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Breve análise dos direitos antidumping impostos após a Política de

À luz do que foi proposto no item anterior, é pertinente fazer uma avaliação das medidas antidumping aplicadas no Brasil frente à atual STIP brasileira.

A nova política industrial brasileira foi anunciada em maio de 2008. Desde então, foram aplicados direitos antidumping sobre 17 produtos354, a saber: acrilato de butila, calçados, eletrodos de grafites, fenol, fibras de viscose, filme pet, fios de juta, fios de viscose, glifosato, lápis de grafite e de cor, nitrato de amônio, papel supercalandrado, pneus de automóveis, pneus de carga, PVC-S, resinas de policarbonato e seringas descartáveis. Uma breve análise de cada um dos setores que receberam proteção é esclarecedora quanto à conformidade das medidas com as metas estabelecidas na atual política industrial.

Não serão analisados os aspectos meramente técnicos das medidas impostas (como similaridade do produto, cálculo da margem de dano ou análise do dano), apesar de, por vezes, serem bastante questionáveis. O presente exame será adstrito à aparente compatibilidade das medidas com o Plano de Desenvolvimento Industrial lançado pelo governo em 2008. Ainda assim, essa análise está longe de ser precisa, html/prddr/outreach/or1.htm>. Acesso em: 20 nov. 2009. Tradução nossa: O aparente policiamento das ações predatórias pelo antidumping é parte importante do poder emocional de antidumping. Na realidade, porém, o antidumping não policia ações predatórias. David Palmeter, um destacado especialista de Washington e frequente consultor de países em desenvolvimento exportadores com diversos casos de antidumping, concluiu que: “Provavelmente, é seguro prever que, em nenhuma das 767 determinações afirmativas de dumping implementadas pela Austrália, pelo Canadá, pela Comunidade Europeia e pelos Estados Unidos, entre 1980 e 1986, havia, remotamente, a presença de preços predatórios”. [...]).

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visto que os ministros da CAMEX não justificam os seus votos, de forma que só é possível supor as suas razões.

3.6.1 Plásticos

Pelo menos três dos produtos supramencionados podem ser agrupados no setor plástico – filme pet, PVC-S e resinas de policarbonato – e, por isso, analisados conjuntamente.

O antidumping sobre filme pet (nesse caso, existe uma medida compensatória e um direito antidumping em vigor) foi requerido pela empresa Terphane Ltda. e afetou indústrias indianas e tailandesas. Um dos principais usos do filme pet é como matéria-prima de embalagens flexíveis. Pode ser encontrado tanto em embalagens de alimentos (café, leite em pó, refrescos em pó, gelatinas, refeições prontas, alimentos para animais etc.) como de não alimentos (higiene pessoal, limpeza e produtos hospitalares). O filme pet também é usado em várias outras aplicações industriais, como: etiquetas, cabos telefônicos, desmoldagem de telhas de fibra de vidro, plastificação de documentos, fitas adesivas, decoração etc. A empresa em questão é brasileira, mas também possui uma unidade produtiva nos Estados Unidos.

No caso do PVC-S, o processo foi requerido pela indústria Braskem e afetou as importações provenientes da China e da Coreia do Sul. Essa resina é utilizada na produção de diversos itens, como: embalagens, revestimento de tecidos, calçados, brinquedos, móveis, revestimento de fios para eletrônicos, construção civil (i.e., pisos e tubos), equipamentos médicos (i.e., seringas, cânulas, cateteres), entre outros. Ou seja, também está no início da cadeia de diversos produtos fabricados no Brasil.

Já o processo o qual aplicou medidas antidumping sobre as importações de resina de policarbonato foi requerido pela Proquigel Química S.A. (antes chamada de Policarbonatos do Brasil) e afetou empresas dos Estados Unidos e da União Europeia. Essa resina é utilizada para a fabricação de mídias óticas, lentes de óculos para correção, faróis de veículos, calçados (solados) e uma infinidade de outros produtos de maior valor agregado. Ou seja, é mais um produto no início da cadeia de diversos outros produtos fabricados internamente.

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A aplicação de uma medida antidumping em produtos que afetam tantos outros setores é temerária, e dificilmente podem ser previstos os seus efeitos na economia. Sendo assim, deve ser plenamente justificada, pois onerará praticamente todos os utilizadores de artefatos de plástico.

Nesse sentido, poder-se-ia argumentar que, por haver apenas uma empresa realmente brasileira produtora de resina de policarbonato, já que as outras indústrias que vendem o produto no Brasil são multinacionais que o importam (basicamente, Bayer e Sabic), haveria interesse em proteger essa indústria. Da mesma forma, a Braskem é uma indústria brasileira que, apesar de atuar em diversos setores, produz, juntamente com o grupo europeu Solvay, todo o PVC-S no Brasil. Assim, também nesse caso está envolvida uma grande indústria brasileira, que tem o seu centro de P&D no Brasil. O mesmo ocorre com a Terphane Ltda., única fabricante de filme de poliéster biorientado da América do Sul, matéria-prima de diversos outros plásticos.

Apesar disso, conforme já demonstrado anteriormente, a proteção simplesmente pela proteção não favorece a mais ninguém senão aquele determinado setor e à geração de ineficiências à custa de toda a sociedade. Por isso, é necessário que haja um interesse maior na aplicação da medida. Cabe averiguar se o setor plástico está inserido na política industrial brasileira e se é exigida da empresa alguma contrapartida pela proteção.

Nesse caso, a resposta é positiva. Realmente o setor de plásticos está inserido na política industrial brasileira com metas específicas (exportar US$ 2,2 bilhões de produtos plásticos em 2010) e iniciativas definidas para aumentar a competitividade da indústria nacional, como o apoio na fixação de marcas no exterior e investimentos para reestruturação; a promoção de iniciativas que ampliem o acesso a instrumentos para inovação/tecnologia; a incorporação de tecnologias estratégicas – tecnologias de informação e comunicação (TICs), biotecnologia e nanotecnologia – na cadeia produtiva; o fomento à adoção de práticas de reciclagem, produção mais limpa e gerenciamento pós-consumo; o incentivo à incorporação de tecnologias de produtos para injetados plásticos (máquinas, equipamentos, moldes e periféricos); a ampliação de programas de capacitação em gestão empresarial e em temas técnicos; a implementação de programa de consultoria nas empresas para comércio exterior; e a estruturação política de formação de profissionais focada na demanda.

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A questão se o antidumping nos três produtos pode atrapalhar mais do que ajudar o setor plástico foge ao escopo do presente trabalho, mas, apesar de questionável, a aplicação da medida pode fazer sentido do ponto de vista meramente da coordenação com as demais ações governamentais para o setor.

3.6.2 Insumos agrícolas

Outros dois produtos os quais podem se analisados conjuntamente são o nitrato de amônio e o glifosato, pois ambos são insumos agrícolas de grande importância para a produção de grãos no Brasil.

O direito antidumping sobre as exportações russas e ucranianas de nitrato de amônio foi requerido pela indústria Ultrafértil S.A., incorporada pelo grupo Fosfertil, criado pelo governo federal em 1977, atuante no segmento de fertilizantes. A Ultrafértil é a única produtora nacional de nitrato de amônio.

Essa medida foi extremamente contestada na época, tendo em vista o crescimento da demanda por fertilizantes e a alta nos preços desses produtos. Conforme levantamento realizado pela Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso (APROSOJA), os custos de produção da soja consumiram, em média, 90% (noventa por cento) dos rendimentos gerados com a safra 2007/2008 do estado. A mesma entidade afirma que os gastos com insumos, incluindo os fertilizantes, representam a maior parte dos custos produtivos – 47% (quarenta e sete por cento) – e tiveram um aumento de 31% (trinta e um por cento) no período entre as temporadas 2001/2002 e 2006/2007.

Ainda assim, a proteção poderia ser justificada, pois é claro que o setor de fertilizantes é estratégico para os planos de potência agrícola em alimentos e agroenergia do Brasil, sendo a autossuficiência nacional nesse insumo, aparentemente, um objetivo desejável.

O resultado desse processo foi bastante incomum se comparado com a prática brasileira. O direito foi aplicado, mas foi suspenso imediatamente, com vistas a preservar a estabilidade e a importância do produto para as principais culturas agrícolas brasileiras.

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O glifosato, por sua vez, é um defensivo agrícola fabricado no Brasil pela multinacional Monsanto, que figurou como única peticionante do processo que terminou com a aplicação de medidas contra produtores da China (a Nortox, que era a outra peticionaria, desistiu do processo antes da aplicação do direito definitivo, passando, inclusive, a contestá-lo).

O glifosato é um defensivo agrícola utilizado fundamentalmente no cultivo da soja. A APROSOJA participou ativamente do processo decisório dessa medida. Em sua manifestação à CAMEX, a Associação argumentou que:

O glifosato é uma matéria-prima de agrotóxicos e a substância responsável pela atuação do produto como herbicida. Este é largamente utilizado nas lavouras brasileiras e consta como o mais vendido no mundo, cuja importância para o agronegócio brasileiro se dá devido aos notórios benefícios obtidos com o seu manejo de solo para as mais diversas culturas, como por exemplo, café, milho, trigo e soja. Conforme pode ser apurado na reportagem publicada no Diário de Cuiabá, em 29 de setembro de 2008355, o preço do glifosato aumentou em 70% da safra passada para este ano, prejudicando, principalmente, a lavoura de soja transgênica. O presidente da Comissão de Grãos da Farsul, Jorge Rodrigues, em entrevista para o Correio do Povo, em 08 de fevereiro de 2008356, afirmou que o defensivo é responsável por 15% dos custos de produção da lavoura de soja, nas quais são aplicados, em média, 4,5 litros/hectare. Além disso, dados do Instituto de Economia Agrícola de São Paulo (IEA), publicados em reportagem do jornal Valor Econômico, em 16, 17 e 18 de janeiro de 2009, mostram que o litro do glifosato saltou de R$ 12,10 para R$ 23 entre os meses de outubro de 2000 e 2008. Diante disso, verifica-se que em 2008 os custos do agronegócio aumentaram vertiginosamente, impondo aos produtores uma enorme carga econômica quanto à aquisição de insumos como fertilizantes e componentes químicos para as lavouras. E levando-se em consideração as características da presente crise econômica mundial, a imposição de um direito antidumping sobre o glifosato, de qualquer ordem, será deveras prejudicial para a economia brasileira. O mesmo raciocínio inspirou a decisão de prorrogar, porém suspender os direitos antidumping sobre o nitrato de amônia (Resolução CAMEX nº 71, de 04 de novembro de 2008). Com base no interesse nacional, a Câmara de Comércio Exterior entendeu por bem não taxar o produto com a alíquota ad valorem com vistas a preservar a estabilidade e a importância do produto para as principais culturas agrícolas brasileiras, o qual também é utilizado como matéria-prima para agrotóxico. Não obstante, importante ressaltar que a maior parte da produção de soja do Brasil é exportada para a China. A prorrogação do direito objeto de revisão

355 Cf. MACIEL, Marcondes. Preço do glifosato dispara em 12 meses no Estado. Diário de Cuiabá, Cuiabá, 29 set. 2008. Disponível em: <http://www.aspta.org.br/por-um-brasil-livre-de- transgenicos/documentos/soja-transgenica-tem-custos-maiores/>. Acesso em: 10 nov. 2009.

356 Cf. GAÚCHO quer derrubar taxa do glifosato. Correio do Povo, Porto Alegre, n. 131, 08 fev. 2008. Disponível em: <http://www.correiodopovo.com.br/jornal/A113/N131/HTML/default.html>. Acesso em: 10 nov. 2009.

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seria bastante contraditória, vez que se imporia um direito ao insumo advindo do principal parceiro comercial do produto final brasileiro. Ademais, com a prorrogação da medida, a segurança alimentar brasileira restará vulnerável, visto que a multinacional Monsanto de terá praticamente todo o poder manipulatório sobre os preços da agricultura brasileira357.

Todavia, ao contrário do que ocorreu no caso do nitrato de amônio, a CAMEX optou pela aplicação de um direito antidumping, defendendo a multinacional. É bem verdade que a decisão dos ministros foi diferente do recomendado pelo DECOM, sendo aplicado um valor bastante inferior ao sugerido pela autoridade investigadora.

O sistema agroindustrial está previsto no atual plano de desenvolvimento brasileiro, com os seguintes objetivos: (i) expandir a produção para o mercado interno, manter a liderança nos segmentos commodities e crescer em mercados de maior valor; (ii) aumentar a capacitação tecnológica nos insumos; e (iii) perseguir um padrão de classe mundial nas cooperativas agroindustriais. O mesmo plano reconhece que existe a concentração nos segmentos de insumos e nos serviços especializados, sendo prevista, inclusive, a criação de grupo de desenvolvimento de tecnologia para a fabricação de fertilizantes nitrogenados.

Assim, realmente existe um plano para o desenvolvimento de tecnologia de insumos agrícolas no Brasil, o que, a despeito de todas as críticas que podem surgir, poderia justificar a proteção de indústrias brasileiras no setor. Apesar disso, principalmente no que se refere ao glifosato, não parece ser o caso, pois a única beneficiária do antidumping foi justamente uma controvertida indústria multinacional.

De fato, no início de 2008, a documentarista francesa Marie-Monique Robin apresentou em seu livro e documentário algumas revelações impactantes sobre a Monsanto358. A pesquisadora se manifestou especificamente sobre o glifosato, dizendo que a empresa vende o “pacote tecnológico” completo: quem compra as sementes patenteadas da Monsanto deve obrigatoriamente comprar o glifosato da mesma empresa (o chamado Roundup) e não pode usar o glifosato genérico. Ao impedir a entrada do defensivo importado, o governo federal acabou favorecendo a condição de dependência da multinacional.

Mesmo desconsiderando todas as denúncias da pesquisadora, parece no mínimo questionável que a alta cúpula do governo brasileiro tenha entendido ser

357 Manifestação da APROSOJA no Processo MDIC/SECEX-RJ 52500.023070/2007-83.

358 O mundo segundo a Monsanto. [S. l.], 2008. Disponível em: <http://www.blip.tv/file/780111>. Acesso em: 22 set. 2009.

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interessante ao país ser dependente de uma empresa multinacional cujas práticas têm sido motivo de processos judiciais em todo o mundo, como por exemplo, o comprovado caso de suborno de altos funcionários do governo por parte da empresa na Indonésia359. Seria mais transparente que os ministros demonstrassem o motivo pelo qual entenderam que a proteção da Monsanto era interessante ao Brasil.

3.6.3 Setor têxtil

Até pouco tempo atrás, o setor têxtil tinha pouco interesse em medidas antidumping, pois, com o acordo de quotas que havia firmado com a China, o produtor brasileiro tinha relativa proteção contra os seus principais concorrentes. O problema é que, no final de 2008, o acordo de restrição não foi renovado. Apesar de existirem apenas três produtos têxteis com medida em vigor, vários outros estão em trâmite. Os três produtos são o fio de juta e a fibra e o fio de viscose.

O processo para a aplicação de medidas antidumping sobre as importações brasileiras de fios de juta foi requerido pelo Instituto de Fomento à Produção de Fibras Vegetais da Amazônia (IFIBRAM) e afetou as exportações provenientes de Bangladesh e Índia. O produto em questão é utilizado basicamente na produção de tapetes.

A única indústria brasileira produtora de fios de juta é a Companhia Têxtil de Castanhal, que emprega diretamente 1.500 funcionários no município de Castanhal, no estado do Pará. Indiretamente, a cultura da juta é a principal fonte de renda para cerca de 15 mil famílias ribeirinhas no interior dos estados do Pará e do Amazonas.

Mesmo afetando uma cadeia de produtos que não é significativa para o Brasil, pelo menos não do ponto de vista econômico, esse antidumping seria de interesse social por preservar a fonte de renda de pessoas que vivem em uma das regiões mais pobres do país. Ainda assim, para ser efetiva, a proteção deve ser acompanhada de outras ações governamentais que fortaleçam a competitividade da indústria.

359 Para maiores detalhes sobre o caso de suborno, vide a íntegra da reportagem publicada no jornal Jakarta Post, em 10 de janeiro de 2005. (KPK to investigate Monsanto bribery case. The Jakarta

Post, Jacarta, 10 jan. 2005. Disponível em: <http://www.thejakartapost.com/news/2005/01/10/kpk-

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No que se refere à fibra e ao fio de viscose, a situação é diferente. Nos dois casos, o processo foi requerido pela Vicunha Têxtil360, uma das maiores indústrias têxteis do Brasil, sendo ambos os produtos pertencentes à cadeia produtiva de uma série de confecções.

A fibra de viscose é a principal matéria-prima do fio, sendo utilizada em malharias e tecelagens, na fabricação de vestuário, de tecidos para decoração, de mesclados ou não com poliéster (PES) ou algodão. Da mesma forma, o fio de viscose é o produto da manufatura da fibra e, portanto, está no início da cadeia dos mesmos produtos têxteis. A principal produtora é também a Vicunha.

O setor têxtil está também na PDP brasileira, tendo como principal objetivo ampliar a sua competitividade. O governo reconhece que o mercado interno está em expansão, mas tem um deficit comercial a partir de 2006, após cinco anos de superávit (US$ 648 milhões em 2007), e apresenta uma modesta participação no mercado mundial (60º lugar). Diante dessa realidade, a principal meta do governo é ampliar o faturamento do setor para US$ 41,6 bilhões em 2010 (US$ 33 bilhões em 2006).

Um dos instrumentos nominalmente citados para o alcance dessa meta seria o “combate a práticas desleais de comércio”, com a utilização do antidumping. Nesse sentido, a PDP prevê a criação de Grupo de Trabalho para aprimorar a estrutura e promover a integração entre os órgãos de governo responsáveis pelas operações de comércio internacional.

No caso da fibra e do fio de viscose, a aplicação da medida de defesa está, prima face, condizente com as demais políticas públicas. No caso dos fios de juta, apesar de o argumento social ser realmente relevante, deve-se incluir a indústria também nos programas de fomento, para que seja possível retirar a medida e a empresa possa competir independente da intervenção estatal.

360 No caso do processo de fibra, também constavam como peticionárias as indústrias Jofegê Fiação e Tecelagem Ltda., e Têxtil Carmem Ltda.

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3.6.4 Setor químico

Os produtos químicos são frequentemente afetados por medidas antidumping. No período em análise, o acrilato de butila e o fenol sofreram imposição de medidas dessa natureza.

No caso do acrilato de butila, o pedido foi protocolado pela multinacional BASF, que é a principal fabricante do produto no Brasil. A produção desse produto químico se destina, em grande medida, à fabricação de tintas imobiliárias. A BASF consume grande parte de sua produção (grande consumo cativo), pois é também uma grande produtora de tintas.

A medida antidumping sobre as importações brasileiras de fenol foi requerida pela indústria Rhodia Poliamida e Especialidades Ltda., multinacional do setor químico de origem francesa. O fenol é utilizado na indústria, em especial na produção de cosméticos, tintas e corantes, e também em fazendas, para a desinfecção do local de ordenha das vacas, a fim de evitar a contaminação do leite.

Nos dois casos, não existe uma política pública definida para o setor, sendo que ambas as indústrias não são de origem nacional e, provavelmente, não têm seus centros principais de geração de tecnologia no Brasil, não existindo qualquer meta de investimentos ou de exportação.

Sendo assim, o interesse nacional, pelo menos nesse aspecto, não fica evidenciado. Da mesma forma, pode ser que o desenvolvimento de tais indústrias seja importante para o algum outro segmento previsto na PDP brasileira, mas como a justificativa do voto dos ministros não é disponibilizada à opinião pública, e como essa não parece ser uma análise que faz parte da praxe da CAMEX, nunca ficará clara a real intenção com a aplicação da medida.

3.6.5 Setor de pneumáticos

Outro caso em que o interesse nacional não ficou evidenciado foi na aplicação de medidas antidumping sobre as importações de pneus (tanto de veículos pesados quando de automóveis). Nos dois casos, a peticionária foi a

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Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), e as principais beneficiárias foram as multinacionais Bridgestone Firestone, Goodyear e Pirelli. A imposição de direitos nesse produto afeta diretamente todos os produtos dependentes de transporte rodoviário, além de ter efeitos sobre a produção de automóveis.

Pelo fato de o Brasil não ter qualquer plano para esse setor específico, e por se tratar de um produto sensível para outros setores, mais uma vez o interesse nacional deveria ter sido justificado. Ou seja, o motivo pelo qual o governo brasileiro decidiu proteger quatro empresas multinacionais de outras origens, a despeito do risco de prejudicar outros setores (em especial o automobilístico), sem a previsão de metas para as indústrias, deveria ter sido explicitado.

3.6.6 Setor calçadista

O setor calçadista foi outro que recebeu a proteção do governo. A petição protocolada pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) resultou em um direito preliminar contra as exportações da China ao Brasil, equivalente a 12 dólares por par de calçado. Essa medida parece estar totalmente condizente com as demais políticas públicas definidas na PDP.

O governo reconhece que o mercado interno brasileiro está em franca