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Foto 5 – Uma das Famílias Entrevistadas

4.3 Produção, Renda e Relação do Produtor com a Terra

4.3.1 Renda agropecuária

A produção agrícola dos agricultores entrevistados, conforme já assinalado, é totalmente consumida pela família e pelos animais, sendo suficiente apenas para uma parte do ano, tempo esse que é menor ou maior de acordo com as quantidades produzidas e o tamanho da família. Neste caso em que a lavoura é totalmente para o autoconsumo, a renda correspondente àquela que seria obtida caso vendessem os produtos não foi contabilizada no somatório das rendas, uma vez que se constitui renda não-monetária. A exceção é a mandioca, de cuja safra anual alguns conseguem obter excedente para venda. Desse modo, conforme a Tabela 17, 29,7% dos respondentes não auferem renda da agricultura ou da pecuária. A pesquisa revelou, ainda, que 78,4% das famílias não têm renda ou ganham até R$ 100,00

mensais provenientes de atividades agropecuárias. Esta constatação confirma o que Bastos (2006) diz do Pronaf B, que atingiu segmentos que viviam, por vezes, abaixo da linha de pobreza e para os quais a renda gerada no âmbito de suas atividades agropecuárias, representa uma parte minoritária de seus meios de vida.

Tabela 17 – Atividades Agropecuárias e Geração de Renda

Atividades agropecuárias/renda Freq. Percentual

Não têm renda agropecuária 11 29,7

Ovos e galinha 10 27,0

Mandioca, ovos e galinha 2 5,4

Ovo e pesca 1 2,7

Porco 10 27,0

Mandioca e porco 1 2,7

Carneiro 1 2,7

Pesca, ovos e galinha 1 2,7

Total 37 100,0

Fonte: Pesquisa de Campo Realizada em Julho de 2008.

De acordo com Guanziroli (2006, p. 7), “nos estabelecimentos, em especial aqueles voltados à produção de subsistência, é comum encontrar casos em que a renda monetária é negativa. Entretanto, geralmente a renda total do estabelecimento é positiva, pois inclui o autoconsumo”.

Carla, cuja família planta milho e feijão, explica o porquê de não negociar com toda essa produção: “A gente tem bastante porco e bastante galinha; então a gente não vende pra tá comprando”. Mesmo assim, a pecuária é que ainda “deixa alguma coisa”. No grupo entrevistado, em que, como já adiantei, há predominância de financiamentos para galinhas e porcos, a renda provém da venda dos animais e de ovos. Uns vendem mais, outros menos, mas negociam com os animais, principalmente, quando se aproxima o vencimento da parcela do financiamento. Para aquela agricultora, “a criação de porcos para ser lucrativa tem uma ciência”, principalmente, em relação ao momento da venda, “para não dá prejuízo”. Segundo ela, os que prosperam e prosseguem com a atividade são os que têm uma noção desse aspecto. Dona Isaura que, entre outras atividades cria galinha, disse que “às vezes come também, serve para uma mistura; tudo é ajuda”. Já dona Maísa, agricultora de 70 anos, relata:

De três em três meses a gente vende 30 para pagar os projeto. Vendo por R$ 12,00 cada galinha, para um restaurante da Lagoa do Banana. Só compram as galinhas, não querem comprar os frangos. Os ovos, chego a vender 100 ovos por semana, a R$ 0,20. Tenho muitas galinhas. Às vezes sinto falta de alguma, penso até que roubaram, quando aparece cheia de pinto: estava chocando no mato.

Seu Antonio, conhecido como Piaba, fez dois financiamentos, ambos para criação de galinha. Ele desenvolve outras atividades, sendo a pesca e a venda de espetos de churrasco as mais rentáveis. Estas atividades contribuem para que o ganho mensal desse agricultor seja de aproximadamente R$ 1.400,00, bem acima da renda média dos agricultores entrevistados, que é de R$ 417,00. A pesca ocorre entre os meses de agosto e fevereiro, o que lhe deixa uma renda média mensal, no período, de R$ 600,00. Afora isso, trabalha por diária como pintor e faz outros serviços avulsos. Inquirido se a entrada de receitas coincidia com as épocas de pagamento de cada parcela do financiamento, respondeu-me que sim. Insisti, indagando se as pagava com o dinheiro da venda de ovos e, eventualmente de galinhas, já que as negociava apenas quando estavam mais velhas. Eis o seu depoimento:

A gente se vira de todo jeito pra arranjar o dinheiro, porque só com ovos não dá pra pagar, não, viu... não dá de jeito nenhum. A gente trabalha um dia praqui outro pracolá e vai juntando o dinheiro, né? Eu faço tudo no mundo: eu faço pintura, faço tudo. [...] Quando o técnico da Ematerce veio fazer a primeira reunião, ele falou que a pessoa para fazer esse empréstimo do Pronaf tinha que ganhar, no máximo, R$ 200,00 por mês, né? Eu fui e disse: rapaz, a pessoa que vai ganhar R$ 200,00 por mês, pega esse dinheiro e vai comprar de frango de granja pra comer. É. Não tem condições de pagar, não. A gente paga porque a gente se vira; mas se a pessoa for esperar só por dinheiro de ovo de galinha não paga não. E se eu for pegar esse dinheiro todim e comprar de galinha e pinto pra criar, você quebra; fica devendo ao Banco e não paga também não. A negada também rouba (as galinhas)... A renda da pesca é melhor.

Todavia, foram identificadas experiências exitosas de financiamento para criação de galinhas por produtores que têm “comprador certo”. Em geral, os compradores são os donos de restaurantes do município. Este é o caso de Maura, que exerce com disciplina o controle das despesas e receitas inerentes à atividade financiada. Mesmo sustentando uma família numerosa (nove pessoas), ela afirmou que conseguia pagar o financiamento sem desfalcar a renda de R$ 200,00 mensais que ganha como babá. Segundo ela, o insucesso do seu segundo financiamento deveu-se exclusivamente ao roubo das galinhas.

Como já foi dito, a apuração da renda desses agricultores não é tarefa fácil, mormente quando, em função dos objetivos centrais deste estudo, os instrumentos de pesquisa se mostraram insuficientes para tanto. No entanto, percebe-se que esses agricultores conhecem bem o valor de mercado dos animais que criam, bem como o preço do quilo de mandioca e da saca de milho ou feijão. Em relação a outros produtos que nunca são negociados, como o jerimum, ao serem indagados acerca do valor, caso vendessem, não sabem dizer.