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A nálise dos dados

9 Êmic é a visão da perspectiva daqueles que estão sendo pesquisados, de acordo com LEININGER (11a) N o caso deste estudo, é a forma que os familiares e a equipe de enfermagem interpretam sua vivência no

4.11 Cada um sabe o seu lugar na unidade

Os diferentes integrantes da equipe de saúde na qual se incluem médicos, médicos residentes, estudantes de fisioterapia, de medicina e os diferentes níveis da equipe de enfermagem vão ocupando seus espaços na unidade. Não há limites de ocupação de espaço para a equipe, estes existem apenas para os familiares e pacientes, no entanto, parece que “cada um sabe seu lugar” de acordo com o momento.

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Assim, a sala de prescrição, que possui uma mesa grande e cadeiras, é ocupada durante o dia pelos integrantes da área de medicina, composta por médicos residentes e médicos chefes das diversas clínicas: nefrologia, pneumologia, pediatria geral, endocrinologia e, às vezes, estudantes de medicina. A escrituraria, que também habita este ambiente no período da manhã, tem uma pequena mesa na parte lateral da sala. Fica sempre ali atendendo ao telefone e mexendo nos seus papéis, pois é responsável pala parte burocrática da unidade. Apenas a enfermeira chefe se movimenta com desenvoltura nesta sala, senta-se à mesa, mesmo quando tem médicos em pé, atende ao telefone, conversa com quem se encontra ali sentado. O técnico ou o auxiliar responsável pela medicação senta-se à mesa apenas no início da manhã e no início da tarde quando examina os prontuários para “conferir a medicação” prescrita no que eles denominam de “livro da medicação”. Auxiliares e técnicos responsáveis pelos quartos entram neste recinto no início e no fim do expediente ou quando precisam localizar algo no prontuário.

Durante a noite, a equipe de enfermagem utiliza esta sala com desenvoltura, uma vez que a equipe médica não está presente. Sentam ao redor das mesas, conversam e escrevem. Já o professor responsável aproveita o local para repassar orientações aos estudantes do curso de auxiliar de enfermagem.

O posto de enfermagem, que se situa ao lado da sala de prescrições e do quarto A, é o local onde permanece principalmente o responsável pela medicação. Ele/ela fica grande parte do dia no balcão preparando medicação, ficando também numa posição na qual pode observar pelo vidro as crianças do quarto A e suas mães, os demais integrantes da equipe entram e saem do posto continuamente. Neste local, num pequeno mural são afixados avisos específicos para a enfermagem, um telefone também possibilita a comunicação sem sair do local.

Quando a “unidade está calma”, a equipe de enfermagem conversa entre si no posto, em pé, enquanto que o pessoal da medicina gasta seu tempo sentado na confortável mesa da sala de prescrição conversando e rindo. “Unidade calma” significa quando tem poucas crianças internadas, quando não houve admissão de criança nova e também quando as crianças internadas não demandam cuidados complexos.

O espaço de lazer da enfermagem é a copa dos funcionários, lá outros integrantes de outras equipes não entram. Este espaço é confortável, tem uma máquina de café, forno microondas, uma mesa com cadeiras, um armário e um cabide para colocar os pertences. O

fomo microondas foi comprado pelos próprios funcionários, o dinheiro foi angariado através de uma “rifa”. É um espaço onde a equipe pode, por alguns momentos, fugir do burburinho, é uma fronteira entre a compostura e o relaxamento.

Inúmeras vezes, me refugiei ali para anotar algo e, ao estar ali, outros integrantes da equipe se refugiavam para conversas “íntimas” sobre a unidade. Conversas estas que se constituíam em uma forma de a equipe integrar-se, de juntar forças para enfrentar as adversidades “lá de fora”, que podem vir tanto de outros integrantes do Sistema Profissional, como do outro Sistema de Cuidado, o da família. Uma forma de as mais antigas aconselharem as mais novas a agir.

Eu estava sentada na copa, anotando, quando Violeta uma auxiliar de enfermagem, veio nervosa contando-me que o Dr (...) a chamou e disse “para que é que tinha tanta gente ao redor desta criança fazendo ‘tererê ’? Não tem que ficar fazendo todo este ‘tererê ’ com o pai porque ele gosta de ficar no hospital. Tem que deixar ele sozinho, cuidando e acabou ”. E enquanto ela falava, entraram na copa a Azaléia e Margarida (auxiliares) com ar de curiosas, querendo saber o que aconteceu. Logo foram dando suas opiniões de forma emocionada, de vez em quando, davam uma espiada pela porta para ver se não tinha ninguém ouvindo. (Notas de Observação).

A sala de CAPD é destinada à diálise peritonial, é utilizada apenas pela enfermeira, paciente e um familiar. Ainda há uma sala da chefia de enfermagem, ambiente exclusivo das enfermeiras, mas, na verdade, pouco utilizada. Os banheiros se dividem entre um destinado aos funcionários e um outro conjunto de sanitários para os familiares, não tendo nenhum chuveiro para funcionários ou para familiares, fato considerado um desconforto para ambos.

No verão não temos um chuveiro para tomar um banho, para mim que saio daqui para trabalhar em outro hospital, isto é, muito desconfortável (Auxiliar de Enfermagem).

A sala de curativo é um local onde todos os profissionais têm acesso e mesmo os familiares quando acompanham a criança. O local é mais utilizado para pesagem no período da manhã e para efetuar punções venosas, evitando que isto seja feito nos quartos diante de outras crianças e familiares.

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Os quartos ficam com as portas abertas na grande parte do dia. Estas portas abertas são um convite para um “entra e sai” de todos os profissionais. Os familiares recebem orientações de se manterem nos seus quartos e não entrarem nos demais.

“Quando internamos aqui, disseram para eu ficar sempre perto dela” (Mãe de criança do interior, com suspeita de afecção neurológica).

Geralmente, quando é a primeira internação, a criança está mais restrita ao leito, o familiar permanece sentado na sua cadeira, movimentando-se pouco. Na medida em que ocorre a melhora da criança e o familiar está mais adaptado, começa a circular mais e mais pelo quarto, olha as outras crianças, vai ajudando os outros familiares. No caso de crianças com outras internações na unidade ou mesmo em outras unidades do hospital, familiares e crianças circulam em todas as áreas permitidas e, às vezes, mesmo nas não permitidas, como nos outros quartos, se aventuram a entrar na rouparia e pegar roupa quando vêem que ninguém está olhando.

Estávamos fazendo a passagem de plantão, duas auxiliares do dia, duas da noite e eu. Quando saíamos do quarto A e entrávamos no corredor, vimos duas mães dentro da rouparia, que aproveitavam este momento, escolhendo roupas para seus filhos. Faziam isto, apressadas, olhando um pouco temerosas para nós que íamos passando, mas ninguém falou nada (Notas de Observação).

Os espaços permitidos ao familiar são: o quarto; a sala dos acompanhantes, que possui prateleiras nas quais podem guardar seus pertences como malas, cobertores; a copa das crianças, onde há um aparelho de televisão; e a sala de recreação, quando está aberta, no período da tarde. Em outros locais como no posto de enfermagem, onde vão com freqüência, eles permanecem na porta e esperam ser atendidos, ou entram acompanhados de um funcionário, como na sala de curativo e CAPD. Às vezes, o residente ou médico permite que uma criança ou familiar entre na sala de prescrição para conversar.

Os familiares, quando já bem adaptados, ou após a alta, ao retomarem ao médico, sentam nas duas poltronas existentes na entrada da unidade. São poltronas confortáveis, que se situam no corredor geral frente ao corredor de entrada da unidade. Algumas vezes, os funcionários também as ocupam por breves momentos, mas isto não é uma prática freqüente.

Há ainda o grupo dos estudantes de fisioterapia que permanece em uma sala no final do corredor, não tendo contato freqüente com as equipes médicas ou de enfermagem. Não há um profissional fisioterapeuta no hospital, o atendimento fisioterápico é efetuado pelos estudantes de graduação supervisionados por duas docentes fisioterapeutas. Talvez, por isto, eles estejam tão distantes da equipe de enfermagem, eles circulam pelos corredores e pelos quartos, normalmente não se apresentam, apenas sabe-se que são da fisioterapia pelo crachá que utilizam.