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Atividade didática (1)

3 EXIGÊNCIAS DIDÁTICAS NAS DIVERSAS LIN GUAGENS

3.1 Artes visuais

3.1.4 Atividade didática (1)

Faz-se mister relembrar que os quatro exemplos apresentados (o primeiro descrito agora e os demais nas seções seguintes) não visam a fornecer receitas, mas sim in- serir na discussão teórica alguns exemplos de atividades acontecidas na sala de aula,

O aluno precisa compreender o contexto de cada uma dessas narrativas, sua história e suas

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fruto da ação concreta do professor com seus alunos. A primeira delas reporta-se à experiência de ensino desenvolvida pelo professor Henrique Lima na Escola Esta- dual Nazir Safatle (Goiânia), com alunos de 16 a 45 anos, em 2002.

Tema: Artistas goianos contemporâneos (Cristiane Brandão, Marcelo Solá e Selma Parreira).

Objetivo: apresentar artistas goianos contemporâneos com inserção no cir- cuito institucional, mas pouco conhecidos pelos alunos, e realizar a primeira mostra cultural do turno noturno.

Estratégias adotadas:

a) discussão de textos críticos (jornal, catálogos de exposição, livros) sobre as biografi as dos artistas, as poéticas, os objetos, os elementos visuais e concei- tuais de seus trabalhos;

b) apreciação de imagens mediada por jogos, tais como: quebra-cabeça das principais obras, “passa ou repassa” com perguntas referentes aos elementos que compunham as imagens e os dados biográficos dos artistas;

c) produção de trabalhos pelos alunos explorando os materiais, as técnicas e os suportes utilizados pelos artistas.

Foram realizadas atividades a partir do processo de cada artista. Partindo do trabalho “velar desvelar” de Selma Parreira, exploramos pedaços de lonas, va- lorizando manchas, rasgos e costuras já existentes como componentes do fazer artístico. Com o trabalho de Cristiane Brandão, mergulhamos no universo do bordado, e tanto as mulheres quanto os homens realizaram trabalhos com a agulha e a linha. Os alunos foram desafiados a vivenciar experiências com a delicadeza, com a memória, com o afeto e o lúdico, presentes nas obras dos artis- tas. Na mostra cultural, apresentamos nossas aprendizagens estéticas, artísticas e culturais, pois alimentando os olhares, estavam as histórias de vida de cada estudante (Henrique Lima).

No exemplo anterior, o professor contemplou os três vértices da Abordagem Triangular. Em primeiro lugar, promoveu a contextualização das obras discu- tindo a biografia dos artistas e a opinião de outras pessoas (críticos) sobre seus trabalhos. Depois, por meio de jogos e dinâmicas de grupo, promoveu a aprecia- ção das obras estimulando o reconhecimento do código (manhas, linhas, cores, etc.) e dos suportes utilizados pelos artistas. Finalmente, propôs o fazer artístico, baseado nos procedimentos de cada artista.

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CONHECIMENTOS DE ARTE

outras maneiras. As etapas contextualizar/refl etir e perceber/fazer podem ser al- teradas, intercaladas e recorrentes. Pode-se começar por uma oficina de bordado, pintura ou grafite e só depois apresentar os artistas, retomando, em seguida, o fazer artístico sob novos parâmetros.

As obras desses artistas também suscitam múltiplas relações contextuais. Os bordados sobre meias de seda de Cristiane Brandão remetem ao universo femi- nino e seus fetiches, mas também à tradição popular das bordadeiras. O apro- veitamento de materiais, meias ou restos de lonas, como faz Selma, tocam em questões socioambientais ligadas ao consumo e à reciclagem, imprimindo novos sentidos e usos a esses materiais pela apropriação artística. Os grafi tes de Marcelo Solá envolvem o repertório de imagens e experiências do jovem no meio urbano. Entretanto, o experimentalismo dessas obras só pode ser entendido diante das possibilidades expressivas desenvolvidas ao longo da história da arte, remetendo a pesquisas de inúmeros outros artistas e revelando os nexos entre a cultura eru- dita, a popular e a de massa.

3.2 Teatro

3.2.1 Código

Estruturas morfológicas

Movimento, voz e gesto. Espaço cênico. Texto, gênero e partitura cênica. Funções (atu- ação, direção, caracterização, iluminação, sonoplastia, figurino, maquiagem, etc.).

Estruturas Sintáticas

Jogos tradicionais e jogos teatrais. Improvisação, interpretação e recepção de ce- nas. Montagem. Relação entre palco e platéia, etc.

A experimentação da linguagem teatral dá-se mediante o envolvimento do estudante com os elementos referentes à estrutura dramática (ação/espa- ço/personagem/público), conforme indicam os elementos arrolados, os quais não exaurem as inúmeras possibilidades que se apresentam a esse campo in- vestigativo. Assim, não há um pon to de partida nem muito menos de chega- da, uma vez que o processo do aprender a estudar e a explorar a linguagem teatral traduz, por si, os objetivos referentes ao desenvolvimento do currículo na sala de aula.

A escolha de um conteúdo ou de um determinado agrupamento de conteúdos favorece o compartilhamento de descobertas, trocas, reflexões e análises das propos- tas de trabalho do professor.

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Na cultura do ensinar e aprender teatro, o que mais importa não são os procedimentos es táticos, a fixação na história, nos estilos ou nos elementos da linguagem em separado, mas sim

a capacidade de exercer um diálogo de “outra” natureza em sala de aula, de conhecer a si e ao outro, de convi- ver com o diverso e com a ambigüi- dade, processo no qual o jogo teatral é concebido como uma estratégia construtiva, na acepção piagetiana, que, pelo trabalho pedagógico, evolui da brincadeira e do “faz-de-conta” à apro priação do conhecimento cênico (KOUDELA, 1998).

Assim, é importante que a abordagem dos códigos da linguagem teatral tenha organicidade, tanto no panorama interno quanto na perspectiva inter- disciplinar, considerando todas as outras fontes de conhecimento possíveis e o contexto sócio-histórico.

3.2.2 Canal

Exploração de procedimentos e formas utilizadas tradicionalmente pela escola, palco ou rua (dramatização de situações, temas, transposição de textos etc.).

Relacionamento com as mídias cênicas disponíveis na atualidade (cinema, ví- deo, internet e outros), tendo em vista a compreensão da idéia de autoria, de encenação, das funções teatrais, dentre outras possibilidades atinentes à lin- guagem.

Em relação aos canais de criação, veiculação e recepção disponíveis ao en- sino de Teatro, as possibilidades são tão diversificadas que, parafraseando Lope de Vega, bastam dois estudantes, um sonho... e obviamente o professor!

A rigor, na própria sala de aula, com todas as dificuldades que se apresentam ao processo de ensino-aprendizagem, a superação dos limites tradicionalmente impostos pela técnica da atuação no palco favorece a criação de propostas que podem ser remetidas à reflexão estética e pedagógica, envolvendo, dialogicamen- te, a participação direta dos jogadores atuantes e dos observadores. Além disso, tal como ocorre nas demais linguagens da arte, a interação entre forma e conteú- do, materiais e suportes, processo e produto são faces de uma mesma moeda, bem como estratégias de construção cotidiana do currículo.

o processo do aprender a estudar e a explorar

a linguagem teatral traduz, por si, os objetivos referentes ao

desenvolvimento do currículo na sala de aula.

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CONHECIMENTOS DE ARTE

3.2.3 Contexto

• Do texto, da obra, da partitura cênica

A elaboração de trabalhos no contexto da sala de aula, a leitura e a adaptação de textos dramáticos de diferentes gêneros, estilos, épocas, bem como a experimen- tação de diferentes formas de montagem cênica (tradicionais, tecnológicas, etc.), são algumas das possibilidades que se apresentam ao trabalho docente.

Nesse sentido, o contato com as propostas de representação dramática presentes na cultura universal e com suas di ferentes narrativas é crucial para o envol vimento dos estudantes nas atividades de Teatro, sem que sejam priorizados certos pro- cedimentos em relação a outros, ou seja, sem julgamento de valor entre a “obra” produzida no âmbito da sala de aula ou fora dela, seja erudita ou popular.

• Do aluno, do professor, da escola, da comunidade

A recepção de trabalhos cênicos produzidos pelos estudantes, por grupos ama- dores ou profissionais, e a apreciação das manifestações produzidas por diferen- tes grupos sociais e étnicos – cavalhada, congada, pastoril, bumba-meu-boi, etc. –, reportam-se à capacidade de refletir sobre os códigos e os canais referentes à linguagem teatral.

Participando do processo artístico com seus alunos, o professor amplia as opor- tunidades de aprendizagem dos participantes, fazendo uso das diversas situações em que a linguagem teatral possa manifestar-se. Assim, conhecer as manifestações da cultura local, assistir na sala de aula a uma cena de novela, peça publicitária ou filme e com preender o ambiente das mídias, assim como partilhar e trocar funções no palco e na platéia, dentre outras possibilidades, é propiciar um valioso repertório relativo ao domínio da linguagem, contextualizando a relação texto – obra.

• Do ensino médio

A análise dos fundamentos culturais presentes no jogo ou no espetáculo estabe- lece uma aproximação entre os códigos da linguagem e os modos pelos quais ela se manifesta, redundando no estabelecimento de elos entre o produto apreciado e os dados do receptor. Dessa maneira, no cerne dessa relação instaura-se o pro- cesso de contextualização (sócio-histórica, antropológica, estética, filosófica etc.) que favorece a aprendizagem significativa, ou seja, o enlaçamento dos conteúdos de Teatro aos das demais disciplinas e à realidade.