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2.1 Da escola positivista à sócio-construtivista

2.1.4 Construtivismo

Como visto acima, as ideias interacionistas fizeram com que a atribuição de sentido ao mundo fosse alvo das pesquisas sobre aprendizagem. Essas mesmas ideias são também inspiradoras do pensamento construtivista que discutiremos então.

Podemos dizer que duas questões se apresentam como centrais nas discussões atuais em educação: a questão de que o ensino deve estar centrado na aprendizagem e a questão de que o conhecimento dessa aprendizagem deve ser construído.

Sobre a primeira questão, Silva (2003) afirma que vivemos um momento de ressignificação do processo de ensino e aprendizagem como reflexo da construção do pensamento complexo e da pós-modernidade crítica, uma tentativa de superação da crise do paradigma da educação centrada no ensino, para a emergência do paradigma da educação centrada na aprendizagem. Entende-se por paradigma da educação centrada na aprendizagem aquele que sustenta o princípio da educabilidade o qual reconhece que os estudantes possuem potencialidade de aprender e são diferenciados por seus percursos de aprendizagens. Esses percursos são, também, diferenciados porque os sujeitos envolvidos possuem diferentes histórias de vida e por causa da diversidade sociocultural presente nas escolas.

Sobre a questão construtivista, outro paradigma atual no âmbito da educação, Becker (2010, p. 14) a descreve como sendo uma

hipótese que, negando simultaneamente o 10empirismo e o 11apriorismo, afirma que as estruturas do conhecimento e, portanto, da aprendizagem, são construídas pelo sujeito mediante sua ação sobre o meio físico e social; portanto, mediante um longo processo de interação sujeito-meio.

A esse respeito, Solé e Martín (2004) afirmam que a visão construtivista do psiquismo humano está presente em boa parte das teorias do desenvolvimento e da aprendizagem e, em suas diferentes versões, está impregnado na psicologia educacional nos dias de hoje. Essa visão torna mais clara a ideia de que o conhecimento e o ser humano não são algo pronto e acabado. Ao contrário, o construtivismo se apresenta como uma visão da educação onde, de acordo com Valadares e Graça (1998, p. 15), acredita-se que “o ser humano constrói ele próprio, lenta e dificilmente, as suas ideias acerca do mundo que o cerca, as quais constituem apenas uma representação, um cenário, uma imagem possível desse mundo”.

10 A hipótese segundo a qual o indivíduo é visto como uma tabula rasa ao nascer e aprende devido à experiência

com o meio físico através dos sentidos (BECKER, 2010).

11 Oposto ao empirismo, entende que o indivíduo traz desde seu nascimento as condições para aprender que

Conforme Coll (2004), existe, atualmente, uma infinidade de enfoques e de propostas que constituem ou se originam na Psicologia Educacional e o pensamento construtivista seria o ponto de confluência entre elas. Para o autor, a educação atual encontra-se impregnada pelo construtivismo, mas é importante lembrar que existem diferentes versões do construtivismo e que algumas delas seriam até contraditórias. Essas diferentes versões podem ser agrupadas em três tipos de construtivismo: o construtivismo cognitivo, o construtivismo de orientação sociocultural e o construtivismo vinculado ao construtivismo social. Esses tipos diferem entre si em alguns pressupostos quanto à natureza individual ou social do conhecimento e quanto à explicação das mudanças que são produzidas nos estudantes.

De um lado, a posição cognitivista concebe o pensamento, a aprendizagem e os processos psicológicos como fenômenos que têm seu lugar na mente das pessoas. Por outro lado, a versão de construtivismo partilhada por alguns enfoques linguísticos vem negar a natureza individual desses fenômenos e dizer que a aprendizagem se dá nas relações sociais; por isso, o destaque dado às práticas sociais que dão origem à linguagem.

Não obstante, neste subitem pretendemos concentrar nossos esforços em apresentar as contribuições de Jean Piaget para o desenvolvimento do pensamento construtivista. O trabalho de Piaget trouxe o aprendiz para o centro das discussões teóricas sobre aprendizagem e enfatizou a natureza construtivista do seu processo.

Interessado em conhecer a forma como as pessoas aprendiam da infância até a vida adulta, Piaget passou a investigar o processo de aprendizagem em oposição ao seu conteúdo e também como esse conhecimento é organizado ao longo do desenvolvimento humano. Para o teórico, a aprendizagem ocorre de três formas. Aprendemos quando desenvolvemos uma mudança de comportamento, quando aplicamos um conhecimento preexistente a uma nova situação e aprendemos quando podemos colocar nosso conhecimento em prática. Piaget também entendia que a inteligência seria uma adaptação, uma forma de equilíbrio para a qual todas as coisas caminhariam naturalmente.

Na tentativa de formular uma teoria do conhecimento, Piaget desenvolveu o conceito de Epistemologia Genética. Este conceito foi inspirado pela sua formação básica em Biologia e por representar seu empenho em encontrar a gênese do conhecimento, ou seja, a sua origem. Outro conceito importante dentro da teoria piagetiana seria o processo de equilibração. Este conceito explica que o indivíduo expande as suas estruturas cognitivas após conseguir equilibrar-se diante de uma situação conflitante, ou seja, um problema, uma situação nova. Trata-se, portanto, de um processo ativo. Dentro do processo de equilibração, Piaget traz dois outros processos igualmente importantes para a alteração ou a expansão das estruturas

cognitivas, são eles, a assimilação e a acomodação. Ambos os termos são operações de adaptação do homem em situações de desequilíbrio para que o mesmo volte à posição de equilíbrio. A assimilação para Piaget seria um processo mental pelo qual o indivíduo incorporaria aos seus esquemas já existentes novas informações a partir de suas experiências com um objeto. Já a acomodação seria o processo de transformação do objeto e do sujeito que o assimilou. A partir da assimilação, o indivíduo tende a se acomodar, se adaptar ao novo conhecimento e assim tem suas estruturas cognitivas alteradas evolutivamente.

Assim como existem explicações de origem construtivista para o pensamento e para os processos psicológicos, existe também uma explicação de base construtivista para o ensino e para a aprendizagem escolar. Para o contexto escolar, o construtivismo vem a proporcionar um contexto global de referência que guie e oriente os profissionais da educação na construção do currículo, na formação dos professores, na elaboração dos materiais didáticos, no planejamento do ensino e na identificação de novos problemas e prioridades para a pesquisa educacional. Uma escola associada a uma visão construtivista compreende a educação como uma entidade política que tem por objetivo capacitar os alunos a pensar com autonomia e que entende o conhecimento como algo instrumental o qual não tem significado em isolamento.

Na prática, uma abordagem construtivista incentiva os professores a apresentarem questões e conceitos na forma de problemas a serem explorados através do diálogo. Entretanto, é relevante frisar que uma perspectiva construtivista também implica dizer que não existe uma única forma ou uma receita para se ensinar. O ensino está atrelado a uma prática reflexiva por parte do professor, portanto, assim como na aprendizagem, o ensino deve traduzir o exercício dos professores de construir significados a partir das situações de aula em que eles se encontram.

A proposta construtivista, sem dúvida, trouxe uma nova visão para o contexto escolar. No intuito de se adequar, de responder aos anseios dessas novas perspectivas, desses novos paradigmas, a escola precisaria, então, promover uma inteligência capaz de perceber o contexto e o complexo para evitar a cegueira, a inconsciência e a irresponsabilidade. Morin (2003) traz esses termos como problemas advindos da superespecialização, do confinamento e do despedaçamento do saber, da falta de visão a longo prazo, da atrofia das possibilidades de compreensão e reflexão e da fragmentação e unidimensionalização do que é complexo e multidimensional. Para ele (2003), se faz urgente criar nas escolas uma inteligência que corrija esses desenvolvimentos e não, obedeça a eles.

Na mesma lógica, seria o que Freire (1996, 2005) afirmou ser a necessidade de rompermos com o modelo bancário de educação12, propiciando problematização, autonomia e dialogicidade em sala de aula por compreender que a educação é ideológica e é uma forma de intervenção no mundo. Para o professor de idiomas, a filosofia construtivista vem dizer que o princípio fundador do contexto escolar deve ser a educação do ser em sua integralidade em oposição à mera instrução, ou seja, agir no intuito de transformar a aprendizagem de uma segunda língua em uma experiência verdadeiramente educacional.

Gostaríamos de frisar também que educação não se limita a, ou melhor, tem pouco a ver com teorias de avaliação e de aprendizagem. Em seu sentido fundador, educação significa que como professores trazemos para a sala de aula nossos valores, nossas crenças, nossa postura diante dos alunos e assim, intencionalmente, repassamos nossos ideais na esperança de proporcionarmos mais que aprendizagem, mas experiências transformadoras, formadoras do ser e do futuro pelo qual esperamos e no qual temos confiança.

12 A educação bancária criticada por Freire (1996) consiste na transferência, no depósito do conhecimento do

3. A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DE INGLÊS NA CONCEPÇÃO DE