São miúdos para quem vale a pena, de facto, enviar mensagens, sejam de que natureza forem, porque os pais reagem coerentemente. (E1 Prof Inês, § 52)

(2) Promoveu-se a tomada de consciência dos alunos relativamente às suas atitudes e a responsabilização pelos seus actos.

(3) Foram apontados os aspectos positivos e os negativos, de forma objectiva, não se sobrevalorizando os negativos. Foram também indicadas as mudanças a fazer, perspectivando-se e fomentando-se a melhoria do comportamento e das atitudes. Esta foi sempre alvo de elogio por parte da DT e, eventualmente, dos EEs.