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1.1 Construção do campo teórico da Avaliação Educacional

1.1.5 O Modelo de Stufflebeam

Apesar de ter experimentado pouca repercussão aqui no Brasil, o modelo de avaliação educacional estruturado por Stufflebeam influenciou especialistas de diferentes países e serviu de salto qualitativo para a compreensão e para a prática avaliativa de programas e materiais educativos.

Segundo Stufflebeam e Shinkfield (1995), seu primeiro envolvimento com avaliação de programas educacionais nas escolas primárias e secundárias dos Estados Unidos nos anos de 1960 foi algo acidental. Entretanto, essa experiência não intencional o permitiu concluir que a experimentação e os testes objetivos recomendados pelo governo americano eram pouco relevantes quando o objetivo era o aperfeiçoamento dos programas avaliados. Como consequência, ele se dedicou a elaborar um novo modelo capaz de dar respostas às dificuldades que ele e sua equipe vivenciaram ao participarem daquela tarefa.

Como os demais teóricos de avaliação educacional da época, Stufflebeam enxergava falhas no modelo avaliativo dominante, o modelo de Tyler. Na experiência vivida por Stufflebeam junto às escolas públicas em Columbus, os estudantes representavam um grupo muito heterogêneo. Suas necessidades de desenvolvimento eram diversas, os testes não se adaptavam ao nível nem à linguagem dos estudantes mais atrasados e os informes eram dados apenas ao final do ano letivo quando, muitas vezes, já era tarde para resolver os problemas diagnosticados.

Na visão do autor, a avaliação sofria de uma grave enfermidade e, portanto, era necessário ampliar a definição de avaliação. Ela precisava se tornar um instrumento de auxílio na administração dos programas e na tomada de decisões que se fizessem necessárias. Para tal, as avaliações precisavam apresentar informações responsáveis, promover o aumento da compreensão dos fenômenos investigados e, acima de tudo, estarem voltadas para a melhoria dos programas ao invés de terem seu foco na demonstração dos resultados apenas.

Com isto em vista, Stufflebeam estruturou um modelo avaliativo de programas educacionais que viria a ser conhecido como CIPP: contexto, insumo, processo e produto, um modelo analítico e racional que englobava o planejamento, a estruturação, a implementação e a reciclagem das decisões com base em quatro formas de avaliação específicas para cada um desses momentos: a avaliação do contexto, a avaliação dos insumos ou do input, a avaliação do processo e a avaliação do produto.

O planejamento das decisões serviria para determinar os objetivos a serem atingidos, a estruturação para planejar os procedimentos e alcançar os objetivos, a implementação para examinar e, se preciso, reformular os procedimentos adotados, e a reciclagem para a tomada de decisão em face aos resultados encontrados, para a reformulação ou descarte de um programa.

Como dito anteriormente, para cada tipo de decisão a ser elaborada se faz necessário um tipo de avaliação correspondente, como veremos agora. A avaliação do contexto está relacionada com o planejamento das decisões. Seu objetivo é identificar as virtudes e os defeitos do dado avaliado o qual pode ser uma pessoa, uma dada população, uma instituição ou um programa e proporcionar um guia para o seu aperfeiçoamento. Esse tipo de avaliação também busca averiguar se as metas e as prioridades existentes estão em consonância com as necessidades as quais estão destinadas a suprir.

Segundo Stufflebeam e Shinkfield (1995), a avaliação do contexto tem como finalidade responder aos seguintes questionamentos mobilizados por Stufflebeam e sua equipe:

1. quais as carências de um ambiente ou contexto que não são supridas por uma instituição?

2. quais as ações a serem mobilizadas para vencer essas necessidades? 3. quais as ações que devem receber apoio específico da comunidade?

4. qual é o conjunto de ações que possuem uma maior chance de concretização?

Por sua vez, esses questionamentos são a inspiração dos quatro objetivos perseguidos por essa avaliação os quais são:

1. definir e descrever o ambiente em que as mudanças ocorrerão; 2. identificar as necessidades e os recursos ou virtudes disponíveis; 3. detectar quais são as causas das necessidades;

4. prever as deficiências futuras com base naquilo que se deseja, no que é possível e no que é provável.

Em suma, a avaliação do contexto possibilita contribuir para a tomada de decisão concernente ao meio e ainda analisar o inter-relacionamento das várias partes de um programa incluindo o apoio da comunidade para com este. Assim, ela se coloca como um caminho para ajudar grupos e indivíduos a estabelecerem prioridades na busca pelo aperfeiçoamento dos programas.

Outro tipo de avaliação proposta por Stufflebeam é a dos insumos cuja principal orientação seria ajudar a prescrever um programa capaz de realizar as mudanças necessárias. Ela tem por foco a estruturação das decisões e para isso faz um balanço da relação custo- benefício de um programa e fornece uma visão de como utilizar os recursos disponíveis para que seja possível alcançar os objetivos de um dado programa. É através da avaliação dos insumos, ou do input, que podem ser elaboradas as estratégias alternativas de aperfeiçoamento ao mesmo tempo em que se evitam inovações dispendiosas ou que estejam fadadas ao fracasso.

Sobre os insumos, Vianna (20000) afirma que da mesma forma que na avaliação do contexto, Stufflebeam traz alguns questionamentos que a avaliação dos insumos deve responder:

1. a estratégia do projeto possibilita uma resposta lógica a um conjunto de objetivos específicos?

2. uma determinada estratégia obedece a todos os requisitos legais?

3. quais as estratégias já existentes e que são potencialmente importantes para realizar os objetivos pré-determinados?

4. quais os procedimentos específicos e o tempo (cronograma) necessários para implementar uma certa estratégia?

5. quais as características operacionais e os efeitos das diferentes estratégias que estão sendo consideradas?

Assim, essa avaliação objetiva apontar e valorar os métodos aplicáveis, explicar e esmiuçar o método escolhido e identificar as barreiras que limitam sua implementação.

Como dito no início, o terceiro tipo de avaliação apresentado no modelo CIPP é a avaliação do processo, a qual acompanha a implementação de decisões. Seu objetivo central consiste em prover os responsáveis pelos programas com informações periódicas e contínuas ao longo de todo o projeto e em todas as suas fases a fim de que as deficiências sejam detectadas para a devida correção.

A avaliação do processo, por sua vez, busca saber se: 1. o cronograma está sendo devidamente seguido;

2. há necessidade de treinamento ou retreinamento dos envolvidos antes do término de uma dada fase do projeto;

3. o material e as instalações estão sendo utilizados na forma devida; 4. existem obstáculos a serem vencidos e especificá-los.

Como podemos ver, esse tipo de avaliação proposto por Stufflebeam se distancia do modelo avaliativo de Tyler ao passo que enfatizava o processo de implementação dos programas. Além disso, a avaliação do processo permitia o aprimoramento de programas avaliativos presentes e futuros devido ao registro das informações utilizáveis para análises posteriores.

Por fim, o modelo CIPP apresenta a avaliação do produto como aquela que objetiva medir e interpretar os resultados não apenas ao término do programa, mas também em momentos pré-definidos, não apenas analisando-o em si mesmo, mas também comparando-o com outros.

Stufflebeam e Shinkfield (1995) concebiam a avaliação como um processo sistemático e contínuo que procurava definir as questões a serem respondidas, colher as informações que responderiam a essas questões e prover os responsáveis pela tomada de decisões com as informações necessárias.

No entanto, os quatro tipos de avaliação apontados por Stufflebeam serviam não somente para a tomada de decisão, mas também para uma outra função a qual ele chamou de responsividade, termo originário da língua inglesa que significa estar pronto a dar respostas e a atender a algum pedido.

Seu modelo se distinguiu dos modelos contemporâneos de Stake e Scriven, mas também sofreu a influência dos mesmos. É importante frisar que, para Stufflebeam, a tomada de decisão era ponto central de seu modelo e por ter uma orientação processual e não pontual sinalizava o caráter formativo que ele compreendia pelo termo. Não obstante, o modelo por ele proposto também contava com uma orientação somativa. Inspirado pelo modelo de Scriven, escreveu um artigo em 1971 sobre a aplicabilidade de seu modelo ao conceito de

prestação de contas ou de responsividade. Neste artigo, ele afirma ser somativa e retroativa a avaliação com vistas à postura responsiva e demonstrou como suas quatro categorias avaliativas (contexto, insumos, processo e produto) se aplicam a este propósito (STUFFLEBEAM; SHINKFIELD, 1995).