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ANEXO V: Goldman Environmental Prize Concedido à Ruth Buendía Ashaninka

CAPITULO 1 CONSTRUTIVISMO SOCIAL, REDES TRANSNACIONAIS DE DEFESA DE DIREITOS E COMUNIDADES EPISTÊMICAS

1.4. Categorias conceituais de atores da campanha transnacional contra o Acordo

1.4.3. Comunidades Epistêmicas, Conhecimento e o Construtivismo

KECK & SIKKING (1998) e RISSE-KAPPEN (1995) criaram uma tipologia para as táticas utilizadas por redes transnacionais de defesa de direitos. São elas: a) Uso de informação e o processo de Framing; b) Politicas simbólicas; c) Influência política e (d) transparência na política e o Envergonhamento público (shaming). Abaixo discutiremos cada uma delas.

1.4.3. Comunidades Epistêmicas, Conhecimento e o Construtivismo

A comunidade epistêmica analisada em nossa campanha caracteriza-se como agência movida por argumentos próprios compartilhados que questiona os paradigmas dominantes a favor da construção de hidrelétricas. Incumbe a esta comunidade o papel fundamental de complexificar e desenvolver argumentos para erodir o paradigma dominante questionando as virtudes de barragens trazidas por inúmeros economistas, engenheiros hidráulicos, especialistas em políticas públicas entre outros profissionais da área para os quais as grandes barragens são empreendimentos profundamente mais vantajosos e praticamente sem problemas para o desenvolvimento social de uma sociedade. O paradigma dominante pode ser traduzido no lema "quanto mais produzir eletricidade em larga escala, maior economia gerada", ocupando a comunidade epistêmica da campanha ora analisada uma posição secundária no cenário de forças regionais dominantes. Por estas razões, a comunidade epistêmica é peça fundamental para construção dos argumentos para a ação política empreendida pela RTDD contra o paradigma dominante, podendo ser entendida como um forte instrumento de alavancagem do poder da campanha.

A respeito da ação política coletiva empreendida pela campanha, ressaltamos que esta depende da medida em que um conjunto específico de premissas compartilhado no interior das instituições, estados e outros grupos e entre eles que pode ter níveis diferentes de compartilhamento, dependendo do estágio da evolução cognitiva. Em contraste com as teorias estáticas das relações internacionais, a evolução cognitiva representa um processo de inovação e de seleção política que tem o efeito de canalizar a ação em novas direções. A evolução cognitiva é composta essencialmente por três dimensões:

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2. Seleção: na medida em que os valores e as expectativas se enraízam nas mentes dos membros do grupo; e

3. Difusão: o grau em que os novos valores e expectativas alastram de um grupo ou estado para outro grupo ou estado.

Ao longo do processo que constitui a evolução cognitiva, as comunidades epistêmicas, que dispõem de um entendimento partilhado de um determinado objeto e que desenvolvem estratégias para alcançar os seus objetivos, desempenham um papel inovador de grande relevância.

Segundo o autor Peter M. Haas, uma comunidade epistêmica é uma rede de profissionais com reconhecida especialização e competência num domínio particular e com uma afirmação de autoridade sobre conhecimento politicamente (policy) relevante naquele domínio ou área. Embora os profissionais desta comunidade tenham perfis e backgrounds diferentes, o expoente enumera quatro elementos comuns, quais sejam (HAAS, 1992, p.3):

(1) Um conjunto comum de crenças normativas e de princípios, que provê uma rationale de base valorativa para ação social dos membros da comunidade;

(2) Crenças causais, ou seja, aceitam as mesmas relações causais para problemas, que são derivadas de suas análises de práticas, gerando, ou contribuindo para um conjunto central de problemas no seu domínio e que servem, como base para elucidação de múltiplos laços entre ações políticas possíveis e resultados desejáveis;

(3) Noções compartilhadas de validação, isto é, critérios intersubjetivos, internamente definidos para avaliar e validar conhecimento no domínio de sua especialidade;

(4) Um empreendimento político (policy) comum, isto é, um conjunto de práticas comuns associadas com um conjunto de problemas para os quais sua competência profissional é dirigida, presumivelmente resultante da convicção que o bem estar humano será aumentado como uma consequência dessas práticas21.

21 A comunidade epistêmica do estudo de caso em tela é convicta que grandes hidrelétricas não são as melhores

opções para geração de eletricidade para a bacia Amazônica, ainda mais em regiões habitadas por populações tradicionais.

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O conceito de comunidade epistêmica traz à luz o papel do conhecimento científico na transformação social, através do relacionamento no âmbito interno ou transnacional entre vários profissionais, que por sua vez, possuem acesso a canais, que os ligam aos processos decisórios internos e intergovernamentais. Segundo Finnermore & Sikkink (2001), são grupos que detêm um conhecimento específico que desejam usá-lo para fins políticos. Podem se agrupar em grupos específicos ou não e utilizam o conhecimento para alavancar o poder de influência aos atores estatais ou empresas. Mais do que um conceito, trata-se de uma abordagem que enfatiza o “aprendizado internacional”’ ou uma das formas de articular teoricamente uma nova realidade, que é a formação e atuação de redes sócio-políticas, porém, não é a única, já que se trata de um modo específico de ação em rede baseada, principalmente, em conhecimento científico, ou ideias causais compartilhadas (Keck e Sikkink, 1988, p. 30).

Peter Haas (1992, p.3) afirma que a lógica causal da política epistêmica para influenciar mudanças políticas depende de três dinâmicas: 1) A incerteza, 2) a interpretação e 3) a institucionalização.

A incerteza decorre da alta complexidade de cada assunto que o tomador de decisão necessita lidar, o que por sua vez, causa dúvida e insegurança de sua parte, o levando a procurar especialistas no assunto. Tais especialistas são justamente aqueles que procurarão sanar as dúvidas dos tomadores de decisão com informações qualificadas, mas ao mesmo tempo, politicamente orientadas com a sua interpretação e convicção politica.

A força desta influência aumenta na medida em que os tomadores de decisão passam eles mesmos a buscar o aconselhamento provido pelos especialistas, desta maneira institucionalizando esta influência e permitindo que suas interpretações e convicções penetrem na política nacional ou internacional de maneira mais ampla.

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1.5. Estratégias de Atuação dos Atores da Campanha: Redes Transnacionais de Defesa

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