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CAMINHAR É PRECISO VIVER É URGENTE! Na academia todas as verdades são pressuposições.

OS INTERSTÍCIOS DA PESQUISA: ENTRANDO NAS TRILHAS

1.1 CAMINHAR É PRECISO VIVER É URGENTE! Na academia todas as verdades são pressuposições.

Uma tese é feita na academia.

Para que exista uma tese é preciso haver pressuposições. Será mesmo?

Isso lembra o princípio... Então

No princípio era a relação, e a relação estava com a pessoa, e a relação era feita pela pessoa e na pessoa. Ela estava no princípio com a pessoa. Todas as coisas foram feitas por meio dela. E continuam... Nada existe fora da relação e toda relação tem princípio.

E o princípio tem histórias...

Vou contar de traz para frente, desemendando uma história cujo desfecho anuncia um princípio: de que para nos tornarmos os seres humanos que somos com nossas extraordinárias estruturas cerebrais e suas atuais dimensões, somadas ao grau de complexidade e à valiosa potencialidade de nossa percepção, integração consciente e singular capacidade de atuação, foi preciso percorrer um longo e vasto caminho!

O ponto de partida que a meu ver esse princípio anuncia é mesmo um problema18 para a educação: é que essa história nunca foi contada a

18

Mas o que é um problema? “É uma necessidade coletiva assumida subjetivamente”. Aprendi essa resposta com meu orientador, prof. Dr. Reinaldo Matias Fleuri, em várias de suas aulas enquanto frequentava as disciplinas do Doutorado. Sempre nos contou que para construir essa resposta ele se ampara em um dos livros de Dermeval Saviani, “Do senso crítico à consciência filosófica”. A 1ª edição desse livro foi posta em circulação no ano de 1980. Mas Reinaldo não finaliza aí a elaboração dessa resposta. Ao contrário. Ele segue um longo caminho e continua perguntando: “E o que é uma necessidade? Uma necessidade é uma situação de impasse, de tensão. Um problema reflete uma contradição. Ao mesmo tempo em que estão em tensão não conseguem existir

nós, professores e professoras, ao menos não para mim; eu nunca tive a oportunidade de escutá-la, não desse jeito, embora a muito desejasse, nos 25 anos em que ouço histórias e histórias, com princípio, meio e fim, nos mais variados contextos educativos, escolares e não escolares, seja no âmbito do ensinoou da formação.

E por quea história me interessa e considero necessário que seja contada principalmente para a educação e especialmente aos professores e professoras? Por entender que para sabermos sobre “como conhecemos”, é fundamental sabermos sobre o funcionamento cerebral e a complexa rede que é mobilizada para viver e para aprender.

Uma rede que nos interliga a nós mesmos e aos outros seres humanos e à natureza como um todo; uma história para ajudar a pensar sobre a utilização e a potencialização dessa rede e de seus múltiplos recursos, o que em geral não acontece na educação e, quando acontece, nem sempre parece ser como resultado de ações conscientes e planejadas; uma história para pensar sobre a relação entre a neuroplasticidade e a aprendizagem no sentido de empreender outros processos educativos na contemporaneidade. Compreender que o fenômeno do conhecer não acontece porque captamos e guardamos coisas na cabeça, expressa uma profunda mudança de concepção ontológica e epistemológica.

Se é fato que as pessoas aprendem por histórias, desde logo, penso ser premente a sua inserção na formação de professores e professoras. Entretanto, aceitar essa históriaé uma questão de escolha. Ao acolhê-la e contá-la espero revelar opções teóricas.

Este tempo de licença para formação levou-me a buscá-la em fontes autorizadas, que pudessem saciar meu desejo, mas com a devida legitimidade científica exigida pela academia. E foi então que encontrei Schmidek19 e Cantos20 (2008), e deliberadamente os convidei a

se não estiverem juntos; juntos mas em conflito. E contradição tem suas dimensões: de identidade e de diferença. A contradição nos impele à superação do problema”, diz o professor. Para fazer a elaboração, Fleuri se ampara em Henri Lefebrve. Nesse processo, ele segue uma complexa elaboração feita em etapas, por meio de oficinas temáticas, sempre envolvendo todo o grupo até chegar a uma ação complexa que se opera mediante relações dialógicas, dialéticas e hermenêuticas, buscando alcançar níveis de aprendizado cada vez mais complexos fazendo emergir a identidade do grupo. Os fragmentos transcritos eu registrei no decorrer de uma de suas aulas, realizada no dia 20/09/10.

19 Werner Robert Schmidek é graduado em Medicina pela Universidade de São Paulo (1967), e doutor em Ciências (Fisiologia Geral) pela Universidade de São

compartilhar comigo essa história, na perspectiva de seus olhares21, porque é para essa direção que venho olhando, também. Eles narrarão seu início e seu desenvolvimento. Não antecipo o final por uma razão óbvia: “o cérebro continua passando por constantes mudanças acionadas por eventos anteriores, ou como resultado de uma modelagem intrínseca,” (Idem, p. 181) o que nos sugere que esta história está longe do seu final. Aliás, dá até para inferir que talvez se trate mesmo de outros e novos começos, especialmente se a atenção estiver nas pesquisas relacionadas ao cérebro advindas de distintas áreas do conhecimento: da medicina, da psicologia e da neurobiologia, passando pelas ciências da cognição e ultimamente pela ciência da computação.

Começo a narrativa na primeira evidência: existe uma evolução filogenética do sistema nervoso, responsável por acentuar as suas crescentes potencialidades funcionais, especialmente aquelas relacionadas ao processo de especialização entre os hemisférios corticais, deixando-nos como valiosa herança a possibilidade de uma interação ao mesmo tempo cognitiva e emocional.

A segunda evidência: há uma imensa capacidade de desenvolvimento e de recuperação que o torna um sistema de

Paulo (1971); pós-doutor pela University of California (1975). Atualmente é professor aposentado da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Fisiologia, com ênfase em Neurofisiologia, atuando principalmente nos seguintes temas: diferenças individuais, comportamento de ratos, individual

differences, metodologia de observação comportamental e ciclo sono-vigília. É também Facilitador-Didata de Biodanza pela International Biocentric Foundation com experiência em biodanza para deficientes visuais. (Texto elaborado a partir do currículo lattes http://lattes.cnpq.br/6134300487442521) 20

Geny Aparecida Cantos é graduada em Farmácia Bioquímica pela Universidade Estadual de Maringá (1979), mestre em Físico-Química pela Universidade Federal de Santa Catarina (1984) e doutora em Ciências (Bioquímica) pela Universidade Federal do Paraná (1993). Tem formação em biodança e socioterapia (2007). É professora Associada da Universidade Federal de Santa Catarina (dezembro de 1993). Tem longa experiência na área de parasitologia, realizando trabalhos de extensão e pesquisa principalmente nos seguintes temas: parasitas intestinais, estresse, dislipidemia, prevenção para doenças cardiovasculares e biodança. (Texto elaborado com base no currículo lattes http://lattes.cnpq.br/4182628496572712)

21 O texto de referência adotado na extensão deste item no presente capítulo é: SCHMIDEK, Werner Robert; CANTOS, Geny A. Evolução do Sistema Nervoso, Especialização Hemisférica e Plasticidade Cerebral: um Caminho ainda a ser percorrido. Revista Pensamento Biocêntrico, (2008). Também disponível em http://www.fflch.usp.br/df/opessoa/Evolucao-Cerebro.pdf

plasticidade funcional altamente elevado. Essa especial constatação, todavia, traz consigo um desafio: “incorporar modificações e ajustes funcionais que produzam, na dinâmica cerebral, resultados favoráveis ao indivíduo e à espécie.” (Idem, p. 182). Em outras palavras, o ser humano não é acabado.

A terceira evidência: nem mesmo com a maturação existe fixidez no processo de interação entre os neurônios, que são as células que constituem o cérebro. Por ser um conjunto de sistemas funcionais de extrema dinamicidade, o cérebro possui elevadas potencialidades para se reajustar e se recuperar. Isso acontece porque existe uma plasticidade que se dá “entre as conexões sinápticas e a ação variável de substâncias transmissoras e modulares.” (Idem). A palavra sinapse deriva de uma expressão grega que significa unir. O que a sinapse faz é transferir informações de um neurônio para outro por meio de processos eletroquímicos.Geralmente, as mensagens nervosas são transmitidas por meio de neurotransmissores químicos, mas isso é uma parte da história que será contada mais adiante.

Essas evidências nos ajudam a entender que somos o resultado diferenciado de uma forma complexa de desenvolvimento do nosso sistema nervoso central (SNC), particularmente das estruturas encefálicas relacionadas com o comportamento e com as funções cognitivas e emocionais, que aconteceu no decorrer da evolução filogenética. Pesquisas sugerem que o crescimento do SNC decorreu das necessidades de adaptação, o que pode ter provocado sobreposições de dobras de estruturas encefálicas, originando o que hoje conhecemos como sendo o nosso cérebro. Tais estruturas, na forma que hoje conhecemos, são oriundas de um sistema nervoso primitivo. O seu desenvolvimento se deu a partir da disposição dos neurônios nas camadas corticais do cérebro, e isso possibilitou a maior complexidade das funções cognitivas e intelectuais, principalmente; o ponto alto desse processo é a consciência e também o significativo papel do sistema tálamo-cortical. Schmidek e Cantos (2008), a partir de estudos de Ronsein [et al] e Cantos, destacam que “por ocasião do advento dos mamíferos, as estruturas límbicas também se desenvolveram sobre o topo do sistema nervoso primitivo, sendo hoje aceito de que os processos emocionais são fundamentais para que ocorra uma orquestrada sincronização orgânica.” (Idem, p. 183). As pesquisas relacionadas à plasticidade dos neurônios têm apontado para a possibilidade da formulação de novas categorias de explanação em nível neuronal decorrentes da capacidade neurodinâmica das emoções e dos processos cognitivos.

Ainda que se destaquem esses dois aspectos, constituintes do processo evolutivo responsável por acrescer novas e cada vez mais complexas estruturas neurais, ou mediante as mudanças plásticas que acontecem em curto prazo responsáveis por enriquecer a funcionalidade dessas estruturas, o fato especial e de certa forma revolucionário nos estudos mais recentes dessa área com potencialidades intensas é “o fenômeno geral de consciência”22.

Demorei muito para aprender que o cérebro é um todo e dividi-lo em partes é apenas uma forma de tornar mais fácil o entendimento de suas complexas estruturas em nada homogêneas; que ele se localiza no interior do crânio, ou seja, dentro da caixa craniana; que se encontra protegido por três membranas que são as meninges; que as células que o constituem são os neurônios; que essas células têm um corpo celular que é feito de núcleo, onde mora o DNA, e de parte considerável de citoplasma23; e que desse corpo inúmeros prolongamentos se estendem funcionando como um caminho por onde passa o impulso nervoso seguindo para longe do corpo celular. Os corpos celulares, por sua vez, moram em áreas consideradas restritas do SNC (o encéfalo e a medula espinhal e dos gânglios, mas os seus prolongamentos são mais espaçosos; eles se distribuem pela extensão de nosso corpo em feixes que têm o nome de nervos. São eles, os nervos, que junto aos gânglios nervosos formam o sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal e é esta que transita no canal medular da coluna vertebral. A comunicação entre o SNC e o SNP acontece por meio dos impulsos nervosos em um ajuste contínuo ao meio ambiente.

22

Um breve comentário trazido pelos autores merece ser acrescentado a essa história: “Infelizmente, no entanto, a neurobiologia ainda vem evitando abordar este processo que é de importância capital na nossa caracterização humana e que possivelmente tem sido uma das molas mestras do próprio processo evolutivo do sistema nervoso. Isto ocorre com livros-texto clássicos como o de Vernon Mountcastle que dedica, das suas 938 páginas de neurofisiologia, apenas uma página e meia ao tema ‘consciência’, tratando-o ainda erroneamente, como um processo unitário caracterizado apenas por variações quantitativas (MOUNTCASTLE, 1978). E, mesmo mais modernamente, um amplo tratado de neurobiologia como o de Zigmond e colaboradores, ignora totalmente o tema em suas 1574 páginas (ZIGMOND, et al., 1999).” (Idem, p. 184).

23 O citoplasma é um espaço intra-celular preenchido por uma matriz semi- fluida (com consistência de gel), denominada hialoplasma, onde está "mergulhado" tudo que se encontra dentro da célula.

Continuando a trajetória no sentido caudo-cranial, o encéfalo começa pelo tronco cerebral24 que é um conjunto de estruturas há muito tempo existentes; os vertebrados mais primitivos já apresentavam-na. Tronco cerebral e medula espinhal encontram-se interconectados. A medula funciona como mediadora do tronco na medida em que possibilita o controle de variadas funções internas básicas, como regulação da respiração, por exemplo. Os movimentos externos, como o nosso equilíbrio postural, são regulados pelo cerebelo.

É melhor compreender essa parte da história com a ajuda de uma imagem. A figura a seguir ilustra esse complexo sistema e suas vinculações.

Figura 1: Visão medial do cérebro humano em corte

Fonte: Reproduzido do texto de referência: SCHMIDEK, Werner Robert; CANTOS, G. A. Evolução do Sistema Nervoso, Especialização Hemisférica e Plasticidade Cerebral: Um Caminho ainda a ser percorrido. Pensamento Biocêntrico, v. 10, p. 1-24, 2009; p. 185.

Observando a imagem dá para verificar que este todo que é nosso cérebro está totalmente interconectado. O tronco cerebral, por exemplo, faz ligação também com as estruturas nervosas superiores e é responsável por regular o seu nível de funcionamento. Seguindo o tronco no sentido superior da imagem, vamos encontrar outra estrutura que nos acompanha há muito, cuja relevância está em também regular funções internas básicas; é conhecido pelo nome de diencéfalo. Essa é

24 O tronco cerebral é constituído pelo bulbo, ponte e mesencéfalo e o cerebelo que se encontra sobreposto a ele (tronco cerebral).

N= Neocórtex GC = Giro Cíngulo (sistema límbico) CC = Corpo Caloso T = Tálamo HT = Hipotálamo H = Hipófise M = Mesencéfalo P = Ponte B = Bulbo TC = Tronco Cerebral C = Cerebelo ME = Medula Espinhal

uma área fundamental para os propósitos desta história; logo será possível saber o porquê... Duas partes o compõem: o tálamo e o hipotálamo. Evidentemente que cada parte tem sua importância; o hipotálamo, por exemplo, não só regula funções internas básicas, como a temperatura; é também onde se originam nossas motivações básicas e instintivas, como fome, medo, raiva, impulso sexual, sem contar toda a sua relação com as questões hormonais e com a nossa imunidade. O tálamo possui várias funções, as principais relacionam-se à motricidade, ao comportamento emocional e à sensibilidade, uma vez que grande parte dos impulsos sensitivos passam por ele antes de chegar ao córtex. Ele é fundamental no relacionamento que estabelecemos com o mundo que é exterior a nós. Nossos narradores Schmidek e Cantos (2008) dizem que é pelo tálamo que “[...] passam e são filtradas grande parte das informações ambientais, que atingem o nosso organismo e que são captadas por nossos vários sistemas sensoriais, seja na pele, seja nos órgãos e sistemas sensoriais específicos (visão, audição, etc.).” (Idem, p. 186). Dizem os narradores dessa história que ordens motoras mais sofisticadas também passam por ele. O destaque, entretanto, concentra- se mesmo em outro papel desempenhado pelo tálamo, considerado essencial para o adequado funcionamento do córtex. Trata-se da “focalização da atenção e a formação de sistemas funcionais.” (Idem, p. 187). O que acontece quando situações do ambiente e/ou de estados motivacionais, uma ideia ou mesmo proposta comportamental se manifestam? O tálamo aciona ou desativa áreas específicas que se encontram no córtex cerebral para atuarem em conjunto desempenhando funções devidas. Esse processo é acompanhado de alterações específicas da consciência.

Tal dado leva a pensar que a educação e a sensibilidade têm alguma coisa a ver com isso... Continuemos um pouco mais para compreender o que vai acontecer com o SNC a partir do diencéfalo. Ele vai se bifurcar, originando dois hemisférios que, juntos, formam o chamado telencéfalo. Essa é considerada a porção mais nova do ponto de vista filogenético; seu desenvolvimento se tornou mais acentuado com o surgimento dos mamíferos alcançando o topo nos hominídeos e no homem.

E já que as imagens ajudam muito na compreensão, vamos à figura a seguir:

Figura 2: Crescimento relativo do cérebro ao longo do processo evolutivo dos vertebrados

Fonte: (baseado em JERRISON, H.J., 1976 e GRIER, J.W., 1984) Reproduzido do texto de referência: SCHMIDEK, Werner Robert; CANTOS, G. A. Evolução do Sistema Nervoso, Especialização Hemisférica e Plasticidade Cerebral: Um Caminho ainda a ser percorrido. Pensamento Biocêntrico, v. 10, p. 1-24, 2009; p. 188.

Um dos componentes do córtex cerebral, cuja origem é bem remota e se caracteriza por um conjunto de estruturas do cérebro, é o sistema límbico. Ele tem origem nas aves, mas seu desenvolvimento é acentuado mesmo nos mamíferos. Schmidek e Cantos (2008) descrevem que esse sistema é fundamental na “regulação de nossas emoções mais complexas e dos estados afetivos e motivacionais mais finos.” (Idem, p. 189). É de sua responsabilidade garantir a certos grupos de aves e de mamíferos a estruturação de relações sociais cuja base é a afetividade, o que é essencial para o comportamento parental, assim como para constituir vínculos inter-individuais considerados fundamentais na organização social e mais complexa desses grupos. Esse sistema, e mais especificamente algumas de suas partes, como é caso do hipocampo, por exemplo, ainda reserva outra particularidade, devido a sua importância no aprendizado. “Avaliando o significado emocional e afetivo de cada informação que nos chega, ele nos ajuda a selecionar aquelas que

deverão ser armazenadas na memória (o que ocorrerá no neocórtex) e a desprezar aquelas “irrelevantes” no momento.” (Idem). Em outras palavras, o córtex cerebral é a moradia do entendimento, da razão, e de muitas outras funções, tais como: a linguagem, a percepção, a emoção, a cognição e a memória.

Foi pelo desenvolvimento do córtex que a humanidade pôde desenvolver a cultura e esse processo estimulou o desenvolvimento cortical. O córtex é o lugar das representações simbólicas.

Mas é preciso falar também sobre o néocortex, não só porque na filogenia é a porção mais nova, mas principalmente porque é a que mais cresce nos mamíferos, nos primatas, mais especialmente. Organizado em cada um dos hemisférios e com regiões funcionais, cumpre importante papel no recebimento e interpretação de informações sensoriais. No neocórtex encontram-se, também, e o que é mais interessante, em desenvolvimento intenso, o que se chama de “áreas de associação, interrelacionando na parte posterior do córtex as informações de diferentes modalidades sensoriais e criando assim uma consciência de ‘eu no mundo.’” (Idem) [grifos dos autores].

E para completar essa complexa estrutura, encontramos o lobo frontal, que como o próprio nome diz, está localizado mais à frente. Ele é considerado de certa forma exclusivo aos primatas. Schmideke Cantos (2008, p. 189-0) nos contam por que ele é tão especial.

[...] esse córtex associativo nos possibilita o planejamento consciente de ações, confrontando todas as informações sensoriais disponíveis, sejam atuais, sejam armazenadas na memória e de todos os programas de resposta disponíveis (recém- criados ou já testados e armazenados na memória motora). Constitui assim, talvez o mais sofisticado substrato da nossa consciência, permitindo-nos uma consciência previsiva. [grifo dos autores]. Os narradores amparados em Schmidek (2005), dizem também que da perspectiva evolutiva nossos antepassados nos deixaram um legado: os neurônios. O aspecto geral dos neurônios e seu mecanismo básico de funcionamento é praticamente o mesmo e assim tem sido há bilhões de anos. O que parece ainda mais interessante é a constatação de assim ser também em essência com os neurônios encontrados em ratos,

jacarés, peixes e também em invertebrados25. “Mas qual é o grande segredo? O que faz o nosso sistema nervoso ser tão diferente daquele de um jacaré, de um lambari ou de um gafanhoto? Basicamente é o enorme número de neurônios que compõe o nosso cérebro e o incrível número de interligações que essas células fazem.” (Idem, p. 191). E nesta parte nossa história se torna ainda mais instigante. Vejamos que para um invertebrado funcionar e bem ele precisa de pouco mais de dezenas de neurônios. Se tivermos dúvidas desse funcionamento, basta observar o comportamento precioso de uma aranha caçadora. Também ilustra esta situação o ouvido de certas mariposas, cujo funcionamento acontece com apenas um neurônio que surpreendentemente lhes possibilita captar o ultrassom de um de seus principais predadores (morcego) e assim fugir do perigo eminente. Outro caso sutil e particularmente interessante que Schmidek e Cantos (2008, apud SCHMIDEK) apresentam é a musculatura extensora da grande pata traseira de um gafanhoto, cuja enervação se dá por apenas três neurônios: um que produz a contração súbita de toda essa musculatura propiciando o eficiente salto do inseto; outro que produz sua contração gradual essencial para sua locomoção; e um terceiro que modula a contração durante o movimento.

Todavia, quando se trata dos vertebrados, o processo evolutivo parece caminhar no sentido oposto. E para explicar essa inversão, nossos narradores levantam um lema curioso: “se com dez neurônios funciona bem, será que com vinte funcionará melhor? E com cem? E com mil?...” (Idem). Vejamos se esta resposta é suficiente para a pergunta lançada: “O cérebro humano é assim constituído por cerca de 100 bilhões de neurônios [...] que se conectam por meio de 1.000 e 10.000 sinapses por neurônio.” (Idem, p. 191 e 194). Se compararmos o cérebro de todos os animais, saberemos que o nosso é o maior e o mais pesado proporcionalmente; esse é um dado curioso porque no reino animal as baleias e os elefantes é que têm o maior cérebro em volume de massa. Todavia, quando se compara igualmente o tamanho do corpo, as primeiras posições ficam para o homem e o golfinho26. Outro dado

25 Schmideke Cantos (2008, apud Schmidek) relatam que “foi a partir de certo tipo de neurônio que ocorrem em moluscos (os chamados “neurônios de axônio