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Avanço das campeãs brasileiras no Peru e internacionalmente e o apoio do BNDES a partir de Lula

ANEXO V: Goldman Environmental Prize Concedido à Ruth Buendía Ashaninka

Mapa 1 Mapa do Corredor Transoceânico Fonte: Campos, 2011.

2.2.2. Avanço das campeãs brasileiras no Peru e internacionalmente e o apoio do BNDES a partir de Lula

“A Integração Sul-Americana, um dos principais pilares da política externa brasileira, passou a ser parte da missão do BNDES, a partir de 2003, tendo em vista que a expansão dos mercados nacionais e do comércio entre os países é fundamental para acelerar o desenvolvimento econômico com justiça social.”

Trecho retirado do Informe BNDES, nº 187, nov. 2004.57

Papel do BNDES no apoio à Internacionalização das Campeãs Nacionais e no financiamento da infraestrutura regional

O carisma do presidente Lula e a elaboração de uma nova política externa menos voltada para os Estados Unidos e a Europa, e mais para a América Latina e a África também contribuíram para o crescimento econômico dos grupos brasileiros58. Ao longo de seus dois mandatos (2003-2010), o presidente Lula viajou, por exemplo, para vinte países da África e abriu o continente a 37 embaixadas e consulados. A cada vez, o BNDES ofereceu empréstimos para as empresas brasileiras ganharem mercados, especialmente contra a concorrência chinesa (VIGNA, 2014). Este é o efeito do apoio introduzido no governo Lula de promover as empresas “campeãs nacionais”, que possam revelar-se competitivas no cenário internacional, conforme será discutido aqui. O fato das empreiteiras campeãs nacionais serem apoiadas para internacionalização de seus negócios pelo aparelho estatal também é uma de suas principais características.59

Desta maneira, desde 2003, com a eleição de Lula para presidente e a priorização da integração sul americana como lema de Estado, o fortalecimento da integração da América do Sul passou também a fazer parte da missão do BNDES. A partir deste ano, os objetivos principais do banco passaram a ser: a expansão do comércio entre os países; a atração de

57 BNDES, 2004. “Integração da América do Sul: o BNDES como agente da política externa brasileira”.

58 O incentivo à promoção das campeãs nacionais continuou após o término do mandado de Lula, através da sua

atuação pessoal por meio do Instituto Lula. A atuação de Dilma neste sentido é tímida e discutida no item 4.5.2 (b).

59 Em dois anos, o banco financiou cerca de R$ 5,4 bilhões em projetos realizados pela Odebrecht na África e na

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investimentos, sobretudo em infraestrutura; o ganho de escala na produção; capacitação tecnológica e humana mediante cooperação e o fortalecimento do poder de negociação dos países (BNDES, 2004).

Neste sentido, durante o governo Lula, o BNDES foi chamado a participar como agente financeiro em diversos empreendimentos. Segundo Carvalho (2012), os eixos de maior repercussão da atuação do BNDES foram o apoio à internacionalização das empresas brasileiras, que teve na América do Sul um dos principais destinos do recebimento desses investimentos, e o financiamento de obras de infraestrutura na região. Adicionalmente, outro eixo frequentemente ignorado com importância significativa na atuação do BNDES na integração regional, é a sua participação em órgãos regionais do processo integracionista e em grupos interministeriais para elaboração de políticas voltadas para a integração.

O BNDES participa do financiamento da infraestrutura regional através de três formas: i) financiando projetos da carteira da Iniciativa para Integração Regional Sul-Americana (IIRSA)60; ii) em parceria com a Corporação Andina de Fomento (CAF) e iii) na concessão de financiamento direto às empresas61. Em todas essas frentes, a atuação do BNDES ocorre, em última instância, pela disponibilização de recursos às empresas brasileiras para exportação de bens e serviços, categoria na qual se incluem os serviços de engenharia e construção. (adaptado de CARVALHO, 2012).

Não existe consenso na literatura especializada sobre o impacto dos financiamentos do BNDES para o aprofundamento da integração regional. Por um lado, conforme já mencionado, falta convergência sobre a validade da IIRSA como instrumento de adensamento do processo integracionista. Por outro lado, não se encontra disponível ao público, uma base de dados clara e exaustiva sobre todas as obras financiadas pelo BNDES na América do Sul, sob o argumento de respeito ao sigilo bancário das empresas62. Nem tão pouco está transparente ao público se

60 A IIRSA parte da constatação de que há uma grande defasagem infraestrutural em toda a região, tanto dentro dos

países como entre eles, a qual precisa ser superada a fim de possibilitar maior crescimento às economias nacionais e maior comércio e conexão entre estas. Desse modo, é a partir dessas reflexões que o envolvimento do BNDES nessa iniciativa é considerado como um dos referenciais para qualificar sua participação no aprofundamento da integração sulamericana. (CARVALHO, 2012)

61 Estes financiamentos a empresas podem ser para a produção, na forma de supplier credit ou para a

comercialização, refinanciando o importador, com a modalidade de buyer credit. (CARVALHO, 3:2004).

62 Vale ressaltar que em 2015, tal sigilo bancário passa a ser questionado judicialmente pelo Ministério Público

Federal e Câmara dos Deputados, sendo que o STF determinou que o BNDES detalhe algumas operações financeiras. Notícia em http://www.prdf.mpf.mp.br/imprensa/22-04-2015-mpf-df-recomenda-que-bndes-de-

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existem ou quais seriam as condicionantes e salvaguardas socioambientais praticadas pelo banco para que o empreendimento financiado tenha o menor impacto negativo possível em termos socioambientais63. Apesar de, desde 1976, setores do BNDES se esforçarem para construir uma série de salvaguardas socioambientais, o banco não é signatário nem dos Princípios do Equador, um conjunto de princípios e critérios sociais e ambientais que uma série de bancos internacionais exige como requisito para possibilitar o seu financiamento a uma determinada obra64.

Em virtude destas salvaguardas não existirem no BNDES, a campanha transnacional contra o Acordo Energético Brasil-Peru que analisaremos nos capítulos 4 e 5 ressalta que a construção das hidrelétricas envolvidas nestas tratativas, por envolverem empresas brasileiras e por isso potencial financiamento do BNDES, não estará sujeita às salvaguardas socioambientais e padrões internacionais. Sobre a formulação de salvaguardas socioambientais pelo BNDES, desde 2011, existe um grupo de ONGs sul americanas e internacionais chamado BNDES en mira tentando um diálogo com o banco a respeito e que está propondo uma série de salvaguardas já praticadas, por exemplo, pelo Banco Mundial. Tal grupo é liderado pelas organizações Inesc, Ibase (Brasil) e DAR (Peru) e tem produzido diversos estudos comparando as salvaguardas em vigor entre os bancos de desenvolvimento regionais como China, Brasil e os multilaterais65.

transparencia-aos-relatorios-socioambientais Além disso, um projeto de lei da Câmara dos Deputados veta o sigilo bancário aos empréstimos públicos do BNDES. Notícia “Aprovado projeto que derruba o sigilo dos

empréstimos do BNDES” publicada em 23 de abril de 2015,em

http://www.alvarodias.com.br/2015/04/aprovado-projeto-que-derruba-o-sigilo-dos-emprestimos-do-bndes Porém, tal projeto foi vetado por Dilma em 22/5/2015, alegando que “o banco tem políticas de transparência e que a divulgação irrestrita de informações sobre as operações bancárias feriria sigilos e prejudicaria o empresariado ao propagar dados sobre a política de preços praticada”. Notícia disponível em

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/ECONOMIA/488637-DILMA-VETA-FIM-DE-SIGILO- DO-BNDES-E-AUMENTO-DE-LIMITE-DO-CREDITO-CONSIGNADO.html

63 A este respeito, foi fundado em 2015 o grupo Coalición Regional por la Transparencia y Participacipación por

membros de ONGs na América do Sul para fomentar o diálogo, transparência e participação em governos e instituições financeiras e principalmente no BNDES conforme será discutido nos itens 4.3.8. (em argumentos da campanha) e 4.4.2. (estratégia da campanha) do capitulo 4.

64 A propósito, a matéria Na Pan-Amazônia, o BNDES financia obras à moda brasileira, de 28/11/2013, O ECO,

por FONSECA, B.; MOTA, J. 2013b. Disponivel em http://www.oeco.org.br/especiais/bndes-na-

amazonia/27805-na-panamazonia-o-bndes-financia-obras-a-moda-brasileira/

65 Altas y bajas en las salvaguardas ¿Cómo actúan BNDES, China ExIm Bank, CAF y BID? Resumen Ejecutivo.

Lima: DAR, 2014. Coalision Regional por la Transparencia y la participación. Outubro, 2014. Disponivel em

http://www.cedla.org/sites/default/files/Como_actuan_BNDES_China_Exlm_Bank_CAF_y_BID_0.pdf. Acesso em 01/11/2014 e CONECTAS, “Desenvolvimento para as pessoas? O financiamento do BNDES e os

diretos humanos”, 2014, publicado em 18.8.2014. Disponível em

http://www.conectas.org/arquivos/editor/files/Conectas_BNDES%20e%20Direitos%20Humanos_Complet o_Final_Transpar%C3%AAncia(1).pdf

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Muitos dos membros deste grupo também pertencem à rede que constituiu a campanha transnacional contra o Acordo Energético Brasil-Peru, sendo que esta estratégia de acusação, seguida de diálogo com o banco, é uma das formas de atuação de sua campanha analisada no capítulo 466.

Desde 2003, a economia brasileira passou por um grande e rápido processo de internacionalização por meio de realização de investimento externo direto (IED). Essa fase é influenciada por fatores internos, regionais e globais. Para os internos, o cenário de estabilidade macroeconômica do Brasil neste período colaborou para que as empresas acessassem uma estrutura financeira pública e privada propícia ao crédito e por consequência, com para o seu crescimento. A este respeito, o BNDES incorporou em 2003 à sua missão o objetivo estratégico de atuar como uma instituição financeira para a integração sul-americana, inaugurando uma linha de crédito específica para internacionalização de empresas brasileiras para “contribuir com o desenvolvimento social e econômico do Brasil através da criação de novos mercados, aprendendo novas tecnologias e promovendo o país”.

Segundo WRI, o BNDES é a máquina financeira por trás do boom doméstico, com um papel pioneiro no crescimento da presença internacional do Brasil e um player chave no desenvolvimento sul-sul na era Lula. No relatório do BNDES de 2011, neste ano o BNDES superou os demais bancos públicos (como Banco Mundial, asiático, BID, Africano) em volume de empréstimos com aproximadamente US$ 70 bilhões. Dentro deste montante, o maior setor beneficiado com os empréstimos foi infraestrutura que recebeu 40% dos empréstimos, pois o BNDES passou a apoiar empresas brasileiras que participam de leilões públicos internacionais relacionados a projetos de infraestrutura. Vide mapa abaixo.

66 O diálogo e aproximação com outros atores mais poderosos como o BNDES é uma das estratégias utilizadas pela

campanha transnacional contra o Acordo, categorizada como Leverage Politics por Keck & Sikkink (1998), conforme discutido no capítulo 1.

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Fonte: World Resources Institute (WRI), 2012a.

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