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O Conselho Municipal De Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS)

Foto 5 – Uma das Famílias Entrevistadas

4.5 Organização e Participação Social

4.5.4 O Conselho Municipal De Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS)

A maioria dos conselhos que hoje permeiam a sociedade foi criada de cima para baixo, o que parece ser uma sina da sociedade brasileira. Desde a colonização e períodos imperiais teve sua organização por iniciativa do Estado, em decorrência, principalmente, da herança colonial ibérica, a saber: elementos de artificialidade, paternalismo, individualismo, imediatismo – incipientes ações de planejamento – e espírito aventureiro, de pouco amor ao trabalho. (HOLANDA, S. B., 2006).

Conforme abordagem no primeiro capítulo deste trabalho, na experiência brasileira o Estado é que forjou a sociedade, de cima para baixo, atrofiando, assim, as possibilidades de exercício da autonomia e da cidadania.

Na investigação realizada por Bastos (2006, p.182), envolvendo conselheiros do CMDRS de municípios do Estado do Rio Grande do Norte, contatou-se “que quase todos os entrevistados declararam pertencer a mais de um conselho local”. Segundo este pesquisador,

o ponto mais importante é que, excetuando-se apenas dois, os demais pertenciam a pelo menos dois conselhos na comunidade local. Isso revela uma tendência mais geral, já observada em outras pesquisas, de uma concentração de representações em poucas pessoas, fruto, dentre outros aspectos, da baixa capacidade de mobilização, da existência de um número reduzido de líderes e de interesses do poder local em controlar instâncias de consulta, mesmo as que não sejam deliberativas.

Embora os supracitados conselhos, não raro, tenham sido implantados com um caráter praticamente homologatório de estratégias governamentais frequentemente influenciadas por organismos internacionais, sua prática cotidiana e rotina de encontros que reúnem num mesmo fórum diferentes atores sociais, inclusive da sociedade civil, acaba contribuindo para a construção de um tecido social-democrático que fortalece compromissos de ambos os lados e amplia o envolvimento e a participação política da população.

De modo geral, quando esses conselhos ou organizações associativas são formados seus membros não estão suficientemente preparados para desempenhar suas funções perante a comunidade que os escolheu. Muitas vezes há um presidente ou liderança que se destaca na centralização das decisões e do poder, mantendo-se em descompasso com o restante do grupo que, via de regra, submete-se aos direcionamentos apontados por aquele líder. Assim, conforme Abramovay (2002), esses fóruns não conseguem implementar projetos

que confiram maior autonomia aos beneficiários dos programas sociais a fim de que sejam menos dependentes dos recursos governamentais que recebem.

É neste contexto que a prática ora em curso pelos diversos conselhos, condicionados ou não à população, acaba sendo positiva, uma vez que nesses eventos os demais atores sociais vão compreendendo a lógica do Estado e o que há por trás de suas intervenções. Assim, os membros de cada um desses conselhos vão se formando e se capacitando como pessoa e como liderança comunitária e política, apropriando-se de conhecimentos, relacionamentos e experiências que a médio prazo os fortalecem para o enfrentamento de suas questões mais prementes.

Em todo esse processo talvez o mais importante para essas pessoas seja reestruturar sua visão de mundo e, principalmente, desenvolver o pensar coletivo, priorizando as demandas assim concebidas. A assimilação desses mecanismos, conhecimentos e tecnologias ajudam a resgatar os espaços públicos de discussão, dissenso, negociação, interlocução e consenso, os quais, por um lado, consolidam vínculos sociais e, por outro, vão minando o aparelho estatal no sentido de educá-lo a voltar-se para a sociedade civil. (TELLES, 1999).

Para Jacobi (1989, p. 22):

Ao ampliar sua visibilidade, esses movimentos colocam em jogo a questão da cidadania e dos direitos sociais. Assim, a transformação de necessidades e carências em direitos, que se opera dentro desses movimentos, pode ser vista como um amplo processo de revisão e redefinição do espaço da cidadania.

O CMDRS é um órgão de deliberação colegiada, de caráter permanente, descentralizado e participativo. De acordo com o Decreto da Presidência da República nº 3.508, de 14.06.2000, o CMDRS “manterá a paridade entre os membros do poder público municipal e da sociedade civil”. Referido decreto dispõe sobre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS), órgão colegiado integrante da estrutura regimental do MDA que tem como principal objetivo desencadear um processo coletivo de planejamento das prioridades relativas ao desenvolvimento do meio rural.

Assim, com o intuito de conferir maior transparência e controle social às políticas e programas sociais, os governos têm atrelado a concessão de benefícios sociais à intermediação de inúmeros conselhos de fórum nacional, estadual ou municipal.

Nessa perspectiva o CMDRS tem como objetivos: acompanhar, fiscalizar, avaliar e priorizar as políticas e ações constantes do Plano Municipal de Desenvolvimento Rural

Sustentável, bem como promover a integração dos segmentos envolvidos com a agricultura familiar, com vistas à melhoria da produção, armazenamento, comercialização e transporte.

O mandato do CMDRS é de dois anos, podendo ser prorrogado por igual período. O trabalho dedicado ao conselho caracteriza-se como serviço relevante prestado ao município e, portanto, ocorre sem ônus para o erário municipal. As reuniões do CMDRS são abertas ao público, que tem direito a voz, porém as deliberações apenas podem ocorrer em reuniões que contem com pelo menos 50% dos conselheiros com direito a voto.

De acordo com um membro do CMDRS de Caucaia, referido conselho é composto por representantes de entidades públicas governamentais e não-governamentais como: Secretaria Municipal de Agricultura, Conselho Tutelar, STR, Câmara de Vereadores, Conselho Municipal de Assistência Social, Conselho Municipal de Saúde, Federação das Associações, e Clube dos Diretores Lojistas, além de representantes dos assentamentos da reforma agrária, dos pescadores, dos professores e dos agentes de saúde, entre outros.

Em Caucaia o CMDRS é desconhecido por 87,8% dos agricultores entrevistados e, de acordo com um dos dirigentes do STR, encontra-se paralisado desde 2004, depois que o Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA retrocedeu quanto à exigência de que o cadastramento dos candidatos aos benefícios do Pronaf B fosse realizado por este conselho. Acrescentou que mesmo quando funcionava apresentava forte conotação política e as decisões tinham influência direta do representante da prefeitura, cuja indicação para a coordenação do conselho era imperativa, à revelia do desejo dos demais membros. Assim, a democracia do referido processo eleitoral sempre esteve comprometida.

Todavia, o sindicalista afirmou que considera o CMDRS muito importante para o controle social das políticas públicas, “desde que funcione”. Disse que do jeito que está tudo vem de cima para baixo, e que ele, embora seja um conselheiro, não se sente como tal, pois “não tem poder de participação; na verdade não temos autonomia ou poder de decisão; lá é tudo carta marcada, o prefeito bate o prego: tá aqui o representante do prefeito”. Falou, ainda, que atualmente ninguém sabe onde o CMDRS está funcionado. Ressaltou que existem outros conselhos no município que, igualmente, deixam muito a desejar. Chamou a atenção para o fato de que estão sendo criadas confederações para esses conselhos que distorcem ainda mais a atuação local dos mesmos. Por isso enfatizou que é papel do sindicato promover a cidadania e a formação social dos seus sócios, a fim de prepará-los para a realidade que se apresenta.