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Foto 5 – Uma das Famílias Entrevistadas

4.3 Produção, Renda e Relação do Produtor com a Terra

4.3.4 Bolsa-Família

Conforme ressalta Abramovay (2008a), os beneficiários do Pronaf B são, frequentemente, atendidos também pelo Programa Bolsa-Família (PBF). Vale registrar que, nesta pesquisa realizada em Caucaia, 21 famílias são beneficiárias do PBF, o que representa pouco mais da metade, de acordo com a Tabela 19.

Tabela 19 – Distribuição dos Benefícios do PBF nas Famílias Participantes

Quant. Famílias Benefício / Família (R$ 1,00)

3 18,00 1 37,33 1 58,00 1 59,00 1 60,00 5 76,00 1 88,00 1 90,00 2 94,00 4 112,00 1 142,00

Fonte: Pesquisa de Campo Realizada em Julho de 2008.

Embora mais da metade das unidades familiares recebam o benefício do PBF, encontramos famílias que tanto pela renda declarada quanto pelo nível de pobreza que aparentam poderiam se enquadrar no referido Programa. A família de Maura, por exemplo, perdeu o benefício, no valor de R$ 94,00, em razão de problemas com a frequência escolar dos filhos. Está tentando reavê-lo. Conforme Junqueira (2004, p. 163), “em regiões desprovidas de oportunidades substantivas, esse recurso torna-se indispensável para a dinâmica financeira das famílias mais pobres”.

O valor de R$ 37,33, constante da Tabela 19, é relativo a um benefício de R$ 112,00 divididos por três. Ocorre que, em uma das famílias entrevistadas, a avó cria um dos netos. O benefício é recebido pela mãe da criança, que repassa um terço do valor para a avó.

De acordo com Vanderborght e Parijs (2006, p. 20), o PBF foi criado em 2003 com a seguinte definição:

toda família com renda familiar mensal per capita até R$ 100,00 tem o direito de receber mensalmente R$ 15,00, R$ 30,00 ou R$ 45,00, dependendo se a família tiver uma, duas, três ou mais crianças até 16 anos. Se a renda familiar mensal per capita estiver na faixa de até R$ 50,00, há um acréscimo no benefício mensal de R$ 50,00, fazendo com que varie de R$ 50,00 a R$ 95,00.

Atualmente, conforme regras estabelecidas para o PBF, as unidades familiares com renda familiar mensal42 de até R$ 60,00 são atendidas com o benefício básico de R$ 58,00 por mês. Aquelas famílias cuja renda per capita mensal é de até R$ 120,00 e possuem gestantes ou crianças ou adolescentes de até 15 anos recebem benefício variável de R$ 18,00 por pessoa nestas condições, até o limite de três benefícios. Para tanto, é exigida a comprovação do exame pré-natal, do acompanhamento nutricional, do acompanhamento de saúde e da frequência escolar, conforme cada caso. (BRASIL. LEI Nº 10.836, 2008). Essas famílias ainda são contempladas com o benefício adicional para adolescentes entre 16 e 17 anos no valor de R$ 30,00, limitados a dois jovens nessa condição. Neste último caso, o benefício é condicionado a 75% da frequência escolar de cada jovem beneficiado. (BRASIL. LEI Nº 11.692, 2008).

A Lei 10.836 criou também o Conselho Gestor Interministerial do PBF a fim de

formular e integrar políticas públicas, definir diretrizes, normas e procedimentos sobre o desenvolvimento e implementação do Programa Bolsa Família, bem como apoiar iniciativas para instituição de políticas públicas sociais visando promover a emancipação das famílias beneficiadas pelo Programa. (BRASIL. LEI Nº 10.836, 2008).

Referido Conselho, através de sua Secretaria Executiva, coordena, supervisiona, controla e avalia a operacionalização do PBF, tendo entre suas atribuições a verificação do cumprimento das condicionantes e a supervisão do cadastro único. A participação e o controle social podem ser exercidos no âmbito municipal por um comitê instalado pelo poder público,

42 “A soma dos rendimentos brutos auferidos mensalmente pela totalidade dos membros da família, excluindo-se

em que a função de seus membros é considerada “serviço público relevante” e não pode ser remunerada.

Diante do exposto, as famílias atendidas pelo PBF podem se beneficiar da seguinte forma:

Tabela 20 – Benefícios do PBF segundo a Renda Familiar

Grupo 1 - Famílias com renda mensal de até R$ 60,00 Grupo 2

Famílias com renda per capita mensal de até R$120,00 Benef43. R$ 18,00 Benef44. R$ 30,00 Total Grupo 2

Benef. Básico Total Grupo 1

0,00 0,00 0,00 58,00 58,00 18,00 0,00 18,00 58,00 76,00 18,00 30,00 48,00 58,00 106,00 18,00 60,00 78,00 58,00 136,00 36,00 0,00 36,00 58,00 94,00 36,00 30,00 66,00 58,00 124,00 36,00 60,00 96,00 58,00 154,00 54,00 0,00 54,00 58,00 112,00 54,00 30,00 84,00 58,00 142,00 54,00 60,00 114,00 58,00 172,00

Fonte: Construída pela Autora com Base em Brasil. Lei Nº 11.692 (2008).

Os benefícios do PBF são pagos por meio de cartão magnético bancário fornecido pela Caixa Econômica Federal com a identificação do responsável e respectivo Número de Identificação Social (NIS), de uso do Governo Federal. Esse mecanismo não apenas favoreceu a inclusão bancária desse público, o que promove sua prática cidadã e autoestima, como também desvincula o benefício social de qualquer processo intermediário que possa emperrar, desvirtuar ou fazer uso indevido dessa política pública. “O pagamento dos benefícios previstos nessa Lei será feito preferencialmente à mulher”. (BRASIL. LEI Nº 10.836, 2008). Em Caucaia houve essa constatação: o recebimento do PBF é massivamente realizado pelas mulheres. Milton, um dos entrevistados, enfatiza: “Quem recebe é a mulher”.

De outra forma, em estudo recente realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), através do Centro Internacional de Pobreza, observou-se que “no grupo dos 10% mais pobres, a porcentagem entre os que trabalhavam ou procuravam trabalho era de 73% entre aqueles que recebiam o Bolsa-Família e de 67% entre os que não recebiam. Na parcela dos 10 a 20% mais pobres, 74% dos beneficiários (sic) pelo programa de transferência de renda eram economicamente ativos, contra 68% entre os não beneficiados”. Segundo Medeiros; Brito e Soares (2008, p. 23), “a noção de que programas de

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Gestantes, crianças e adolescentes até 15 anos, limitado a três pessoas.

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transferência são uma falta de incentivo ao trabalho é mais baseada em preconceito do que em evidências empíricas”.

O Bolsa-Família, espinha dorsal da estratégia que se configura no Programa Fome Zero, criado também em 2003, primeiro ano do governo Lula, começou unificando, em outubro de 2003, os quatro benefícios pré-existentes, quais sejam: o Cartão Alimentação, que garantia o benefício de R$ 50,00 mensais, a ser gasto exclusivamente com alimentos, às famílias com renda per capita até meio salário mínimo45, o Bolsa-Escola, o Bolsa- Alimentação e o Auxílio Gás.46 (VANDERBORGHT; PARIJS, 2006).

O PBF, que integrou programas de transferência de renda de estados e municípios, beneficia, atualmente, cerca de 50 milhões de brasileiros pertencentes a 11,1 milhões de famílias. No Ceará, posição de setembro de 2008, foram concedidos benefícios a mais de 900 mil famílias e, em Caucaia, quase 30 mil famílias estão cobertas por essa política pública47.