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4.2 Caracterização do caso

4.2.2 A turma

O 6º F, turma com aulas predominantemente no turno da tarde, tem 27 alunos, o que corresponde à média de alunos por turma, neste ano de escolaridade, nesta escola. Existe uma maior percentagem de alunos do sexo masculino (63%) do que do sexo feminino (37%). Verifica-se uma grande dispersão de idades, visto que elas se distribuem entre os 10 e os 14 anos, considerando as idades no início do ano lectivo. No entanto, a maior parte dos alunos tem entre 10 anos (22,2%) e 11 anos (44,4%), sendo a média de idades 11,5 anos. Existem alunos que, devido à suas carências económicas, recebem subsídio do Serviço de Acção Social Escolar (14,8%), embora em percentagem um pouco inferior à registada para todos os alunos da escola (21,4%). Há cinco alunos a repetir o 6º ano, o que corresponde a uma percentagem (18,5%) ligeiramente superior à que se verifica na escola (17%). Acresce o facto de 37% dos alunos já terem repetido um ou mais anos de escolaridade. Apenas 63% nunca repetiram qualquer ano. (cf. anexos “Quadro A1”, “Quadro A2” e “Quadro” A3). A maior parte dos alunos (77,8%) fazia parte desta turma no ano anterior, em que tinha já tido Diana como DT.

A caracterização da turma feita por Diana e apresentada no Projecto Curricular de Turma não se limita aos dados anteriormente apresentados. Abrange o grupo-turma, cada aluno considerado individualmente e, ainda, numa análise mais pormenorizada, os alunos que, por problemas de aprendizagem e/ou aproveitamento ou de integração, careciam de uma maior atenção por parte dos professores e de um acompanhamento mais individualizado. Fazer essa caracterização cuidadosa da turma e proporcioná-la a todos os professores foi uma das prioridades de Diana, enquanto DT, no início do ano lectivo. Cada aluno é caracterizado em função do percurso académico anterior, das

Resultados e discussão

expectativas académicas, dos hábitos de estudo, do relacionamento interpessoal, de problemas de saúde, das actividades de ocupação dos tempos livres e da composição e da situação sócio-económica do agregado familiar. O documento contempla ainda a caracterização dos EEs, incidindo sobre o sexo, o grau de parentesco, a idade, as habilitações académicas e a profissão. Destacam-se as seguintes características deste grupo de EEs: a predominância de mães (77,8%); uma grande dispersão de idades, destacando-se, no entanto, os EEs entre os 35 e os 39 anos (37%); o baixo nível de habilitações literárias, tendo a maior parte apenas o 1º ciclo (40,7%), ou seja, um nível de escolarização inferior ao dos educandos (cf. anexos “Quadro A4”, “Quadro A5” e “Quadro A6”). As profissões indicadas no Projecto Curricular de Turma, depois de classificadas segundo uma versão adaptada da Classificação Nacional de Profissões do Instituto Nacional de Estatística (INE, 2003), revelaram uma concentração nos níveis sócio-económicos médios e baixos (cf. anexo “Quadro A7”).

A recolha e sistematização de todos estes dados sobre a turma, por parte da DT, traduz a sua preocupação em fornecer aos professores elementos que permitam adequar a sua intervenção à turma, em geral, e a cada um dos seus alunos, em particular. Por outro lado, verifica-se que estes dados, a par da dimensão académica, apontam para dimensões de carácter emocional e socio-afectivo. Desta forma, Diana contribui para que os professores estabeleçam com os alunos uma relação mais personalizada e emocional, na esteira do que Diogo considera ser uma importante função do cargo de direcção de turma (1998).

Diana avalia o 6º F como sendo uma boa turma, com bom relacionamento entre os alunos, bastante interessada nas actividades escolares, com um aproveitamento satisfatório e com potencialidades para ser ainda melhor. Estas percepções são perfilhadas pelos outros professores, pelos alunos e pelos EEs. Os professores manifestam gosto em trabalhar com esta turma. Os alunos salientam o facto de todos serem amigos.

É uma turma com umas potencialidades enormes, salvo raras excepções. (E2 DT, Secção 1, § 7)

A nível da disciplina, acho uma turma interessada. (E2 Prof Eugénia, § 17)

A minha turma é boa. É boa em amigos. Convivemos todos, apesar de às vezes haver umas chatices, não é? (E2 Alice, § 25)

Acho que é uma boa turma. Acho que é uma turma que poderá dar bons resultados. (E2 EE Celina, § 23)

O relacionamento, acho que se relacionam bem. (E2 EE José, § 15)

Professores, alunos e EEs apontam apenas um aspecto negativo a esta turma: o facto de os alunos serem muito barulhentos na aula.

É uma turma muito barulhenta, embora, na maior parte dos casos, seja um barulho um bocado saudável. Só que isso desorganiza completamente a aula, não é? Eles gostam de comentar entre si aquilo que se está a dar e outras vezes gostam de comentar outros assuntos que não têm nada a ver com a aula. (E2 Prof Telma, § 4)

É um bocado faladora. Eu também falo, por vezes. Toda a gente. (E2 Cláudio, § 5)

E eles são uma turma assim um bocadinho para o barulhento, pouco atentos, e isso tem sido, acho, um dos problemas da turma. (E2 RepEEs, § 7)

Diana e os restantes professores têm uma percepção muito positiva acerca dos EEs e do acompanhamento que eles dão aos seus educandos: “São, na generalidade, muito interessados e preocupados com a situação escolar dos seus educandos.” (Projecto Curricular de Turma do 6º F, p. 11). A DT salienta ainda a colaboração estabelecida:

Eu senti, da parte (…) dos pais, um enorme apoio, em termos gerais claro está, no sentido de colaborar e de estarem muito interessados. (E3 DT, § 33)

Os professores sustentam uma opinião idêntica. A professora Eugénia destaca a diferença entre o envolvimento dos EEs desta turma e o que existe noutras turmas.

Os pais, nesta turma, vêm à escola, se calhar, mais assiduamente do que se tem verificado em outras turmas. Então eu, que tenho seis turmas, posso fazer a comparação, não é? (E2 Prof Eugénia, § 57)

A opinião positiva acerca dos EEs é partilhada pelos próprios pais, havendo quem destaque o bom relacionamento existente entre eles.

Acho que [o ambiente entre os pais] é bom. Quer dizer, falo por mim. (…) Conheço grande parte dos pais e tenho… tenho um bom relacionamento com eles. (E2 EE Celina, § 125)

Os dados recolhidos através dos questionários aplicados aos EEs e aos alunos no início do ano lectivo fornecem dados de caracterização da turma que coincidem com os expostos (cf. anexos “Quadro A8”, “Quadro A9”, “Quadro A10” e “Quadro A11”). O quadro traçado é muito positivo no que se refere aos seguintes aspectos:

(a) alimentação: tomada de pequeno-almoço e de lanche a meio da tarde e de uma refeição completa à hora do almoço;

(b) frequência e condições do estudo feito em casa;

(c) interacção aluno-família sobre a escola e o trabalho escolar.

Se, por um lado, os alunos manifestam hábitos e atitudes muito positivos nestes domínios, por outro lado, os EEs adiantam percepções do acompanhamento que dão aos seus educandos correspondentes a atitudes e hábitos adequados. A comparação das

Resultados e discussão

percepções dos estudantes com as dos pais aponta para diferenças estatisticamente significativas apenas em dois itens:

(1) Comparando a percepção dos EEs acerca da frequência com que controlam a execução dos trabalhos de casa pelos seus educandos e a destes relativamente à frequência com que realizam estas tarefas, esta última apresenta valores mais baixos.

(2) A percepção que os alunos têm da frequência com que os EEs lhes procuram dar confiança quando têm dificuldades na escola assume valores inferiores aos da percepção que os pais têm da frequência com que dão esse tipo de apoio aos filhos.

As expectativas dos EEs e dos alunos relativamente à integração na turma e na escola e ao sucesso educativo no ano lectivo corrente são elevadas em todos os itens e idênticas em quase todos. Apenas um aluno (3,7%) pensa que vai reprovar, não havendo qualquer EE a partilhar esta convicção com um tão elevado grau de concordância. As expectativas de futuro académico também são elevadas, registando-se 76,7% de EEs e 66,7% de alunos que desejam que os jovens tirem um curso de nível superior. Paralelamente, nenhum EE pretende que os seu educando se limite à escolaridade obrigatória e apenas um pequeno número de alunos (7,4%) exprime o desejo de ficar por aí.

Em síntese, as características da turma mostram que, apesar da diversidade sócio- económica e etária e do baixo nível de formação académica da maior parte dos pais, os EEs valorizam muito a escola e acompanham regularmente a vida escolar dos seus educandos, procurando promover neles atitudes e comportamentos favorecedores do sucesso académico. Verifica-se que a diversidade existente entre os alunos da turma dos pontos de vista sócio-económico, etário e de sucesso académico anterior não perturba o relacionamento entre eles nem se reflecte na manifestação de uma grande disparidade de atitudes face à escola ou de expectativas nesse domínio. Os resultados do questionário apontam para uma coerência entre as elevadas expectativas académicas das famílias e o acompanhamento que afirmam dar aos filhos. Por outro lado, DT, professores, alunos e EEs consideram esta turma boa, tendo em conta os aspectos académicos e afectivo- relacionais. Apontam um único aspecto negativo, o barulho nas aulas. O grupo de EEs também é visto pelos professores e pela DT de forma positiva, particularmente no acompanhamento dado aos seus educandos. Com efeito, o quadro traçado a partir dos

resultados apresentados anteriormente permitia antever uma relação positiva entre a escola e as famílias.