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4.6 A directora de turma na interface entre a escola e a família

4.6.4 Avaliação do desempenho da DT

Começaremos por apresentar a forma como Diana se auto-avalia, confrontando, em seguida, as suas percepções com as dos EEs, alunos e professores.

Perspectiva da DT sobre o seu desempenho

A forma como Diana avalia a sua actividade enquanto DT encontra-se sumariamente expressa no relatório crítico que, em cumprimento da lei, apresentou na escola. Afirma que procurou “sempre desempenhar este cargo com responsabilidade, empenho e brio” e que desenvolveu um bom trabalho (Relatório DT 6º F, Secção 9, § 282). Neste mesmo documento, é patente a primazia que dá à vertente do trabalho desenvolvido com os alunos, do qual faz um balanço positivo:

Em suma, procurei favorecer a formação pessoal, académica e social dos alunos, e penso que dei um contributo positivo nesse sentido. (Relatório DT 6º F, Secção 8, § 266)

No que se refere aos EEs, Diana manifesta ter norteado a sua intervenção no sentido de facilitar a colaboração entre a família e a escola, eliminando as barreiras que se colocam à sua aproximação. A tradição de separação entre as duas instituições, apontada na literatura como um desses obstáculos (Diogo, 1998), é atribuída, pela DT, em grande parte, à forma como a escola comunica com os EEs.

(…) nem sempre (…) é fácil pedir esta colaboração. Muitas vezes porque [para] os próprios pais a imagem que salta da escola é “Nós só estamos com eles do portão para fora. Portanto, lá dentro há quem se encarregue deles.”. (…) Essa imagem às vezes salta através do próprio DT e da forma como o DT está, da forma como o DT comunica. (E3 DT, § 106)

A criação de oportunidades diversificadas de comunicação e de colaboração e o cuidado posto por Diana no relacionamento interpessoal com os EEs são aspectos da

sua intervenção para favorecer a aproximação entre a escola e a família que destacamos. Também nesta área a DT avalia positivamente o trabalho desenvolvido.

(…) eu tento, de uma forma humilde, da forma [como] vou conseguindo estar, tento criar… tento cortar essas pequenas barreiras. (…) Sinto-me contente com o trabalho que tenho feito. (…) Há muita coisa ainda a fazer, mas em termos gerais acho que sim senhor. (E3 DT, § 106)

Aquilo que mais marcou Diana, enquanto DT desta turma, foram as relações interpessoais estabelecidas com os alunos e os EEs, que se traduziram num fortalecimento de laços de amizade que ela crê irem perdurar:

O que é que me marcou mais? Sentir que tenho naquelas pessoas que fui conhecendo, que tenho lá amigos. Saber que um dia mais tarde, quando me cruzar com eles, na rua, que eles - muitos são de cá - que vão parar, que vão cumprimentar-me, que vão conversar comigo, não como a professora-DT, que claro que sou. (E3 DT, § 237)

Se a comunicação e as competências de relacionamento interpessoal de Diana sobressaíram, ao longo de todo o nosso estudo, como aspectos fortes do seu trabalho e determinantes nos resultados obtidos junto de alunos, professores e EEs, é interessante verificar a forma como ela valoriza as relações interpessoais estabelecidas com os alunos e os pais e o carácter duradouro que lhes atribui.

Perspectiva de EEs, alunos e professores sobre o desempenho da DT

Esta auto-avaliação de Diana encontra eco na avaliação que dela fazem EEs, alunos e professores, os quais não lhe reconhecem aspectos negativos ou menos positivos, tanto nas entrevistas como nos questionários realizados no 3º período.

Em relação à Diana, só tenho que elogiá-la. (E1 Prof Sónia, § 154) Eu, para mim, é tudo positivo. A DT é espectacular. (E2 EE José, § 152) Que é uma jóia, esta directora! (E2 EEs Mário, § 40)

E todos acham que é a melhor DT da escola. É muito boa DT. (E2 Cláudio, § 210) Olha, se tem aspectos negativos, eu não me lembro. (E1 Prof Sónia”, § 91) E negativos, acho que não tem aspectos negativos. ((E2 Delegado, § 111)

Nos questionários realizados no 3º período, todos os alunos caracterizaram a qualidade do trabalho desenvolvido pela DT como sendo muito boa. Quanto aos EEs, 95,7% consideraram-na muito boa e 4,3%, boa. Em questões de resposta aberta, uns e outros apontam o acompanhamento da turma e de cada um dos alunos como um dos aspectos mais positivos do trabalho desenvolvido por Diana. Referem que ela está sempre atenta ao que se passa e que se empenha muito no apoio aos alunos e na colaboração na resolução dos seus problemas, conseguindo bons resultados a nível da

Resultados e discussão

motivação, do empenhamento e do comportamento dos estudantes. Os EEs destacam ainda o cuidado da DT relativamente ao fornecimento de informações aos pais.

É uma directora que se importa muito com os alunos e isso chega. Faz tudo por eles. (Raul, Inq. Al.2, It. 14)

A directora de turma preocupa-se com os alunos e está sempre pronta a defender os interesses dos alunos. (Filipe, Inq. Al.2, It. 14)

Tem melhorado a turma em todos os aspectos. (Tomás, Inq. Al.2, It. 14)

Bastante empenho e dedicação, são as características mais relevantes do trabalho desempenhado pela directora de turma. A sua contribuição tem sido fundamental para que os alunos tenham um comportamento escolar mais ajustado, bem como proporcionar-lhes o gosto pela sua escola e pelo aproveitamento escolar. (EE Jacinto, Inq. EEs.2, It. 16)

Muito preocupada com as informações aos pais. (EE Daniel, Inq. EEs.2, It. 16)

É uma super DT. Tem um lado humano enorme. Preocupa-se imenso pela turma. Analisa caso a caso. (EE Paulo Martins, Inq. EEs.2, It. 16)

A comparação das atitudes face à escola e ao estudo dos EEs e dos alunos no início do ano lectivo e no final, com base nos resultados dos questionários aplicados nesses dois momentos, permite concluir que não se registaram diferenças significativas excepto num número reduzido de situações (cf. anexos “Quadro A22”; “Quadro A23”, “Quadro A24”, “Quadro A25”, “Quadro A26” e “Quadro A27”). Sendo as atitudes registadas no primeiro momento extremamente positivas (cf. pp. 97-101), este resultado é também positivo, já que indicia uma manutenção dessas atitudes. As situações em que se registaram modificações estatisticamente significativas, comparando as respostas dos EEs nos dois momentos, são as seguintes:

- A frequência com que os EEs afirmam verificarem o estudo dos seus educandos e a realização dos TPCs é menor no final do ano do que no início, o mesmo acontecendo com a frequência com que verificam se eles levam o material necessário para a escola.

- A frequência com que os EEs afirmam ajudarem os seus educandos a fazer os TPCs é maior no final do ano do que no início.

Comparando as respostas dos alunos aos questionários, nos dois momentos, obtém- se as seguintes diferenças estatisticamente significativas:

- A frequência com que os EEs lhes pedem para ver a caderneta é maior no final do ano do que no início, o mesmo sucedendo com a frequência com que os ajudam na realização dos TPCs.

Comparando as percepções que os alunos e os EEs têm das atitudes de uns e outros atitudes face à escola e ao estudo, no segundo questionário, apenas se registam diferenças estatisticamente significativas numa situação: os alunos afirmam levar o

material para as aulas com uma frequência muito mais elevada do que aquela com que os EEs manifestam realizar esse controlo.

Estes resultados permitem retirar as seguintes conclusões:

- Os alunos consideram que existe um maior controlo da caderneta por parte dos EEs, embora a percepção dos EEs neste domínio seja igual à registada no primeiro questionário. Esta atitude foi muito trabalhada por Diana nas reuniões, visto que o controlo da caderneta pelos pais era fundamental para o sucesso de estratégias utilizadas no controlo do comportamento e de diversas atitudes dos alunos.

- No final do ano, regista-se uma percepção dos EEs de que exercem um menor controlo do estudo diário, da realização dos trabalhos de casa e da preparação do material escolar. Contudo, os resultados das percepções dos alunos são igualmente elevados nos dois momentos, no que se refere ao cumprimento das suas responsabilidades nestes aspectos. Os registos feitos pela DT nas cadernetas, a avaliação destas atitudes nas reuniões e as entrevistas realizadas revelam que efectivamente os alunos são cumpridores na realização dos trabalhos de casa e levam o material necessário para as aulas. Desta forma, pode concluir-se que eles se tornaram mais autónomos ao longo do ano lectivo, passando a necessitar de um menor controlo familiar, pelo que o trabalho de Diana com os alunos e os pais, neste âmbito, parece ter sido bem sucedido.

- Os EEs manifestam ajudar mais os seus educandos na realização dos trabalhos de casa no segundo momento, coincidentemente com os estudantes, que consideram receber mais ajuda por parte dos pais. A ajuda da família aos estudantes na realização do trabalho escolar foi um dos aspectos a que Diana dedicou particular atenção, procurando sugerir estratégias de apoio tutorial nas reuniões e nos atendimentos e alargar o conceito de “ajuda”, não o limitando apenas à resolução das dúvidas sobre a matéria dada nas aulas. Também este trabalho parece ter contribuído para os resultados obtidos.

Outra área que os alunos e os EEs reconhecem, no referido questionário, como sendo muito positiva em Diana e no seu trabalho é a sua vertente relacional. Os estudantes destacam a amizade e o carinho, a simpatia, o humor e a boa disposição. A estes aspectos os EEs acrescentam o bom relacionamento com os alunos e com os pais,

Resultados e discussão

a eficácia da comunicação que estabelece, a sua disponibilidade e a clareza da linguagem que utiliza.

É muito simpática, brincalhona e adoro-a. (Norberto, Inq. Al.2, It. 14) É muito querida, brincalhona. (EE Norberto, Inq. EEs.2, It. 16)

Disponibilidade em relação aos encarregados de educação, bastante comunicativa e tolerante com os alunos (EE Noémia, Inq. EEs.2, It. 16)

No primeiro questionário, alunos e EEs atribuíram ao DT um alargado leque de funções, cobrindo todos os tipos definidos por Epstein (1997a) e abrangendo pais, alunos e EEs. No segundo questionário, manifestam a opinião de que Diana cumpriu todas essas funções. Estes resultados apontam para o cumprimento da diversificação de oportunidades e de actividades de colaboração entre a escola, a família e a comunidade que Epstein advoga na sua tipologia, para responder à diversidade das características e das necessidades das família. Apontam ainda para uma prática de direcção de turma diferente daquela que mais frequentemente surge nas escolas e que é caracterizada pelo exercício mais rotineiro das funções inerentes ao cargo.

As entrevistas confirmam e aprofundam as opiniões anteriormente expressas acerca da qualidade do trabalho de Diana. A nossa análise incidirá, sequencialmente, na avaliação que os diversos entrevistados fazem da intervenção da DT relativamente aos alunos, aos EEs, aos professores e à coordenação das actividades do Projecto Curricular de Turma.

Avaliando a intervenção de Diana relativamente aos alunos, tanto estes como os professores e os EEs apontam a responsabilidade, o interesse e o empenho da DT no acompanhamento dos estudantes, juntamente com a utilização de diferentes estratégias e recursos e as relações interpessoais que com eles estabelece, como tendo favorecido uma melhoria da motivação, das atitudes, do comportamento e do rendimento académico. Destacam diversos aspectos que consideram fundamentais:

(a) Evidenciam que a DT analisa, com cada aluno, estratégias de resolução dos seus problemas e monitoriza a sua aplicação.

A minha DT tem-me dado muito apoio: conseguir ajudar-me para que eu me porte bem nas aulas; conseguir que eu estude, até me meteu na sala de estudo e tudo, para me ajudar. (E2 Alice, § 15)

Mais positivo: acho que ela tem dado força aos alunos que são mais mal comportados, terem um bocado de força, não é?, para serem bem comportados. Dá indicações para eles serem bem comportados (E2 Delegado, § 111)