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Modelos teóricos de Processo de Design para Inovação Social

No documento Processos de design e inovação social (páginas 45-49)

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

DISTINÇÃO ENTRE DESIGN ATIVISTA E DESIGN SOCIAL SEGUNDO FUAD-LUKE (2015)

2. Design e Inovação Social

2.2 Processos de Design em Inovação Social

2.2.1 Modelos teóricos de Processo de Design para Inovação Social

Segundo a nossa investigação, Manzini é o principal autor na área de Design a promover a aproximação entre Design e Inovação Social, embora não tenha proposto ainda a sistematização dos processos de Design em projetos de Inovação Social. Manzini relaciona o processo de Inovação Social com o modelo de inovação Curva-S (Manzini, 2008), o que na verdade é um instrumento conceitual desenvolvido por Everett Rogers (1962) para descrever o ciclo de vida da inovação industrial desde a introdução, passando pelo crescimento até alcançar a maturidade da inovação. O instrumento Curva-S utiliza dois parâmetros: o parâmetro que representa o desempenho alcançado pela tecnologia (eixo da ordenada) em função do segundo parâmetro que é o esforço de investimento, tempo e recurso humanos aplicados para melhorar o desempenho da tecnologia (eixo da abcissa) (fig. 3).

Figura 3

Modelo Curva-S desenvolvido por Rogers (1962)

Para Rogers (1962) as inovações industriais, radicais e incrementais sempre alcançam um limite no seu desempenho, sendo este um aspecto fundamental da teoria da Curva-S. Desse modo, quando a inovação alcança o seu limite, o mercado identifica novas oportunidades de criação, substituindo a tecnologia anterior para uma mais promissora. No trabalho de Rogers (1962) essa transição é conhecida como descontinuidade. Já o termo difusão, frequentemente adotado nos estudos de Manzini, acreditamos estar relacionado com o termo difusão da inovação, oriundo de diversas teorias da inovação, e que teria surgido igualmente a partir do trabalho de Rogers (1962). Por difusão, Rogers (1962) compreende o processo pelo qual uma inovação é comunicada através de determinados canais ao longo do tempo entre os membros de um sistema social (Rogers, 1962).

Na adaptação do modelo de inovação Curva-S para a teoria de Design para Inovação Social, Manzini (2008) define três etapas no processo de Design: i) Protótipo de Solução; ii) Soluções Maduras; e iii) Soluções Implementadas.

Esses etapas funcionam como estados evolutivos do processo de Design em Inovação Social (Manzini, 2008; Jégou & Manzini, 2008).

O primeiro estado do processo de Design em Inovação denominado Protótipo de Solução, para Manzini (2008) e Jégou & Manzini (2008) ocorre quando uma ideia de serviço é viável e alguém foi capaz de realizá-la na prática. Neste estado, o serviço está em uma escala de complexidade elementar, o que significa que nem todos apresentam condições de operar ao longo do tempo. Quando posicionado no segundo estado evolutivo denominado de Soluções Maduras, significa que a ideia foi capaz de permanecer em funcionamento e possivelmente inspirou outros grupos a replicarem-na. Neste estado, na perspectiva de Manzini (2008) e Jégou & Manzini (2008), as iniciativas podem ser encaradas como Inovação Social.

Os casos situados no terceiro estado evolutivo denominado de Soluções Implementadas configuram-se como produtos, serviços e programas de comunicação. Na perspectiva dos autores Manzini (2008) e Jégou & Manzini (2008) são casos que demonstram que as ideias originalmente desenvolvidas pelas comunidades foram aprimoradas por designers, engenheiros, empresas e instituições locais com o objetivo de consolidar e aumentar a difusão da iniciativa, melhorando o contexto local e desenvolvendo soluções que criam condições favoráveis para um grupo maior de pessoas.

O segundo modelo de Design para Inovação Social encontrado na literatura é desenvolvido por Meroni et al. (2013). Denominado Social Innovation Journey, o modelo de ação de Design é estruturado em sequência não linear, com etapas e ações que envolvem progressivamente a comunidade e ajudam a configurar e prototipar o serviço de Inovação Social por meio de uma iniciativa piloto. O modelo é desenvolvido a partir da observação de dois projetos de investigação aplicada — Coltivando e Nutrire Milano — realizados com o apoio da Politecnico di Milano. O modelo Social Innovation Journey sistematiza as atividades decorrentes dos projetos de investigação supracitados, e tem como objetivo orientar os designers a identificarem o estágio da Inovação Social em que estão e a visualizar o potencial das próximas inovações. O método tem como diferencial orientar a incubação de projetos que visam formar empreendimentos sociais.

O modelo Social Innovation Journey apresenta os passos do processo e as principais interações entre as etapas. Os passos correspondem as fases do desenvolvimento do serviço de Inovação Social, ou seja, o grau de desenvolvimento e implementação da ideia. O modelo assume nove passos para a elaboração do serviço, conforme ilustrado na figura 4.

O primeiro passo do modelo de Meroni et al. (2013), Conscientizar, é o momento de ativar e conscientizar os potenciais inovadores sociais de seus papeis. O segundo passo Identificar Tópico para Ação diz respeito à captação do interesse da comunidade, de potenciais inovadores sociais e interessados no serviço. O terceiro passo Envolver Pessoas Pró Ativas e Especialistas é o

momento crucial de concepção da Inovação Social, pois exige o interesse de pessoas ativas no campo. Nesta fase é previsto definir o cenário de possíveis soluções com iniciativas delineadas e a determinação de como e porquê atrair outros potenciais interessados. O passo Gerar e Selecionar Ideias é de co- design, pois envolve os especialistas e as partes pró-ativas, e usa os cenários como base para o diálogo. No passo Definir Tempo, Papéis e Estratégia é definido o planeamento correto do uso dos recursos, o tempo de duração do projeto, a experiência, e a ativação das partes interessadas. No passo Co- design com Comunidades mais Amplas, as sessões de co-design devem envolver o maior número de pessoas a fim de discutir ideias e obter insumos. Nesta fase, os autores Meroni et al. (2013) esperam que se dê início ao movimento de Inovação Social. No passo Desenvolver a Solução: Papéis e Regras, são definidos os relacionamentos entre as partes e o plano de ação do projeto pode ser validado e implementado. Os componentes do sistema são projetados, desde os espaços, objetos e comunicação até as ferramentas, plataformas, e regras a serem seguidas. Ao final desta etapa, a proposta de valor da solução, a sustentabilidade global e os benefícios para as diferentes partes devem ser evidentes. No passo Produzir Protótipo Semelhante a um Evento pretende-se provar a praticabilidade da ideia enquanto se cria o envolvimento emocional que capacita e motiva a comunidade a assumir a iniciativa e a realiza-la ao longo do tempo. Durante o teste do protótipo são testados também os espaços, os objetos e a comunicação para refinar as soluções. O último passo Incubação indica conduzir a solução à uma incubadora visando a iniciativa evoluir como um empreendimento ou start-up.

Figura 4

Por último, Hugo & Moura (2015) fazem uma reflexão acerca da contribuição do Design para a Inovação Social sustentável. Os autores cruzam a literatura básica de Inovação Social fundamentada em Phills et al. (2008) e Murray et al. (2010) e a literatura de sustentabilidade. A sustentabilidade é compreendida pelos autores como um ponto a ser alcançado pela descontinuidade dos sistemas. Como orientação das práticas de Design em Inovação Social, os autores recomendam dois métodos de Design. O primeiro refere-se ao modelo teórico de Inovação Social desenvolvido por Murray et al. (2010). O segundo trata-se da abordagem Human Centered Design difundido pela empresa de Design IDEO (IDEO.org., 2015).

2.2.1.1 Design Thinking na Inovação Social

O Design Thinking tem sido proposto como uma abordagem condizente para a Inovação Social. Segundo Komatsu et al. (2016), apesar da difusão do Design

Thinking como a abordagem metodológica mais eficaz para o êxito da

inovação social, o debate têm sido superficial e apresenta uma lacuna no campo da prática de Design. Na visão dos autores não existem distinções de estratégias de Design que visem soluções para o nível político e para o nível operativo.

Uma outra tendência identificada por Komatsu et al. (2016) é que o Design

Thinking têm sido aplicado para analisar processos já executados. Nesse

sentido observa-se a proliferação de estudos que procuram descrever o desenvolvimento da Inovação Social a partir dos princípios de Design. Na visão dos autores a noção da cultura de Design e respetivas práticas no contexto da Inovação Social não tratam somente da dimensão colaborativa entre utilizadores, beneficiários e idealizadores da inovação social. Para Komatsu et al. (2016) a cultura de Design tem a capacidade estratégica de atender as necessidades dos utilizadores, de lidar com constrangimentos relacionados aos fatores tecnológico, organizacional, infraestrutura e comercial que afetam o desenvolvimento do processo de Inovação Social. Para Tonial, Osinski, Roman, & Selig (2017) o Design Thinking é compreendido como uma ferramenta útil para analisar a Inovação Social. Os autores estudaram o caso Broto do Galho no Brasil, considerado pelos próprios um exemplo de Inovação Social. Na nossa opinião, o que de fato acontece neste projeto é o reaproveitamento de resíduos de uma empresa de celulose por parte dos artesãos, cujo material é transformado em peças artesanais. Dizem os autores que se criam peças inovadoras e sustentáveis, caracterizando a conscientização ambiental e a geração de rendimentos para os artesãos. Neste contexto os autores consideram que este é um caso de Inovação Social porquê promove mudanças benéficas para o coletivo. Observamos que no estudo não é explicado como o Design Thinking justifica a Inovação Social ou como esta abordagem é aplicada no processo da Inovação Social. Em suma, os resultados não comprovam que o Design Thinking seja uma ferramenta impulsionadora e um diferencial para a Inovação Social.

Na visão de Brown & Wyatt (2010) o Design Thinking incorpora as ideias dos consumidores e permite a execução de protótipos. Para os autores, se por um lado o Design Thinking auxilia as práticas tradicionais de Design a serem mais inovadoras, a diferenciar o branding e a levar os produtos e serviços ao mercado de forma mais ágil; por outro lado, as organizações sem fins lucrativos estão usando o Design Thinking para desenvolverem melhores soluções aos problemas sociais. Ao trabalhar diretamente com clientes e consumidores, o Design Thinking na visão dos autores permite que soluções de alto impacto surjam no sentido bottom-up, mais do que imposições no sentido up-down.

Brown & Wyatt (2010) apresentam o Design Thinking como uma estratégia nas práticas de Inovação Social, mas não reportam as práticas e a cultura própria de Design que orientam as soluções. A relação entre Design Thinking e Inovação Social é exemplificada pelos autores em um produto específico, uma rede de proteção contra insetos portadores da doença Malária usada na África, cujos autores sugerem ter sido criado pelo pensamento do Design

Thinking.

Outro exemplo a ser mencionado é a empresa Participle na Grã-Bretanha, fundada pela socióloga e empreendedora social Hillary Cottam com o objetivo de desenvolver exemplos de serviços orientados a promover o estado de bem estar social no século XX. Pelo período de 10 anos, equipas multidisciplinares em que estavam incluídas abordagens de Design e uma ampla rede de parceiros geraram respostas para tratar o envelhecimento através do projeto

Circle, a gestão familiar por meio do projeto The Life Programme, as novas

perspectivas aos jovens com o projeto Loops, o desemprego através do projeto Backr e a saúde com o projeto Wellogram. O trabalho conduziu a mudanças positivas na vida das pessoas residentes na Grã-Bretanha. O conhecimento de Design foi incorporado nas atividades da Participle por meio de processos e ferramentas de Design com baixo custo para desenvolver capacidades e relacionamentos entre as pessoas, visando transformar realidades sociais.

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