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Foto 5 – Uma das Famílias Entrevistadas

4.4 Inserção no Pronaf e Visão da Metodologia

4.4.12 Dificuldades e entraves

Considerando o caráter avaliativo desta pesquisa, indaguei aos parceiros do Agroamigo acerca das principais dificuldades encontradas no percurso metodológico do processo de concessão de crédito do Proanf B. Surpreendi-me ao saber que as dificuldades mais relevantes para o AMR, peça central na operacionalização do Agroamigo, não estão no campo, onde passa a maior parte do tempo. O AMR afirmou que os maiores óbices à realização de suas atividades são devidos a problemas nos sistemas operacionais utilizados: “Pra realmente funcionar a metodologia bem, eu acho que hoje o que está atrapalhando seria o sistema”. Os gestores entrevistados na agência confirmaram essa dificuldade e adiantaram que os problemas existentes serão resolvidos com um novo sistema, exclusivo para o gerenciamento e controle do Agroamigo, que está em desenvolvimento. Além desse empecilho, AMR falou que, a seu ver, um aspecto que carece de melhoria é a sintonia no discurso das diferentes instâncias envolvidas com o Agroamigo no Banco.

Para um dos gerentes do INEC entrevistado, a dificuldade mais relevante que a OSCIP enfrenta na operacionalização do Agroamigo diz respeito à “estrutura, dentro das agências, para operacionalização do Programa: falta de um assessor administrativo nas agências”.

Por sua vez, o membro do MDA, indagado acerca dos pontos que lhe parecem mais críticos para a consecução dos resultados perseguidos pela metodologia, comentou:

Estamos melhorando mais a relação dos assessores com as empresas públicas de ATER (EMATERs); ainda não é o que esperávamos. O Ministério, dentro da política nacional de ATER, possui nas EMATERS grande parceria. Assessores e Ematers têm de trabalhar mais juntos para que as famílias possam, além do microcrédito, receberem orientação técnica, se organizem de forma coletiva, criem associações, começarem a se organizar na forma de cadeias produtivas. Isso o assessor de crédito não vai fazer, não tem condições, não tem formação, é papel da extensão rural. Além disso, temos de pensar como esses assessores de crédito podem trabalhar com as outras linhas do Pronaf. O Objetivo do Agroamigo não é manter a família no Pronaf B. Uma vez que essa usa bem os recursos e melhora a sua renda, como pode ter acesso às outras linhas do Pronaf? Um outro ponto também é como combinar as metas dos assessores de manutenção de um número mínimo de clientes na carteira, para dar viabilidade econômica, com a qualidade dos projetos. Metas muito puxadas geram rotatividade elevada dos assessores, desestimulam trabalhar com clientes novos e criam uma visão “produtivista” do programa. Os mecanismos de remuneração do Agroamigo atualmente tentam equilibrar aspectos quantitativos e qualitativos. Todavia se essa família sai da carteira e acessa outras linhas do Pronaf, isso deve ser contado como positivo.

Na opinião de um dos gestores do Pronaf, da Direção Geral do BNB:

Existe ainda muita dificuldade no Pronaf, não obstáculo. O obstáculo foi vencido pela pressão social. Mas existe uma dificuldade que é desde o início do Pronaf e que ainda persiste. Atualmente é bem menor do que no passado, mas ainda é muito importante: é que as pessoas só vêem o Pronaf como crédito e essa visão está totalmente errada. Hoje eu não tenho dúvida que o crédito para o Pronaf em determinada situação ele não é um beneficio, é um maleficio. Então você tem que ver a agricultura familiar dentro de um contexto político, uma política onde o crédito seja um elemento importante, mas, vamos dizer assim, complementado por outras iniciativas essenciais, como, por exemplo, a assistência técnica. Essa assistência técnica melhorou no governo Lula, mas ainda é muito incipiente.

Ao inquirir outro gerente da Direção Geral do BNB sobre as maiores dificuldades enfrentadas pelo Programa até aqui, disse que, a seu ver, resumem-se aos dois pontos seguintes:

Primeiro: a convivência do Programa com o Pronaf B tradicional que não tem o mesmo nível de exigência do Agroamigo; segundo: o Programa ainda funciona no mesmo ambiente onde é operacionalizado o crédito rural tradicional do BNB, chocando com a metodologia de microcrédito adotada pelo Agroamigo.

Para os monitores entrevistados, perguntei quais os problemas mais importantes ora enfrentadas pelos AMR na aplicação da metodologia do Agroamigo. Um deles coloca: que “de acordo com as informações dos assessores quando da realização das monitorações, as maiores dificuldades deles para aplicação da metodologia seria o excesso de atividades que são impostas para os assessores, incluindo a meta estabelecida”. Outro monitor pontua, nesse contexto, os seguintes aspectos: “falta de infra-estrutura na agência, dificuldade com os parceiros na emissão da DAP, grande número de clientes mal enquadrados, cultura do Pronaf B tradicional impregnada nos clientes”. Com relação ao último aspecto assinalado, explicou:

Os pontos em que o Programa deixa a desejar se dão muito em virtude da cultura viciada da população que foi atendida anteriormente pelo Pronaf B, sem que houvesse qualquer orientação para o crédito, de maneira que criou uma certa resistência do próprio agricultor em aceitar a metodologia do Programa.

Para o dirigente sindical “o maior entrave no Pronaf B é, realmente, a falta de pessoas pra elaboração do projeto. É a quantidade que precisa aumentar”. E acrescentou:

Eu acho que o sindicato deveria, além de selecionar o agricultor e emitir a DAP, ser executor, fazer a proposta; porque a gente sente na pele. Quando tentamos nos credenciar, a própria agência achou que nós não deveríamos estar trabalhando com a elaboração do projeto, e, sim, só na qualificação. A gente sente, ainda, pelo fato de alguns agricultores serem discriminados. Não é só a questão da DAP, é o não acesso ao crédito.

Por fim, conforme citado neste capítulo, na opinião de um dos técnicos da Ematerce entrevistados, uma dificuldade que se evidencia nesse cenário é a mentalidade de que o Pronaf é um direito do agricultor sem exigência de contrapartida da parte dos beneficiários. Segundo ele, as propagandas governamentais passam a ideia de que tudo é “de graça”, benesse do Estado. Como ressalta Abramovay (2008a, p. 32), “é fundamental que a atribuição do crédito deixe de ser uma decorrência automática da condição de agricultor familiar de baixa renda” e evolua para um quadro onde a proposta de crédito seja fruto de uma relação de confiança entre o agricultor e a instituição financeira, mediante a intermediação do AMR.