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ESQUEMAS INICIAIS DESADAPTATIVOS

No documento WAINER Terapia Cognitiva Focada em Esquemas (páginas 46-48)

Os EIDs são conjuntos de crenças nucleares referentes a temas centrais do desenvolvimento emocional. Eles estabelecem padrões comportamentais, cognitivos e emocionais para lidar com tais temas quando estiverem em pauta na vida do indivíduo. Desenvolvem-se desde a tenra infância até a adolescência e influenciam recorrentemente toda a vida do sujeito, trazendo sofrimento e/ou prejuízo em diversos contextos. A TE afirma que alguns EIDs, em especial aqueles desenvolvidos na infância inicial e decorrentes de experiências negativas, são centrais no aparecimento de transtornos da personalidade e em outras condições mentais (Young, 2003).

Da mesma forma que os esquemas mentais da terapia cognitiva (TC) tradicional, os EIDs também são estruturas que armazenam crenças, suposições, regras e outras memórias. Entretanto, enquanto os esquemas mentais propostos pela TC refletem frequentemente crenças condicionadas (p. ex., se me conhecerem, serei rejeitado), os EIDs têm conteúdos mais primitivos e que formam a base inicial para o desenvolvimento da maioria de nossos outros esquemas mentais. Além disso, os EIDs são vistos como absolutamente verdadeiros e são bastante refratários à avaliação lógica de seu conteúdo. Essas razões fazem sua abordagem na terapia requerer técnicas distintas daquelas tradicionais da TC.

Os EIDs são gerados por uma interação entre três fatores: o temperamento emocional (geneticamente herdado), as experiências sistemáticas com as figuras de afeto da infância e o grau de gratificação das necessidades emocionais básicas de cada período do desenvolvimento, como já explicado em capítulo anterior.

Contudo, eles não decorrem, necessariamente, de traumas ou maus-tratos na infância. Young, Klosko e Weishaar (2008) afirmam que os EIDs que se ativam com mais força, e que são mais cedo desenvolvidos, surgem a partir de experiências inadequadas e continuadas na família nuclear.

São 19 os EIDs identificados pela TE, os quais são agrupados em cinco categorias de necessidades emocionais não satisfeitas em sua totalidade, chamadas de domínios esquemáticos.

DOMÍNIOS ESQUEMÁTICOS

No processo de desenvolvimento de sua personalidade/identidade, o ser humano passa por cinco etapas evolutivas sucessivas, durante as quais se estabelecem as principais crenças e regras do indivíduo sobre tópicos/aspectos cruciais da vida. São os domínios esquemáticos (DEs). As teorizações de Young sempre tiveram um caráter clínico, e, portanto, as concepções já indicam situa​‐ ções em que ocorreram problemas na passagem pelos DEs. Assim, a nomenclatura aqui utilizada se refere às dificuldades provenientes de cada etapa de desenvolvimento.

O primeiro DE é intitulado desconexão e rejeição, e pessoas com EIDs desse domínio comumente acreditam que suas necessidades básicas de cuidado, proteção, empatia, segurança e estabilidade não serão atendidas (Young et al., 2008). Tais EIDs são os seguintes: abandono/instabilidade, desconfiança e abuso, privação emocional, defectividade/vergonha, isolamento social/alienação e indesejabilidade social.

A necessidade básica a ser suprida para a transição saudável durante esse primeiro DE é a de afeto. Assim, um aporte de afeto inferior ao necessário às demandas oriundas do temperamento da criança determinará problemas nesse domínio e, portanto, o estabelecimento de EIDs compatíveis a esse período cronológico. Pode-se, então, dizer que as maiores fontes de problemas nesse DE são as negligências afetivas e/ou traumas que suprimam essa demanda de afetividade por parte dos cuidadores.

O segundo DE é conhecido como autonomia e desempenho prejudicados, e pessoas com EIDs nesse domínio têm dificuldades em perceber sua ​capacidade ​de viver de forma independente e funcional. Tais EIDs são: dependência/incompetência, vulnerabilidade (em todos os âmbitos possíveis), emaranhamento, fracasso.

Nessa segunda etapa evolutiva, a necessidade emocional básica a ser suprida pelos cuidadores é dar oportunidades de autonomia e de exploração do ambiente, bem como um “olhar” de confiança e incentivo à criança. Problemas nesse DE podem surgir, portanto, por superproteção ou criticismo excessivo.

O terceiro DE é o dos limites prejudicados, caracterizado por dificuldade em respeitar os direitos das outras pessoas e em cumprir metas e compromissos pessoalmente assumidos. Os EIDs pertencentes a esse domínio são: merecimento/grandiosidade, autocontrole e autodisciplina insuficientes. Espera-se que os pais possam proporcionar as diretrizes da vida em sociedade, fornecendo as bases do desenvolvimento moral dos filhos. Cuidadores muito indulgentes, negligentes ou mesmo exageradamente críticos e severos ao colocar limites tendem a gerar filhos com déficits de consideração pelos direitos alheios.

O quarto DE é chamado de orientação para o outro, sendo caracterizado pela preocupação exacerbada com as necessidades alheias, em detrimento das próprias. Os EIDs pertencentes a esse domínio são: subjugação, autossacrifício, busca de aprovação/busca de reconhecimento. Normalmente, a imposição de condições para a troca afetiva (amor condicional) é o principal causador de déficits nesse DE.

Já o quinto DE é o da supervigilância e inibição. Déficits nas necessidades básicas desse domínio conduzem à supressão de impulsos e sentimentos espontâneos, pois costumam levar o sujeito ao esforço para cumprir regras rígidas e inflexíveis quanto ao desempenho pessoal. Os EIDs pertencentes a esse domínio são: negativismo/pessimismo, inibição emocional, padrões inflexíveis/postura crítica exagerada, postura punitiva.

Considera-se vital para a adequada passagem por esse DE a existência de ambientes e cuidadores que validem todos os sentimentos e emoções da criança ou adolescente, permitindo que este perceba, entenda e aceite todo o espectro emocional da experiência humana. Assim, tal criança/adolescente poderá desenvolver repertórios comportamentais e cognitivos para gerenciar todas as suas emoções.

Partindo desse pressuposto, é importante frisar que as pessoas desenvolvem maneiras de lidar com seus esquemas, para que não tenham de vivenciar as emoções intensas despertadas por eles toda vez que ativados. Entretanto, essas estratégias de enfrentamento do EID nem sempre são saudáveis e funcionais, de modo que podem acentuar ainda mais o sofrimento. Para Young e colaboradores (2008), o EID isolado irá conter experiências, memórias, cognições, emoções e sensações, porém não contempla os comportamentos de enfrentamento.

No documento WAINER Terapia Cognitiva Focada em Esquemas (páginas 46-48)