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A nálise dos dados

9 Êmic é a visão da perspectiva daqueles que estão sendo pesquisados, de acordo com LEININGER (11a) N o caso deste estudo, é a forma que os familiares e a equipe de enfermagem interpretam sua vivência no

4.5 O Serviço Social: famílias têm direitos e deveres

O Serviço Social tem sua área de trabalho, constituída de uma sala de recepção e mais três salas que destinam-se ao atendimento das Assistentes Sociais. Esta área localiza- se nas imediações do Serviço de Pedagogia e Psicologia, o que facilita a integração entre os mesmos. Trabalham ali três assistentes sociais, sendo que dividem seu trabalho no atendimento geral, que é prestado dentro das dependências do Serviço Social, cada uma atende em algumas áreas específicas, como o Setor de Oncologia, Serviço de Nutrologia, e o Hospital-Dia que assiste crianças com AIDS suas famílias.

Uma das Assistentes Sociais visita as unidades para verificar se há necessidade de seus serviços. Uma informante, falando de seu trabalho, refere:

“O Serviço Social atende mais à família do que ao paciente. Administra todo o apoio que o familiar recebe para permanecer no hospital durante a internação: distribui os tickets de alimentação, administra o albergue e os funcionários que lá trabalham. Dá apoio ao familiar na hora da internação, durante a mesma e na alta, informando sobre documentos necessários, comunicações com os familiares que permaneceram em casa e criando condições para que o paciente possa receber alta ou ainda ser transferido pára um centro de maior referência, na maioria das vezes, Curitiba ou Porto Alegre(Informação da Assistente Social).

As assistentes sociais exercem atividades ainda junto aos Conselhos Tutelares dos municípios, no caso de crianças em que os profissionais constatam negligência ou violência. Nos óbitos, o Serviço Social atua fazendo os contatos com familiares, informando sobre os trâmites necessários. Segundo a assistente social:

“Estas situações são sempre muito dramáticas ” (Informação verbal da Assistente Social).

Ainda, realiza busca ativa dos pacientes da oncologia e com AIDS, que fazem tratamento no Ambulatório. Quando não comparecem às sessões de tratamento, a assistente social tenta contactar a família por telefone quando esta mora no interior do estado, ou faz visita domiciliar caso resida em área próxima.

A informante entrevistada resume o trabalho do Serviço Social:

“O Serviço Social fa z muitas coisas, geralmente, há uma boa integração com os outros profissionais. Acredito que todo o trabalho, quando é multidisciplinar, acelera o processo de recuperação da criança, porque um profissional alerta o outro sobre problemas e soluções diferentes, fazendo com que tudo se resolva com mais eficiência. Para resumir, nós procuramos fazer com que os direitos do cidadão sejam respeitados, mas mostramos também que eles têm deveres a cumprir(Informação verbal

da Assistente Social).

O familiar do paciente tanto de ambulatório como internado, contacta o Serviço Social de duas formas: ou é encaminhado pelo médico, equipe de enfermagem, psicóloga ou procura o serviço espontaneamente.

“Na unidade, é a enfermeira que mais fa z solicitações ao Serviço Social, às vezes o médico também encaminha, embora haja alguns que acham que podem resolver tudo ” (Informação verbal da Assistente Social).

Os familiares conhecem o Serviço Social logo após a internação, pois há uma rotina de que, para receber as refeições no hospital, ele precisa apanhar os tickets com este serviço. Segundo as assistentes sociais, isto leva o familiar a procurar o Serviço Social também em outras circunstâncias, uma vez que assim já sabe da sua existência.

No cotidiano da unidade, observei, no entanto, que os familiares não conhecem a dimensão do trabalho do Serviço Social. Além disso, muitas vezes, quando eram encaminhados para receber os tickets de alimentação, voltavam dizendo que a cota já tinha

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se esgotado, ou que pelo fato de morarem mais próximos, não poderiam recebê-los devido à sua pouca quantidade. Nas inúmeras situações em que os familiares exteriorizavam suas opiniões sobre problemas de alimentação e acomodações, referiam não saber a quem se dirigir. Uma mãe procedente de um município próximo, que estava já na segunda internação, discutia a possibilidade de poder tomar banho na unidade, pois considerava o horário do albergue difícil.

“A gente teria que falar com alguém sobre isto, com as enfermeiras não adianta, acho que vou falar com o médico(Mãe).

O Serviço Social encontra limites para seu trabalho, entre estes o limite financeiro das instituições somado aos limites financeiros da família, deixam o profissional em situações desconfortáveis.

“A vezes tudo é muito difícil, pois os problemas das famílias acabam tendo que ser resolvidos aqui. Por exemplo, (mostrando-me uma ficha) esta criança para ter alta precisa de um balão de oxigênio. Vou ter que batalhar para conseguir. Trabalhamos com uma Secretaria de Saúde falida e, muitas vezes, nos deparamos com prefeituras dos municípios da origem dos pacientes que não se dispõem a dar nada. Mas há prefeituras, às vezes até de municípios pequenos, que são uma beleza, tudo que se pede, eles se prontificam ” (Informação verbal da Assistente Social).

4.6 O albergue

O albergue se situa defronte ao hospital. Para se chegar até ele, é preciso atravessar a rua e caminhar em tomo de 200 metros2 para alcançar o portão de ferro, no qual uma pequena placa orienta: “mantenha o portão sempre fechado”.

O albergue possui dependências para abrigar, de um lado, os familiares do sexo masculino e, de outro, do sexo feminino, com respectivos banheiros, além de uma cozinha e sala de estar. Ainda possui na parte externa, nos fundos, uma área para lavar e estender roupas.

O albergue é administrado pelo Serviço Social, sendo provido por recursos da Secretaria de Saúde do Estado. Possui cinco funcionários, que se dividem em: uma funcionária que trabalha à noite e três efetivas, que se revezam durante o dia, trabalhando

em dias alternados, e uma funcionária contratada em regime temporário, que trabalha de segunda a sexta feira.

O albergue tem como objetivo servir de apoio aos familiares de pacientes internados e serve como abrigo também para pacientes com câncer e familiares que vêm fazer radioterapia ou quimioterapia no ambulatório. Os familiares de pacientes da UTI dormem e permanecem no albergue no período em que não há horário de visitas. Os familiares de pacientes internados em outras unidades utilizam o albergue apenas para tomar banho nos horários das nove às dez horas da manhã e das catorze às dezesseis horas e trinta minutos da tarde, podendo ainda lavar e estender roupas.

De acordo com uma informante que me mostrou o albergue:

“São os familiares e pacientes da oncologia que nós mais mantemos contato, eu sou nova aqui, estou apenas há quatro meses. Tem crianças e pais que já vêm aqui há anos, já conhecem tudo e todos, quando eles chegam e tem uma pessoa diferente, como eu, eles já perguntam onde está ...” segundo ela, “os pais das crianças da oncologia são mais amigos, acho que porque são mais sofridos e talvez já estão mais acostumados com a situação, falam mais com a gente. Os pais das crianças da UTI ficam aqui pouco tempo, por isto não se fa z aquela amizade, e eles estão mais nervosos. As mães ou pais das crianças de outras unidades, a gente quase não fala, porque eles vêm correndo. As vezes, vêm duas ou três de um quarto, quando uma fica pronta, ela já volta correndo para cuidar do filho e olhar o das outras. As vezes, elas não conseguem vir no horário estipulado, mas a gente procura então dar um jeito porque se sabe que nem sempre elas conseguem sair de perto da criança no horário ” (Informação Verbal de um Funcionário do Albergue).

Ao mostrar-me as diferentes dependências do albergue, muito limpo e ordenado, disse:

“Procuramos fazer com que todos se sintam em casa” (Informação Verbal de um Funcionário do Albergue).

Disse que quando faltam funcionárias, ou mesmo na presença dos mesmos, muitas mães, principalmente quem tem filho na UTI, ajudam nas tarefas de arrumação e limpeza do albergue como forma de passar o tempo.

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N a sala de estar, há uma mesa com cadeiras, uma TV e um telefone, tipo público, que eles utilizam para se comunicar com os familiares que estão em casa ou com a unidade como a UTI. Conforme a funcionária, à noite, sentam ao redor, conversam, assistem TV. Ainda rezam perto da imagem de um Santo que está em local privilegiado da sala.