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AVALIAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DOS EIDs POR ANÁLISE SITUACIONAL

No documento WAINER Terapia Cognitiva Focada em Esquemas (páginas 74-77)

E AUTOMONITORAMENTO

Assim como na terapia cognitivo-comportamental tradicional, na TE também se utiliza bastante o automonitoramento para que o paciente perceba suas reações emocionais e identifique pensamentos, imagens, significados e reações físicas relacionados (Hoffart, 2012). Os EIDs envolvem padrões de reações que são acionados em muitas situações cotidianas e desencadeiam inúmeros pensamentos disfuncionais, bem como estratégias de enfrentamento dasadaptativas. Entretanto, a avaliação e a identificação dos EIDs pela análise situacional requerem o uso maciço da flecha descendente, com o foco maior na emoção e no acesso a crenças nucleares.

Uma possível introdução à análise situacional poderia ser: “Você disse que é difícil confiar nas pessoas. Podemos analisar isso mais a fundo?” ou “Quando você sente isso? Pode me dar um exemplo?”. O terapeuta escolhe duas ou três situações mencionadas pelo paciente e procura um episódio recente, do qual o sujeito lembre detalhes, para ser analisado. Ao examinar a situação, a exploração dos significados dos pensamentos automáticos e imagens mentais, por flecha descendente, pode ajudar a chegar aos EIDs nucleares. Exemplos de intervenções utilizadas: “Se isso fosse verdade (pensamento automático), o que significa para você?”; “Se isso acontecesse realmente, o que mostraria a seu respeito?”; “Se isso fosse real, o que diria sobre sua pessoa?”; “O que poderia acontecer então? Do que você tem medo?”.

Já a análise do comportamento indica como o paciente tenta evitar, compensar ou atenuar a ativação dos seus EIDs, ou seja, suas estratégias de enfrentamento desadaptativas. Identificar as funções das estratégias comportamentais e a quais EIDs estão “servindo” também é importante no entendimento do caso. As seguintes intervenções podem ser usadas: “Quando você tem um encontro, o que pensa que lhe acontecerá?”; “Em seu corpo?”; “Em sua mente?”; “Você faz alguma coisa para prevenir que essas coisas aconteçam?”; “O que você busca com esse comportamento?” (Hoffart, 2012).

Ainda com a análise situacional, é importante que toda reação emocional intensa seja considerada pelo terapeuta, já que ela pode indicar ativação esquemática. Dessa forma, a emoção expressa pelo paciente pode servir como uma pista para a compreensão do EID ativado, como mostra o Quadro 6.1.

QUADRO 6.1

Emoções e sentimentos mais frequentes em cada EID

EIDs Emoções e sentimentos frequentes

Abandono Medo, raiva, tristeza e desespero

Desconfiança/abuso Medo, raiva, solidão, ciúmes e desamparo Privação emocional Solidão, desamparo, tristeza e raiva Defectividade/vergonha Vergonha, tristeza e ansiedade Isolamento social Solidão, ansiedade, raiva e vergonha Dependência/incompetência Ansiedade e insegurança

Fracasso Tristeza, ansiedade, raiva, vergonha e inveja Emaranhamento Ansiedade, culpa e raiva

Vulnerabilidade Ansiedade

Autodisciplina/autocontrole insuficientes Ansiedade, irritação, raiva Grandiosidade/arrogo Raiva, solidão, ansiedade

Subjugação Culpa, raiva e ansiedade

Autossacrifício Culpa e ansiedade

Busca de aprovação Ansiedade, tristeza, ciúmes e inveja Padrões inflexíveis Raiva, ansiedade e culpa

Inibição emocional Vergonha, medo e solidão

Negativismo Ansiedade e tristeza

Postura punitiva Raiva, culpa e tristeza

Fonte: Adaptado de McKay, Lev e Skeen (2012).

Durante a sessão, a ativação esquemática é visível na intensidade emocional da resposta do paciente e pode ser visualizada não somente no conteúdo do que ele comunica como também em sua postura, seu tom de voz e seu olhar. Nesse momento, é importante que o terapeuta se mostre sensível e atento ao que está acontecendo. Essa sensação despertada no paciente deve ser explorada e conectada com outras experiências atuais e passadas; com isso, o profissional auxilia para que haja uma compreensão de padrão de funcionamento esquemático autoperpetuado, como mostra o exemplo a seguir.

EXEMPLO CLÍNICO

Viviane, 43 anos, procura atendimento por explosões de raiva que, segundo ela, estão cada vez mais frequentes.

Terapeuta: Você me contou que, em seus relacionamentos, sempre se vê em posição inferior. Por exemplo, disse que seu marido não a considera e nunca satisfaz suas necessidades sexuais ou emocionais. Suas amigas parecem não querer encontrá-la, e você também me contou como seu pai a ignorava quando estava deprimida. Existe algum padrão aqui?

Paciente: Sim, as pessoas não se importam comigo.

Terapeuta: Ok, então é isso que você percebe em suas relações. Mas existe um padrão na forma como você se vê nos relacionamentos? Paciente: Acho que me vejo como alguém que nunca consegue ser considerada.

Terapeuta: Quando pensa sobre esse padrão de nunca ser considerada, isso a faz pensar algo sobre si mesma? Paciente: Que não tenho ninguém para contar.

Terapeuta: Ok, então se você se vê como não tendo ninguém para contar, isso a faz pensar algo sobre si mesma? Paciente: Acho que não sou importante.

Terapeuta: Por que você não seria importante?

Paciente: Porque sou chata, desinteressante e nunca fui tão bonita quanto minha irmã mais velha, que atraía a atenção de todos. Terapeuta: Então essa é a visão que tem de si mesma: chata, sem atrativos e que, por isso, suas necessidades não são importantes nem

serão consideradas pelos outros?

Paciente: Nunca tinha colocado nesses termos antes. Mas é assim que vejo, eu suponho. Quem poderia gostar de uma criança chata e desinteressante?

Terapeuta: Então você se vê como realmente não merecedora de amor. Poderia ser essa a razão pela qual costuma desistir das relações, ter ataques de raiva ou relacionamentos que não satisfazem suas necessidades?

Paciente: Sim, isso apenas se autoalimenta, não?

Terapeuta: Isso se retroalimenta em sua crença negativa sobre si mesma: sou chata e desinteressante, não sou digna de amor, minhas necessidades não contam, as pessoas não satisfazem minhas necessidades, e isso prova minha teoria. Isso faz sentido para você?

Paciente: Claro, sempre acontecendo da mesma maneira.

Terapeuta: Sua visão sobre si mesma como alguém chata, desinteressante e indigna de amor é o que chamamos de esquema pessoal ou autoconceito.

Esse esquema é mantido pela forma como se relaciona com as pessoas.

Ao longo da identificação dos EIDs, os pacientes começam a observar as influências deles em suas vidas e em seus cotidianos, e essa visão lhes possibilita reconhecer a ativação automática e a generalização desse padrão disfuncional, mesmo que ainda não tenham as ferramentas necessárias para modificá-lo (Hoffart, 2012). Para auxiliar nesse objetivo, o terapeuta pode solicitar que o paciente construa um diário de esquemas, no qual registra suas sensações, ativações esquemáticas, pensamentos e comportamentos. Em um modelo mais avançado de automonitoramento de esquemas, o profissional pode incluir memórias infantis relacionadas à situação atual, como no modelo sugerido no Quadro 6.2.

No documento WAINER Terapia Cognitiva Focada em Esquemas (páginas 74-77)