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3. Frei Servando Teresa de Mier no primeiro e segundo Congressos Constituintes Mexicanos

3.3 Principais manifestações de Mier no Congresso de 1823

3.3.1 Bases do Plano de Constituição e da Exposição de motivos

Pelo Plano de Constituição, a nação mexicana declarava-se independente da espanhola e com plenos poderes para constituir o governo que assegurasse seu bem geral, com base na reafirmação dos direitos de igualdade, liberdade e propriedade, desde que as leis que os estabelecessem tenham sido acordadas em sessão no Congresso por meio dos representantes do país. Seriam deveres dos cidadãos: professar a religião católica apostólica romana como única do Estado, respeitar as autoridades legitimamente estabelecidas, não ofender aos semelhantes e cooperar com o bem geral da nação.

A voz das províncias mexicanas expressava o desejo de uma república federal, vendo-se nesse sistema um meio de assegurar a igualdade de todos, haja vista os progressos vividos pelos Estados Unidos. Mas o federalismo, em certos aspectos, poderia ser danoso, pois o povo, ao

229 TERESA DE MIER, Servando. Ideário politico - Fray Servando Teresa de Mier. v.XLVIII. Estudo preliminar e

perceber que as criações políticas seriam obras relativas aos seus interesses, exaltar-se-ia e seria difícil coadunar diferentes vontades. Dessa forma, o sistema federativo que partisse um Estado em vários estados seria uma instituição perigosa, já que os homens se faziam fortes pela união.

Não se reconheceria outro poder que o da nação, cuja soberania seria única, inalienável e imprescindível, haja vista que o poder nas mãos de um só homem geraria despotismo e que toda acumulação excessiva seria perigosa. Desse modo, seria necessário o equilíbrio de forças para que os povos não fossem vítimas de uma nação arbitrária. A nação exerceria seus direitos por meio dos cidadãos que seriam responsáveis por eleger os indivíduos do corpo legislativo, do Senado, dos congressos provinciais e dos Ajuntamentos. Todavia, a eleição, ao menos por enquanto, não seria de forma direta.

No que se referia ao corpo legislativo, o processo eleitoral seria feito segundo a população respectiva de cada província, com vistas a se formar o Congresso Nacional. O corpo parlamentar seria uno, seguindo-se as comissões européias, como a Francesa e Espanhola, bem como a Peruana, no que concernia à unidade de câmara. Essa escolha se explica pelo fato de que o Congresso bicameral representaria a aristocracia e obstaculizaria a vontade geral ao dar origem a intrigas e combates. O corpo legislativo seria composto de deputados invioláveis por suas opiniões, com a competência de gerir e administrar a criação das leis, respeitando as regras estabelecidas pelo Estado Mexicano, bem como de preservar e assegurar a boa administração do Estado, estabelecendo regras para seu bom funcionamento.

Um Congresso uno em sua organização seria legislador dos povos, mas não as executaria. Disso resultaria a necessidade de um corpo executivo com a tarefa de fazer com que todas as leis fossem executadas em todos os pontos do país. Por isso, todo governador deveria ter faculdades precisas para governar, cabendo ao legislativo, no entanto, a competência de decidir os limites de seu poder. Dessa maneira, respeitar-se-iam os direitos da nação e não se daria tanta liberalidade de decisão ao executivo, devendo-se ouvir ao Senado no corpo legislativo. Os representantes do executivo seriam eleitos a cada quatro anos, em razão do fato de que a perpetuidade tenderia à formação de sistemas funestos, e, com isso, os presidentes da nação estariam sujeitos à responsabilidade e obrigados a ouvir a voz do Senado e dos congressos.

Os congressos provinciais seriam responsáveis pela criação do plano de governo das suas províncias respectivas, zelando pela sua administração e seus prefeitos seriam seus executores. Tudo aquilo que fosse necessário para o governo interior da província e não tocasse a esfera do político da nação como um todo, ou seja, em matérias da competência do Congresso Nacional, formariam a área precisa das atribuições dos prefeitos.

O ponto de maior necessidade do México era relativo à educação. Um governo que se fundasse nos direitos dos cidadãos deveria aperfeiçoar suas faculdades para que todos pudessem

conhecê-los. As normas deveriam ser estendidas para todas as classes e deveriam ser ensinados princípios de moral com base na Constituição. Além disso, em toda província deveria existir um instituto provincial como centro que daria impulso às ciências e às artes, assim como no país deveria haver um instituto nacional posto sobre a proteção de um Congresso nacional, órgão responsável por mobilizar a ilustração e o conhecimento. Por ser o conhecimento a origem de todo bem individual e social, para difundi-la todos os cidadãos, poderiam se formar estabelecimentos particulares de educação.

Com relação à administração da justiça, seriam juízes todos aqueles que tivessem as luzes necessárias para sê-lo, isto é, aqueles que tivessem virtudes e talentos precisos para conhecer a lei. A proposição de judicaturas e magistraturas far-se-ia em proposta a um Senado eleito pelo povo, onde os juízes e magistrados exerceriam funções de também zelar pelas infrações contra a Constituição. Porém, seria necessário posteriormente estabelecer leis que impusessem limites à jurisdição, delimitando seus deveres. O sistema jurídico deveria ter organização simples, em razão de que exerceria profunda influência nas ações dos cidadãos, nos seus direitos de propriedade e existência. Os indivíduos da nação mexicana seriam julgados por juízes a quem a lei tenha designado. Também seriam simplificados os códigos civil e criminal e, quando a nação estivesse em adiantada civilização, seriam estabelecidos jurados civis e criminais.

Para finalizar, o Senado seria composto de dois cidadãos de cada província, eleitos pelas juntas eleitorais e nomeados pelos congressos provinciais, pois uma de suas funções seria a de zelar pela conservação do sistema constitucional em todos os pontos do país. Entretanto, a principal finalidade do corpo senatorial seria a de conservar e analisar o fruto das deliberações do legislativo e das ações do executivo, estabelecendo-se como ponto de equilíbrio dos poderes do Estado, de conservação das suas instituições políticas e do sistema constitucional ao propor mecanismos necessários que assegurassem esse fim. O principal objetivo desse Plano de Constituição foi o de atingir os interesses da nação, sendo ela o único poder reconhecido e soberano de onde emanariam todas as autoridades.