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2.1 Da escola positivista à sócio-construtivista

2.1.1 Behaviorismo

Com suas raízes no positivismo clássico, a abordagem behaviorista ou comportamentalista obteve uma profunda influência no ensino de línguas no mundo inteiro. Sua ideia fundamental era que toda aprendizagem poderia ser explicada como alguma forma de condicionamento. A exemplo, Pavlov, autor da teoria E-R (estímulo-resposta) ou teoria do condicionamento clássico, demonstrou com cães e outros animais que uma resposta – ex. salivação - produzida por um estímulo – ex. comida – poderia ser introduzida por um segundo estímulo – ex. sino - ao mesmo tempo.

Em especial nos Estados Unidos, onde obteve grande aceitação, a experiência de Pavlov inspirou behavioristas tradicionais a entenderem a aprendizagem de uma língua como o resultado de associações entre palavras e objetos ou eventos. Essas associações tornar-se- iam mais sólidas através da repetição e tomariam forma através do encorajamento à imitação e do reforço positivo para, por fim, se transformarem em um hábito. Uma vez que a aquisição de um idioma seria a formação de um hábito, o estudante de uma segunda língua iniciaria sua aprendizagem a partir dos hábitos formados por sua língua materna (LM), os quais interfeririam na aquisição dos novos hábitos a serem formados durante a aprendizagem da segunda língua (SL).

A partir desse entendimento, linguistas europeus e norte-americanos desenvolveram a CAH (Contrastive Analysis Hypothesis), uma teoria behaviorista a qual prediz que os pontos em comum entre a LM e a SL são aprendidos com facilidade e os pontos diferentes são aprendidos com maior dificuldade em uma espécie de tradução automática. Assim, os erros cometidos por um estudante poderiam ser facilmente previstos. No entanto, conforme Lightbown e Espada (1999), o behaviorismo provou ser apenas uma explicação incompleta da aprendizagem de um idioma. E sendo assim, pesquisas mais recentes comprovaram que os erros previstos pela CAH nem sempre são cometidos. Aliás, a maioria dos erros cometidos pelos estudantes de uma SL não são previsíveis dentro do modelo da CAH. Ou seja, a maior parte dos erros não é relacionável à interferência de hábitos formados pela LM, mas à utilização de linguagem demasiadamente simplificada como a linguagem de uma criança em sua primeira infância. Ademais, algumas características dessas estruturas simplificadas são as mesmas em estudantes provenientes de diferentes contextos sócio-culturais e falantes de LMs distintas.

Outro destaque da abordagem behaviorista aplicada à aprendizagem foi B. F. Skinner que desenvolveu um sistema de princípios para o comportamento humano. Após seus estudos,

a aprendizagem passou a ser vista a partir da premissa de que ela seria o resultado do meio e não de fatores genéticos. Ele também expandiu a aplicação do princípio de condicionamento de Pavlov ao introduzir a noção de condicionamento operante. Ou seja, um indivíduo responde a um estímulo ao apresentar determinado comportamento e qualquer evento subsequente pode alterar a probabilidade desse comportamento se manifestar novamente. Assim, ao ser reforçado (recompensado ou punido), a probabilidade do comportamento se manifestar seria aumentada ou diminuída. Skinner propôs que o desenvolvimento de uma língua poderia ser explicado dessa forma e sugeriu que a instrução de uma forma geral poderia alcançar melhores níveis a partir da adoção de quatro procedimentos. Os professores deveriam deixar claro o tópico a ser ensinado, as atividades deveriam ser realizadas em pequenas etapas sequenciais, os programas deveriam ser individualizados para que os estudantes pudessem trabalhar em seu próprio ritmo e a aprendizagem deveria ser programada e contar com o reforço positivo para o sucesso o mais próximo possível de 100%.

Para os professores, a linguagem seria entendida como um comportamento a ser ensinado, hábitos mecânicos apropriados a serem adquiridos através de repetição de estruturas em coro, da memorização de diálogos e a explicação das regras seriam dadas apenas depois que as estruturas fossem praticadas e os hábitos de linguagem devidamente adquiridos. Essas visões influenciaram o desenvolvimento da abordagem de ensino de línguas estrangeiras (LE) conhecida como audiolingual ou áudio-oral. Entretanto, Williams e Burden (1997) lembram que essa abordagem também experimentou críticas. Isso porque o ensino áudio-oral, ao inspirar-se nos princípios de Skinner, reserva ao aluno uma posição muito passiva, dirigida para responder corretamente a um estímulo. O aluno não precisa analisar a língua, desenvolver estratégias de aprendizagem ou de negociar significados. Aliás, outra crítica feita a essa abordagem é que suas constantes repetições poderiam ser realizadas sem qualquer atribuição de significado e negligenciavam a necessidade de comunicação, característica fundamental da aprendizagem de uma língua. Uma última e importante crítica à influência do behaviorismo sobre a abordagem áudio-oral do ensino de LE é que sua ênfase era dada às respostas corretas e não havia espaço para a aprendizagem através do erro.

Mesmo assim, até hoje essa é uma abordagem bastante recorrente no ensino de LE por representar uma formação rápida aos professores, por não exigir um alto domínio do idioma a ser utilizado, uma vez que a interação de forma significativa entre professor e aluno é limitada, e por ser respaldada, de acordo com seus defensores, por uma teoria cientificamente coerente, o behaviorismo. Isso, baseado no entendimento de que abordagens mais comunicativas não possuiriam esse respaldo teórico.

Em se tratando do behaviorismo, Lightbown e Espada (1999) afirmam que não há dúvidas que essa compreensão oferece uma explicação parcial para alguns aspectos da aprendizagem inicial da língua materna em crianças e para a sua transferência durante o contato inicial com um idioma estrangeiro. Nesse sentido, Williams e Burden (1997) argumentam que o behaviorismo possui um lado positivo e mencionam algumas de suas contribuições como a ênfase no papel dos pais e professores para a organização de condições apropriadas para a aprendizagem e para a garantia de consequências para certos comportamentos.

Entretanto, as teorias behavioristas encontram limites para explicar aspectos mais complexos da aquisição de uma língua. Em se tratando do início das pesquisas behavioristas, Williams e Burden (1997) apontam como limitação o fato de que as suas teorias se concentravam quase que exclusivamente na questão do estímulo externo observável e na forma como esse poderia ser manipulado para provocar respostas desejadas. As ideias trazidas pelo behaviorismo não foram capazes de dar conta das infinitas ações humanas, suas intenções, seus contextos e encontraram uma barreira ética no que concerne à modificação de comportamento por ser vista como uma forma de manipulação no lugar de uma forma de educação.