• Nenhum resultado encontrado

Propósitos do estudo e justificação das opções metodológicas

Entendendo a direcção de turma como uma janela privilegiada para estudar a relação escola-família, o presente estudo pretende estudar em profundidade o projecto de inovação de uma directora de turma relativamente aos encarregados de educação e aos alunos e a dinâmica de colaboração entre as famílias dos alunos e a escola, desenvolvida a nível da turma. Pretende-se compreender: (a) como o trabalho desenvolvido pela DT contribui para a relação entre a escola e a família; (b) como cada um dos actores percebe a relação família-escola, os papéis que atribui a si próprio e aos outros actores nesse processo e a evolução das suas percepções, expectativas, atitudes e comportamentos; (c) as implicações da relação família-escola a nível da evolução das concepções, expectativas, atitudes e comportamentos de EE e de alunos. A concretização destas pretensões justifica a opção pelo estudo de caso qualitativo.

Entre as potencialidade dos métodos qualitativos (Miles & Huberman, 1994), conta- se a sua adequação para o estudo de acontecimentos comuns ocorridos em contextos naturais, tendo em conta as influências do contexto local, assim como ao estudo de processos, devido ao facto de os dados serem recolhidos durante um período de tempo contínuo e prolongado.

O estudo de caso não é tanto uma escolha metodológica, mas, em primeiro lugar, uma escolha do objecto a estudar. Ele é definido pelo interesse em casos individuais e não pelos métodos de pesquisa utilizados, que podem ser quantitativos ou qualitativos. (Stake, 1994). É adequado quando se pretende cobrir condições contextuais e não apenas o fenómeno em estudo e quando se pretende considerar fontes de informação múltiplas (Yin, 1993). Merriam (2001) realça a adequação do estudo de caso ao estudo de processos. Ele ajuda a compreender os processos e a descobrir características dos contextos que clarifiquem uma determinada questão. O estudo de caso optimiza a compreensão do caso e não a sua generalização. Stake (1994) afirma, a propósito “I will

emphasize designing the study to optimize understanding of the case rather than generalization beyond.” (p. 236).

Merriam (2001) refere que a opção pelo estudo de caso qualitativo se justifica quando o investigador está mais interessado em compreender, descobrir e interpretar do que em testar hipóteses. O estudo de caso distingue-se de outros designs de investigação por aquilo que Cronbach (1975, citado por Merriam, 2001) designou de “interpretação em contexto”. O investigador concentra-se num único fenómeno ou entidade (o caso) para desvendar a interacção de factores significativos característicos do fenómeno e faz uma descrição e uma análise intensivas de uma única unidade ou de um sistema limitado.

Merriam (1998) advoga as potencialidades do estudo de caso no domínio da educação. Ao permitir investigar unidades sociais complexas que consistem em muitas variáveis fundamentais para a compreensão do fenómeno, o estudo de caso adequa-se ao estudo de processos educacionais, problemas e programas. A compreensão que se adquire com estes estudos poderá vir a afectar e aperfeiçoar a prática. Daí que o estudo de caso traga muitas vantagens para o estudo de inovações educacionais e na avaliação de programas. “Because of its strengths, case study is a particularly appealing design for applied fields of study such as education. Educational processes, problems, and programs can be examined to bring about understanding that in turn can affect and perhaps improve practice. Case study has proven particularly useful for studying educational innovations, for evaluating programs, and for informing policy.” (Merriam, 2001, p. 41).

Yin (1993) define vários tipos de estudo de caso. Atendendo a essa categorização, o presente estudo é um estudo de caso descritivo, visto que pretende fazer a descrição de um fenómeno no seu contexto. O autor salienta a importância da teoria nos estudos de caso descritivos, visto ser ela que elucida o âmbito e a profundidade do objecto (caso) a ser descrito, pelo que deve ser explicitada claramente bastante cedo e sujeita a debate, servindo, mais tarde, de design para o estudo de caso. Quanto mais rica for a teoria, melhor será o estudo descritivo do caso.

Stake (1994) definiu, por sua vez, três tipos de estudo de caso. Este estudo é, de acordo com esta categorização, primordialmente um estudo de caso instrumental. Este

tipo de estudo ocorre quando o propósito do estudo é o labor teórico, “a particular case is examined to provide insight into an issue or refinement of theory” (p. 237).

O estudo de caso implica um trabalho reflexivo profundo. “Perhaps the simplest rule for method in qualitative case work is this: Place the best brains available into the thick of what is going on. The brain work ostensibly is observational, but more basically, reflective.” (Stake, 1994, p. 242).

O presente estudo tem ainda um carácter parcialmente dedutivo, visto que parte de um quadro teórico de referência, que interliga o modelo ecológico do desenvolvimento humano (Bronfenbrenner, 1987), a tipologia de colaboração escola-família-comunidade (Epstein, 1997a) e a teoria da sobreposição das esferas de influência (Sanders & Epstein, 1998). O quadro analítico em que nos baseámos tem categorias desenvolvidas a priori, com base nessas teorias. No entanto, ao longo do estudo, foram criadas outras categorias a posteriori, a partir de uma análise indutiva assente nos dados, ainda que, por vezes, parcialmente apoiada em resultados de estudos e em teorias auxiliares.

Na apresentação dos resultados, optámos por recorrer, por vezes, ao estilo narrativo, que nos pareceu adequado em determinadas situações, como por exemplo a narração de reuniões ou de acontecimentos específicos. Esta opção prende-se com o facto de o nosso estudo decorrer ao longo de um espaço de tempo e de a narrativa incidir sobre sujeitos e acontecimentos concretos, mas com um interesse que transcende as suas particularidades e os torna num caso exemplar, proporcionador de reflexão. Bruner (1991), além destas características da narrativa, aponta uma outra que se verifica igualmente no nosso estudo. Para o autor, os estados intencionais dos sujeitos envolvidos nos acontecimentos (crenças, desejos, teorias, valores, etc.) são muito importantes. Embora não sejam determinantes exclusivos do curso desses acontecimentos e, por conseguinte, não permitam estabelecer relações explicativas causais, possibilitam a interpretação dos acontecimentos e uma busca de uma maior compreensão, objectivo do nosso estudo.