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Avaliação e identificação do esquema

No documento WAINER Terapia Cognitiva Focada em Esquemas (páginas 106-108)

Antes de iniciar o trabalho com imagens mentais, é necessário que o paciente compreenda seu funcionamento do ponto de vista racional, verifique padrões esquemáticos comumente ativos e os estilos de enfrentamento que são utilizados para a manutenção, evitação e compensação dos EIDs. A identificação parte da avaliação dos problemas atuais, dos padrões característicos do desenvolvimento evolutivo infantil, do temperamento e da disposição emocional e vai sendo investigada ao longo das sessões com a utilização de técnicas cognitivas e questionários; destes, o Questionário dos Esquemas (QE) e o Inventário Parental de Young são os mais utilizados (Young et al., 2008). O terapeuta também pode indicar filmes, livros e documentários para auxiliar nessa identificação. A partir de então, será possível fazer a conceitualização clínica e a psicoeducação quanto aos padrões esquemáticos do paciente (Young et al., 2008).

Sugere-se que, nos primeiros 15 minutos das sessões, sejam revisadas situações que ocorreram durante a semana, com o intuito de classificar a temática e verificar o conteúdo das situações que foram emocionalmente significativas ao paciente. Em um segundo momento, pede-se ao paciente que tente lembrar de alguma situação ocorrida no mês anterior, no ano anterior, na adolescência, etc., até que seja identificado um fato em que ele tenha se sentido daquela mesma forma e pensado o mesmo,

como situações experimentadas na infância. Por meio da técnica de imaginação, o esquema disfuncional é ativado, e o terapeuta auxilia (se necessário) o paciente a dizer o que sente, bem como de que precisa, para que, posteriormente, ele repita o mesmo com a figura parental. No terceiro momento, realiza-se a conceitualização da situação que provavelmente originou o esquema e avalia- se as respostas atuais. Para a identificação esquemática, o terapeuta pode sugerir o seguinte:

EXEMPLO CLÍNICO

Vitor, 40 anos, é solteiro e buscou psicoterapia por ter dificuldades ao relacionar-se com mulheres; acredita que em seus relacionamentos não há reciprocidade afetiva. Para ele, as mulheres são inadequadas, ou por excesso, ou por falta de qualidades, o que evidencia o esquema de defectividade, bem como as necessidades que não foram atendidas na infância.

Terapeuta: Pensei em fazer um exercício imagístico que nos ajudará a entender melhor como seus problemas atuais estão relacionados com a sua infância. O que você acha disso?

Paciente: Humm... pode ser.

Terapeuta: Essa técnica é a melhor maneira de obter uma compreensão em um nível emocional, em vez de apenas falar sobre o passado. Todo o exercício levará cerca de 10 minutos. Depois, nós vamos discutir o que aprendemos com o exercício. Você tem alguma pergunta? Paciente: Não.

Terapeuta: Podemos iniciar?

Paciente: Sim (se ajusta na poltrona).

Terapeuta: Vamos lá! Você pode fechar os olhos? Paciente: [suspira] Não consigo.

Terapeuta: Não tem problema. Você pode deixá-los abertos, mas tente olhar para um ponto fixo. Paciente: Assim é melhor.

Terapeuta: Que bom. Agora, imagine que você é uma criança outra vez. Imagine tão vividamente quanto possível uma cena incômoda com um de seus pais, e eu vou lhe perguntar o que acontece na imagem (terapeuta aguarda um momento, para o paciente conseguir se conectar à cena).

Terapeuta: Onde você está?

Paciente: No banheiro da minha casa, meu pai está junto. Terapeuta: Quantos anos você tem?

Paciente: Onze.

Terapeuta: O que está acontecendo na imagem?

Paciente: Meu pai está me xingando. Ele está bravo por alguma coisa que eu fiz. Grita que eu sou um merda e que eu não sirvo para nada. O olhar dele está parecendo o de um monstro, como das outras vezes em que ele me bateu, dizendo que tudo o que eu fazia era errado.

Terapeuta: O que você sente (como pequeno Vitor)?

Paciente: Medo! Eu estou com muito medo de que ele me bata, tenho medo de ficar sozinho, de ninguém querer ficar perto de mim. Terapeuta: E o que está passando pela sua cabeça enquanto o seu pai está gritando com você?

Paciente: Que ele tem razão. Ele está certo, eu não sirvo para nada. Terapeuta: Qual é a sua vontade nesse momento?

Paciente: Eu só quero sair daqui, que isso tudo acabe e que ele não me bata. Eu acho que ele não gosta de mim. Terapeuta: Você está sentindo mais alguma coisa? Alguma sensação física?

Paciente: Estou gelado, suando frio... com dor de barriga. Terapeuta: O que está acontecendo nesse momento?

Paciente: Meu pai está na minha frente, gritando muito comigo, e eu fico paralisado... não falo nada, só escuto. Terapeuta: Tem mais alguém aí?

Paciente: Sim, minha avó está sentada no sofá da sala. Terapeuta: Qual a reação dela nesse momento?

Paciente: Nenhuma.

Terapeuta: O que você gostaria de mudar nessa cena? O que poderia ser diferente nesse momento com seu pai?

Paciente: Que ele não gritasse comigo, que me explicasse melhor as coisas, porque eu não fiz nada contra ele que justifique ser tratado dessa forma... queria que gostasse de mim.

Terapeuta: Então, diga isso ao seu pai.

Paciente: [fica em silêncio e se emociona]. Pai, quero que você me explique as coisas para eu não errar, que converse mais comigo, me pergunte sobre as minhas coisas. Eu acho que você não gosta de mim quando grita comigo, mas não quero lhe desagradar, e parece que tudo que faço sempre lhe desagrada.

No exemplo descrito, podemos identificar os sentimentos latentes e o conteúdo que deram origem ao esquema disfuncional.

Durante o exercício, recomenda-se que o terapeuta verifique se o paciente está imaginando a cena no ponto de vista da criança. Se não, o profissional suavemente instrui o paciente a imaginá-la sob essa perspectiva. Da mesma forma, o indivíduo é instruído a usar o tempo presente e a primeira pessoa — “eu” (“Eu preciso ser reconhecido”, e não “A criança pequena precisa ser elogiada”). O terapeuta pode estimular o paciente a conversar com o pai, por exemplo, e ver o que acontece na imagem. É suficiente quando o significado emocional da imagem se tornou claro, pois uma reedição dela é feita em outro momento. Depois, a dupla discute as emoções que eram aparentes no imaginário, as necessidades da criança pequena e o grau em que as necessidades foram (ou não) atendidas. A imagem de diagnóstico com algum outro familiar é feita na sessão seguinte, e as informações encontradas integrarão a conceitualização do caso que irá ser utilizada para orientar o tratamento posterior (Young et al., 2008).

MUDANÇAS ESQUEMÁTICAS COM IMAGENS MENTAIS

No documento WAINER Terapia Cognitiva Focada em Esquemas (páginas 106-108)