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O papel de cada parceiro e seus relacionamentos

Foto 5 – Uma das Famílias Entrevistadas

4.4 Inserção no Pronaf e Visão da Metodologia

4.4.11 O papel de cada parceiro e seus relacionamentos

As entrevistas realizadas com os diversos atores indicam que, de um modo geral, cada um reconhece qual deve ser o seu papel perante esses agricultores e os demais parceiros do processo de crédito do Pronaf. Contudo, a execução da missão institucional, não raro, esbarra em limitações de recursos humanos e de infraestrutura, além do desgaste nos relacionamentos.

Pelo que observei em Caucaia, o AMR parece manter excelente relação com o STR, tendo encontrado um deles por várias vezes naquela entidade solicitando informações ou ajudando na preparação da documentação dos que pretendem acessar o crédito do Pronaf B. Todavia, percebi certa animosidade no relacionamento com a Ematerce: há queixas de ambas as partes, embora tanto o AMR quanto os extensionistas procurem amenizar as arestas com vistas a manter o melhor relacionamento possível em prol do bom andamento dos trabalhos. Um dos técnicos da Ematerce se manifestou assim:

Ele é rebelde. Fulana já disse várias vezes que ele tem que mandar o calendário das reuniões pra que a gente possa estar presente. Mesmo assim ele não se dobra. Ele nunca nos convidou para uma reunião. A gente concede a DAP a muitas pessoas porque a maioria a gente conhece, mas do contrário sabe o que é que a gente faz? A gente marca outra reunião na comunidade para ir preencher a DAP lá. É exatamente por essa distância que ele mantém da gente que consideramos ele rebelde com a Ematerce. Por isso, eu não procuro nem saber muito a respeito do trabalho dele.

De outra forma, o AMR pondera que certo distanciamento tem se verificado em período recente, depois que mudou a direção do escritório local da Ematerce:

Eu acho que não é o assessor que é muito distante da Emater, não; no meu caso, em Caucaia, ando muito no Sindicato Rural; na Ematerce eu ando, mas não é sempre. Vou ser sincero: eu não ando sempre na Ematerce; agora, eu passo a minha agenda semanal pro gerente, na agência, que leva a programação das reuniões pra Ematerce. Também já estão indo as cópias dos contratos deste ano para realização das visitas. Mas, sempre que preciso, passo na Ematerce e converso com algumas pessoas. Agora, depois que mudou o gerente, já tive até problema, não vou mentir. Deu problema porque o Programa Agroamigo tem uma metodologia a cumprir e quando você fala sobre essa metodologia, lá eles não aceitam, eles acham que tem que ser uma coisa diferente, querem dizer como a gente tem que atender os agricultores, de que maneira, até mesmo eles querem que a gente atenda em ponto fixo, pra quando chegar o agricultor lá na Ematerce, eles direcionarem o agricultor a você em um ponto fixo. O problema maior foi por conta disso, porque eu disse que não é possível atender em ponto fixo, mas diretamente nas comunidades.

Sobre esta e outras questões afins, um dos gestores da agência comentou o seguinte:

O sindicato de Caucaia é que estava ajudando o AMR na emissão de DAPs, justamente porque, às vezes, a Emater já quer mais um direcionamento, e o AMR não pode direcionar. Ele não pode enquadrar os agricultores no Programa; só o sindicato e a Emater podem executar essa atividade. O AMR faz a reunião na comunidade, mas não pode dizer quem são as pessoas enquadráveis no Programa. Ele não pode fazer isso. Ele faz a reunião na comunidade e diz: olha vocês agora precisam de uma DAP, devem procurar a Ematerce ou o sindicato.

Questionei os técnicos da Emater no sentido de compreender a visão que têm do Agroamigo, bem como do AMR. Segue um dos depoimentos:

Quanto ao trabalho do Agroamigo, funciona mais porque ele acompanha mais. O próprio cadastro dele é uma entrevista; já me disseram que são bem cinco folhas o cadastro do Agroamigo [...] Isso não quer dizer que também não tenha irregularidade, sabe por quê? Porque muitas vezes vêm pessoas aqui pra fazer a DAP as quais nós temos conhecimento de que são funcionários, que têm pessoas empregadas na família, a gente descobre! Na prática mesmo há comunidades em que, apesar de ele ser daqui do município, nós temos mais conhecimento do que ele. Agora mesmo ele cadastrou uma menina lá no São Pedro que o marido dela já tinha feito um Pronaf C; então, que entrevista é essa que ele está fazendo, que ele não consegue tomar conhecimento disso? Eu considero que a metodologia dele é bem melhor do que a nossa e, mesmo assim, a gente vê que ele não descobre tudo.

À minha indagação acerca do papel da Emater junto aos agricultores familiares do Pronaf B, o extensionista por mim entrevistado falou:

O papel da Ematerce é de prestar assistência técnica, nós temos conhecimento disso, e tinha que ser um acompanhamento individual. É feito por amostragem porque nós não temos condição. Agora com essa verba do MDA para assistência técnica pode ser que mude essa realidade porque vamos começar com 50 projetos. Assim, nós podemos fazer uma visita individual, mas na situação que a gente trabalhava aqui, atendendo 250 projetos, quer dizer, elaborando 250 projetos por mês, não tinha a menor condição de visitar nem 5%. Mas a Ematerce tem obrigação, nós sabemos disso que essa é a nossa função: assistência técnica ao homem do campo, independente de ele ter feito um Pronaf B ou não, agora nós não temos é condição, pelo número de técnicos, de atender o município de Caucaia todo; nós atendemos, talvez, 3% do número de agricultores. Porque assistência técnica, aquela que a gente realmente vai à comunidade, acompanha, vê a área que ele planta, acompanha o plantio, os tratos culturais, o controle de praga, tudo isso, não dá pra fazer. O que nós podemos dizer é que atendemos os produtores de Caucaia, com as sementes, no programa Hora de Plantar, que tem uma abrangência muito grande não só em Caucaia, mas em todo o Estado.

Quanto ao papel do sindicato junto aos agricultores, o dirigente do STR de Caucaia fez os seguintes comentários:

Sem dúvida, eu acho que o papel do sindicato vem se desenvolvendo: levar todas as informações para o conhecimento deles em suas comunidades, qual é o fato de direito, qual é o fato de dever. Pra poder ter direito, ele tem um dever a cumprir. Esse dever, a gente também pede pra que seja cumprido. Por isso, incentivamos que se sindicalize. Intermediamos também o seguro-safra para os agricultores; para isso, nós precisamos que eles se destaquem, façam a inscrição, cheguem até o Banco, paguem aquela taxazinha. Mas a maior demanda dos agricultores pro sindicato é a questão da previdência. Na verdade, é o seguinte: a maioria das pessoas que procura o benefício da previdência, às vezes, não é nem sócio. A outra coisa que nós temos são as questões jurídicas dos trabalhadores rurais. Pra você ter idéia, o sindicato, hoje, tem mais de mil processos de causas dos trabalhadores na justiça. As associações, o Fórum dos Assentados que nós temos aqui, funciona dentro do sindicato, aonde a gente centraliza as ações dos assentados como um todo. Tudo isso o sindicato faz na base.

Em relação à importância da presença do AMR para os agricultores que contraem financiamento, comentou:

Eu acho a presença dele, vendo como um todo, faz com que além do acompanhamento que é muito importante, os agricultores assumam o compromisso com responsabilidade, não só perante os outros companheiros, mas, também, perante a agência. Quando há esse acompanhamento, eu vou honrar meus compromissos. Porque eu estou aqui com o camarada e eu quero um segundo crédito. Se eu não aplicar direitinho, posso ser excluído de um novo contrato. Isso também influencia muito.

Para um dos gestores do Pronaf, no BNB, o envolvimento dos atores sociais do Programa tem melhorado bastante. E acrescentou:

Há um mês até falei pra todo mundo a importância de uma reunião em que contamos com o pessoal da Contag nacional, todos os presidentes de federação, pra gente discutir de frente a questão da inadimplência. No final eles formataram um plano de ação com o Banco, em que eles resolveram mobilizar todos os produtores para dirimir esse problema através das facilidades de renegociação constantes da Medida Provisória 432. Isso no governo passado era praticamente impossível. Isso é muito importante porque esse termo parceria tem sido amplamente utilizado, mas, no final, o problema fica com o Banco. A parceria se dá apenas para fins de aplicação. A parceria que eu chamo de controle social deveria existir para o acompanhamento do crédito, que é o mais importante.

Preocupado em manter a qualidade de sua carteira, o AMR admitiu que é interessante para o Agroamigo aquele cliente que demanda crédito também pelo Crediamigo, uma vez que esse cliente se esforça mais para manter o relacionamento com a instituição

financeira, dada a frequência com que precisa renovar o crédito para capital de giro, próprio do Crediamigo:

Se ficar inadimplente no Agroamigo, não poder renovar o Crediamigo, que é mais ou menos de quatro em quatro meses, de três em três meses; aí tem que estar sempre ali com as suas parcelas em dia, porque na hora que ele atrasar uma parcela, se for na época de renovar o Crediamigo dele, ele não vai poder. Então, se torna um bom cliente.

Neste sentido, na medida do possível, o AMR chega a estabelecer uma parceria informal com seus colegas do Crediamigo: como este programa exige que a atividade a ser financiada tenha pelo menos um ano de funcionamento, o cliente financia a implantação da atividade desejada através do Agroamigo, eliminado, assim, o citado impedimento no âmbito do Crediamigo.

Na ocasião o AMR relatou, ainda, a importância das lideranças comunitárias para o êxito de seu trabalho nas diferentes localidades do município:

Além da parceria que a gente tem, não só com o Sindicato, com a Ematerce e com a Secretaria de Agricultura, procura manter uma parceria diretamente com os líderes comunitários. São pessoas que, na hora que tem alguém por vencer, vão lembrando do pagamento e, aí, já vão reunindo as pessoas pra você renovar o crédito e, assim, se torna bem melhor.