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utiliza esse termo o faz para designar um pressuposto epistemológico,

epistemologia ou paradigma construtivista e não teoria construtivista. Evidentemente que essa postura epistemológica pode estar implícita em teorias do conhecimento que primem sobre esta abordagem. Todos os desenvolvimentos da Cibernética que citei devem-se, em grande parte, às singulares contribuições de um importante físico e ciberneticista austríaco chamado Heinz von Foerster, que na década de 1950 construiu o primeiro megacomputador. Vasconcellos diz que foi Foerster quem trouxe para a Cibernética “a necessidade de reconhecimento da participação do cientista nas suas elaborações cibernéticas. Mostrou, também trabalhando em laboratórios científicos, que era preciso que a Cibernética aplicasse a si mesma os seus próprios princípios, estabelecendo-se o que se chama de ‘Cibernética da Cibernética’ ou ‘Cibernética de Segunda Ordem’. (Idem). Para entender o que isso significa é importante partir da ideia de que o desenvolvimento da Cibernética se deu amparado no pressuposto da ciência tradicional, onde o observador, que pode ser o cientista, o técnico, o especialista, observa o sistema e atua sobre ele, mas se situa fora dele; desse modo esse cientista tem uma visão de primeira ordem. Vasconcellos associa essa visão ao que Maturana chama de “objetividade sem parênteses”. O salto trazido pelos estudos de Foerster é que ele mostrou a impossibilidade de pensar o observador fora do sistema que ele observa, ou seja, não fazendo parte desse sistema; o observador é sempre parte do sistema em que trabalha. Nesse sentido ele introduziu a expressão “sistema participante” ou “sistema de observação”. Fez isso para explicar esse fato. “A partir do momento em que o observador começa a observar um sistema, cria-se instantaneamente um sistema que integrará a ambos e em que o observador se observará observando, ou seja, em que sua relação com o sistema que ele observa será também objeto de observação. A isso Foerster chama de visão de

segunda ordem.” (Idem, p. 143). Glasersfeld (1991) cita Foerster dizendo que ele afirmou que “objetividade é a ilusão de que as observações podem ser feitas sem um observador”. Desse modo é impossível distanciar-se ou colocar entre parênteses a subjetividade do cientista. Essa visão de segunda ordem, Vasconcellos associa ao que Maturana chama de ‘objetividade entre parênteses’. Quero chamar a atenção, a partir de Vasconcellos (2005), que embora Foerster esteja associado definitivamente à noção de construtivismo, ele mesmo declarou preferir o termo ontogenismo, por levar a pensar em termos de gênese, de processo. E, nesse sentido, Vasconcellos também contribui quando lembra que “Maturana tem a ontogenia como noção central em sua ‘Biologia do Conhecer’”. (Idem). Outro aspecto importante que coloca em sintonia esses dois grandes pesquisadores e que Vasconcellos alerta é a importância da linguagem na constituição da realidade. Foerster amplia o que Maturana afirma. Maturana diz que “tudo que é dito é dito por um observador”; ao que Foerster diz “tudo o que é dito é dito a um observador”. É ele também que evidencia com clareza a conexão existente entre observador, linguagem e sociedade, quando diz que “entre os três (observador, linguagem e sociedade) se estabelece uma conexão

as neurociências e a biologia. É a reverberação dessa revolução paradigmática que emergiu no século passado.

Ao tratar de mudança de paradigma não estou querendo dizer apenas da compreensão de uma (nova) teoria, mas sim de mudança de postura, de atitude, a partir de novos pressupostos. Não é possível compreender a educação na contemporaneidade mediante o paradigma da simplificação40, cuja sustentação é o pensamento analítico41 produto

não-trivial, isto é, uma relação triádica fechada, em que não se pode dizer quem foi o primeiro, quem foi o último e em que se necessita dos três para se ter cada um dos três” (Foerster, 1974). Nessa afirmação, Foerster contempla, como essenciais na constituição do conhecimento, “o indivíduo observador, suas experiências ou relações interindividuais e os significados linguísticos dessas experiências.” (Idem, p. 144). O movimento cibernético é mérito de Norbert Weiner que mediante a associação dos conceitos de comunicação, entropia e informação estuda os sistemas organizados que interagem com o ambiente. O ponto fulcral da dessa teoria é a ideia de realimentação – feedeback – positiva e negativa. É por meio dela que se sabe se um indivíduo teve desempenho adequado ou não em seu processo de aprendizagem. Convém destacar também que os trabalhos em Cibernética foram basilares para as pesquisas em Teoria

Geral dos Sistemas na década de 1950. 40

Somos herdeiros de um ‘paradigma da simplificação’ (MORIN; 1997), que na sua origem separou natureza e cultura levando-nos a pensar a natureza do ser humano a partir de polaridades opostas, do tipo: corpo versus mente, matéria

versus espírito, razão versus emoção. Quando se pensa a partir dessa lógica separatista, a barreira que se cria toma proporções intransponíveis. Se por um lado a ciência moderna pode ser gerada a partir dessa estrutura, por outro provocou a separação irrevogável entre matéria e espírito.

41 Kasper (2000, p. 26-28), amparado em Ackoff, destaca as principais consequências do pensamento analítico no que se refere aos aspectos relevantes que o caracterizam como quadro geral referência do processo de pensamento. - A busca dos elementos – o sucesso alcançado na física levou à generalização da perspectiva analítica como modelo de investigação e estruturação de conhecimentos nas ciências em geral. É possível identificar a busca por elementos básicos nas mais variadas disciplinas: os elementos da tabela periódica na química; as células e os gens na biologia; na Psicologia com as contribuições de Freud a respeito do ego, super ego e id; os fonemas na Linguística e muitos outros casos. – A exclusão do ambiente – uma consequência importante do determinismo é a ausência do conceito de ambiente nas abordagens clássicas. A física clássica procura eliminar todos os fenômenos perturbadores, estudando isoladamente as relações de interesse. Ao retirar as relações de seu contexto, eliminam-se as possibilidades de reconhecer as relações complexas. – A concepção da realidade e a natureza do conhecimento – a objetividade científica é sustentada pela ciência clássica. Vale dizer, a

da ciência clássica42, que se expressa nas lógicas binárias, dicotômicas, tão caras ao pensamento cartesiano, tão presentes na ciência moderna, tão “naturalizadas” no cotidiano das salas de aula, tão reiteradamente ainda repetidas no dia-a-dia de muitas escolas. Nesse sentido, cabe destacar o que diz Duarte Junior (2000) sobre o conhecimento que caracteriza a modernidade e suas implicações, ou seja, “o jeito moderno de ser”.43