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6 A s notas expandidas dividiram-se em: NO Notas de Observação; NE Notas de Entrevista; NT nas quais anotava minhas reflexões acerca dos achados relacionados com o referencial teórico; NM nas quais

3.5 Coletando e analisando os dados

Na pesquisa qualitativa, o próprio pesquisador constitui o seu instrumento básico, estando presente, observando e, na medida em que o tempo passa, participando, sendo um aprendiz da situação. Era isto que eu explicava para aos familiares e à equipe, e esta postura facilitava a minha integração. “Há muito tempo estou fora de uma unidade de internação, estou aqui para aprender com vocês” .

Seguindo as etapas preconizadas por LEININGER (1997), na primeira, a da observação, procurei dar ênfase na observação do ambiente, nas atividades realizadas na unidade tanto no período matutino como no vespertino. Minha observação e posterior participação, ocorreram no período diurno. Com a equipe do noturno, o contato se restringia às passagens de plantão. No entanto, entrevistei vários integrantes da equipe deste turno e convivi com auxiliares de enfermagem que trabalhavam efetivamente à noite, porém, faziam horas-plantão durante o dia. Muitas menções eram feitas pela equipe de enfermagem e pelas famílias ao plantão noturno, razão das minhas entrevistas com membros desta equipe.

Nos primeiros dias, acompanhava os diferentes membros da equipe: auxiliar dos quartos, auxiliar responsável pela medicação, pesagem. Enquanto estava no quarto, já fazia contato com os familiares, perguntando a procedência, motivo da internação e às vezes auxiliava em algum cuidado. Geralmente, numa semana, me concentrava mais com os familiares e na semana seguinte, com a equipe.

Permanecia em tomo de duas a três horas na unidade, três a quatro vezes por semana, procurando repetir várias vezes minhas idas ali, num determinado período, a fim de me

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familiarizar com todos. Quando me concentrava mais com a equipe, procurava sempre estar informada sobre os paciente e os familiares. Para isto, buscava estar presente nas passagens de plantão com freqüência, que me forneciam um conhecimento geral dos pacientes internados, porque nas conversas entre si, ou comigo, ou durante as entrevistas mais formais, sempre costumavam dar exemplos das situações vividas. O diálogo transcorria mais facilmente quando eu conhecia a criança e o familiar, já que normalmente

diziam sabe a mãe de Quando me concentrava mais com as famílias, elegia um a dois

familiares, sendo que procurava ir dias seguidos à unidade, garantindo continuidade das situações vividas.

Aos poucos, fui passando para a segunda fase da Observação Participante, preconizada por LEININGER (1997), que é de observação, com alguma participação. Esta fase ocorreu gradativamente, pois na medida em que eu ia me entrosando mais e sentia que estava me envolvendo com a equipe, conversavam comigo a respeito de casos dê pacientes e familiares de forma espontânea, compartilhando “as fofocas” que “rolam” no posto de enfermagem e, sobretudo, na copa dos funcionários.

Com os familiares, já era diferente, eles permutavam constantemente, uma vez que os pacientes agudos da pneumologia tinham uma internação curta, de cinco dias a uma semana. Havia os pacientes crônicos que, aos poucos, passei a reconhecer, porque muitos reintemavam quase mensalmente ou a cada dois meses ou sempre que tivessem alguma intercorrência. Assim, procurava conhecer a situação de apenas um ou dois quartos e, destes, acabava elegendo um ou dois pacientes os quais acompanhava até a alta.

Alguns destes se constituíram informantes chaves, sendo que os demais foram informantes gerais. Quando estava mais concentrada em obter informações de familiares, comparecia no hospital dias seguidos, pois assim acompanhava melhor a criança e sua família, e tinha a oportunidade de conversar várias vezes, conquistar confiança e aperfeiçoar o tipo de perguntas a serem feitas, que se davam de acordo com a minha análise, que ocorria concomitante.

Nos primeiros dois meses da minha observação, realizei o que SPRADLEY (1980), denomina de “grand tour”, desta forma as perguntas se modificavam para ampliar a minha visão dos cuidado dos familiares e da equipe de enfermagem. Após este período, quando já estava bem ambientada, passei progressivamente para a terceira fase da pesquisa conforme LEININGER (1997), a de participação e observação continuada. Isto ocorreu de maneira

espontânea. Gradativamente me vi ali participando mais desembaraçadamente da vida da unidade e a equipe, conversando comigo, como se fizesse parte daqueles problemas e dos sucessos do dia-a-dia. Nesta circunstância, decidi aprofundar dados elegendo, entre os familiares, informantes chaves que melhor pudessem atender minhas necessidades de focar a pesquisa.

Em todos os momentos, foi difícil separar a minha visão de enfermeira e de pesquisadora. M inha participação fazia-se acompanhando e prestando uma ajuda quando a auxiliar fazia o preparo e distribuição da medicação, na punção de veia ou auxiliando nas funções relativas aos quartos. Compartilhava também de tarefas como guardar a roupa nas prateleiras da rouparia no final da manhã, desinfecção terminal de uma cama, que eram atividades que não exigiam muita concentração e tensão, e, assim, as conversas fluíam mais facilmente. Minha participação foi sempre acompanhando outro profissional nas atividades, não assumindo sozinha responsabilidades técnicas.

Procurava não cansar a equipe com minha presença, por conseguinte, freqüentava o hospital em dias seguidos, porém, em horários diferentes, visando não encontrar todos os dias aquelas pessoas que trabalhavam diariamente. Inicialmente, procurava não forçar minha presença em situações mais embaraçosas, quando se discutiam problemas na unidade. Depois, aos poucos, fui participando, na medida em que os próprios funcionários dividiam as idéias comigo. Procurava não me envolver demais com as pessoas da equipe que estavam se tomando os informantes chave, evitando assim, comprometê-las diante dos outros membros da equipe e também com a qualidade de informação.