• Nenhum resultado encontrado

4 A DISCIPLINA LÍNGUA PORTUGUESA: PERS PECTIVAS NO CONTEXTO DO ENSINO MÉDIO

Considerando-se a história de interações e de letramento que o aluno traz para o ensino médio – construída em diferentes esferas sociais de uso da linguagem

32 ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO

(pública e privada), inclusive nas experiências sistemáticas de aprendizagem de escrita (produção e compreensão textuais) do ensino fundamental –, o perfi l que se traça para o alunado do ensino médio, na disciplina Língua Portuguesa, prevê que o aluno, ao longo de sua formação, deva:

• conviver, de forma não só crítica mas também lúdica, com situações de pro- dução e leitura de textos, atualizados em diferentes suportes e sistemas de linguagem – escrito, oral, imagético, digital, etc. –, de modo que conheça – use e compreenda – a multiplicidade de linguagens que ambientam as prá- ticas de letramento multissemiótico em emergência em nossa sociedade, ge- radas nas (e pelas) diferentes esferas das atividades sociais – literária, científi - ca, publicitária, religiosa, jurídica, burocrática, cultural, política, econômica, midiática, esportiva, etc;

• no contexto das práticas de aprendizagem de língua(gem), conviver com si- tuações de produção escrita, oral e imagética, de leitura e de escuta, que lhe propiciem uma inserção em práticas de linguagem em que são colocados em funcionamento textos que exigem da parte do aluno conhecimentos dis- tintos daqueles usados em situações de interação informais, sejam elas face a face ou não. Dito de outra forma, o aluno deverá passar a lidar com situ- ações de interação que se revestem de uma complexidade que exigirá dele a construção de saberes relativos ao uso de estratégias (lingüística, textual e pragmática) por meio das quais se procura assegurar a autonomia do texto em relação ao contexto de situação imediato;

• construir habilidades e conhecimentos que o capacitem a refl etir sobre os usos da língua(gem) nos textos e sobre fatores que concorrem para sua varia- ção e variabilidade, seja a lingüística, seja a textual, seja a pragmática. Nesse trabalho de análise, o olhar do aluno, sem perder de vista a complexidade da atividade de linguagem em estudo,

deverá ser orientado para compreen- der o funcionamento sociopragmático do texto – seu contexto de emergência, produção, circulação e recepção; as es- feras de atividade humana (ou seja, os domínios de produção discursiva); as manifestações de vozes e pontos de vis- ta; a emergência e a atuação dos seres

da enunciação no arranjo da teia discursiva do texto; a confi guração formal (macro e microestrutural); os arranjos possíveis para materializar o que se quer dizer; os processos e as estratégias de produção de sentido. O que se

... conviver, de forma não só crítica mas também lúdica, com situações de produção

33

CONHECIMENTOS DE LÍNGUA PORTUGUESA

prevê, portanto, é que o aluno tome a língua escrita e oral, bem como ou- tros sistemas semióticos, como objeto de ensino/estudo/aprendizagem, numa abordagem que envolva ora ações metalingüísticas (de descrição e refl exão sistemática sobre aspectos lingüísticos), ora ações epilingüísticas (de refl exão sobre o uso de um dado recurso lingüístico, no processo mesmo de enunciação e no interior da prática em que ele se dá), conforme o propósito e a natureza da investigação empreendida pelo aluno e dos saberes a serem construídos. Em termos das ações do ensino médio – e obviamente não restritas ao cam- po de trabalho da disciplina Língua Portuguesa –, esse investimento deve in- cluir diferentes manifestações da linguagem – como a dança, o teatro, a música, a escultura e a pintura –, bem como valorizar a diversidade de idéias, culturas e formas de expressão.

Como antes enunciado, propõe-se a ampliação e a consolidação dos conhe- cimentos do estudante para agir em práticas letradas de prestígio, o que inclui o trabalho sistemático com textos literários, jornalísticos, científi cos, técnicos, etc., considerados os diferentes meios em que circulam: imprensa, rádio, televisão, internet, etc.

Dados os objetivos de formação anteriormente expostos, essa coletânea de textos deve ser constituída e trabalhada de modo que contribua para que os alu- nos se construam, de forma consciente e consistente, sujeitos críticos, engajados e comprometidos com a cultura e a memória de seu país. Isso implica que a escola deva comprometer-se a dar espaço privilegiado a textos que efetivamente sejam representativos dessa cultura e dessa memória.

Nesse cenário, aposta-se em práticas de leitura por meio das quais os alunos possam ter acesso à produção simbólica do domínio literário, de modo que eles, interlocutivamente, estabeleçam diálogos (e sentidos) com os textos lidos. Em outros termos, prevê-se que os eventos de leitura se caracterizem como situações signifi cativas de interação entre o aluno e os autores lidos, os discursos e as vozes que ali emergirem, viabilizando, assim, a possibilidade de múltiplas leituras e a construção de vários sentidos.

Sob essa orientação, ressalte-se, buscam-se práticas que propiciem a forma- ção humanista e crítica do aluno, que o estimulem à refl exão sobre o mundo, os indivíduos e suas histórias, sua singularidade e identidade. Nessa esteira, deve-se, também, criar espaço de vivência e cultivo de emoções e sentimentos humanos, como experienciar situações em que se reconheça o trabalho estético da obra literária, identifi cando as múltiplas formas de expressão e manifestação da(s) linguagem(ns) para levar a efeito um discurso (CÂNDIDO, 1995).

34 ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO

Certamente, por força das orientações contidas nos diferentes documen- tos de parametrização construídos nos últimos anos e em consonância, ainda que parcialmente, com estudos produzidos

pela Análise da Conversação, pela Lingüís- tica Textual e pelas Teorias da Enunciação, ganham cada vez mais espaço, nessa pro- posta, atividades de produção, recepção e análise de textos orais, obviamente fora da orientação dicotômica e oposicionista – em relação à escrita –, que vigorou na universidade e na escola durante muitas décadas. Sob essa lógica, pretende-se que o estudante veja a fala e a escrita como mo- dalidades de uso da língua complementa-

res e interativas, sobretudo quando se levam em conta práticas de linguagem nascidas na/da tecnologia digital, que também permitem a recorrência on-line desses dois tipos de modalidade.

Não se pode perder de vista, no entanto, em razão dos compromissos gerais de formação da etapa de término da educação básica anteriormente expressos, que as práticas sociais de uso da língua escrita devem receber destaque na orien- tação do trabalho escolar, em razão do valor social e histórico que têm em nossa sociedade.

Independentemente, porém, da natureza da modalidade e da prática social de linguagem em foco, parte-se da compreensão de que o conhecimento do su- jeito para nela atuar é uma produção humana, histórica, contextualizada, e que sua apropriação se dá exatamente na prática social. Em outras palavras, reitera- se que, como os conhecimentos são resultado de processos sociocognitivos de produção de sentido, sua construção dá-se sempre de forma contextualizada, em atividades nas quais os sujeitos se engajam e nas quais a linguagem está sempre implicada.

Para fi nalizar esta seção, ressalte-se, ainda uma vez, que, nesse campo de es- tudos, praticamente se impõe a necessidade da abordagem interdisciplinar, quer no que toca aos referenciais teórico-metodológicos abraçados pela Língua Por- tuguesa para o tratamento do texto nas atividades de compreensão e produção, quer no que se refere à teia de relações entre as disciplinas do ensino médio para o alcance das fi nalidades da educação com as quais se compromete nesse nível de ensino.

... as práticas sociais de uso da língua escrita devem receber destaque na orientação do trabalho escolar, em razão do valor social e

histórico que têm em nossa sociedade.

35

CONHECIMENTOS DE LÍNGUA PORTUGUESA

5 ORGANIZAÇÃO CURRICULAR E PROCEDIMEN-