• Nenhum resultado encontrado

3. A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DE INGLÊS NA CONCEPÇÃO DE

3.1 Avaliação da Aprendizagem de Língua Inglesa: características, referências e dificultantes

3.1.7 Sobre o planejamento da avaliação e as referências de apoio utilizadas pelos professores

Ao analisarmos a transcrição das entrevistas, percebemos que não existe uma unidade nas falas dos professores em relação ao planejamento da avaliação. Cada um mencionou itens diferentes que eles observam na hora de planejar seus instrumentos. Os itens nos quais os professores se baseiam, conforme mostra figura abaixo, foram a intuição, o conteúdo trabalhado, os textos atuais, a renovação de ideias, o desenvolvimento das turmas, os livros didáticos e a orientação institucional.

Figura 8 - Aspectos Considerados no Planejamento da Avaliação

O planejamento baseado na utilização de textos atuais citado nas falas “o texto pra mim ele é um instrumento que colabora bastante com o meu trabalho” (prof. A) e “os textos em inglês são totalmente atuais. Eu pego um artigo da News Week, do New York Times e vou tirando daí” (prof. B) se dá por serem as escolas muito dependentes do formato dos exames administrados nos vestibulares locais e no ENEM. Mesmo assim, isso demonstra que os exames são elaborados com base na realidade que cerca os estudantes, e que esses são convidados a testar os seus conhecimentos de forma contextualizada e integrada às habilidades aplicáveis ao seu cotidiano como a leitura.

A utilização de livros didáticos citada na fala “eu tiro (as provas) de livros”, onde os professores utilizariam questões já prontas, denota, em um primeiro olhar, a falta de tempo dos professores para elaborarem questões inéditas, desenvolvidas para se adequar exatamente ao conteúdo que foi trabalhado em sala e à forma em que esse conteúdo foi abordado. Mesmo assim, a utilização de questões retiradas de livros didáticos pode ser positiva se pensarmos

que esses materiais são desenvolvidos, em sua maioria, por equipes de profissionais capacitados e, exatamente por não serem elaboradas sob medida para as turmas, podem colaborar para o aumento do desafio e, por consequência, para o aumento do nível de suas aprendizagens.

A respeito dos conteúdos trabalhados citados na fala “a avaliação somativa ela é planejada com base no programa daquela unidade [...] conteúdos que foram trabalhados de fato”, sabemos que é no mínimo lógico e ético garantir aos alunos que eles serão avaliados mediante o que foi desenvolvido em sala de aula. E a respeito do uso de intuição no planejamento das atividades avaliativas presente na fala “às vezes de maneira intuitiva, numa atividade que eu estou fazendo em sala de aula” (prof. A), percebemos a falta que faz a formação específica sobre avaliação da aprendizagem para os professores. Como veremos mais adiante, os professores participantes da nossa pesquisa, em sua maioria, afirmam não terem sido preparados para avaliar as aprendizagens de seus alunos nem em sua formação inicial – no curso de Letras – nem em sua formação continuada. Conhecer os diversos modelos avaliativos, entender a fundo os objetivos e a lógica da avaliação da aprendizagem garantirá aos professores dos estudantes pernambucanos ferramentas para melhor compreender os percursos dos educandos e melhor auxiliá-los no processo de conquista de seu espaço na vida em sociedade e no mundo do trabalho.

Percebemos um grande amadurecimento do(a) professor(a) que mencionou planejar a avaliação de forma a acompanhar o desenvolvimento dos alunos ao mesmo tempo em que procura renovar os procedimentos utilizados nas falas “a medida que eu vou vendo o desenvolvimento das minhas turmas, eu vou criando novos métodos avaliativos” e “a cada bimestre, eu procuro renovar a ideia [...] procuro fazer a minha prática avaliativa muito diversificada” (prof. C). Segundo Alderson e Wall (1992), a maneira como organizamos as atividades avaliativas e, principalmente, os exames escritos individuais influencia a forma como organizamos o nosso ensino, o que eles denominaram de efeito washback. Em contrapartida, vimos em nosso marco teórico que o grande desafio da educação atual é estar centrada na aprendizagem e não no ensino (SILVA, 2003). Assim, uma vez a avaliação realizada encontra-se, por sua vez, centrada nas aprendizagens dos alunos, esperamos que seu efeito washback seja positivo e leve o cotidiano escolar a traçar o mesmo movimento.

Por fim, a orientação institucional, que provém da Secretaria da Educação do Estado e estabelece a divisão do período letivo em quatro unidades preenchidas com, no mínimo, três ATs e uma prova escrita individual, presente na fala “a gente tem uma meta de três notas no mínimo para que dê a primeira nota da avaliação” (prof. D) tem sua importância ao passo em

que ela consegue padronizar a dinâmica avaliativa entre as diferentes escolas do Estado. Todavia, podemos pensar, também, que ela limita as possibilidades de ação dos professores da Rede.

Sobre as referências, podemos afirmar que aquilo que os professores compreendem por avaliação da aprendizagem está associado, em grande parte, àquilo que eles vivenciaram em sua formação continuada e, mais fortemente, a sua experiência de ensino como vemos na figura 9 mais adiante.

Em falas como “a gente passou um período aqui, a gente teve três meses de capacitação... isso me ajudou muito, bastante. Foi crucial para o meu processo de avaliação” (prof. B) e “a gente estudou Perrenoud, a gente teve uma palestra, eu tenho alguns livros em casa...” (prof. C), percebemos que esses professores relacionam os autores que estudaram e o período de formação oferecido na escola em que trabalham como fontes às quais eles recorrem, voluntaria ou involuntariamente, no momento da avaliação. Da mesma forma, as falas “realmente você precisa trabalhar pra começar a construir como é que eu vou avaliar meus alunos” (prof. A) e “[a experiência] influencia porque a gente fica conhecendo melhor o processo de avaliação, os alunos” (prof. D) denotam a importância do tempo de convivência do professor com o universo escolar. Nas palavras de um dos professores entrevistados: “quer queira, quer não, a sala de aula é o nosso campo de pesquisa. O professor ele está sempre aprendendo em sala de aula” (prof. B).

Figura 9 - Referências de Apoio à Avaliação da Aprendizagem

Uma vez que todos os professores afirmaram ser a experiência de trabalho o que mais lhes auxilia no processo avaliativo, como na fala “eu acho que a prática de sala de aula, muitas vezes, é muito mais importante do que a formação” (prof. C) e apenas metade mencionou, também, os teóricos e a formação continuada como aporte para a avaliação da aprendizagem, percebe-se que os teóricos e a formação continuada possuem um peso menor

na fala dos professores, não necessariamente pela alta qualidade da aprendizagem adquirida pela experiência, mas pela quase inexistência de cursos de formação específicos na área de avaliação.