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2.2 Legislação

2.2.2 Direitos e deveres dos EEs

No Decreto-Lei nº 115-A/98, reconhece-se o direito à participação dos pais na vida da escola, nomeadamente na organização e na colaboração em iniciativas que visem a melhoria da qualidade das escolas, em acções que motivem a aprendizagem e a assiduidade dos alunos e em projectos de desenvolvimento sócio-educativo da escola (Art. 41ª, § 1).

O Estatuto do Aluno, no Art. 6º, denominado “Papel especial dos pais e encarregados de educação”, reconhece aos pais e EEs a responsabilidade “de promoverem activamente o desenvolvimento físico, intelectual e moral” dos seus educandos, acentuando alguns aspectos em particular: o acompanhamento activo da vida escolar; a promoção da articulação entre a educação na família e o ensino escolar; a obrigação de promover o cumprimento dos deveres de assiduidade, comportamento escolar correcto e empenho no processo de aprendizagem; cooperação com os professores no processo de ensino e aprendizagem; comparência na escola quando sentir necessidade ou quando for solicitado a isso; tomada de conhecimento e declaração de aceitação do regulamento interno da escola, bem como obrigação de levar o educando a declarar a mesma aceitação e compromisso activo de cumprimento integral do regulamento. Os pais e EEs são responsabilizados, portanto, pela assunção de um papel muito activo no acompanhamento da vida escolar dos seus educandos, promovendo neles um comportamento adequado dentro da escola e atitudes e comportamentos favoráveis ao estudo e à aprendizagem. Alguns dos deveres são reforçados e concretizados noutros pontos do Estatuto, nomeadamente: a obrigação de fazer cumprir, pelo educando, os deveres de frequência e assiduidade; a obrigação de justificar as

faltas; e o dever de colaborar com a escola na aplicação de medidas disciplinares. Este diploma confere também o direito de os EEs serem informados acerca da falta de assiduidade dos seus educandos e acerca de procedimentos disciplinares a ele relativos, bem como o direito de serem ouvidos durante a instrução de um procedimento disciplinar aos seus educandos.

No Decreto-Lei nº 301/93, sobre o regime de matrícula e de frequência no ensino básico, estão dispostos os direitos e deveres dos pais e EEs relativamente à frequência e à assiduidade, reiterados no Estatuto do Aluno. Determina ainda, este Decreto-Lei, que o dever de o EE proceder à matrícula das crianças em idade escolar a seu cargo.

O direito dos pais e EEs a participarem no processo de avaliação das aprendizagens dos alunos é reconhecido pelo Decreto-Lei nº 6/2001, o qual remete a definição das condições de exercício desse direito para o regulamento interno de cada escola (Art. 12º, § 3). O Despacho Normativo nº 30/2001 concretiza diversas determinações deste Decreto-Lei. Confere o direito de os EEs terem acesso ao dossier individual dos seus educandos, em termos a definir no regulamento interno de cada escola. No que se refere à avaliação formativa, especifica que ela deve fornecer, a um conjunto de intervenientes no processo educativo, entre os quais se conta o EE, informação acerca do desenvolvimento das aprendizagens e competências do aluno. Essa avaliação é da responsabilidade do professor, em diálogo com os alunos e com os outros professores, podendo os EEs ser envolvidos, se tal for considerado necessário. O EE tem o direito de ser ouvido sempre que o seu educando corre o risco de ficar retido pela segunda vez no mesmo ciclo, em termos a definir pelo regulamento interno, sendo o seu parecer apreciado no processo de tomada de decisão. O EE pode pedir, ao Conselho Executivo, a reapreciação da decisão da avaliação, devendo ser informado da decisão final do Conselho de Turma devidamente ratificada pelo Conselho Pedagógico, através de carta registada. Desta decisão, pode interpor recurso hierárquico para o director regional de educação (Artigos 46, 47, 48, 49 e 50).

O Despacho Normativo nº 30/2001 atribui ainda um outro direito aos EEs: o de serem informados acerca dos critérios de avaliação das aprendizagens definidos pelo Conselho Pedagógico, competindo ao órgão de direcção executiva garantir a divulgação desses critérios.

Direcção de turma

O uso de caderneta, pelo aluno, nos 2º e 3º ciclos do ensino básico, é considerado obrigatório pelo Despacho nº 43/SERE/90. A caderneta é, efectivamente, um instrumento de grande utilidade para facilitar a comunicação entre a escola e a família, nos dois sentidos. Este despacho fixa também a obrigatoriedade de o DT supervisionar o seu preenchimento, que deve ser feito pelo próprio aluno.

A nível de cada turma, está considerado o direito de representação colectiva dos EEs, por um representante. Esse direito está conferido no Decreto-Lei 115-A/98, que determina a sua integração no conselho de turma. Por conseguinte, o representante dos EEs é co-responsável pela organização, acompanhamento e avaliação das actividades a desenvolver com os alunos e pela elaboração do plano de trabalho (Art. 36º, § 1), posteriormente substituído pelo projecto curricular de turma, como foi referido anteriormente. Este diploma apenas o exclui das reuniões dos conselhos de turma destinadas à avaliação sumativa (Art. 36º, § 3º). Por outro lado, o representante dos EEs da turma faz parte dos conselhos de turma disciplinares (Estatuto do Aluno, Art. 41º, § 2º).

A formação de pais e famílias e a importância da sua colaboração com a escola no processo educativo dos educandos é reconhecida pela Lei de Bases do Sistema Educativo de uma forma muito explícita, no que se refere à educação especial, que “visa a recuperação e integração sócio-educativas dos indivíduos com necessidades educativas específicas devidas a deficiências físicas e mentais” (Art. 17º). A Lei de Bases determina que a educação especial integre actividades dirigidas aos educandos e acções dirigidas às famílias, aos educadores e às comunidades. Os diversos diplomas legais são omissos no que se refere à formação de pais, a nível geral, não obstante estudos na área (Villas-Boas, 2001; Estrela & Villas-Boas, 1997), apontarem para a sua influência positiva sobre o aproveitamento dos alunos. Villas-Boas (2001) sugere, entre outras formas, o recurso a mediadores que efectuem visitas domiciliárias às famílias mais desfavorecidas, como uma medida eficaz de formação de pais e de aproximação da escola a essas famílias. Esta é uma medida que não encontra eco na legislação, que não contempla a existência deste tipo de profissionais na generalidade das escolas.

Uma falha de relevo na actual legislação prende-se com a inexistência de reconhecimento, e respectiva regulamentação, do direito dos encarregados de educação a faltarem ao trabalho para acompanharem a vida escolar dos seus educandos,

nomeadamente para poderem participar nas reuniões de EEs ou consultar o DT em atendimentos individuais.

Como vimos, nos diplomas analisados, surge reiteradamente o direito dos EEs a serem informados acerca de diversos assuntos relativos aos seus educandos ou à escola. Sobressai, no entanto, particularmente no Estatuto do Aluno do Ensino Não Superior, uma responsabilização crescente dos EEs pelo acompanhamento da vida escolar dos seus educandos, que não parece traduzir uma perspectiva de autêntica colaboração entre a escola e a família, denotando, ao invés, um carácter controlador. Esta tendência da legislação, já apontada por Villas-Boas (1994), saiu muito reforçada com a entrada em vigor do diploma referido. Não obstante a descontinuidade cultural entre a escola e muitas famílias, acarretando o desconhecimento destas relativamente à estrutura e funcionamento das escolas de 2º e de 3º ciclos e a dificuldade em entender a sua linguagem e a dos professores, é colocada sobre os EEs a responsabilidade de exercerem funções como a promoção da articulação entre a educação na família e o ensino escolar (Art. 6º, § 2, alínea b) ou a contribuição para a criação do projecto educativo e do regulamento interno da escola (Art. 6º, § 2º, alínea d). Por conseguinte, de acordo com a legislação, cabe à família aproximar-se da escola e não à escola trazer até si as famílias mais excluídas. A falta de concretização na lei de medidas que favoreçam o exercício desta responsabilidade contrasta com o pormenor relativo a outros deveres atribuídos aos EEs, nomeadamente o de promoverem a assiduidade dos seus educandos e a sua participação nas situações de procedimentos disciplinares. É a “escola díficil de alcançar” que, não assumindo esse estatuto, procura envolver os “pais difíceis de envolver” através de medidas administrativas e intimidatórias.